O diagnóstico de PHDA não é fácil, pois não existem marcadores biológicos exclusivos, nem instrumentos de avaliação específicos. Por outro lado existem vários fatores que podem levar a confundir sintomas “hiperativos” com a problemática propriamente dita, nomeadamente:
- A variedade de condições emocionais e do desenvolvimento com características semelhantes;
- O facto de crianças com PHDA terem muitas vezes um desempenho normativo durante a avaliação psicológica, por se tratar de um ambiente novo, individualizado e controlado por um adulto, para além de serem solicitadas tarefas curtas, variadas e estimulantes. Ao contrário do que é muitas vezes comunicado, a hiperatividade pode não estar presente em todos os contextos. Ter a criança colaborante e focada durante a avaliação psicológica não é critério de exclusão.
As
informações devem ser obtidas primordialmente a partir de relatórios dos pais,
professores, médicos e técnicos de saúde escolar e mental envolvidos, sendo
também essencial averiguar quaisquer causas alternativas, bem como a
coexistência de outras condições emocionais ou comportamentais (depressão,
ansiedade, oposição, perturbação do comportamento), de desenvolvimento
(aprendizagem, linguagem ou outros distúrbios do neurodesenvolvimento), e
física (tiques, apneia do sono). Deve-se, portanto, fazer uma recolha
abrangente de informações sobre o comportamento da criança em casa, com amigos,
sobre o desempenho académico e intelectual, e sobre o desenvolvimento e o funcionamento
emocional. Será ainda essencial recolher a história sobre a família alargada e
as relações familiares, tendo em conta que existe uma significativa carga hereditária.
São
amplamente conhecidos alguns questionários que são preenchidos pelos pais e
pelos professores, que embora, só por si, não tenham um valor diagnóstico,
permitem uma descrição do comportamento quotidiano.
É
importante ainda ter em conta o impacto da agitação comportamental e das
dificuldades de atenção nas atividades diárias; a ausência de um défice académico
e/ou relacional decorrente dos sintomas exclui o diagnóstico de PHDA. Por outro
lado, qualitativamente, deve ter-se em conta que os sintomas de hiperatividade
devem ter tido início antes dos 3 anos. Uma criança que era calma e fica muito
agitada aos 8 anos ou outra que começa a revelar sinais de desatenção aos 10
anos não terão PHDA, mas sim outro quadro que importará esclarecer. Aliás, é
frequente os pais de crianças hiperativas dizerem “ele/a é assim desde que
começou a andar” e desde cedo tiveram dificuldades em realizar algumas
atividades sociais, como ir a um restaurante ou a casa de amigos.
Dada a
hipótese cada vez mais sustentada de que a PHDA se enquadra num défice das
funções executivas, mediadas pelo funcionamento frontal e pré-frontal, será
importante a avaliação do planeamento, da flexibilidade cognitiva e da inibição
da resposta, para além da atenção, da sustentação do esforço e da memória de
trabalho. Será importante incluir na avaliação algumas tarefas mais monótonas,
repetitivas e prolongadas, às quais os sujeitos com PHDA serão mais sensíveis.
A resposta
ao título desta publicação será “Não, o diagnóstico não é fácil”. Requer uma
investigação exaustiva, avaliação especializada e observação atenta e
compreensiva, que implica uma articulação estreita entre pais, professores,
psicólogo/neuropsicólogo e neuropediatra. Parece, no entanto, ter-se tornado
num diagnóstico fácil para pais impacientes, professores desgastados e
profissionais de saúde assoberbados. Não é possível fazer um diagnóstico em
consultas de 10 minutos de regularidade mensal (na melhor das hipóteses).
É muitas
vezes no contexto da intervenção terapêutica que o diagnóstico é esclarecido.
Muitas problemáticas com sintomas semelhantes melhoram apenas com psicoterapia
e aconselhamento parental, enquanto que a PHDA requer também, na maior parte
das vezes, intervenção medicamentosa. Abordaremos a polémica questão da
medicação nas próximas semanas.
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