A ocorrência isolada ou pontual de certos comportamentos,
atitudes, necessidades emocionais ou dinâmicas relacionais nas relações
amorosas, e que são habitualmente consideradas sinalizadoras de problemáticas
psicológicas subjacentes, justificam-se em períodos de stress. Contudo, quando estamos
perante padrões habituais de funcionamento, estamos muito provavelmente, face a
fortes manifestações inconscientes. Descrevemos aqui alguns dos mais importantes
padrões ou tendências manifestas por si ou pelo seu parceiro que habitualmente
remetem para questões mais profundas, com possível origem num período muito precoce
da vida:
I* Ao procurar descrever o seu parceiro tende a
referir exclusivamente aspetos que
revertem direta ou indiretamente a seu favor. Ex.: carinhoso(a); bom ouvinte;
entende-me bem; empático(a); compreensivo(a); faz tudo por mim;
II* Queixa-se insistentemente da falta dos aspetos
acima mencionados no seu parceiro.
III* O seu parceiro queixa-se de uma solicitação
excessiva de proximidade e afeto de sua parte (deste que este não apresente
perturbações concretas ao nível da capacidade de dar e receber afeto).
IV* Sente frequentemente o seu parceiro como
indisponível, rejeitante ou abandónico.
V* Procura parceiros sobretudo porque a associação
com eles lhe traz vantagens económicas ou outras regalias sociais, prestígio ou
admiração social (de familiares, amigos, colegas, ou desconhecidos), ou outras
vantagens pessoais.
VI* Tende a necessitar ser admirado pelo parte do
seu parceiro.
VII* Costuma sentir vergonha em relação ao seu
parceiro, às suas atitudes ou comportamentos do seu parceiro, respetiva
situação social ou económica, aspeto físico, ser demasiado alto ou baixo,
demasiado gordo ou magro, etc.
VIII* Sente orgulho em exibir o seu parceiro perante
os outros, podendo inclusivé procurar situações favoráveis a essa exibição.
IX* No curso das suas relações amorosas, sente que determinadas
situações se repetem, percebendo você comportamentos ou atitudes muito
familiares nos diferentes companheiros.
X* Tende a ir permanecendo em relações amorosas
insatisfatórias na esperança que a relação melhore por si mesma.
XI* Depara-se sistematicamente com uma atitude de
atribuição mútua de culpas nas suas relações quando surgem problemas entre si e
o seu parceiro, sem que surja habitualmente um diálogo relativamente tranquilo
e um entendimento mútuo.
XII* Sente que está condenada(o) a um certo “karma”
no que respeita às suas relações amorosas.
XIII* Tem a percepção de que os homens ou as mulheres
são todos ou todas iguais.
XIV* As suas relações tornam-se conflituais assim que
se iniciam, ou pouco tempo depois.
XV* Tende a iniciar um novo relacionamento amoroso
quase ao mesmo tempo que termina um anterior.
XVI* Troca frequentemente de parceiro.
XVII* Apaixona-se frequentemente.
XVIII* Agarra-se desesperadamente a um novo parceiro,
ainda que ambos se conheçam relativamente mal ou o relacionamento seja muito
recente.
XIX* Os períodos da sua vida em que não tem um
parceiro são vividos com angustia, ocupação do pensamento com temas de arranjar
parceiro e/ou procura efetiva de um parceiro.
XX* Tem dificuldade em estar sem parceiro ou longe
do seu parceiro, mas ao tempo é-lhe difícil a proximidade física e afetiva.
XXI* Sente que não precisa de um parceiro pois tudo o
que necessita são os seus filhos.
XXII* Sente um temor acentuado e infundamentado de que algo em concreto possa vir acontecer numa nova relação.
Estes são alguns dos indicadores mais importantes
da presença de uma força interna que dirige as nossas escolhas de parceiros
amorosos, bem como o curso das nossas relações (e não só). Esta força é
habitualmente inconsciente, bem para além do nosso controlo, e está em direta oposição aos nossos objetivos
deliberados e conscientes de estabelecer relações plenas e gratificantes, bem
como de conseguir um estilo de vida satisfatório.
Estas problemáticas remetem muitas vezes para
insuficiências vividas nas relações com as principais figuras cuidadoras
durante a infância, bem como para a interiorização de padrões e dinâmicas
relacionais conflituais durante esse período de vida. No entanto, alguns dos
itens acima apontados são frequentes durante época da adolescência, período de
exploração, auto e hetero descoberta.
A exploração do inconsciente, identificação de
insuficiências e conflitos internos oriundos de um período precoce do
desenvolvimento, entendimento dos estados mentais adultos à luz destas
vivências e a resolução destas insuficiências e conflitos na relação
psicoterapêutica são meios privilegiados através dos quais a psicoterapia
psicanalítica opera.
“Se carregar consigo os tijolos das suas relações
passadas, acabará por ir construindo as mesmas casas.”
Diogo Gonçalves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta