segunda-feira, setembro 18, 2006
Burnout e Depressão
Talvez a questão a colocar será “ Até que ponto, a classe médica não estará a banalizar o burnout, como um mal da sociedade, sem dar ao trabalho de fazer um diagnóstico completo da personalidade do sujeito?”
Afinal não são os acontecimentos que nos perturbam, é o modo com encaramos os acontecimentos que nos pode perturbar!
Mas esta é apenas a minha opinião…
Agora gostava de saber qual é a vossa?
domingo, setembro 17, 2006
Psicoterapias na Idade Avançada
No próximo dia 7 de Outubro vamos dar um curso introdutório sobre Psicoterapias na Idade Avançada no Instituto Superior Miguel Torga em Coimbra.
Estas pessoas estão numa situação especial, ainda não se têm que defrontar com os grandes problemas de saúde que atingem os grandes idosos, mas sentem de uma forma muito clara que uma parte substancial da vida já foi vivida.
Frequentemente as pessoas deste grupo etário tendem a deprimir e a desinteressarem-se por elas próprias, mas raramente recorrem a um psicoterapeuta que as possa ajudar.
Se nós enquanto profissionais passarmos a estar mais atentos às necessidades específicas das pessoas deste grupo etário, então, muito provavelmente as pessoas também passarão a estar mais atentas a si próprias e a sentirem-se capazes de recorrer à nossa ajuda.
terça-feira, setembro 12, 2006
Necessidade de domínio
Há algum tempo atrás um dos meus pacientes enviou-me um e-mail com um poema que nos faz reflectir sobre a questão da posse e da necessidade de domínio sobre o outro. A forma como nós tendemos a pensar nos outros e, mais concretamente, nos nossos filhos como “propriedade” nossa é profundamente prejudicial porque não permite que a criança cresça para ser quem é.
É muito difícil mas muito importante respeitar o outro na sua individualidade.
Os Filhos
São os filhos e as filhas da Vida que anseia por si mesma.
Eles vêm através de vós mas não de vós.
E embora estejam convosco não vos pertencem.
Podeis dar-lhes o vosso amor mas não os vossos pensamentos, pois eles têm os seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar os seus corpos mas não as suas almas.
Pois as suas almas vivem na casa do amanhã, que vós não podereis visitar, nem em sonhos.
Podereis tentar ser como eles, mas não tenteis torná-los como vós.
Pois a vida não anda para trás nem se detém no ontem.
Vós sois os arcos de onde os vossos filhos, quais flechas vivas, serão lançados.
O arqueiro vê o sinal no caminho do infinito e Ele com o Seu poder faz com que as Suas flechas partam rápidas e cheguem longe.
Que a vossa inflexão na mão do Arqueiro seja para a alegria; Pois assim como Ele ama a flecha que voa,
Também ama o arco que se mantém estável.
domingo, setembro 10, 2006
Definições de Burnout.
Como tal, é importante aceder ás definições dos investigadores na área para conseguir usar o termo com maior rigor.
Para Pines, Aronson (1988), burnout é o “estado de exaustão física, emocional e mental causado por um grande período de envolvimento em situações emocionalmente exigentes”, e “ envolvimento repetido em situações que requerem recursos emocionais”.
Outros autores referem o burnout como um processo e não uma afecção que ocorra num curto espaço de tempo, muito pelo contrário é um desgaste que se instala progressivamente.
Assim, Fawzi, e tal (1981) referenciam este processo em 3 fases:
1ª Fase – Perda de satisfação em termos sociais.
2ª Fase – Rápida deterioração física e mental, alterações no sono, perda de energia, alterações no peso e indiferença.
3ª Fase – Quebra física ou psicológica, podendo surgir ataques cardíacos, úlceras, doença mental.
Para nossa reflexão: “Estarei eu num processo de burnout?”
Se sim, consulte um psicólogo.
quarta-feira, setembro 06, 2006
Porque falamos tanto de psicanálise...
Há uns dias atrás, um leitor e futuro colega (aluno do 2º ano de psicologia) escreveu-nos um e-mail a dizer que seguia com interesse o nosso blog, mas que tínhamos a tendência para escrevermos muito sobre teoria e técnica psicanalítica e muito pouco sobre outras correntes mais actuais. Dizia ainda que nem sequer tinha em grande conta a psicanálise e que portanto lhe parecia um desperdiço de tempo e recursos.
segunda-feira, setembro 04, 2006
Psicologia das Emoções e Psiconeuroimunofisiologia
Um dos interesses da psicologia das emoções é o estudo do ajuste emocional à doença física. Um outro é tentar compreender que tipo de estratégias emocionais para lidar com a doença é que são facilitadoras de uma qualidade de vida superior.
- Embora os avanços da medicina, tenham possibilitado a descoberta de formas de tratamento mais eficazes da doença do foro oncológico, o cancro continua a ser uma das doenças mais temidas do nosso tempo.
- O elemento fundamental de uma campanha contra todas as formas de cancro é a total e pormenorizada compreensão da doença.
- O cancro da mama é o terceiro tipo de cancro mais comum a nível mundial, após o cancro de pulmão e do estômago, e o seu impacto é especialmente notado uma vez que ocorre maioritariamente nas mulheres, ameaçando um órgão que se encontra intimamente relacionado com a auto-estima, a sexualidade, a feminilidade, os papéis sociais e a própria vida. (Fernandes & Mclntyre, pg354). É pelo enorme impacto que a doença tem que se torna pertinente o estudo do ajustamento emocional. (Baptista, Moura, Rodrigues & Rosa 2000,pg61) <
- No ajustamento emocional intervêm factores como: processos de coping, índices de esperança, receptividade social, adaptação psicológica e o estado de saúde dos pacientes.
- Os processos de coping são estratégias de conforto utilizadas pelos sujeitos para lidar face a uma nova situação, ou seja, é a melhor forma que os pacientes encontram para lidarem com a sua doença, neste caso com o cancro, visando o aumento da auto-estima e daauto-eficácia.
- Os índices de esperança, são muito importantes no ajustamento emocional, isto porque de acordo com a literatura, os sujeitos com índices elevados de esperança, tem uma melhor adaptação à doença.
- O suporte social funciona como um "recurso de coping", actuando essencialmente na diminuição das exigências da situação stressante. Nesta perspectiva, o suporte social é visualizado como um processo transaccional em que o indivíduo interage continuamente como meio sempre em mudança, influenciando-o e sendo por ele influenciado.
- Os referenciais teóricos indicam a fase de pós-diagnóstico, como uma fase de crise em que as pessoas necessitam de grande suporte, em especial de tipo emocional, para poderem enfrentar esta situação ameaçadora, tornando-a menos lesiva para o seu bem-estar e identidade pessoal. (Samarel et al., 1998; Santos et al., 1994; Ward et al., 1991 in Lopes, Ribeiro & Santos 2003,pg200)
- A adaptação psicológica relaciona-se com o estado afectivo e o estado funcional dos pacientes ao longo da doença. Este factor está muito relacionado com a personalidade da pessoa.
- Indivíduos com estratégias de coping positivas, elevados índices de esperança e contextos sociais receptivos, aumentam a sua adaptação psicológica em relação à doença, aumentando a probabilidade do seu estado de saúde melhorar, provando que o ajustamento emocional é benéfico em experiências stressantes como o cancro.
- O modo como o indivíduo percepciona cognitivamente a sua doença influencia o seu comportamento perante a doença
Os meus agradecimentos aos 4 autores que gentilmente nos deram a ideia e o material para este post.
domingo, setembro 03, 2006
Tempo
O tempo passa por nós
Desfocado sem se ver
E a única maneira de o agarrar
É continuar a viver
Será que ele abranda?
Não me parece
Pois sem ele
Nada acontece
Continua, não pares
Faz o que tens a fazer
Aproveita-o bem
Ele não se vai render
Paulo Jorge Machado de Campos
Este simples poema vai de encontro a uma queixa recorrente dos nossos clientes. Não tem tempo para gastar numa psicoterapia que pode durar anos… é o que por vezes dizem. Mas afinal e o tempo que se passou até chegarem ao ponto actual, como foi gasto?
Será que que uma hora por semana, das 168 que ela tem, é tão dificil de encontrar?
Parece útil referir que o tempo não para com a psicoterapia. E que a vida do cliente continua… e continua cada vez melhor! Então se o tempo passa sempre, porque não passa-lo cada vez melhor?
Deixo esta provocação… sem perder mais tempo!
O BlogDay
No passado dia 31 de Agosto comemorou-se o dia do Blog. O objectivo desta comemoração é facilitar a divulgação dos blogs na blogosfera.
O Salpico foi escolhido e recomendado pelo lâmpada azul como sendo um dos seus 5 preferidos. Explorem as outras recomendações de João Craveiro:
Cooking for Engineers
Dr’s e Engenheiros
Linhas de Prazer
Rascunhos
quarta-feira, agosto 30, 2006
O Mito da Hipnose!
Aquilo que é definido por estado hipnótico não é mais que um estado modificado de consciência em que a nossa atenção está totalmente focada num só ponto sem se ter noção de tudo o resto.
Parece simples dito desta maneira. Nada tem a ver com os espectáculos em que as pessoas imitam galinhas e fazem coisas estranhas. Esse tipo de espectáculos foi proibido em alguns países da Europa e nada tem a com a hipnose terapêutica.
Outro facto a salientar é que na verdade toda a hipnose é auto hipnose, ou seja, nós não entramos num estado hipnótico senão o desejarmos. O terapeuta serve de guia para entrar nesse estado de consciência.
No fundo o que mais fascina na hipnose é o rápido acesso a memórias de factos muito antigos que de outra maneira apenas estariam acessíveis após vários anos de terapia.
Utilizando uma metáfora de Hellmut Karle hipnoterapeuta autor de alguns livros, “ A hipnose é como uma seringa que permite injectar no local os componentes para a cura.”
Assim podemos ver que a hipnose se trata de uma ferramenta e que mais uma vez o papel do terapeuta é de grande importância para a cura do paciente. Ou seja, se os materiais acedidos não forem bem trabalhados de pouco servirá ao cliente ter-se recordado de certos acontecimentos. Apenas servirá para relativizar a experiência sem que seja analisado o impacto na vida actual do cliente.
Mas esta é apenas uma das abordagens possíveis, a hipnose é utilizada por médicos no tratamento da dor crónica e em lesões de queimaduras. Nestas últimas, é induzido primeiro um estado de relaxamento e depois a concentração em sensações agradáveis de frescura em que o tecido queimado é visualizado a recuperar a antiga forma.
O assunto da hipnose não esgota nestas linhas e como tal voltarei a aborda-lo no futuro. Por agora fica a provocação… O que gostariam de recordar se fossem hipnotizados?
segunda-feira, agosto 28, 2006
Técnica Psicanalítica
quinta-feira, agosto 24, 2006
Poesia e psicologia
“Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo... ”
Poesia de Fernando Pessoa
Jornal de Poesia
Poemas de Pessoa
As tormentas
Instituto Camões
sábado, agosto 19, 2006
Relacionamentos amorosos
Uma das coisas que ela identifica como sendo bastante importante é que cada um dos parceiros seja capaz de se separar emocionalmente da família em que cresceu. Isto não significa que a pessoa deva cortar relações com os seus pais e irmãos, mas sim que é importante que cada membro do casal conquiste uma identidade própria, completamente diferenciada deles.
quarta-feira, agosto 16, 2006
Psicologia Clínica
no seu livro Introdução à psicologia Clínica define da seguinte forma o método clínico:
“O método clínico insere-se numa actividade prática que visa o reconhecimento e a nominação de certos estados, aptidões e comportamentos, com a finalidade de propor uma terapêutica (psicoterapia, por exemplo), uma medida de ordem social ou educativa, ou uma forma de conselho que permita uma modificação positiva do indivíduo. Ela procura criar uma situação, com um fraco grau de constrangimento, tendo em vista a recolha de informações que ela deseja que seja a mais ampla e o menos artificial possível, deixando ao sujeito a possibilidade de expressão. A especificidade deste método reside no facto de recusar isolar estas informações e tentar agrupá-las, inserindo-as na dinâmica individual.”
Parece-me uma definição bastante interessante.
domingo, agosto 13, 2006
Teoria da dissociação do ego
Nos últimos anos da sua obra, Freud escreveu importantes trabalhos em que concebeu que o psiquismo não funcionava unicamente pela interacção e conflitos entre sistemas, como as pulsões do id contra as proibições do superego, etc. Assim, a essa teoria “intersistemica” ele acrescentou que também há conflitos “intra-sistemicos”, isto é, dentro de uma mesma instância psíquica podem existir conflitos, como é o exemplo de, dentro do ego, um mecanismo de defesa que pode se opor ao outro, etc. Dessa forma, Freud lançou as primeiras sementes que possibilitaram aos pósteros autores desenvolverem uma concepção inovadora dos conflitos intrapsíquicos, o que pode ser exemplificado com os trabalhos de Bion – notável psicanalista britânico – que descreveu a existência concomitante em qualquer pessoa da “parte psicótica e da parte não psicótica da personalidade”, bem como da parte infantil agindo simultaneamente com a parte adulta do sujeito, etc. Creio que duas metáforas podem ilustrar melhor esse conceito de alta relevância na prática analítica contemporânea. 1. Podemos comparar o mundo do psiquismo interior com o mapa geográfico do mundo, em que as regiões são completamente distintas (zonas geladas dos pólos junto com zonas tórridas do Equador, ou temperadas de outros continentes, etc.), cada região com a sua característica especificas. Assim, quem conhece unicamente o pólo Norte, certamente terá uma ideia equivocada do que, de facto, é o globo terrestre. De forma análoga, qualquer sujeito não pode ser julgado por um único aspecto da sua personalidade; pelo contrário, na situação analítica, é indispensável que o analista propicie ao paciente a visualização de todas as suas distintas partes e de como elas interagem entre si. 2. Uma segunda metáfora consiste no modelo do “arco-irirs”, ou seja, no entendimento de que a cor branca (por exemplo, a luz do sol) quando sofre o fenómeno físico da refarão (quando a luz branca do sol atravessa uma nuvem carregada com água da chuva), ela se decompõe nas sete cores típicas do arco-íris. Do mesmo modo, cada pessoa pode ser decomposta em uma série de “partes”, com as cores características de cada uma delas. Um lema que parece apropriado para o objectivo de “cura” analítica seria: “onde estiver uma parte, o todo deve estar e, a partir do todo, reconhecer as partes”.
In Zimerman, D. (2005) Psicanálise em perguntas e respostas – verdades, mitos e tabus. pp. 130. Porto Alegre: Artmed
Concordo em absoluta com a enorme importância para a psicanalise actual dos conceitos de “partes do psiquismo” e com a necessidade de as revelar ao paciente, que passará a ter uma percepção de si próprio enriquecida e, portanto, terá a possibilidade de se aceitar em múltiplos registos e com múltiplas partes que são activadas em determinadas circunstâncias ou que co-existem em aparente paradoxo.
Contudo não me parece que estes conceitos derivem, como diz Zimerman, da dissociação do ego. Acho que o conceito de dissociação do ego foi de facto importante e abriu o caminho para que os conceitos de posição e de partes da personalidade pudessem emergir, mas eles assentam, na minha opinião, numa outra lógica que não a estrutural: assentam na noção da vida mental como um mundo de relações objectais inconscientes. São conceitos emergentes da Teoria das Relações Objectais Internas.
Winnicott: Uma psicanálise não-edipiana
A experiência psicanalítica
Object relations theory - Wikipedia
The Object Relations
Object Relations Theory
Object Relations Theory - Key Concepts
Melanie Klein
D. W. Winnicott
Object Relations Theory
What is British Object Relations Anyway?
Imagem de:
Fernando Diniz - 33,9 x 47,5 cm - óleo sobre papel - 1968
quinta-feira, agosto 10, 2006
Teoria do Narcisismo
Embora não tenham sido formulados como uma teoria, os estudos de Freud sobre o narcisismo, inicialmente metapsicológicos porque se fundamentavam em especulações imaginárias (as pulsões libidinais tomavam o próprio corpo como fonte de gratificações libidinais), com algumas modificações, foram ganhando uma comprovação em situações clínicas, abrindo as portas para a mais profunda compreensão do psiquismo primitivo e constituíram-se como sementes que continuam germinando e propiciando inúmeros vértices de abordagem por parte de autores de todas as correntes psicanalíticas. De acordo com o pensamento mais vigente entre os autores, pode-se dizer que, na actualidade, um importante paradigma da psicanálise actual pode ser formulado como “onde estiver Narciso, Édipo deve estar”.”
In Zimerman, D. (2005) Psicanálise em perguntas e respostas – verdades, mitos e tabus. pp. 130. Porto Alegre: Artmed
Zimerman, seguindo uma posição bastante pessoal, integra a teoria do narcisismo como um dos modelos fundamentais da psicanálise actual e clássica. Estou de acordo com ele na medida em que a teoria do narcisismo se constituiu como determinante para a actual compreensão do psiquismo. Contudo, é de estranhar que ele tenha considerado a teoria do narcisismo como um modelo fundamental e não tenha considerado também a teoria do Édipo.
A teoria edipiana foi, na minha opinião, ainda mais importante que a teoria do narcisismo, se bem que nos últimos anos tenha vindo “a perder importância” face a esta última.
A teoria edipiana foi durante os primeiros 50-60 anos da psicanálise a grande teoria psicanalítica. Quase toda a intervenção terapêutica girava em torno do conflito edipiano, da constelação defensiva que tinha sido erguida contra ele ou por fixação nele, nas emoções edipianas, na frustração/satisfação edipiana, etc. Nos últimos anos, principalmente após o desenvolvimento da corrente da Psicologia do Self, o Narciso destronou Édipo.
É também por tudo isto que a máxima “onde estiver Narciso, Édipo deve estar” acabou por perder alguma actualidade. O mito de Narciso é, actualmente pensado muito para além das questões iniciais (mesmo que nucleares) do narcisismo primário e secundário como Freud o postulou em 1914 no seu famoso artigo “Sobre o narcisismo: uma introdução”.
Actualmente a questão em torno do narcisismo ganhou uma importância superior, na mediada em que muitas correntes, das quais se destaca a Psicologia do Self de Heinz Khout consideram que o narcisismo é um eixo da estrutura psíquica e que haverá um narcisismo normal e/ou patológico; mas não tanto primário e secundário.
Num post de 27 de Dezembro de 2005, Filipe Teixeira Vasconcelos apresenta a lenda de Narciso e a sua relação com o pensamento psicanalítico. Vão lá ver!
Mais alguns textos interessantes sobre o narcisismo:
O mito de Narcisismo na Wikipedia
Psicologia e Narcisismo na Wikipedia
Orígenes y evolución del psiquismo según Heinz Kohut
sexta-feira, agosto 04, 2006
Teoria estrutural
Na medida em que se aprofundava na dinâmica psíquica, Freud tropeçava com o campo restrito da teoria topográfica, que ele percebeu que era por demais estática, ampliando-a com a concepção de que a mente comportava-se como uma estrutura, em que diversos elementos interagiam entre si, de uma forma bastante dinâmica. Dessa forma, ele concebeu uma estrutura tríplice, composta pelo “Id” (com as respectivas pulsões), pelo “Ego” (com o seu conjunto de funções e representações) e pelo “Superego” (com as ameaças, castigos, etc.). O paradigma técnico da psicanálise foi então formulado como: “onde houver Id (e Superego), o Ego deve estar”.”
In Zimerman, D. (2005) Psicanálise em perguntas e respostas – verdades, mitos e tabus. pp. 130. Porto Alegre: Artmed
Tanto a teoria estrutural como a teoria topográfica mantêm-se perfeitamente actuais. São poucas as teorias psicanalíticas posteriores que dispensam qualquer uma destas teorias.
Estas duas teorias cruzam-se. A teoria topográfica enriquece a teoria estrutural. O Id é uma estrutura que opera fundamentalmente ao nível inconsciente, enquanto que o Ego e o Superego operam quer a nível inconsciente quer pré-consciente ou consciente.
A teoria estrutural foi amplamente aprofundada pela escola da Psicologia do Ego. Esta corrente da Psicanálise centra-se sobretudo sobre os conflitos que se geram entre as diferentes instâncias e a terapêutica passa pelo reforço das competências do ego, para que este possa lidar com maior eficácia com as exigências pulsionais (que advêm do ID) e morais (que advêm do Superego).
Na escola de Melanie Klein (Relações de objecto intrapsíquicas) a teoria estrutural perdeu alguma da sua importância, dado que Klein postula que exige um ego desde o nascimento e que o superego se desenvolve muito precocemente de acordo com uma lógica taliónica, cruel e rígida.
A teoria estrutural sofreu várias modificações desde a sua primeira concepção. Muitos psicanalistas fizeram contributos extremamente importantes a esta teoria. Não me é possível comentar esses desenvolvimentos num pequeno post. Fica para outra altura.
quarta-feira, agosto 02, 2006
Teoria topográfica
Cedo, Freud deu-se conta de que a teoria do trauma era insuficiente para explicar tudo e que os relatos de suas pacientes histéricas nem sempre provinham de seduções reais, mas de fantasias inconscientes. Daí ele propôs a divisão da mente em três lugares (a palavra “lugar”, em grego, é topos, daí “teoria topográfica”). A esses diferentes lugares ele denominou “consciente, pré-consciente e inconsciente” (na actualidade, são descritas mais outras instâncias psíquicas), sendo que o paradigma técnico que levasse à cura passou a ser “tornar consciente o que estava inconsciente”.”
In Zimerman, D. (2005) Psicanálise em perguntas e respostas – verdades, mitos e tabus. pp. 130. Porto Alegre: Artmed
A teoria topográfica foi um dos desenvolvimentos mais importantes para a psicanálise. Continua extremamente actual e foi absorvida pela cultura geral. Faz parte do senso comum moderno.
A noção de que as fantasias inconscientes são determinantes no desenrolar da vida psíquica só se tornou efectivamente clara com os desenvolvimentos teóricos de Melanie Klein.
Na altura em que Freud concebeu a teoria topográfica, o interesse dos psicanalistas voltou-se para o inconsciente, mas este era pensado em primeiro lugar como o sítio das pulsões, mais especificamente da pulsão sexual. Freud, nessa altura, ainda não se tinha apercebido da enorme complexidade do mundo interno. A repressão da pulsão sexual era a principal, senão a única, causa dos diversos problemas psicológicos.
Mantém-se válida a máxima de “tornar consciente o que estava inconsciente” mas trata-se apenas de levar o paciente a aceitar e responsabilizar-se por aquilo que ele sente e pensa; em última instancia, por aquilo que ele é.
terça-feira, agosto 01, 2006
O que é a diferença?
É uma história espanhola que fala acerca de uma terra em que seus habitantes um a um, passam a desenvolver caudas. Os primeiros habitantes que passam a desenvolver tal coisa, semelhante à cauda dos macacos, fazem o que podem para escondê-la. Desajeitadamente enfiam as caudas em calças e camisas largas a fim de ocultar sua estranheza. Mas ao descobrirem que todos estão a desenvolver cauda, a história muda de forma drástica. Na verdade, a cauda revela-se de grande utilidade para carregar coisas, para dar maior mobilidade, para abrir portas quando os braços estiverem ocupados. Estilistas de moda começam a criar roupas para acomodar, na verdade, acentuar e libertar as recém-formadas caudas. Logo começam a usar adornos para chamar a atenção a esta novidade. Então, de repente, aqueles que não desenvolveram caudas são vistos como esquisitos e começam freneticamente a procurar formas de esconder tal facto comprando caudas postiças ou retirando-se completamente da sociedade de "cauda". Que vergonha, não ter cauda!
quarta-feira, julho 26, 2006
Teoria do trauma
O significado psicanalítico da palavra “trauma” refere-se a um fato – realmente acontecido – de que tenha tido alguma importante repercussão no psiquismo do sujeito. No inicio da sua obra, Freud partiu da concepção de que o conflito psíquico era resultante das “repressões” impostas pelos traumas de uma sedução real, de fundo sexual, que suas jovens pacientes histéricas teriam sofrido quando meninas por parte do pai. Freud enfatizava que essas repressões depositadas no inconsciente retornavam ao consciente sob a forma de sintomas. Daí ele postulou que “os neuróticos sofrem de reminiscências” e que a cura consistiria em “lembrar o que estava esquecido”.”
In Zimerman, D. (2005) Psicanálise em perguntas e respostas – verdades, mitos e tabus. pp. 130. Porto Alegre: Artmed
A teoria do trauma está datada no que refere ao seu sentido mais geral. Mas em contexto específico continua a ser válida e bastante importante.
Quando houve, de facto, uma sedução prematura por parte de um adulto ou criança mais velha (não necessariamente o pai), a probabilidade da criança ter sido traumatizada pela experiência é bastante elevada e a resposta do psiquismo a um acontecimento traumático é muitas vezes (mas não sempre) a activação da repressão como mecanismo de defesa principal. Quanto mais grave foi o trauma infligido e/ou vivido, mais intensa será a força da repressão. A substituição lenta e progressiva da repressão por outro(s) mecanismo(s) de defesa mais adequado permite a emergência para níveis pré-conscientes e/ou conscientes da vivência traumática e esse maior acesso à consciência facilita a elaboração e metabolização dos afectos e memórias anteriormente reprimidos e escondidos.
A inferência generalista de que “os neuróticos sofrem de reminiscências” não é considerada válida pela psicanálise actual. A psicanálise também já não tem por objectivo “lembrar o que estava esquecido”, se bem que em alguns momentos do processo analítico isso pode ser importante ou até mesmo fundamental.
segunda-feira, julho 24, 2006
Modelos e princípios da psicanálise
Os 5 modelos:
Modelo I – Teoria do trauma
Modelo II – Teoria topográfica: consciente, pré-consciente e inconsciente
Modelo III – Teoria estrutural: id, ego e superego
Modelo IV – Teoria do narcisismo
Modelo V – Teoria da dissociação do ego
Os 9 principios:
I - Princípio da existência do inconsciente
II – Princípio da existência das pulsões instintivas
III – Princípio do determinismo psíquico
IV – Princípio do prazer-desprazer e princípio da realidade
V – Princípio da constância
VI – Ponto de vista económico do psiquismo
VII – Princípio da compulsão à repetição
VIII – Princípio da negatividade
IX – Princípio da incerteza
Acho esta organização muito interessante e nos meus próximos posts irei apresentar cada um destes tópicos, tal como Zimerman os apresenta, e fazer um pequeno comentário pessoal.
sábado, julho 22, 2006
“Siddhartha” de Herman Hesse
“… O que sabes fazer?” Ao que o que Siddhartha responde:
“ Sei pensar. Sei esperar. Sei jejuar.”
Dei por mim a pensar o quanto estas qualidades são importantes para um psicoterapeuta. De como pensar é a base do nosso ofício, de como esperar pelo tempo do cliente é uma arte nem sempre fácil de dominar, e de como conseguir jejuar quando as sessões são aparentemente desprovidas de alimento emocional para a relação gera ansiedade…
Mais uma vez, o pensar é importante, porque em terapia tudo tem significado e mensagem. Mais uma vez, é preciso esperar pelo momento mais oportuno para lançar o desafio ao cliente, e mais uma vez, o jejuar de emoções enquanto digere mais um pedaço da sua vida poderá surgir.
Enfim… pensar, esperar e jejuar, artes a cultivar por todos nós!
Pedro Correia Santos
Cara metade...
Diferença não é igual a falta, simplesmente é diferença, dá lugar à ideia de limite, que inclui frustração, mas também alteridade.
Sempre haverá uma falta na diferença.
Não existe a cara-metade, há duas laranjas, também há suco de laranjas e sementes.
Mas há uma incompletude irremediável.”
Ferschtut
quarta-feira, julho 19, 2006
Contra-ego
Tenho estado a ler um dos livros de David Zimerman, Psicanálise em Perguntas e Respostas – Verdades, mitos e tabus.
Quanto mais leio Zimerman, mais o aprecio e recomendo vivamente. Este psicanalista Brasileiro tem uma escrita muito agradável e um estilo comunicacional muito tranquilo e acessível. Com ele a Psicanálise parece fácil e intuitiva.
Zimerman desenvolveu um conceito que me parece de altíssimo valor clínico, o Contra-Ego. No livro que referi anteriormente ele descreve o contra-ego da seguinte forma:
“Contra-ego. Nunca ouvi essa expressão. O que significa? [Como o livro está organizado em perguntas e respostas, esta foi a pergunta que lhe permitiu descrever o conceito de contra-ego.]
Embora essa expressão não exista na literatura psicanalítica, creio que ela se justifica porque alude a uma situação muito frequente e importante na prática analítica, qual seja, a de que o próprio ego sabota e impede o crescimento do restante da personalidade do sujeito. São distintas as formas de como essa organização patológica, incrustada no seio do ego do sujeito, impede que ele possa ultrapassar um certo grau de melhoria de sua qualidade de vida. Unicamente para exemplificar, cabe citar as seguintes possibilidades da presença e acção nefasta do contra-ego.
1. A existência de uma gangue narcisista, ou seja, um conjunto de objectos que, sob a forma de ameaças e falsas promessas, qual uma máfia, obstaculiza que o paciente reconheça e assuma um lado seu, de criança frágil, mas que, movida pela pulsão de vida, pugna por se libertar dessa organização que é regida pelo principio de nunca renunciar às ilusões próprias do mundo narcisista.
2. Outra possibilidade de como o contra-ego pode boicotar o crescimento de uma pessoa é o caso de uma obediência do sujeito a determinado papel conferido ao sujeito pelos seus pais (por exemplo, o de ser um eterno companheiro da mãe...) em que ocorre um protesto de seu próprio ego quando ele quer se emancipar. Isso acontece em algumas reacções terapêuticas negativas diante de um êxito analítico.”
O conceito de contra-ego é muito próximo do conceito de Herbert Rosenfeld de narcisismo de morte sob a forma “gangue mafioso”, mas, na minha opinião, a ideia de contra-ego engloba a ideia de Rosenfeld e vai para além dela, sendo mais intuitiva e mais fácil de enquadrar na teoria e na clínica. O conceito de contra-ego tem sido extremamente útil no meu exercício de clínica.
terça-feira, julho 18, 2006
Benvindos à Holanda
O texto inicia-se assim:
Pedem-me muitas vezes que descreva como é a experiência de criar um filho com uma incapacidade. Para tentar ajudar as pessoas que não sabem o que essa experiência única significa, para poder imaginar o que se sente, deixem-me dizer-lhes algo parecido com o seguinte...
Quando vamos ter um bebé é como planear uma fabulosa viagem - a Itália. Compra-se logo uma boa quantidade de livros de viagem e fazem-se os planos maravilhosos: o Coliseu, o Miguel Ângelo, as gôndolas em Veneza, e até se pode aprender algumas frases úteis em italiano. É tudo muito excitante.
Depois de meses de expectativa, chega finalmente o dia. Fazem-se as malas e lá se vai para o aeroporto, horas mais tarde o avião aterra e a hospedeira chega perto e anuncia, Benvindos à Holanda.
Holanda? pergunta você, o que é isso de Holanda? o meu voo era para a Itália, eu deveria estar em Itália, toda a minha vida sonhei ir a Itália. Mas houve uma mudança de voo e o avião aterrou na Holanda e tem que ficar ali.
O mais importante é que eles não a levaram para um lugar horrível, desagradável e sujo, cheio de pestilência, fome e doenças. É só um lugar diferente. Vai precisar de aprender uma linguagem completamente nova, e conhecer um novo grupo de pessoas que nunca teria encontrado.
É só um lugar diferente, com um ritmo de vida mais lento do que Itália, menos buliçoso e aparatoso, mas depois de lá permanecer mais um bocado de tempo, logo que tenha passado a agitação, vai olhar em seu redor e começa a dar-se conta que a Holanda tem os moinhos de vento, tem as tulipas, e que a Holanda até tem os Rembrandts.
Mas todas as pessoas que conhece vão e vêm de Itália e todas se gabam das maravilhosas férias que lá passaram, e para o resto da sua vida vai pensar "Sim, era ali para onde deveria ter ido. Era isso que tinha planeado".
E essa dor nunca, nunca, nunca mais passará porque a perda desse sonho é uma perda muito significativa.
Mas... se passar a vida a lamentar-se com o facto de não ter ido a Itália, nunca mais terá o espírito livre para disfrutar as coisas especiais, as coisas maravilhosas da Holanda.
sábado, julho 15, 2006
“Coisas Novas e Coisas Boas”
Marcello Caetano, que, segundo consta, era um ilustre Professor de Direito, ter-se-á dirigido em tom sarcástico na arguência da tese de doutoramento do seu aluno Pedro Soares Martínez (e actualmente um importante vulto daquela academia): “O Sr. Dr. fez um bom trabalho. Tem aqui muitas coisas boas e muitas coisas novas, só que as coisas boas não são novas, e as coisas novas não são boas!”.
Não imagino o que me espera na discussão do meu trabalho, sei sim que até lá me servirei desta história para, projectando os mesmos laivos superegóicos aos membros do júri, continuar a melhorar o texto até à data da entrega!
quinta-feira, julho 13, 2006
Dano psíquico - o caso do Bullying
Bullying é um termo criado por Dan Olweus para designar todo o tipo de mal-estar psíquico que o aluno é alvo durante o seu percurso escolar, estando sujeito a uma forte pressão social. Esta pressão é exercida por alguns alunos, em alunos mais vulneráveis, provocando dor e sofrimento psíquico, estando o agredido, subordinado a exigências e mal tratos psíquicos continuados e repetidos, e ao mesmo tempo, subjugado a um silêncio na tentativa de evitar novas retaliações. Esta forma de violência psíquica perpetua-se através de insultos, piadas, gozações, apelidos cruéis e ridicularizações.
A criação deste termo está associada a uma pesquisa que o autor (Dan Olweus) fazia sobre tendências suicidas nos adolescentes, tendo constatado que a maioria dos jovens que cometiam estes actos tinham sofrido algum tipo de ameaça desta índole.
Vejamos então a pressão que é exercida nestes alunos e as consequências nefastas para o psiquismo. Estejamos atentos ao aparecimento das fobias escolares, à diminuição do rendimento escolar, às depressões e à sintomatologia psicossomática, perturbações associadas a este fenómeno.
Prestemos atenção quer ao abusado, quer ao perpetrador do abuso, porque ambos são vulneráveis do ponto de vista emocional, seja pela susceptibilidade ao abuso, seja pela necessidade de abusar, mas cada uma das situações manifesta perturbações emocionais.
terça-feira, julho 11, 2006
Have a nice... concert
Lila Downs
19/07/06 - Aula Magna (Quarta 22h)
www.liladonws.com
Lizz Wright
23/07/06 - Pequeno Auditório CCB (Domingo 21h)
www.lizzwright.net
Have a nice... concert
“Estou! Onde é que estás?“
Acabada a conversa fiquei a pensar que as censuras ao dito aparelho não se ficavam por aqui. Sem imputar a nenhuma nacionalidade em particular aquilo que referirei em seguida, outros aspectos há a considerar. Frases como a que podemos ler no título são disso, em meu entender, bom exemplo. Esta pergunta tão banal com a qual começamos a maioria das nossas conversas telefónicas encerra algo que o telemóvel viabiliza, a saber, a possibilidade do Outro, a qualquer momento, poder indagar acerca do nosso paradeiro. Não posso fechar os olhos à utilidade desta pergunta em alguns contextos, mas comparemos com o que se passava aqui há uns anos – o tempo que mediava aquele momento em que estávamos contactáveis através do telefone do emprego e a chegada a casa, onde estávamos novamente alcançáveis através de um telefonema... O que se passava entre um momento e o outro abria um espaço que hoje infelizmente se perdeu, e para o qual me parece importante chamar a atenção: Um espaço passível de ser ocupado por inúmeras fantasias (mais ou menos ajustadas à realidade) da parte de quem espera, dos habituais interlocutores que nos “apanham” entre um sítio e outro.
Acaba, a meu ver, esta inevitabilidade dos tempos de hoje, por favorecer alguma pobreza fantasmática – a mesma que grassa numa sociedade pouco apta a tolerar aquele tempo de latência, com tudo o que de organizador isso podia ter para o nosso mundo interno. Mas esta “ubiquidade virtual” é apenas um exemplo da quantidade enorme de aspectos que poderíamos elencar... Então e as chamadas de números não identificados e a possibilidade de se exercer uma forma de controlo sobre o Outro? A quantidade de tempo que deixamos de estar com alguém só porque, achando que podemos falar com todos os nossos amigos à distância de umas “digitadelas” de telemóvel, nos ficamos por um sms?
segunda-feira, julho 10, 2006
As palavras mais pesquisadas no Sapo
As de hoje são:
1. Filme;
2. Portugal;
3. Amor;
4. Jogos;
5. Hotel;
6. Apartamentos;
7. Hotel
8. Algarve;
9. Jornal;
10. Férias;
11. Lisboa.
Não é só calor, o espírito já é mesmo de férias!
domingo, julho 09, 2006
Os Inconscientes
Não é a época em que decorre a história, não é a importância histórica das personagens, que dá na minha opinião importância ao filme.
O cerne da questão está no envolvimento de um dos terapeutas na vida dos seus clientes e como ele se torna um cliente virtual de si próprio. Ou seja, será um sinal de aviso quando desejamos viver alguns aspectos da vida dos nossos clientes? Será isso, um indicador que algo está errado na nossa?
Creio que sim!
Afinal sempre que deixamos de viver o aqui e agora, para viver o passado e futuro dos outros estaremos numa rota certa para a insanidade!
Dentro deste filme encontramos retratos, ou arquétipos, da sociedade actual, estes tem um traço próprio que nos faz rir. Aliás todo o filme é bastante leve e por vezes muito divertido.
Vale a pena ver o filme! E acima de tudo vale a pena reflectir se na verdade gostaríamos de viver outra vida que seja a nossa própria!
Pedro Correia Santos
Foi dito...
Thomas Carlyle
(1795-1881)
sexta-feira, julho 07, 2006
quarta-feira, julho 05, 2006
A sinceridade para connosco próprios e para com os outros
Uma das linhas de reflexão que emergiu da troca de comentários anteriores foi a ideia de que é importante sermos sinceros connosco próprios em primeiro lugar para sermos capazes de ser sinceros com os outros.
Tendo em vista a ideia inicial de “criar” uma ética da relação amorosa, poderíamos afirmar que um dos pontos desse “regulamento” ético seria:
1. Para que a relação amorosa funcione bem é necessário que cada um dos intervenientes seja em primeiro lugar sincero consigo próprio.
Agir em conformidade com esta afirmação é extraordinariamente difícil. Sermos sinceros connosco próprios é uma tarefa para a vida e impossível de cumprir em rigor. As dinâmicas internas estão cheias de “armadilhas” e auto-enganos, alguns deles até bastante úteis e ao serviço do crescimento emocional. Proponho que se reestruture o primeiro ponto:
1. Para que a relação amorosa funcione bem é necessário que cada um dos intervenientes faça um esforço activo no sentido de não ocultar as suas emoções e pensamentos face a si próprio.
O que vos parece?
sexta-feira, junho 30, 2006
A importância da sinceridade e da honestidade nas relações amorosas
Dentro da lógica que apresentei no post anterior, gostaria de lançar o debate sobre a importância da sinceridade e da honestidade nas relações e conquistas amorosas.
Quando penso numa ética das relações amorosas, uma das primeiras ideias que me ocorre é a importância da sinceridade das pessoas consigo próprias e face ao companheiro(a).
A sinceridade e a honestidade são conceitos muito amplos e difíceis de definir e enquadrar. Um dos meus autores preferidos, Wilfred Bion, diz num dos seus livros. “Verdade sem amor é crueldade e amor sem verdade é hipocrisia”.
Quais são os limites da sinceridade e da honestidade?
A máxima “verdade a qualquer preço” poderá ser aplicada com rigor nas relações amorosas? Dizer à namorada “hoje estás horrível!” só porque é verdade ou pelo menos é a verdade que se percepciona nesse momento, é bom? É bom para quem? Para a pessoa que ouve? Para a pessoa que diz? Para a relação? Nesta situação, dever-se-ia mentir? Dever-se-ia omitir?
quinta-feira, junho 29, 2006
Para uma teoria da ética nas relações amorosas
Há inúmeras perguntas em torno deste tema que inevitavelmente ficam sem resposta. Porque é que as pessoas se apaixonam? Porque é que “escolhem” esta ou aquela pessoa? Porque é que certas relações duram imenso e outras se extinguem muito rapidamente? Porque há pessoas que se apaixonam por várias ao mesmo tempo? Porque desaparece o amor? etc., etc.
A psicologia das relações amorosas é uma área de investigação ainda muito recente e cheia de contradições (diferentes correntes têm opiniões diversas e por vezes contraditórias).
Proponho que se pense numa ética das relações amorosas. Por ética das relações amorosas entendo a especulação de qual seria o comportamento (ou conjunto de comportamentos) que potencialmente facilitaria a instalação e a manutenção de uma relação amorosa “boa”. Na wikipédia lê-se: “o objectivo de uma teoria da ética é determinar o que é bom, tanto para o indivíduo como para a sociedade como um todo”. Num certo sentido a ética estipula determinados preceitos de conduta. Neste caso, seriam condutas (comportamentos ou posturas mentais) que visariam a manutenção da relação amorosa com um nível de satisfação adequado.
Convido-vos a participarem dando a vossa opinião e, entretanto, eu própria vou escrevendo as minhas ideias sobre o assunto.
sábado, junho 24, 2006
A duração da psicoterapia psicanalítica
A velocidade da vida actual torna muito difícil compreender a necessidade de uma relação tão longa e intensa. Muitos dos meus pacientes dizem-me que sou a pessoa que melhor os conhece. Por vezes a psicoterapia dura mais do que o casamento deles e, muito frequentemente, observo o início e o fim de várias relações amorosas.
Estar em psicoterapia é sabermos que temos alguém que nos escuta e que, num certo sentido, vive connosco a nossa vida. É sentirmos que aquilo que somos constitui uma descoberta permanente e que as transformações que sofremos são subtis e que em cada mudança nos aproximamos mais daquilo que verdadeiramente somos. O psicoterapeuta não pretende “moldar” o paciente ou fazê-lo ficar desta ou daquela maneira. Simplesmente está lá, para ouvir, apoiar, estimular o questionamento e ajudar a pessoa a perceber aquilo que ela própria não consegue entender sozinha.
A personalidade muda e a psicopatologia fica atenuada ou desaparece porque esta “nova relação” funciona como um outro olhar que a pessoa tem sobre si própria, um olhar desprovido de censuras, desejos e preconceitos. Lentamente a pessoa abre-se e restaura-se, sarando as suas feridas e procurando novos pontos de apoio para edificar uma “nova” personalidade.
O grau de confiança e, num certo sentido, de intimidade que se gera entre um psicoterapeuta e o seu paciente só pode ser conquistado com tempo e paciência. Para sermos capazes de comunicar o que há de mais privado e profundo em nós temos que confiar muitíssimo no outro, o que demora muito e muito tempo. Precisamos de ter a garantia de que o psicoterapeuta não vai “mesmo” censurar-nos, diminuir-nos, explorar-nos, humilharmo-nos, etc. Só depois de um bom tempo em psicoterapia é que nos “instalamos” verdadeiramente nela.
quinta-feira, junho 22, 2006
A cultura do narcisismo
A sociedade actual estimula a cultura do narcisismo. Cada vez mais competimos de forma acirrada por um “lugar ao sol” num mundo em que impera a lei do mais capaz e do sucesso ou da aparência dele.
As exigências de sucesso provocam um enorme desgaste. As pessoas sentem-se obrigadas a atingir metas idealizadas e a ultrapassarem a qualquer custo as suas limitações. Instala-se um conflito entre o “eu idealizado” e o “eu real” que nos leva a desenvolvermos a crença de que valemos mais pelo que temos ou aparentamos ser do que pelo que realmente somos.
A ânsia de reconhecimento faz com que a aparência tenha um enorme valor; quando somos confrontados com a diferença entre aquilo que pretendemos ser e aquilo que somos verdadeiramente a nossa auto-estima sofre, e esta diminuição da auto-estima torna-nos vulneráveis à depressão.
segunda-feira, junho 19, 2006
Biblioteca virtual com revistas de psicologia e psiquiatria
A Scielo Portuguesa é uma biblioteca virtual que abrange uma colecção seleccionada de revistas científicas portuguesas. Das 9 revistas disponíveis destaco a Análise Psicológica e a Revista Portuguesa de Psicossomática.
A Scielo brasileira tem 159 revistas com números online. Tem 48 números dos Arquivos de Neuro-Psiquiatria; 45 números da Revista Brasileira de Psiquiatria; 21 da Revista de Psiquiatria Clínica; 9 números da Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul; 20 números da Estudos de Psicologia (Natal); 10 números de Psicologia & Sociedade; 18 de Psicologia USP; 12 números de Psicologia em Estudo; 26 números de Psicologia: Reflexão e Crítica; 18 números de Psicologia: Teoria e Pesquisa e 5 números da Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica.
sexta-feira, junho 16, 2006
As diferentes teorias de Melanie Klein
Nos últimos dias tenho estado a preparar uma aula sobre as teorias desenvolvidas por Melanie Klein. Continuo a ficar impressionada pela forma persistente e tenaz com que Klein se apegou às teorias clássicas. Como deveria ser difícil ir contra as ideias de Freud nos anos 20, 30 e 40!
As últimas concepções de Klein, nomeadamente a teoria da posição depressiva, da posição esquizoparanóide e por último da inveja primária destronam as clássicas teorias do desenvolvimento psicossexual, do superego e do complexo de Édipo, entre outras.
quinta-feira, junho 15, 2006
Prime - Terapia do Amor
No filme Prime, traduzido em português por Terapia do Amor, Meryl Streep interpreta o papel de uma psicoterapeuta e Uma Thurman representa o de paciente.
O filme em si, na minha opinião, não é particularmente bom, mas levanta um problema ético de difícil resolução e que todos nós, psicoterapeutas, corremos o risco de ter que enfrentar em algum momento do nosso percurso profissional.
A decisão da psicoterapeuta de continuar a seguir a paciente sem lhe dizer que o namorado dela é o seu filho é, para muitos, no mínimo, questionável; contudo a decisão inversa, a de contar de imediato à paciente que a pessoa por quem ela se está a apaixonar é o seu filho, também seria igualmente questionável. Este não é um problema de fácil solução e qualquer que seja a posição do psicoterapeuta, esta pode ser defendida e atacada.
No filme a psicoterapeuta opta, até a um certo ponto da história, por não dizer nada à paciente e tenta esforçar-se por pensar e viver aquela situação como se não se tratasse do seu filho, mas de qualquer outro rapaz. Tenta, num certo sentido, manter uma posição profissional, não querendo prejudicar a paciente por aquilo que lhe parece, na altura, uma situação passageira e sem futuro. Ao longo das sessões podemos observar o profundo incómodo da psicoterapeuta com o relato minucioso e íntimo da vida do casal e a necessidade que tem de recorrer ela própria a um psicoterapeuta para tentar lidar com a situação que está a viver.
Quando a psicoterapeuta percebe que o frágil equilíbrio entre o benefício e o prejuízo se inclina no sentido de ser prejudicial para ambos (psicoterapeuta e paciente) deve, na minha opinião, revelar e dar por terminada a psicoterapia, por não existirem condições adequadas para a realização da mesma.
quarta-feira, junho 14, 2006
O tratamento pela fala e pela escuta
A psicanálise e as psicoterapias psicodinâmicas são tratamentos pela fala e pela escuta, enquanto a psicofarmacologia e as psicoterapias cognitivo-comportamentais são intervenções sobre o corpo e sobre o condicionamento.
Os três tipos de intervenção têm as suas finalidades e, por vezes, é aconselhável que sejam “recomendados” como intervenções complementares e simultâneas. Existem no entanto alguns domínios em que parecem ser incompatíveis e visarem objectivos diferentes. Praticamente todo o tipo de abordagem terapêutica à saúde mental tem pretensões a ser a melhor ou aquela que deveria ser aplicada em exclusividade. Esta pretensão parece-me válida e inclusivamente tem permitido que as correntes se esforcem no sentido de desenvolver o seu método até a um ponto máximo.
Podemos hierarquizar os tipos de intervenções anteriormente referidas de acordo com o grau de intrusão do método e os possíveis efeitos secundários ou colaterais. Os tratamentos pela fala e pela escuta estão no topo desta lista dado que são particularmente pouco intrusivos e os efeitos secundários prejudiciais, quando acontecem, são facilmente detectados pelo paciente (por exemplo, devido a um psicoterapeuta pouco correcto eticamente) e o paciente pode defender-se deles com alguma facilidade, suspendendo o tratamento ou mudando de psicoterapeuta. O tratamento pela fala e pela escuta assenta na convicção de que as pessoas poderão modificar o seu comportamento e a sua forma de sentir e viver através do estabelecimento de uma relação que privilegia a observação, a análise e a reflexão.
No patamar seguinte vêm as intervenções cognitivo-comportamentais que privilegiam igualmente a observação, mas que assentam na convicção de que podemos modificar o comportamento condicionando a cognição ou utilizando mecanismos de recompensa e castigo. O condicionamento é uma técnica manipuladora que pode esmagar a originalidade e a espontaneidade.
No fim da nossa lista encontram-se as intervenções psicofarmacologicas que induzem estados emocionais ou alteram os existentes. As intervenções químicas sobre o corpo são muito poderosas e evitam algumas das dificuldades que as técnicas anteriores colocam, nomeadamente no tempo de intervenção e a exigência de dedicação do paciente ao tratamento. Por outro lado, as intervenções químicas tendem a criar efeitos massificadores: o consumo de Prozac foi elucidativo desse efeito, pois as pessoas que tomam Prozac ficam parecidas na maneira como sentem, pensam e vivem.
b) O paciente preza a liberdade de ser quem é e não pretende ser “manipulado”, nem psíquica nem quimicamente?
c) O paciente gosta de pensar sobre ele próprio e as suas relações e está disposto a auto-investigar-se?
A utilização conjugada dos diferentes tipos de intervenções é muito benéfica em quase todos os tipos de pacientes, mas principalmente naqueles que não melhoram significativamente com nenhuma das abordagens individualmente.
Se gosta deste blog e pretende acompanhar a colocação de novos posts, a melhor forma é recorrendo a um leitor de RSS, veja como em Agregadores
domingo, junho 11, 2006
Uma pequena biografia de Freud
Uma pequena Biografia de Freud no blog Caminhar. Vá lá ver! Lê-se com facilidade e é muito interessante.
sexta-feira, junho 09, 2006
Agregadores de RSS
Uma das dificuldades em seguir um blog é sermos obrigados a visitá-lo periodicamente para verificar se foram colocados ou não novos posts. Esta tarefa pode ser aborrecida e muitas vezes os leitores, apesar de interessados e motivados deixam de frequentar determinado blog porque simplesmente se esquecem dele.
Se gosta deste blog e pretende acompanhar a colocação de novos posts, a melhor forma é recorrendo a um agregador, como, por exemplo, o Omea Reader. Proceda do seguinte modo:
- Clique no link OmeaReader
- A partir do Site JetBrains instale o programa OmeaReader seguindo as instruções que lhe são facultadas
- Quando estiver de visita ao nosso Blog pressione o símbolo RSS que se encontra na barra lateral.
- Da próxima vez que abrir o programa OmeaReader ele irá mostrar-lhe automaticamente os novos posts do SALPICOS e de todos os outros blogs ou sites que tenha previamente registado.
Aprecie! O leitor de RSS vai poupar-lhe tempo e permitir-lhe estar sempre actualizado.
quinta-feira, junho 08, 2006
Entrevista com Elisabeth Roudinesco
Esta entrevista com Elisabeth Roudinesco foi apresentado no blog caminhar (post do dia 7 de Maio)
Elisabeth Roudinesco - Ele não contém nenhuma revelação. É um livro sem interesse e que só teve impacto porque foi capa do "Nouvel Observateur" [revista semanal de mais influência e vendagem na França].
Folha - O que mais choca nele?
Roudinesco - Ele não me choca porque é um debate antigo. Mas não se trata mais de querelas historiográficas, teóricas e intelectuais. Um "livro negro" supõe um massacre de massa, um gulag da psicanálise, muitos mortos. Tentaram inventar mortos que não existem, sobretudo drogados mortos por causa da psicanálise, além de milhares de crianças terríveis por causa de Françoise Dolto [1908-88, psicanalista especializada em infância].
Os fatos são inexatos. Freud é apresentado como um mentiroso, um falsificador. O caso de um autor sério como Patrick Mahony é exemplar. Para explicar as pulsões incestuosas de Freud, ele publicara um texto sobre a análise de Anna Freud por seu pai, num livro sério, nos EUA. No contexto do "livro negro", a pulsão incestuosa se transforma em incesto de fato para o grande público. Também não é verdade que Freud era apegado a dinheiro. Não é verdade que ele era um escroque, não é verdade que mentiu. Ele era autoritário, teve problemas com seus discípulos. Mas não há nada de secreto em sua vida.
Além disso, esse livro desenvolve uma teoria do complô, do conspiracionismo, isto é, que os psicanalistas do mundo inteiro são um movimento de bandidos, de gângsteres, que ocupam lugares indevidos nas instituições. Fica difícil discutir com autores de mentiras.
Folha - "Por Que Tanto Ódio" é uma resposta ao "Livro Negro"?
Roudinesco - Não, trata-se apenas de um artigo que fiz na imprensa seguido de uma grande nota informativa. Não tive a intenção de fazer uma análise precisa dos textos do "Livro Negro". O livro que escrevi e que é uma resposta antecipada ao livro negro é "Por Que a Psicanálise?". Esse debate entre os que combatem e os que defendem a psicanálise já aconteceu nos EUA.
Folha - As críticas à psicanálise dizem respeito, entre outras coisas, ao seu caráter não-científico. A psicanálise é uma ciência?
Roudinesco - Nunca foi. O problema é que ela desperta, como Marx, como todo movimento de emancipação que perturba a ordem do mundo, um ódio particular. Hoje não podem atacar a revolução sexual, não podem mais acusar a psicanálise de ser uma pornografia.
Mas já tentaram tudo, acusaram-na de ser uma ciência judaica, de ser uma falsa ciência. Cada época, segundo sua ideologia, a acusa de alguma coisa. A tese segundo a qual ela é uma falsa ciência remonta a antes da Primeira Guerra, mas perdeu seu impacto hoje por causa da evolução da psiquiatria, que reintegrou o campo da medicina orgânica, passando ao domínio da psicofarmacologia e das neurociências.
Agora, volta o grande debate entre os defensores do psiquismo e os organicistas, que data do fim do século 19, e que volta com o progresso da genética e das neurociências, com a idéia de que se pode tratar da doença mental sem tratamento psíquico. A psicanálise continua um obstáculo que precisa ser destruído.
Folha - Pela farmacologia?
Roudinesco - O melhor ainda é o tratamento pela palavra, a psicanálise, mais a farmacologia. O que não é desejável é a ideologia farmacológica, a idéia de tratar apenas pela farmacologia. Por outro lado, há o comportamentalismo, onde não há clínica, que trata os sujeitos como ratos de laboratório. É o condicionamento, uma ideologia extremamente perigosa para a sociedade, independentemente da psicanálise.
Tem-se um exemplo disso na idéia de que, para tratar dos desvios sexuais, devem-se realizar castrações químicas ou cirúrgicas. É o que se chama intervenção sobre o corpo e o condicionamento. Nessa visão, tratam-se os sintomas por meios que excluem a evolução humana. Ou se continua a crer que a alma humana é aperfeiçoável, mas que não há o risco zero, e isso é uma ideologia progressista. Ou então é a barbárie.
Essas pessoas pensam que se pode prevenir a delinqüência com exames nas crianças de três anos. Parece ridículo, mas acreditam nisso. De um lado, os desvios sexuais, de outro as crianças. E nós no meio. Significa que todo mundo deve passar por controle para tentar ser normal. Mas o que é ser normal?
Folha - É o controle total do Estado sobre o cidadão?
Roudinesco - Sim, mas é normal que se controle o cidadão, que se lancem políticas contra o câncer. Mas até onde se vai? Será normal que um biopoder controle nossas emoções, nosso psiquismo, nosso afeto, que determine uma norma, que não se sabe bem o que é? A experiência com os criminosos e desviantes vai nos levar a refletir sobre o que querem fazer conosco. A partir de um momento, podem considerar que todas as pessoas que fumam são criminosas, criminosas contra elas próprias e contra o outro.
É um fascismo ordinário, de que Gilles Deleuze e [Michel] Foucault descreveram o mecanismo. Vivemos num mundo unificado, no qual a alternativa é o integrismo religioso. Estamos entre a pornografia e o misticismo, entre a pornografia e o puritanismo. Como penso que a democracia é perfectível, o combate de amanhã é recusar esses sistemas.
Folha - Esse é um dos combates da psicanálise?
Roudinesco - Sim, mas ela não o enfrenta, o que é uma pena.
Folha - Por que os psicanalistas não o enfrentam? Por que não se envolvem mais na política?
Roudinesco - Porque se tornaram reacionários, cometeram erros monumentais, não se ocuparam do social, não trataram de política, tornaram-se conservadores. Mas não conservadores como Freud, um conservador esclarecido. Transformaram-se em psicoterapeutas, antes desprezados por eles. Não se vai nem pedir que os psicanalistas sejam subversivos. Confundiram a neutralidade na cura com a neutralidade política. Eles não pensam mais os problemas da sociedade; e, quando o fazem, é com interpretações psicanalíticas absolutamente incoerentes.
Enganaram-se de debate com os defensores da ciência, pois, em vez de debater os problemas de sociedade, debateram com os comportamentalistas. Essa é a tendência americana. A metade dos psicanalistas americanos é de comportamentalistas. Foram eles que fizeram o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).
Os psicanalistas se transformaram em terapeutas comportamentalistas. E pensam que isso é ciência. Não estão mais imbuídos da força emancipadora do início, reforçada por Lacan, e da qual ainda temos vestígios na França, onde nos mobilizamos contra o comportamentalismo mais do que em qualquer parte. E por isso publicam esse livro negro.
Folha - Os autores falam de "deificação de Freud", de "hagiografia", a propósito da biografia de Ernest Jones ["A Vida e a Obra de Sigmund Freud", Imago], "de evangelho freudiano", de "peregrinação" a Viena e a Londres para conhecer as casas de Freud. Os psicanalistas seriam os discípulos de um novo messias?
Roudinesco - Essas críticas têm 50 anos de atraso. Nenhuma pessoa séria vive a psicanálise sob o ângulo de Jones. Eles acusam os psicanalistas de viverem na legenda dourada, talvez seja verdadeiro para alguns. Faz parte desse lado reacionário de que eu falava. Atacam Jones, mas esquecem trabalhos sérios sobre Freud, inclusive os meus, os de [Yosef Hayim] Yérushalmi, os de Peter Gay.
Folha - A psicanálise é vista como uma prática subversiva, de contestação da sociedade. Como praticá-la num país como a China ou sob qualquer totalitalitarismo?
Roudinesco - Não se pode praticá-la sob totalitarismos. Quando os antigos sistemas ditatoriais, totalitários, estão em via de desconstrução, começam os contatos.
É a mesma situação nos países do mundo árabe-islâmico.
Folha - Pode-se analisar alguém sem liberdade, sem democracia?
Roudinesco - Quando a palavra não é totalmente livre, não pode haver análise. Na China, há pouca coisa, menos que no mundo árabe-islâmico. Diria que os psicanalistas franceses têm um desejo de China que existe desde o maoísmo. É o sonho da China, sonho da Ásia, mais forte que eles. Só existe um psicanalista, em Chengdu, Huo Datong, objeto de todas as cobiças. Há alguns avanços da psiquiatria em Pequim. O que se passa hoje, entre os psicanalistas franceses, ocidentais e americanos, é que eles querem colonizar. É um desejo de colonização. Por isso, defendo sempre a independência.
Huo Datong fez algo muito bom, bastante independente. Mas esse é o caminho mais difícil. É preciso ao mesmo tempo ter relações com o estrangeiro e não ser colonizado, mas é muito difícil. Mas há hoje entre os psicanalistas franceses uma "chinomania". Os lacanianos têm o mesmo desejo de Oriente que Lacan. É uma identificação com Lacan, que foi ao Japão e que sonhava com a China."
domingo, junho 04, 2006
Ambiental versus Pulsional
A psicologia psicodinâmica anda sempre às voltas a tentar perceber se os factores determinantes para o saudável desenvolvimento do psiquismo infantil são ambientais (a família e os demais convivas da criança) ou pulsionais (forças internas à criança e biologicamente pré-determinadas).
sexta-feira, junho 02, 2006
Revista Portuguesa de Psicossomática
A Revista Portuguesa de Psicossomática ocupa já um espaço importante no grupo de revistas sobre Psicologia. É uma revista com uma inspiração médica bastante visível dado que o seu director, o Prof. Rui Coelho, é médico psiquiatra e Professor Associado da Faculdade de Medicina na Universidade do Porto. É também notória a influência da psicologia, quer cognitiva quer psicodinâmica, e até mesmo da psicanálise. O Prof. Rui Coelho é, para além de Psiquiatra, um eminente Psicanalista.
A Revista Portuguesa de Psicossomática é a voz da Sociedade Portuguesa de Psicossomática, criada em 1996 e que conta actualmente com cerca de 350 sócios, ligados pelo interesse comum do estudo do homem enquanto ser psicossomático.
A psicossomática é uma “disciplina” muito complexa, com áreas enormes de cruzamento com outras disciplinas, como sejam as diferentes medicinas, a fisiologia, o desporto, a dança, etc.; ou seja, com tudo aquilo que de uma forma ou de outra implica o corpo e o seu bom ou mau funcionamento.
quinta-feira, junho 01, 2006
Exigências
Parece existir uma relação entre exigência e carência, mas essa conexão não é linear. Há muitas pessoas cujo padrão de relação com os outros se pauta pela exigência. São exigentes consigo próprias e com os outros e alimentam-se dessa exigência.