terça-feira, maio 15, 2007

Ética e avaliação psicológica.

Os Princípios Éticos são determinantes no trabalho de qualquer psicólogo.

A avaliação psicológica acresce a responsabilidade inerente ao cumprimento do código de Ética.


A avaliação e descrição da realidade psicológica de alguém fornece ao psicólogo um conjunto de informações, as quais este deve saber interpretar, seleccionar e sobretudo transmitir e devolver.

Numa avaliação psicológica o examinado fornece ao clínico parte da sua realidade interna (vida mental), confiando neste a capacidade para a analisar, perceber, interpretar.

Uma das questões que cedo se levantam é que o psicólogo está obrigado ao sigilo profissional, no entanto, o objectivo de uma avaliação é quase sempre a elaboração de um relatório, onde vamos inevitavelmente ter de transmitir informação a alguém que a solicitou.

Uma das precauções que devemos ter é de alertar o examinando para esta realidade, que deverá optar por nos fornecer informação que quiser que seja transmitida, ou que nos alerte para o caso de não querer que determinada informação conste do relatório.

No entanto, parte sobretudo do técnico a responsabilidade de reconhecer o que é ou não pertinente escrever num relatório.
Além de que, em determinados contextos (com doentes psiquiátricos por exemplo) o examinando nem sempre possui a capacidade de decidir acerca dos seus actos ou até do seu discurso, com vista a preservar a sua intimidade.

Voltando um pouco á questão que levantei, parece quase um contra-senso pensar que a informação obtida num contexto psicológico é confidencial, mas vamos ter de a transmitir.
É precisamente por isto que devemos restringir-nos ao que nos foi pedido para avaliar, restringir-nos a responder a quem solicitou a avaliação, restringirmo-nos a uma linguagem clara, objectiva e restringirmo-nos a falar do que nos compete.

Defendo ainda que, em todos os casos, devemos devolver à pessoa a informação que obtivemos, as conclusões a que chegamos e as indicações terapêuticas adequadas, nos casos em que identificarmos essa necessidade.

Mesmo quando o relatório de avaliação psicológica não é para o próprio (se foi por exemplo solicitado por outro técnico de saúde) é nossa obrigação transmitir ao examinado estas informações, porque: se a avaliação não é para ele mesmo, então é para o beneficio de quem?

Estas questões nem sempre são fáceis de gerir, e por isso mesmo têm sido motivo de grande consideração por parte dos técnicos da Ktree.

Na Ktree, ao trabalharmos com avaliação psicológica, e para salvaguardar estes princípios temos desenvolvido um método de trabalho que insere procedimentos inovadores neste campo.

A confidencialidade dos dados é da nossa maior preocupação. É oferecida ao examinando a possibilidade de decidir acerca da transmissão dos seus dados para outros técnicos, no caso destes a solicitarem (em documento adequado).

Um dos métodos inovadores na gestão dos dados, é a possibilidade (mediante consentimento informado) do registo através de gravação em formato digital dos dados da entrevista, que ficam arquivados para posterior elaboração de novos relatórios adequados aos diferentes interlocutores.
Estes dados têm obviamente uma validade, e ao fim deste tempo os dado são destruídos.

Penso que quando se tem estas questões em consideração, é possível gerir as situações em benefício do examinando, e trabalhar com rigor e com Ética.

Artigo relacionado: A ética na avaliação psicológica: uma perspectiva psico-filosófica.

segunda-feira, maio 14, 2007

Interaccção mãe/criança pobre em mães com Esquizofrenia



Investigadores observaram que mães com Esquizofrenia frequentemente evidenciam falta de resposta/sensibilidade maternal e que tal facto pode levar a comportamentos de evitamento por parte das crianças. Ming Wai Wan (Universidade de Manchester, Reino Unido) e colegas observaram que o comportamento de interacção entre mães com Esquizofrenia e suas crianças é de pior qualidade do que aquele que é observado nos casos de mães com Perturbações de Humor. “Os comportamentos de interacção pobre nestas díades mãe/criança podem ter efeitos significativos nas relações de vinculação e ajustamento social”, comentam estes investigadores. Observaram 38 mulheres com doença perinatal severa, incluindo 13 com Esquizofrenia e 25 com Perturbação de Humor enquanto estas interagiam com as suas crianças, uma semana antes destas obterem alta duma unidade psiquiátrica mãe/bebé. As mães com Esquizofrenia eram significativamente menos afectuosas e menos aceitantes do que as mães com Perturbação de Humor. Adicionalmente as crianças das mães com Esquizofrenia eram significativamente mais evitantes e menos comunicativas, menos envolvidas com o meio ambiente e menos activas (com “pouca vida”) comparativamente com as mães com Perturbação de Humor. A interacção da díade como um todo entre as mães com Esquizofrenia e suas crianças era notoriamente menos satisfatória mutuamente, mais séria, menos recíproca do que no grupo com Perturbação de Humor. Wan e equipa escreveram na revista Psychological Medicine que não é certo se as crianças se tornam auto-centradas e mais evitantes para se protegerem da falta de resposta, do cuidado débil e intrusivo, ou se por outro lado é o comportamento da criança que afecta adversamente a vinculação ao bebé. Wan e equipa observaram que longa duração de doença ou doses elevadas de medicação não explicavam a pobreza das relações entre mães com Esquizofrenia e seus bebés. Contudo ter um parceiro ou um status socio-económico elevado proporciona alguma protecção. Wan e equipa concluem que as suas descobertas sugerem que tratar os sintomas da Esquizofrenia ou providenciar apoio social podem não ser suficientes para melhorar a interacção mãe/criança no grupo em causa. As intervenções dever-se-iam focar na melhoria/aumento da sensibilidade e resposta maternais, estimulação dos bebés e satisfação mútua na relação.

WAN, MING WAI ; SALMON, MARGARET P. ; RIORDAN, DENISE M. ; APPLEBY, LOUIS ; WEBB, ROGER; ABEL , KATHRYN M. ,(2007), What predicts poor mother-infant interaction in schizophrenia?, Cambridge, Psychological Medicine, 37: 537-546 Cambridge University Press.
Photo by Anne Gueddes

terça-feira, maio 08, 2007

7 Dias, 7 Meses e 7 Anos no Casamento

A comunicação do casal ao longo do seu ciclo de vida, vista com humor (que nos faz muita falta!):

Casado há 7 dias: Ficas linda nesse vestido.
Casado há 7 meses: Outro vestido novo?
Casado há 7 anos: Quanto CUSTA?

Casado há 7 dias: Querida, trouxe o teu filme preferido.
Casado há 7 meses: Tens a certeza que queres ver esse filme?
Casado há 7 anos: Nem penses! Hoje dá futebol!

Casado há 7 dias: Querida, a tua mãe está ao telefone.
Casado há 7 meses: É para ti!
Casado há 7 anos: Telefoooone!

Casado há 7 dias: Amo-te.
Casado há 7 meses: Claro que te amo!
Casado há 7 anos: Se não te amasse achas que casava contigo?


Todos nós reconhecemos com humor estas diferenças, caricaturadas mas não tão longe do real… E faz-nos bem rir, mas como estamos perante um blog de ideias de psicologia “às pinguinhas” depois dos sorrisos, poderemos discutir (sem deixar de rir, pois neste blog somos flexíveis), o que acontece nos casais para que a comunicação se altere ao longo da vida em comum.
Nota para não ferir susceptibilidades: O facto do diálogo estar no género masculino foi puro acaso, o e-mail que me enviaram não continha o género feminino!
Está aberta a discussão…


sábado, maio 05, 2007

Espectáculo sobre Freud e a Sexualidade



O Grupo de Teatro Disfarces tem em cena até dia 13 de Maio no Auditório Carlos Paredes (no edifício da Junta de Freguesia de Benfica em Lisboa) um novo espectáculo, e uma nova incursão na senda dos mistérios da mente humana,e da Sexualidade (Homo/Hetero),com “ESTÁ TUDO NA SUA CABEÇA - A SEXUALIDADE SEGUNDO FREUD” em versão Pop.

Classificação Etária : m/ 16 anos

Todos os Sábados às 22 horas e Domingos às 17 horas.

Informações e Reservas : 91 9584669

Viena de Austria, sob a ocupação nazi.Enquanto a população se diverte num ambiente de excesso e decadência num cabaret no centro da cidade, um médico judeu de apelido Freud tenta descortinar os mistérios da mente através da psicanálise e da interpretação dos sonhos numa tentativa de transformar o sofrimento humano numa infelicidade vulgar.Mas a demência a que a História se transporta com a Guerra e o holocausto leva um grupo de figuras públicas a questionar se o verdadeiro inferno se encontra dentro ou fora de si próprios.

Numa versão pop a saga de uma das figuras mais importantes da modernidade com momentos fortes de humor, música e sonho!

XX Colóquio da Sociedade Portuguesa de Psicanálise


Vai realizar-se, nos dias 11 e 12 de Maio de 2007, o XX Colóquio da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, subordinado ao tema: “Psicanálise e Mudança” , que terá lugar na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

A Comissão Organizadora deste Colóquio pretende privilegiar, como objecto de reflexão, a evidência dos movimentos de mudança nas diferentes dimensões do conhecimento e da cultura na era actual, movimentos que a psicanálise não pode deixar de acompanhar.

Tentámos, assim, elaborar um Programa que favoreça um diálogo psicanalítico com algumas das áreas científicas e culturais que nos pareceram mais paradigmáticas dessa mudança. Escolhemos a Física , a Biologia da Reprodução , as Neurociências , a Sociologia e as Artes, na expectativa de se propiciar uma reflexão estimulante, conjunta e interdisciplinar, sobre os processos de mudança/transformações operadas nessas áreas e na psicanálise.

Para além de podermos contar com um elevado número dos nossos mais prestigiados psicanalistas, convidámos como oradores alguns investigadores, cientistas e artistas de reconhecido mérito, que passamos a apresentar:

Prof. Doutor Carlos Fiolhais, professor catedrático de Física, Universidade de Coimbra .
Prof. Doutor Mário de Sousa , médico investigador da Reprodução Medicamente Assistida, Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Universidade do Porto.
Prof. Doutor José Luís Garcia, Sociologia da Tecnologia, Instituto de Ciências Sociais, U. de Lisboa.
Prof. Doutor Manuel Villaverde Cabral, Sociólogo, Instituto de Ciências Sociais, U. De Lisboa.
Prof.ª Doutora Ana Nunes de Almeida, Socióloga, Instituto de Ciências Sociais, Pró-Reitora da Universidade de Lisboa.
Dra. Maria Saldanha Pinto Ribeiro, Psicóloga, Técnica de Mediação Familiar, Ministério da Justiça.
Leonel Moura, Artista Plástico.
Filipa Francisco, Coreógrafa e performer.
Teresa Villaverde, Cineasta, Realizadora de Cinema.

Contamos com a sua presença e participação activa, para que o nosso Colóquio possa ser um encontro científico, cultural e afectivo.

Veja o Programa.

Afectuosos cumprimentos,

Pel'a Comissão Organizadora

terça-feira, abril 24, 2007

2º Workshop Algarve

Prosseguindo com o nosso ciclo de Workshops em bandas Algarvias (Portimão) , vamos realizar este sábado, dia 28/04/2007 pelas 14h um workshop sobre

"Avaliação Psicológica - Contextos e Aplicações"

dinamizado pela nossa colega Eliana Vilaça.

Mais uma vez contamos com a presença dos nossos amigos e colegas algarvios.

domingo, abril 22, 2007

Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos

2007 é o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos- Para uma Sociedade Justa.

O Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos pretende sensibilizar a população para os benefícios de uma sociedade justa e coesa. Preconiza iniciativas de sensibilização que tenham por objectivo combater atitudes e comportamentos discriminatórios, bem como informar os cidadãos sobre os seus direitos e obrigações. Inscreve-se numa abordagem transversal do combate à discriminação, que deverá permitir assegurar a aplicação correcta e uniforme do enquadramento legislativo comunitário em toda a Europa, pondo em evidência os seus princípios essenciais e angariando o apoio activo do público à legislação em matéria de não-discriminação e de igualdade.

A minha questão é a seguinte: Sem prejuízo da mais valia de uma iniciativa que assenta na procura de diminuição da injustiça social, não será este um postulado falso?

Igualdade de oportunidades significa que somos também todos iguais, e não será esta uma forma ingénua de acentuar a injustiça social?
Se somos todos diferentes, temos todos necessidades diferentes e por isso também necessitamos de oportunidades diferentes.

A única forma, para mim, de se promover uma sociedade justa e coesa será precisamente o contrário, eu sugeria: "Ano europeu da diferença, das oportunidades diferentes para pessoas diferentes e ajustadas às necessidades de cada um."

Tideland - o mundo ao contrário

Este fim-de-semana estive a ver um filme perturbador – Tideland, o mundo ao contrário. O filme tem algumas cenas repugnantes. Começa com a história de uma rapariga de 7 ou 8 anos de idade, Jeliza-rose que vive com os pais, ambos toxicodependentes. A relação que os pais mantêm com a criança retrata, na minha opinião, o drama de muitas crianças que são criadas em famílias toxicodependentes. Há, como o nome do filme indica, uma reversão de papéis, é a criança que tem de cuidar das necessidades elementares da família. É ela que diligentemente prepara as doses de heroína que o pai consome e que o assiste enquanto ele se injecta. A criança nasceu ela própria dependente da heroína, a mãe a certa altura descreve com algum desdém a forma como ela, ainda bebé, recém-nascida, teve que lidar com a síndrome de abstinência.

Os pais, profundamente centrados sobre eles próprios, são ora abandónicos e negligentes ora pseudo-protectores com manifestações de amor que ilustram na perfeição o conceito de vínculo L menos de Wilfred Bion. Jeliza-rose lê para o pai histórias infantis enquanto este está inconsciente, “pedrado”. A mãe morre na sequência de uma overdose e a reacção do pai, atesta a sua incapacidade para lidar com a realidade. Mais tarde, o pai também morre e Jeliza-rose fica ainda mais sozinha.

Sozinha, num mundo de adultos perturbados, Jeliza-rose procura conforto e coragem nas suas fantasias, povoada por 4 bonecas (apenas as cabeças que coloca nos dedos, simulando personagens com as quais interage). Jeliza-rose representa na minha opinião o drama de muitas crianças que não podem contar com os seus pais para as ajudarem e que ficam profundamente sozinhas e à mercê de si próprias e das circunstâncias. Neste filme é possível compreender a força enorme de uma criança muito pequena, que luta pela sua sanidade mental num mundo enlouquecedor.

sábado, abril 21, 2007

Os tempos que correm

Aconteceu-me hoje uma coisa curiosa e que me deu que pensar. Recebi um mail duma leitora deste blog, assinalando que eu no meu último post tinha escrito arrasador com z, e não com s. Tem toda a razão e aqui fica a correcção, acompanhada de um mea culpa. Registo também que ela teve a delicadeza de me dirigir um mail pessoal, e delicadeza é algo que vai escasseando.
E fiquei a reflectir sobre este fenómeno, o dos erros de ortografia. É claro que eu podia arranjar aqui várias explicações, provavelmente todas elas verdadeiras: confusão com arroazado (esse sim, com z), uma redução da obsessividade no meu carácter, fruto de anos de análise didáctica (o que, paradoxalmente, não deixa de ser um bom sinal – noutras áreas da minha vida, claro, não na ortografia; obrigada ao meu analista!), leituras quase sempre, de há uns anos para cá, noutras línguas (por causa do doutoramento), pressa, alguma negligência, quiçá (o que é mau).
E isto da pressa, da correria, fez-me lembrar um livro que tenho andado a ler nos intervalos das leituras académicas e que aconselho vivamente: “A corrosão do carácter”, de Richard Sennett (está traduzido em Português na Terramar). É um ensaio sobre o significado do trabalho hoje em dia, a efemeridade dos empregos, a falta de ética, a superficialidade das relações que se vão criando, a dificuldade de construção de uma identidade, a ansiedade em relação ao tempo, a confusão e a sensação de frustração decorrentes da maior parte das situações profissionais.
O autor, que é sociólogo e é professor universitário em Inglaterra, levanta uma série de questões interessantíssimas sobre as quais vale a pena pensar a sério. Tanto mais que muitas das queixas que ouvimos dos nossos pacientes (pelo menos é o que se passa comigo) estão ligadas a estas questões e só ganhamos em perceber o que é que está a acontecer nesta matéria.
É claro que em relação à escrita, a net também não tem ajudado nada. Escrevem-se mails e posts a correr, fora de horas, tem de se escrever o que se quer dizer em meia dúzia de linhas para que as outras pessoas tenham tempo de ler, os assuntos nascem e morrem em dois ou três dias (a tal efemeridade). É um bocadinho angustiante, não é? Gostava de conhecer a vossa opinião.

Seminário de Psicopatologia

Vai realizar-se no ISPA em Lisboa no dia 26 de Maio, o seminário: "SUBJECTIVIDADES DEPRESSIVAS - Perspectivas Fenomenológicas e Existenciais".

É conhecida a importância crescente da psicopatologia depressiva, quer por associar-se a experiências significativas de sofrimento, quer pelas dificuldades que pode representar para o desenvolvimento de projectos pessoais, familiares e profissionais de quem está deprimido.
Numa época em que dominam modelos biológicos da depressão e na qual há quem pretenda que os fármacos anti-depressivos seriam a única solução, é essencial conhecer abordagens compreensivas sobre o que é estar-deprimido, a partir das perspectivas fenomenológicas e existenciais.

Destinatários: Psicólogos, Médicos, Enfermeiros, Assistentes Sociais, Técnicos de Reabilitação e Inserção Social, Técnicos de Desenvolvimento Comunitário e Saúde Mental, Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais. Estudantes das respectivas licenciaturas.

PROGRAMA

9h00 - Conferência de abertura
- Onirismo depressivo como forma de ser-no-mundo, Vítor Amorim Rodrigues
- Espacialidade nas experiências depressivas, Nuno Ferrão
- Fenomenologia da culpa nas experiências depressivas, Cristóvão Nunes

Intervalo

- Presença melancólica segundo L. Binswanger, João Fonseca
- Fenomenologia da tristeza vital / dor depressiva, Joana Teixeira
- A depressão segundo Rollo May, Ana Marques


14h00
- Significado da experiência depressiva em V.Frankl, Branca Sá Pires
- Contextos sociais, solidão e subjectividade depressiva, Cláudia Rosa
- Contextos sociais e subjectividade depressiva, Ana Nogueira

Intervalo

16h00 - Conferência de encerramento
Actualidade das perspectivas fenomenológicas e existenciais das depressões, José A. Carvalho Teixeira

Inscrições: Profissionais - 40€; Estudantes - 20€

Informações: Serviços académicos do ISPA

segunda-feira, abril 16, 2007

A Infelicidade ao Alcance de Todos

Este engraçado título é do blog de uma amigo meu, o José Manuel Fonseca. Ele tem também um outro blog, o Anarca Constipado, ainda mais arrazador. Dono de um humor cáustico, o JMF é doutorado em Gestão (Inglaterra), especialista em sistemas complexos.
Quando conheci o JMF, estávamos ambos a dar aulas no Mestrado em Comportamento Organizacional do ISPA, que aliás tem um interessante currículo. Depois, tive a oportunidade e o prazer de trabalhar com o JMF em projectos ligados à inovação, à mudança e à liderança e descobri que a psicanálise e a complexidade podem fazer um belo casamento. Pensando bem, não é muito de admirar. Freud sublinhou por diversas vezes a sobredeterminação dos fenómenos psíquicos. Não há, de facto, linearidade nos nossos processos mentais.
Se puderem dêem um salto até aos blogs do Zé Manel (kropotkine.blogspot.com) e deliciem-se com aquela prosa cáustica e acutilante. Ele é um homem livre e os seus escritos reflectem isso mesmo. Não há muita gente assim.

quinta-feira, abril 12, 2007

"Síndrome de Burnout nos hospitais do Algarve"

Este é o título de uma notícia de um jornal algarvio.

O síndrome de Burnout já foi falado no nosso blog mais do que uma vez pelo Pedro e penso que o seu último post incidia sobre o Burnout no casamento.

Ora vejamos aplicado aos profissionais da saúde, continuando com a notícia do jornal.

" A apresentação dos estudos promovida pela Administração Regional de Saúde do Algarve, confirma que existe relação entre a instabilidade no local de trabalho, os estilos de vida e o tipo de serviço psicologicamente mais exigente e a síndrome de Burnout. Um dos estudos aponta que um em cada quatro profissionais apresenta altos níveis de exaustão emocional, uma das dimensões da síndrome".

Este estudo foi realizado a profissionais de saúde dos hospitais algarvios, sob as 3 dimensões (exaustão emocional, a despersonalização e o grau de realização profissional)
Os investigadores constataram que os médicos apresentavam valores mais elevados na despersonalização e na exaustão emocional do que os enfermeiros, ao passo que na realização profissional os enfermeiros apresentavam valores superiores.
Existe também uma referencia ao facto de haver uma percentagem (14,6) de profissionais espanhóis, o que pode ter tido influência nos valores, remetendo para questões individuais (suas competências, motivações e nacionalidades)

Outra das conclusões chegada por estes estudos teve que ver com o estilo de vida dos profissionais e a forma como este pode influenciar o síndrome de Burnout, alertando para o facto de os profissionais da saúde registarem um valor superior no que concerne a auto-medicação, se comparados com a população geral.

Poderão encontrar esta notícia em www.jornaldoalgarve.pt

Se pensarmos em termos da profissão de Psicólogo, suas regras, definições, política de empregabilidade, and so one, e relacionarmos com o destaque desta notícia, aflige, não aflige?

AS falas do corpo

Saíu recentemente na Karnac um livro de Brian Broom, um conhecido psicoterapeuta e médico neo-zelandês (“Meaningfull disease”). As questões que ele levanta são da maior actualidade e vieram ao encontro de muitas das minhas prreocupações com os pacientes que, como nós dizemos, somatizam. Isto é, o corpo fala pela mente, quando a mente não consegue pensar e elaborar os conflitos e angústias: falta de ar, dores de barriga, problemas de pele, asmas, enxaquecas, dores de costas, etc, etc. O Dr. Broom acha que os psicólogos e psicoterapeutas se sentem pouco à vontade quando o paciente fala destes sintomas e remetem a pessoa para um médico, sem chegar a ouvi-la e a explorar com ela o que a aflige. Não está aqui em causa, obviamente, que seja errado sugerir uma consulta médica, mas sim o receio e o embaraço que por vezes nós temos de aprofundar com o paciente as questões do corpo. Como se o corpo fosse algo distinto da mente, uma coisa muito física e com a qual nós temos pouco a ver. Serão heranças do platonismo e do dualismo mente/corpo? Será uma defesa nossa contra as questões corporais, consideradas porventura como demasiado “físicas”? São questões que o Dr. Broom levanta e que me parecem muito importantes, especialmente quando cada vez noto mais um aumento de problemas relacionados com a somatização.

segunda-feira, abril 09, 2007

Os medos das Crianças

Este fim-de-semana estive a ler um livro que me pareceu interessante e por isso recomendo-o a todas as pessoas que sentem curiosidade e interesse em saber mais sobre os medos e as fobias na infância e na adolescência.

O livro (Os medos das crianças - medos, angústias, fobias na criança e no adolescente) foi escrito por Béatrice Copper-Royer, psicanalista francesa com um amplo trabalho clínico em psicoterapia psicodinâmica. O livro é de leitura bastante fácil, se bem que nem sempre seja muito esclarecedor (do meu ponto de vista, claro). Apresenta uma compreensão dos medos e das fobias enquadrado numa visão psicanalítica dando um destaque particular às questões relacionadas com o complexo de Édipo, mas autora é suficientemente aberta para, no último capitulo, fazer referência às terapias cognitivo-comportamentais e defender a utilização de ambos os tipos de abordagens em certas situações, como abordagens complementar.

A progressão do livro torna um pouco mais clara a fronteira sempre difusa, nestas situações, entre o normal e o patológico. Destaca a enorme importância de os pais aprenderem a lidar com os seus próprios medos como forma preferencial de prevenir o desenvolvimento de medos, terrores e fobias nas crianças.

domingo, abril 01, 2007

Frida Kahlo


Vi este fim de semana um filme que recomendo.

"Frida" retrata a vida e obra da pintora. Penso que é um bom retrato de como pode ser a arte um veículo de intensas angustias, de uma dor física e de um sofrimento psíquico que parecem não poder ser de outro modo elaboradas. A obra é crua, intensa e controversa, para mim, também é fascinante.

Quem foi Frida Kahlo

Vítima de um terrível acidente que a prendeu sob um colete de gesso por toda a vida, a dor de Frida foi retratada na sua pintura de forma a marcar a sua obra.

Os auto-retratos e as representações de cenas do hospital ou de procedimentos médicos foram retratados de forma a fazer o observador partilhar da sua dor. Retratou a lápis a cena do acidente, sem respeito por regras ou perspectivas.


Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de Julho de 1907, em Coyoacan, no México, para uma vida cheia de percalços. Frida era uma revolucionária. Ao contrário da elite da sua época, gostava de tudo o que era verdadeiramente mexicano: jóias e roupas das índias, objectos de devoção a santos populares, mercados de rua e comidas cheias de pimenta. Fiel ao seu país, a pintora gostava de se declarar filha da Revolução Mexicana ao dizer que havia nascido em 1910.
Militante comunista e agitadora cultural, Frida usou tintas fortes para estampar nas suas telas, na maioria auto-retratos, uma vida tumultuada por dores físicas e dramas emocionais.


Aos seis anos contraiu poliomielite (paralisia infantil) e permaneceu um longo tempo de cama. Recuperou-se, mas sua perna direita ficou afectada. Teve de conviver com um pé atrofiado e uma perna mais fina que a outra.
Em 1925, aos 18, a sua vida mudou de forma trágica. Sofreu um acidente de viação. Frida receberia todo o embate do acidente e foi atravessada por um ferro que lhe atravessou o abdomen, a coluna vertebral e a pélvis. Ela sofreu múltiplas fraturas, fez várias cirurgias (35 ao todo) e ficou muito tempo presa numa cama.

Foi nessa dolorosa convalescença, que Frida começou a pintar freneticamente, quando a mãe pendurou um espelho em cima de sua cama. Frida sempre se pintou a si mesma: 'Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor'.
As suas angustias, suas vivências, seus medos e principalmente o seu amor pelo marido, o pintor mexicano Diogo Rivera, com o qual se casa em 1929.

sexta-feira, março 30, 2007

Workshop no Algarve

Vamos realizar amanhã em Portimão um Workshop sobre "Psicologia e Psicoterapia na Prática Clínica: Intervenções na Actualidade".

Este Workshop será dinamizado por mim e inaugura um ciclo que esperamos que venha a ser interessante para os colegas e amigos de Portimão

quinta-feira, março 29, 2007

Colóquio no ISPA - Lisboa



No próximo dia 5 de Maio irá realizar-se no ISPA um colóquio intitulado "Mito pessoal, sentido e narrativa no processo clínico".

O programa:
9h30 - Abertura
10h - Conferência "Mito pessoal, Sentido e Narrativa (Frederico Pereira)
10h40 - Pausa
11h00 - Discussão sobre confer~encia
11h30 - "O que é um caso clínico?" (Raquel Ferreira, Teresa Flores, Manuel Matos,
Frederico Pereira, Fátima Sequeira, Maria José Vidigal)
13h00 - Almoço
14h30 - Workshops
16h-16h30 - Pausa
16h30-18h - Workshops
18h-18h15 - Pausa
18h15-18h45 - Debate geral e Encerramento

As inscrições são até 21 de Abril até completar 70. São 35€. Podem ser enviadas por email:sarac@ispa.pt ou 218811712.

segunda-feira, março 26, 2007

Acompanhamento psicológico à distância (ONLINE): A escolha certa?

O QUE É?

É uma nova modalidade de ajuda que utiliza as vantagens da Internet e das tecnologias de informação, permitindo a comunicação virtual, no momento ou em diferido, com um psicólogo. Com o surgimento da Internet, quase simultaneamente se tornou visível o seu potencial terapêutico como forma de comunicação. Em 1972, há registo de uma das primeiras formas de utilização da Internet numa sessão de psicoterapia simulada no âmbito da International Conference on Computer Communication, em Outubro desse ano. Os grupos de apoio online foram uma das primeiras formas sistematizadas de utilização deste suporte na relação de ajuda. O sucesso destes grupos firmou o potencial meio de comunicação que a Internet era, mesmo para abordar assuntos pessoais e delicados.

A consulta de acompanhamento psicológico online pode ser efectuada através de:

1. e-mail: não há necessidade de estar online simultaneamente, havendo o tempo que se desejar para escrever e pensar. É o meio de comunicação preferido pelas pessoas que gostam de escrever ou que têm horários muito difíceis de compatibilizar com o terapeuta.
2. chat: conversação instantânea com voz ou através de troca de mensagens escritas instantâneas. É preferida pelos que desejam uma resposta imediata por parte do terapeuta.
3. videoconferência: é considerada a forma ideal de terapeuta e cliente se relacionarem online. Existe a possibilidade de contacto visual e a consequente recolha de informação não verbal que poderá enriquecer a relação terapêutica. Com frequência porém, as pessoas sentem que na relação online conseguem revelar mais de si precisamente pela possibilidade de não existir contacto visual. Sentem-se mais seguros nesse contexto. Dependerá de pessoa para pessoa.
4. Telefone: conversação telefónica que poderá utilizar ou não o recurso da Internet. Útil para quem pretende manter uma conversação simultânea ou quem não quiser ou quem não puder fazer uso da Internet.

SERÁ EFICAZ?

Alguns estudos têm observado que pode ser uma forma poderosa de intervenção, e um agente de mudança rápida e efectiva na vida da pessoa. Isto porque se tem observado que a modalidade on-line estimula intensamente a projecção e as características psico-dinâmicas da díade, o que estimula muito a eficácia e rapidez da intervenção (Suler, 1996). Tem sido também constatado que as pessoas on-line vão mais directamente ao assunto fulcral de suas preocupações, o que agiliza a intervenção. Vários estudos têm demonstrado a potencialidade desta área, revelando que esta abordagem clínica realizada com o suporte de Internet é mais eficaz do que o não tratamento e tão eficaz como a abordagem face-a-face (Emmelkamp, 2005; Eaton, 2005). O acompanhamento psicológico online não pretende ser uma substituição da terapia tradicional mas sim uma outra forma de relação de ajuda que pode alcançar todos aqueles que, apesar de sentirem a necessidade, não estão a beneficiar de qualquer tipo de ajuda. A relação que é estabelecida com o terapeuta via Internet pode ser profunda, autêntica e emocionalmente reparadora. Numa análise de 400 clientes que usaram serviços de acompanhamento psicológico online, 90% refere ter obtido beneficio dos mesmos (http://www.metanoia.org/).

QUE VANTAGENS?

Tem a possibilidade de ser acessível à maior parte das pessoas que normalmente não têm possibilidade de recorrer a ajuda profissional por impossibilidade física, geográfica, por dificuldade de gestão do tempo, etc.
Para certas pessoas poderá ser sentida como um contexto mais confortável dado poder decorrer num contexto pseudo-anónimo se for essa a vontade do cliente.

QUE DESVANTAGENS?

A menor existência de comunicação não-verbal poderá diminuir a riqueza da informação trocada pelo que é importante os participantes comunicarem num nível compreensivo equivalente, sentirem-se confortáveis a escrever e comunicar com expressividade e algum detalhe.
Não é adequada em momentos de crise muito grave em que estejam comprometidas as capacidades de compreensão e raciocínio lógico.

QUE PROBLEMAS PODE RESOLVER?

Perturbações de ansiedade, alterações de humor, perturbações do sono, fobias, medos, consequências psicológicas do adoecer físico, dificuldades de realização na vida, dificuldades no estudo e no trabalho, problemas de relacionamento, necessidade de melhor conhecimento de si próprio, são algumas das questões que podem ser abordadas.

SERÁ CONFIDENCIAL?

Tal como na situação face-a-face, o acompanhamento psicológico on-line é sujeito a critérios de confidencialidade que abrangem toda a informação trocada entre cliente e profissional. O uso de procedimentos electrónicos chama a atenção para alguns perigos involuntários que podem ocorrer:

O cliente ou o terapeuta podem acidentalmente enviar um e-mail confidencial para um outro destinatário. A solução é ter uma preocupação redobrada em verificar o endereço antes de fazer o envio do e-mail bem como reduzir ao mínimo o material de identificação constante no e-mail, ou encriptar a informação.

Acesso não autorizado ao e-mail do terapeuta ou do cliente potencializado pelo facto de que com frequência os computadores são partilhados. Ter por isso algum cuidado em não partilhar o computador com que este serviço é prestado ou ter especial cuidado se o tiver de fazer usando palavras-passe eficazes.

É ÉTICO?
A psicologia on-line encontra-se internacionalmente devidamente enquadrada em termos legais. Profissionalmente ela é orientada pela Sociedade Internacional para a Saúde Mental Online (ISMHO) http://www.ismho.org/about.htm e pela American Psychiatric Association (APA)/Div.46 http://www.apa.org/divisions/div46/ .

A ISMHO foi fundada em 1997, tem como missão promover a compreensão, o desenvolvimento da comunicação online a nível da saúde mental, delineando um código de conduta a ser seguido por todos os profissionais que trabalham nesta área online. Possui um grupo de discussão de casos para aprofundamento do estudo de casos clínicos que usam o suporte online e aperfeiçoamento das metodologias de intervenção.

A APA/Div.46 refere-se à Media Psychology e foca-se no papel que os psicólogos têm nos vários aspectos dos média, rádio, televisão, cinema, vídeo, imprensa escrita e novas tecnologias. Desenvolve investigação sobre o impacto que os média têm no desenvolvimento humano, aprofunda o ensino, treino e prática da média psychology, orienta eticamente os profissionais que trabalham neste âmbito.

Consultar:

http://www.psicronos.pt/

Bibliografia:

Emmelkamp, PMG (2005). Technological innovations in clinical assessment and psychotherapy. Psychotherapy And Psychosomatics, 74 (6):336-343.
Eaton, W. (2005). Internet-Based Mental Health Interventions. Mental Health Services Research, Vol. 7 Issue 2, p75.

Shaw, H. & Shaw, S. (2006). Critical Ethical Issues in Online Counseling: Assessing current practices with an ethical intent checklist. Journal of Counseling & Development, Volume 84.

Suler, J. (1996, May). Transference among people online. The Psychology of Cyberspace. Disponível www.rider.edu/users/suler/psycyber/psycyberl

quarta-feira, março 21, 2007

O Poeta

Porque hoje é o Dia Mundial da Poesia, deixo aqui uma homenagem a todos os poetas através das palavras de Vinicius de Moraes, numa descrição da alma do artista:

“A vida do poeta tem um ritmo diferente
È um contínuo de dor angustiante.
O poeta é o destinado do sofrimento
Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza
E a sua alma é uma parcela do infinito distante
O infinito que ninguém sonda e ninguém compreende.

Ele é o eterno errante dos caminhos
Que vai, pisando a terra e olhando o céu
Preso pelos extremos intangíveis
Clareando como um raio de sol a paisagem da vida.
O poeta tem o coração claro das aves
E a sensibilidade das crianças.
O poeta chora.
Chora de manso, com lágrimas doces, com lágrimas tristes
Olhando o espaço imenso da sua alma.
O poeta sorri.
Sorri à vida e à beleza e à amizade
Sorri com a sua mocidade a todas as mulheres que passam.

O poeta é bom.

Ele ama as mulheres castas e as mulheres impuras
Sua alma as compreende na luz e na lama
Ele é cheio de amor para as coisas da vida
E é cheio de respeito para as coisas da morte.
O poeta não teme a morte.
Seu espírito penetra a sua visão silenciosa
E a sua alma de artista possui-a cheia de um novo mistério.
A sua poesia é a razão da sua existência
Ela o faz puro e grande e nobre
E o consola da dor e o consola da angústia.

A vida do poeta tem um ritmo diferente
Ela o conduz errante pelos caminhos, pisando a terra e olhando o céu
Preso, eternamente preso pelos extremos intangíveis”.

Neste “caminho para a distância”, as misteriosas palavras retratam os véus da alma dos poetas, tão inquietantes e fascinantes, como crianças que vagueiam ante o mistério de uma amplidão suspensa.
Falemos então dos poetas e da sua poesia...

quinta-feira, março 15, 2007

A Depressão Pós-Parto



A depressão pós parto não é geralmente um acontecimento súbito, é um processo lento que pode ocorrer alguns dias após o parto ou aparecer gradualmente, às vezes até um ano depois. Muitas vezes a DPP não é diagnosticada ou se o é, não é feito um pedido de ajuda (geralmente é necessário recorrer a acompanhamento psicológico ou tratamento farmacológico ou até ambos).
Os sintomas observados podem ser: tristeza a maior parte do dia, pânico, sentimentos de desespero, dificuldades de concentração ou memória, sentimentos de desvalorização e culpa, medo excessivo de magoar o bebé, pensamentos acerca de se magoar ou de se suicidar, sentimento de que se está a enlouquecer, variação de humor, gritos e choro, perturbações de sono ( insónia ou hipersónia), alterações significativas de peso, aumento ou diminuição significativos de apetite, fadiga, pensamentos mórbidos, agitação ou apatia, incapacidade de criar ligações afectivas com o bebé, perda de interesse sexual, anedonia, dores e/ou tensão na cabeça.
Uma mulher que sofra de depressão pós parto apresentará vários dos sintomas acima descritos de uma maneira mais ou menos severa deixando esta envergonhada, com sentimentos de culpa e consequentemente isolada (pode haver alternância entre bons e maus dias ).
Os factores de risco são: depressão pós parto ou um significativo “baby blues” numa anterior gravidez, mulheres com história pessoal ou familiar de depressão, mulheres com problemas matrimoniais crónicos (ex: violência doméstica, separação, divórcio entre outros), dificuldades financeiras, problemas com filhos ligeiramente mais velhos (ex: ciúme), preocupações ou problemas de saúde relacionados com o novo bebé, falta de apoio social, acontecimentos de vida negativos durante a gravidez e/ou parto, história pessoal de sindroma pré-mestrual, ansiedade ou depressão durante a gravidez, gravidez não planeada e/ou filho não desejado, complicações do foro obstetra, história de trauma infantil ou abuso, acontecimentos de vida importantes (ex: perda de emprego), infertilidade anterior.
Entre possíveis causas destacam-se: hipóteses biológicas (alteração das concentrações hormonais: o corpo começa a produzir altos níveis de prolactina, hormona relacionada com a amamentação, permanecendo estes níveis altos durante cerca de dois meses após o parto quer a mãe amamente ou não; sendo que esta hormona interfere com a produção de estrógeneo e progesterona, mantendo baixa a já esgotada provisão destas), hipóteses relacionadas que se referem às relações do indivíduo com a família quer no passado ( ex: ausência do pai durante a primeira infância por perda ou separação) , quer no presente (dificuldades recentes no relacionamento com a mãe, conflito/insatisfação matrimonial); outros acontecimentos de vida ( ex: a morte de um parente durante a gravidez mas não depois do parto ); hipóteses psicológicas ( ex: predisposição prévia para perturbação depressiva; dificuldades experienciadas durante a gravidez como sejam a ansiedade, dúvidas em prosseguir a gravidez entre outras). Recentemente a importância do bebé tem sido posta em evidência, tendo surgido um modelo explicativo inovador que assenta nas dificuldades temperamentais do bebé como factor de stress, nas complicações de saúde relativas ao bebé e na percepção que a mãe tem do comportamento deste, sendo que o suporte social pode funcionar como um recurso protector para as mães, bem como as relações interpessoais desta. A importância dos factores sócio-económicos é ambígua.
A Perspectiva psicanalítica sugere que após o parto a mulher tem de realizar o luto de uma série de experiências presentes nomeadamente o luto do filho imaginário, ideal ( expectativas) e experiências passadas, nomeadamente o luto de anteriores experiências de separação ( a mãe identifica-se com o bebé revivendo através dele a relação com a mãe ).
A DPP é um sinal de que a mãe não está a realizar convenientemente o trabalho psicológico do pós parto que consiste em aceitar que o seu filho não é tão magnífico como imaginou, tarefa que pode ser dificultada quando as expectativas da mãe são quebradas ( ex: sexo, temperamento do bebé, aparência física).
Quanto às consequências da DPP no desenvolvimento infantil, várias questões se podem colocar. Será que o estado depressivo pós parto afecta a qualidade do laço afectivo do bebé com a sua mãe ? O comportamento da mãe é considerado uma importante fonte de estimulação para a criança, sendo que a qualidade proporcionada está associada à qualidade do desenvolvimento da criança, no entanto os resultados dos estudos existentes sobre a influência adversa da DPP na elaboração de uma ligação segura à mãe por parte da criança são controversos.
A perturbação psiquiátrica dos pais é um factor de risco que tem sido associado à vulnerabilidade da criança para a doença mental (comprometimento para o desenvolvimento da criança nos domínios cognitivo e desenvolvimento da personalidade – génese de perturbações comportamentais e de atrasos cognitivos ). No entanto recentemente sublinhou-se que efeitos como estes são mediados por um conjunto de variáveis tais como a coexistência de relações familiares perturbadas. É importante avaliar o funcionamento do pai, relação entre os cônjuges, contexto familiar, peso do bebé à nascença entre outros.
As reacções que os bebés tendem a ter perante a DPP da mãe são a de inventar tipos de comportamentos: o bebé pode desistir de tentar atrair a atenção da mãe e recolher-se em si próprio; o bebé pode tentar ficar próximo da mãe deprimida, imitando-a .Há uma posterior identificação com o estado de espírito desta, tendo como consequência a depressão do próprio bebé; o bebé pode tentar alegrar a mãe, havendo a possibilidade de este se tornar hiperactivo, resultando por vezes numa “perturbação de défice de atenção”. Esta investigação foi altamente controversa. Muitos especialistas crêem que, excepto em casos de depressão grave, as crianças não são necessariamente afectadas por uma breve depressão da mãe.
Os tratamentos variam consoante o tipo de sintomas e respectiva severidade. A DPP pode ser tratada com recurso a medicação, psicoterapia ou uma combinação de ambas.
A medicação apresenta algumas vantagens, como actuar mais rápido e apresentar custos inferiores; no entanto a psicoterapia não deixa de ter um papel muito importante e complementar da primeira; sendo mesmo imprescindível em casos de depressão severa, de problemas psicológicos crónicos, de resposta pouca satisfatória a tratamento farmacológico, ou em casos de perturbações da personalidade. A medicação apresenta inconvenientes no caso de a mãe estar a amamentar ( a maior parte dos medicamentos apresentam concentração no leite materno), no entanto pode-se pôr a hipótese de a mãe deixar de amamentar o bebé caso a depressão seja muito severa, sendo mais uma vez a intervenção de profissionais de saúde absolutamente necessária. Apresentam benefícios inegáveis a prática de exercício regular ( ex: caminhar); aliada a uma alimentação cuidada e um sono regular e repousante. Um bom ambiente familiar e apoio por parte da família têm igualmente uma importância fundamental no sucesso do tratamento da DPP.
O internamento hospital raramente é necessário no caso da DPP mas em casos graves de depressão ( particularmente na psicose pós parto) pode ser essencial. O Psiquiatra Ian Brockington montou uma unidade para mães e bebé, em Birmingham pois considera que o internamento sem o bebé é pior do que inútil (destrói a autoconfiança, a independência e a relação mãe – bebé).
Infelizmente, muitas mães sofrem da DPP sem terem conhecimento de que esta é uma perturbação tratável, com as inerentes consequências devastadoras para a mãe, para o bebé, para a relação mãe-bebé, para o ambiente familiar e amigos. É imprescindível para que o tratamento seja eficaz, que a DPP seja detectada precocemente e sejam feitas as intervenções necessárias, tanto farmacológicas como a nível de psicoterapia.
Há uma necessidade urgente de divulgar informação e diminuir o estigma social que a perturbação acarreta, pois só assim será possível diagnosticar um maior número de casos que permanecem ignorados e permitir uma erradicação pelo menos parcial da perturbação.
Photo by Anne Geddes