Por exemplo, exigências de elogios, bem como de valorização, no e do trabalho/sucesso, por exemplo, podem muitas vezes fazer-se acompanhar de dissociações da realidade e da representação da outra pessoa.
Por exemplo, uma mulher atraente pode estar tão habituada a elogios que trivializa os elogios diários do seu companheiro, podendo mesmo convencer-se de que ele não a elogia.
Ou, por exemplo, uma queixa de o outro não partilhar do sucesso pessoal, pode ocultar uma dissociação de vários componentes da realidade, como por exemplo,
1) alguma tendência pessoal em desvalorizar aspetos da outra pessoa ligadas ao respetivo percurso/sucesso profissional, como os seus saberes e experiência (por vezes desvalorizados enquanto "teorias" inócuas), escolhas formativas, escolhas de desenvolvimento pessoal e profissional, aspetos necessários ao percurso profissional do próprio, bem como figuras (do âmbito profissional, por exemplo) que a própria pessoa admira;
2) O interesse, apoio, opinião, complementaridade e participação reais da outra pessoa nos projetos da primeira pessoa, seja em exames, artigos, livros, websites, projetos empresariais, apoio em divulgação do trabalho em redes sociais, traduções, etc..
3) A consciência de que o registo de exigência e crítica retira a "alegria" da partilha;
4) a empatia com a realidade e obstáculos profissionais com que a outra pessoa se pode estar a deparar em determinado momento (o que não é invulgar por exemplo em inicio de percurso profissional), e que gera uma preocupação e introspeção pelo próprio percurso, não anulando necessáriamente a sensibilidade ao sucesso do outro. Aqui, a exigência substitui-se ao apoio e geram-se fortes conflitos ou mal-entendidos.
As exigências denotam aspetos de nós próprios ligados com insatisfação e por vezes uma idealização menos saudável, que é preciso monitorizar... Sentimentos de falta podem muitas vezes gerar distorções e mal entendidos entre as pessoas, bem como as idealizações sobre a pessoa que virá suprir todas as exigências, o que tenderá a gerar frustrações sistemáticas.
O bom equilíbrio narcísico não se forma/regula necessáriamente pelo elogio, mas pelo olhar fiel sobre o outro, sobre quem o outro é na sua singularidade e complexidade, e poder observar fielmente o que vai no ínitmo desse outro. Isto requer disponibilidade emocional, paciência, prudência e autoconhecimento, para evitar distorções ou rotulagem precipitada sobre quem o outro é... Estas distorções são tanto pela negativa como pela positiva. A capacidade de nos alimentarmos apenas ou sobretudo das devoluções fieis (e não irrealistas, quer negativas ou positivas) sobre nós mesmos por e parte de quem é importante para nós, denota já um bom equilíbrio narcísico, pois a fonte que procuramos para nos alimentar é a realidade - o que pressupõe um autoconhecimento relativamente bom e fiél.
O bom elogio não é aquele que aponta somente o "brilho" do feito, gesto, atitude, etc.... É aquele que se acompanha pelo fundamento, pela valorização real e complexa da competência e da reverência.
É das realidades mais desgastantes numa qualquer relação um outro que se debate contra os "rótulos", "erros interpretativos" precipitados e falhas empáticas persistentes...
A psicanálise facilita a consiliação interna com as nossas contradições internas normativas (no entanto, imensamente diminuidas por quem passa por uma psicanálise, por exemplo), gerando um autoconhecimento, maturidade e serenidade preciosos, que nos dá capacidade de interesse genuino e acrescido pelos demais, pela diferença, pelo aparentemente "bizzaro" e "inaceitável" (que começa por ser inaceítável/incompreendido em nós mesmos e na nossa história), o que posteriormente se passa a apresentar aos nossos olhos enquanto "humano", e inclusivé fonte de aprendizagem e potencial de crescimento pessoal. É a humanização da nossa pessoa e da consciência que temos sobre os outros e a realidade das realações humanas, vs a crítica e a discriminação não tolerante.
Um outro artigo de interesse para a questão das exigências excessivas