Criança combina com alegria.
Esperança. Criatividade. Espontaneidade. Não combina com depressão…de todo. Mas
a verdade é que a depressão atinge as crianças. E não é assim tão pouco
frequente.
Uma criança deprimida pode não
chorar e ficar prostrada como um adulto. Mas pode parar de desejar. De achar
que é capaz…pode parar de crescer ou crescer rápido demais. Pode afligir-se com
pequenas nadas, pode não experimentar prazer de brincar e de estar com os
outros. Pode parecer “aérea” ou desinteressada…
Quando me deparo com uma criança
deprimida questiono-me acerca de onde foi parar a sua criatividade. A
criatividade não é apenas quando se desenha ou se pinta ou se brinca. A
criatividade ajuda a adaptarmo-nos ao meio, ao outro, à mudança. Ajuda-nos a
ver qualquer coisa de positivo num acontecimento menos bom.
E não é raro assistir a situações
em que os pais dão o seu melhor: o melhor brinquedo, o melhor colégio, a melhor
ama, a melhor roupa, o melhor tablet…e as crianças continuam insatisfeitas e
desinteressadas. Porque na realidade não têm o poder da criatividade. Porque o
mais fundamental não lhes é dado: espaço e tempo para criar!
Às vezes, os pais querem
mantê-las pequenitas, como uma extensão de si. Para sempre dependentes. Outras
vezes, querem que o crescimento se apresse, e aí não há lugar à brincadeira.
Tem que se estudar, tem que ser “gente”. Em ambos os extremos, o vazio da
criatividade.
Uma criança a quem lhe fazem tudo
não experimenta. E se não experimenta, não vive sensorialmente e não apreende. E
se não apreende, não cria. A criança que corre para ser adulta, não brinca. Não
fantasia, não experimenta. Copia sem perceber. Quer ser adulto, cheio de
afazeres, de responsabilidades e tecnologia. E assim, ser pequenito é “uma
seca”.
Por mais difícil que seja para os
pais, deve permitir-se à criança ter um espaço e um tempo que são só dela. Ter
o seu “mundo” de fantasia, ter o seu quarto (onde lhe é permitido decorar da
forma que prefere, desarrumar, mudar…), ter o seu dia, ter o seu momento. Tudo
isto permite que a criança vá construindo a sua identidade, porque cria. Cria
algo que é seu, experimenta, troca, investe e desiste, apenas porque
experimenta. Ensaia soluções, conflitos, romances, profissões…ensaia desejos e
zangas. É assim quando brincam, quando “fazem de conta”, quando falam com o
amigo imaginário, quando escrevem no diário…
Por isso, não esqueçam que a
criança para ser tem que experimentar. A criatividade pode mesmo salvar vidas.
E à medida que a criança vai-se tornando jovem, ter um espaço e um tempo só
seus, é de importância vital.
Claro, é difícil o balanço.
Passamos o tempo a exigir ás nossas crianças que sejam e estejam noutro tempo
qualquer que não delas. Então…
…e se parássemos? E se por um
momento, nós, adultos, fossemos CRIANÇAS?
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