Algumas frases
típicas da depressividade:
“Quando os outros me
conhecerem verdadeiramente não vão gostar de mim/vão achar que sou
desinteressante.”
É uma noção e
dinâmica relacional interiorizada na relação com outros significativos,
gravada na memória afetiva
que subsiste, e denuncia como outrora, nas relações que eram mais próximas e
íntimas, o desejo de estar e conviver, o interesse e o envolvimento das figuras
próximas, não estava lá. Ou estava, mas perdeu-se precocemente, não foi
suficientemente vivido. Também o ciúme intenso pode derivar de tal, uma vez que a própria pessoa não se sente a prioridade do interesse do companheiro ou companheira,
sentindo-se em risco constante de ser facilmente substituída. São memórias afetivas (ligadas à baixa auto-estíma) de vivência e padrões relacionais passados, onde muitas vezes não se conseguiu viver suficientemente o sentimento de se ser o centro das atenções daqueles de quem se precisava e se dependia. Não se viveu suficientemente o sentimento de se ter sido a prioridade do interesse e do desejo dessas figuras cuidadoras.
“Pois… é isto que
ganho por ser boazinha, nunca aprendo!” / "Quem me manda ser estúpido!"
A tendência à
idealização dos demais enviesa a possibilidade de os conhecer realisticamente e
com precaução, mediante uma gradual prudente avaliação. A desculpabilização do
outro aquando danos relativamente graves (por vezes acompanhada ainda pela
auto-culpabilização) é frequente e abre as portas ao abuso continuado.
Por este motivo as
pessoas com estrutura depressiva de personalidade são vulneráveis aos abusos
emocionais (e não só) nas relações, nomeadamente por parte de estruturas
narcísicas e projetivas de personalidade. Geram-se e mantêm-se relações
sadomasoquistas por culpabilização (ou tortura) e crítica inferiorizante (ou
humilhação) de um dos companheiros, que absorve sem defletir toda esta
malevolência e inferiorização continuada. As estruturas depressivas, devido à
baixa autoestima, procuram muitas vezes relações com estruturas narcísicas e
projetivas, que de um ponto de vista da saúde mental, são estruturas mais
perturbadas que as estruturas depressivas. Contudo a forma como estas
estruturas narcísicas tendem a proteger a frágil autoestima é precisamente pela
dissociação interna daquilo que as perturba e atribuição/indução de tais
aspetos nos demais (através da culpabilização ou critica, por exemplo). Assim,
aparentam ser indivíduos fortes, ideais, com elevada autoestima, o que é
particularmente sedutor e apelativo para a estrutura depressiva, já que é
aquilo que sentem que lhes falta e mais desejam para elas. Por sua vez o
narcísico não têm consciência (na maior parte das vezes) de sofrer essa
falta pois procura manter a idealização de si a todo o custo. As pessoas que
sofrem de depressão e baixa auto-estíma por vezes procuram relações com pessoas "fortes", que na verdade acabam por ser ainda mais frágeis que elas próprias,
ainda que não o aparentem.
Uma característica
relativamente frequente da depressão é a escassez ou ausência de memórias
concretas e detalhadas (e não memórias imprecisas, vagas ou incoerentes) de
momentos de envolvimento e convívio prazeroso e mesmo lúdico na infância com as
pessoas mais importantes. Por vezes os factos são evocados pois se
"sabe" que isso aconteceu, mas falta a memória concreta e muito mais
importante, o prazer ligado à mesma que se percebe pelo sorriso (ou pela
saudade) que a evocação da memória gera imediatamente. Outra característica
também relativamente frequente é a idealização persistente das figuras parentais.
Muitas vezes, por projeção da idealidade do Eu, a descrição das figuras
parentais transmite a ideia de figuras perfeitas ou “sem nada a apontar”, que
muitas vezes pouca semelhança têm com seres humanos realistas, que cometem
erros para com os outros (para com o próprio nomeadamente) e carregam
imperfeições (que poderão ter afetado o próprio negativamente), aspetos naturais de todas as
pessoas e de todas as relações.
Em psicoterapia o
trabalho na depressão implica necessariamente um trabalho de recuperação da
própria idealidade e a inculpação do outro – a reversão do processo patológico.
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