«A Dessensibilização e o
Reprocessamento pelo Movimento Ocular é um método psicoterapêutico eficaz na
resolução de dificuldades emocionais causadas por experiências perturbadoras,
difíceis ou assustadoras. Quando as crianças estão traumatizadas, têm experiências
perturbadoras ou fracassos repetidos perdem o sentimento de controlo sobre as
suas vidas. Tal pode resultar em sintomas de ansiedade, depressão,
irritabilidade, raiva, culpa e/ou problemas comportamentais. Sabemos que
eventos como acidentes, abusos, violência, morte e desastres naturais são
traumáticos, mas nem sempre reconhecemos de que forma afetam a vida quotidiana
das crianças. Mesmo os eventos perturbadores mais comuns como o divórcio, os
problemas na escola, as dificuldades com os pares, os insucessos, e os
problemas familiares podem afetar profundamente o sentimento de segurança, a
auto-estima e o desenvolvimento da criança.
Por vezes, quando acontece uma
experiência perturbadora, assustadora ou dolorosa, a memória fica “bloqueada”
ou “congelada” na mente e no corpo. A experiência pode voltar de modo
angustiante e intrusivo. A criança pode reagir através do evitamento de tudo o
que esteja associado à experiência perturbadora. Por exemplo, quando uma
criança experimenta um grave acidente de bicicleta, pode haver pesadelos
repetidos, medo de tentar novas coisas e evitamento de tudo que estiver
relacionado com bicicletas.
A maioria dos especialistas
acredita que a melhor forma de desbloquear e libertar-se dos sintomas é através
da exposição à experiência traumática. Isto significa enfrentar as memórias ou
os eventos problemáticos até deixarem de ser perturbadores.
O EMDR utiliza uma estimulação
dual (bilateral) da atenção, que significa o varrimento alternado
esquerda-direita, que pode ser pelo movimento dos olhos, sons ou música em cada
ouvido, ou estimulação táctil, como batidas leves alternadas nas mãos. Têm sido
desenvolvidas alternativas criativas para as crianças, que incorporam a
estimulação dual da atenção através de fantoches, histórias, dança, arte, e até
natação.
O EMDR ajuda a resolver os
pensamentos e sentimentos problemáticos associados às memórias, de modo a que
as crianças possam voltar às tarefas normais do desenvolvimento e aos níveis
anteriores de funcionamento. Para além disso, o EMDR ajuda a fortalecer os
sentimentos de confiança, calma e mestria.
Como é uma sessão de EMDR?
O EMDR é parte de uma abordagem terapêutica
integrada, sendo frequentemente usada em conjunto com outras práticas como a
ludoterapia, a terapia pela palavra, a terapia comportamental e a terapia
familiar. O EMDR será explicado e usado com o consentimento da família e da
criança.
Uma sessão típica de tratamento EMDR
começa de uma forma positiva, levando a criança a usar a sua imaginação para
fortalecer o seu sentimento de confiança e bem-estar. Por exemplo, pode
pedir-se à criança que imagine um lugar seguro ou protegido, onde se sente
relaxada, ou que se lembre de uma situação em que se sentiu forte e confiante.
Estas imagens, os pensamentos e os sentimentos positivos são depois combinados
com movimentos oculares ou outras formas de estimulação dual (bilateral) da
atenção. Estas experiências iniciais com o EMDR oferecem à criança o aumento de
sentimentos positivos e ajudam-na a saber o que esperar.
Em seguida, pede-se à criança que
aborde uma memória perturbadora ou um evento relacionado com o problema apresentado.
A estimulação dual da atenção é novamente usada enquanto a criança se foca na
experiência perturbadora. Quando uma memória perturbadora é “dessensibilizada”,
a criança consegue enfrentar eventos do passado sem se sentir perturbada,
assustada ou evitante. “Reprocessamento” significa apenas que uma nova compreensão,
outras sensações e novos sentimentos podem ser associados aos anteriores pensamentos,
sentimentos e imagens perturbadores. As memórias problemáticas podem ser mais
confortavelmente evocadas como “simplesmente algo que aconteceu”, e as crianças
mais facilmente acreditam que “Acabou”, “Agora estou seguro”, “Fiz o melhor que
pude, não é culpa minha”, “Tenho outras opções agora”.
O EMDR pode ajudar o meu filho?
O EMDR pode ser usado tanto com
crianças pequenas, como mais velhas, e adolescentes. Estudos de caso indicam
que o EMDR tem sido usado com sucesso em crianças pré-verbais, bem como com adolescentes
que não querem falar sobre os assuntos perturbadores. Como em qualquer outra
intervenção, quanto mais nova ou quanto mais evitante for a criança, maior o
desafio na procura de formas de a envolver e de focar a sua atenção no problema.
É benéfico que os pais e os profissionais expliquem que o EMDR é uma forma de
ultrapassar os pensamentos, sentimentos e comportamentos inquietantes. O EMDR
tem sido usado para ajudar crianças a lidar com eventos traumáticos, depressão,
ansiedade, fobias e outros problemas comportamentais.
O processo EMDR é diferente com
cada criança, porque a cura é guiada a partir de dentro. Algumas crianças
descrevem que o EMDR é relaxante e têm uma resposta positiva imediata. Outras
crianças podem sentir-se cansadas no final da sessão, e os benefícios serem
observados nos dias que se seguem. Uma menina de 10 anos esteve engessada
durante um ano e estava preocupada com lesões, doenças e morte devido a um
acidente traumático. Depois do EMDR começou a chorar lágrimas de alegria e
disse “Estou tão feliz, acabou mesmo e eu sou forte”. Um rapaz de 5 anos com
problemas de comportamento, cujo terapeuta trabalhava com outras técnicas, e
experimentou EMDR disse “Porque é que não fizeste isto comigo antes?”. Outro
rapaz de 8 anos que mantinha pesadelos disse “Eles simplesmente saltaram da
minha cabeça, os monstros desapareceram”. Outras crianças dizem muito pouco,
mas o seu comportamento muda e os pais dizem “As coisas estão a voltar ao lugar”.»
Esta publicação é uma tradução parcial e informal da
brochura informativa da autoria da EMDR International Association (EMDR &Children- Guide for Parents, Professionals, and Others Who Care About Children)
Alexandra Barros
Psicóloga e Psicoterapeuta (Delegação de Lisboa)
Diretora do Departamento de Infância
alexandra.barros@psicronos.pt
A Psicronos tem psicoterapeutas
formados em EMDR na Infância (Delegaçoes de Lisboa e Faro/Portimão)
1 comentário:
Muito bom, Alexandra. Mto obrigado!
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