Tricotilomania é quando alguém
arranca sistematicamente o cabelo ou pelos de diversas partes do corpo
(pestanas, sobrancelhas, axilas, barba, pelos púbicos), resultando em peladas
evidentes, ou mesmo sangramento e feridas. Varia em termos de gravidade e local
no corpo, assim como na resposta ao tratamento.
Tem sido definida como uma
Perturbação do Controlo dos Impulsos, estando atualmente enquadrada nas
Perturbações Obsessivo-Compulsivas, embora esta classificação seja alvo de
discussão.
Estas pessoas puxam frequentemente
o cabelo enquanto leem, escrevem, falam ao telefone, trabalham, conduzem, veem televisão
ou adormecem. A maior parte fá-lo em privado e nem todos têm consciência de que
o fazem. Parece haver alguma predisposição
biológica para o ato de puxar e arrancar o cabelo como mecanismo de
auto-apaziguamento, que não se enquadra nos comportamentos de auto-mutilação,
não havendo intenção de causar dor ou dano a si próprio. No entanto, as causas
são desconhecidas, podendo ser desencadeada em resposta a eventos ansiogénicos
ou, simplesmente, por fatores sensoriais.
A Tricotilomania manifesta-se
habitualmente a partir dos 11 anos, mas pode verificar-se em crianças com menos
de um ano. Este distúrbio causa grande angústia nos pais, que se sentem
impotentes para travar o comportamento. No próprio, à medida que ganha
consciência sobretudo dos efeitos, pode verificar-se isolamento e evitamento de
situações de exposição em que não consiga disfarçar as peladas. A severidade é
variável e, em alguns casos, o cabelo pode passar a ser mastigado e engolido
(Tricotilofagia), trazendo complicações intestinais e digestivas graves que
requerem intervenção médica.
Quando ocorre antes do início da adolescência,
parece existir menor probabilidade de evolução para um quadro mais complexo. A
sua manifestação antes dos 3 anos parece estar mais associada à necessidade de
estimulação sensorial para auto-apaziguamento. À semelhança do chuchar no dedo,
a criança vai enrolando e puxando o cabelo, essencialmente durante o sono ou
quando está a adormecer. Até aos 5 anos, a intervenção passa essencialmente por
algumas estratégias discutidas com os pais e os educadores da creche (onde faz
a sesta) e incluem a introdução de alguns materiais que dificultam o
comportamento e outros que promovem o apaziguamento, para além de ser
necessário assegurar que este comportamento não se deve a sentimentos de
desamparo. A partir dos 6 anos, as estratégias são relativamente semelhantes,
mas já é possível envolver a criança mais ativamente no processo terapêutico. A
partir da adolescência, apesar de continuar a ser necessário o trabalho com os
pais, a intervenção já será mais individualizada. Em algumas situações requer
apenas vigilância e concentração, noutras é necessário um processo mais
aprofundado.
Dizer “não arranques” ou castigar
são atitudes que não contribuem para a eliminação do comportamento, sendo
necessária aceitação, compreensão e ajuda no processo de auto-monitorização e
controlo.
Apesar de não se conhecerem as
causas e de não existir uma associação direta a fatores de ansiedade, eventos
traumáticos ou quadros psicopatológicos, importa sempre a averiguar as
vivências da criança, do adolescente ou do adulto e identificar as situações em
que ocorre mais frequentemente e se existem fatores desencadeadores.
Em muitos casos a Tricotilomania
implica uma intervenção psicoterapêutica com os pais e com o indivíduo, noutros
o comportamento desaparece da mesma forma que surgiu, sem causa aparente.
Sem comentários:
Enviar um comentário