sexta-feira, janeiro 10, 2014

"The first step to resolve a problem is to admit that we have a problem"


A frase do título, proferida por um jovem adulto invulgarmente corajoso - ver vídeo abaixo) pode corresponder a uma frase "batida" ou cliché. No entanto, como pode ser difícil fazê-lo! O que não quer dizer que não se dê conta que se sofre imenso... simplesmente nem sempre é fácil reconhecer fragilidades, limitações e a gravidade da situação. Só através deste primeiro passo é possível começar a (pensar) fazer algo, como por exemplo, pedir ajuda ou investir na sua resolução.

Este segundo passo já tem mais a ver com assumirmos, apropriarmo-nos e responsabilizarmo-nos pelo problema. Pois uma coisa é o nosso problema ser responsável pela nossa miséria; outra coisa é nós sermos responsáveis pelo que fazemos com o nosso problema. Já dizia Sartre que, mais importante do que o que fizeram connosco, é aquilo que nós fazemos com o que fizeram connosco. Se fomos mal tratados em dados momentos da nossa vida (sobretudo quando éramos mais vulneráveis e influenciáveis, ou seja, na infância) podemos ter incorporado esse modo de relação interna e prolongar atualmente essa relação maltratante connosco próprios. A relação anterior já não pode ser mudada mas o que fazemos com o que essa relação nos fez já é outra história. Longe de ser fácil, não significa de modo algum que tenha de ser uma "sina".

O jovem adulto que fala no vídeo abaixo, no contexto de um TED talk sobre a depressão, é um jovem comediante. Contudo, não nos vem falar do humor que entretém mas antes do humor depressivo. Corajosamente dá o exemplo de alguém que, contra todas as expetativas, não expõe o que os outros gostariam de ver mas o que está diante de todos mas que, muitas vezes, se evita. 


Aproveito para sensibilizar quem ainda não teve a coragem para falar, não num palco, mas simplesmente FALAR, seja em que contexto for, para a importância de o fazer. Naturalmente que não serão todas as pessoas e momentos os ideias para revelar algo íntimo ou delicado. Mas nunca o fazer pode ser altamente corrosivo! 

Hoje em dia temos o privilégio de podermos partilhar e comunicar através de todo um conjunto de meios tecnológicos que podemos e devemos aproveitar da melhor maneira. O acompanhamento online é também mais uma forma de chegar às pessoas e de as ouvir aberta e profundamente. Não somos "só" Homo Sapiens somos também um Homo Sapiens (conhecedor) mas também Comunicador, Social! 

5 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Um relato profundo e verdadeiramente comovente por parte deste jovem. Apesar do seu percurso resplandecedente (aos observadores exteriores), ele vivia num sofrimento crónico e silêncioso, aprisionado numa verdadeira escuridão. Até que neste movimento de corajem ele consegue soltar as amarras dilacerantes do preconceito e da fachada, e expor quem sente que verdadeiramente é: alguém que sofre e se debate diáriamente com uma profunda depressão.

Não é fácil reconhecermos as nossas fragilidades, mas ao faze-lo conseguimos atrair uma resposta, esperança para nós mesmos e mesmo a resolução gradual do problema. Neste percurso tornamo-nos seres tremendamente mais completos, empáticos e genuinos. Um tema iportantíssimo e um video muito bom. Muito bom mesmo.

João Ferreira disse...

Muito obrigado pelo teu comentário, Diogo. Concordo perfeitamente contigo, que quanto mais aceitamos as nossas fragilidades mais completos, empáticos e genuínos nos tornamos! Abraço

Anónimo disse...

De alguem diagnosticado: quem tem depressão nao quer falar sobre isso. Não porque tem vergonha, mas porque não tem esperança de que sirva para alguma coisa. Oxalá a depressão se curasse no falar. Acabava-se logo com os anti-depressivos, enriqueciam o dobro dos psicoterapeutas. A depressão é uma doença mental que conduz à morte, disso não tenho dúvidas. Quem está deprimido nao quer acabar com o sofrimento, quer acabar com a vida. E só quem não está nem nc esteve verdadeiramente deprimido é que pode dizer o contrário.

A depressão não anula o prazer, anula tudo. Anula a dor, a alegria, anula-nos enquanto seres que se dão aos outros. Ficamos nós, sós, na bolha em que nos fechámos, incapazes de receber, ainda mais incapazes de dar...egocêntricos e profundamente infelizes.

A saída? Morrer. Uma vida que saiba a alguma coisa...algo, alguém que não esteja infectado de «eu».

João Ferreira disse...

Obrigado Be(e)free pela participação e apresentação de um ponto de vista particular.

Achei interessante quando disse que algo ou alguém "não infetados pelo eu" poderiam trazer algum novo sabor à vida. É nessa perspetiva também que falo em "falar", comunicar, partilhar com outro, sentir-se profundamente em contato com alguém que esteja bem presente e a ouvir verdadeiramente.

O seu testemunho transmite bem o desespero, a desesperança e a intensidade profunda de dor emocional que pode existir na depressão. E percebo o que diz: falar sobre falar é fácil! Se houvessem "técnicas" ou comprimidos mágicos que resolvessem assim tão facilmente as depressões, era ótimo... mas não há.

Mas, a propósio do título do post, acho que é importante perceber que temos um problema para o podermos resolver; outra coisa é "sermos" o problema, ou seja, sermos rotulados (ex.: "fulano tal é deprimido" ou "tem uma depressão")e definidos pelo problema. Depressão ou outro rótulo qualquer pode ter alguma utilidade mas é preciso compreender que os rótulos são heurísticas e não têm existência própria. O que tem existência própria são as pessoas e cada uma tem a sua história única e a sua vivência única de afetos "depressivos". A depressão é uma entidade abstrata que está nos livros. O que precisa de ser conhecido, explorado, compreendido, ganhar existência e empowerment, é a pessoa. Em psicologia, não se lida com doenças, lida-se com pessoas.

O meu sofrimento tem a ver com a minha história de vida pessoal e única. E é essa coerência que penso ser importante compreender no contexto de uma relação empática e humana.

Obrigado pelo seu contributo e as melhoras.