Ontem, no âmbito do Dia Mundial da Criança, passou na RTP2 um filme de 17 minutos que reinstalou a polémica acerca do assunto da educação sexual.
“Então é assim” é uma co-produção dinamarquesa-canadiana, um filme de animação para crianças, que transmite informação acerca da sexualidade, reprodução, os abusos sexuais, mas também sobre o afecto e o amor.
Na véspera a RTP2 promoveu uma espécie de "ante estreia", numa edição especial do programa “Sociedade Civil” em que foi mostrado o dito filme e debatida a sua adequação às necessidades e sensibilidades nacionais.
Esta “ante estreia” destinou-se a dar aos pais a possibilidade de visionar antecipadamente “Então é assim” e decidirem se a sua informação e linguagem conferem com o que gostariam de transmitir aos seus filhos na fase de vida em que se encontram.
O filme destina-se a crianças entre os 7 e os 11 anos e levantou inúmeras questões e opiniões, mais relacionadas com a forma como a informação foi transmitida do que com o conteúdo pois as questões são abordadas de uma forma muito explícita, com uma linguagem pouco transformada.
Sem desvalorizar a mais valia da abordagem daqueles conteúdos, devo confessar que quando vi o filme fiquei surpreendida com a linguagem, com alguns termos e imagens utilizadas e fiquei também eu com dúvidas relativamente à forma como a informação foi transmitida.
Se eu tivesse de decidir se passava este filme a uma criança de 7/8 anos eu diria que os pais deviam ver o filme com a criança e ir mediando a informação com comentários que a ajudassem a integrar toda aquela informação.
Não concordo com o uso das histórias e metáforas que explicam de forma totalmente irrealista e maior parte das vezes mentirosa os acontecimentos, mas penso que quando transmitimos seja o que for a uma criança devemos faze-lo de forma a que ela possa entender e integrar.
Devemos ter em atenção os recursos cognitivos e emocionais da criança, além de que devemos dar espaço à fantasia.
As crianças fantasiam precisamente para poder ajustar a informação àquilo que podem compreender e suportar emocionalmente.
Muitos adultos forçam as crianças à compreensão de coisas que lhes são insuportáveis, o que pode ser esmagador.
No entanto, a criança deve poder aceder à verdade e não a histórias e subtefurgios.
E parece-me essencial respeitar um principio básico, quando a criança quiser saber ela vai perguntar, nesse momento devemos contar-lhe a verdade, mas usar uma linguagem que ela possa compreender e elaborar.
Ainda acerca deste filme, devo dizer que me pareceu brilhante a forma como foi abordada a questão dos abusos sexuais. A este respeito era colocada a questão "como é que eu sei se faz bem ou faz mal quando mexem no meu corpo".
E a tónica foi colocada no sentimento da criança que é tocada. "quando eu te faço festinhas nas costas tu sentes Sim ou sentes Não? "Se sentes
Sim, é porque não tem mal, se sentes
Não é porque faz mal.
Com o diálogo entre as personagens esta questão foi muito bem trabalhada e é precisamente isto que é por vezes difícil de fazer, que é ir ao encontro de uma linguagem que está ainda tão dependente do sentir, do afecto e da emoção.
No dia em que a RTP2 passou a ante estreia e levantou o debate,
o blog do programa "Sociedade Civil" teve 417 comentários. Eu própria gostaria de poder discutir este assunto com colegas que tivessem visto o filme e ouvir outras opiniões, lanço o repto.