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segunda-feira, junho 03, 2013

HIPERATIVIDADE: INCAPACIDADE OU INCONSISTÊNCIA?

A PHDA tem uma base essencialmente neuropsicológica e os factores genéticos conjugam-se com as experiências do indivíduo no seu meio ambiente, moldando o seu comportamento e a forma como enfrenta e se integra na vida em sociedade.

Envolve distúrbios na atenção, na auto-regulação, no nível de atividade e no controlo do impulso, sendo cada vez mais encarada como uma constelação de sintomas que interage de forma complexa com o ambiente, dificultando a criação de testes de diagnóstico. Por outro lado, existem poucos critérios desenvolvimentais exclusivos e não existem marcadores específicos para o seu diagnóstico. A PHDA parece distinguir-se de outras condições psiquiátricas e desenvolvimentais devido à intensidade, persistência e constelação de sintomas. De certa forma, a PHDA reflete um exagero do comportamento normal, seja por demasia ou insuficiência do que é esperado em certos contextos, pelo que desde muito cedo os indivíduos se debatem com a gestão dos impulsos, o controlo do movimento, a sustentação da atenção, e a auto-disciplina do comportamento.

Apesar da grande ênfase colocada nos sintomas da desatenção e da excessiva atividade como défices centrais, a literatura emergente aponta para um défice nas funções executivas, nomeadamente na auto-regulação. A dificuldade não está em prestar atenção, mas em prestar atenção eficazmente, sendo portanto um problema de desempenho e consistência, e não de capacidade. Será, assim, um problema que resulta do facto de ser capaz de aprender a partir das experiências, mas ser incapaz de agir eficazmente essa aprendizagem no desempenho.

Importa acrescentar que existem diferenças significativas entre a ausência de controlo e a desobediência, a desatenção e a distração, e ainda entre a atividade excessiva e a agitação.

Continuaremos a desenvolver o tema ao longo das próximas semanas, nomeadamente no que respeita ao funcionamento neuropsicológico e ao "comando cerebral" da atenção e da atividade.

terça-feira, maio 28, 2013

ESCLEROSE MÚLTIPLA: A IMPORTÂNCIA DA PSICOTERAPIA INDIVIDUAL E FAMILIAR

Celebra-se na última 4ª feira de Maio o Dia Mundial da Esclerose Múltipla.

“A EM é uma doença crónica, inflamatória e degenerativa, que afecta o Sistema Nervoso Central (SNC).É uma doença que surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos de idade, ou seja, entre os jovens adultos. Afecta com maior incidência as mulheres do que os homens. Esta patologia é diagnosticada a partir de uma combinação de sintomas e da evolução que a doença apresenta na pessoa afectada, com recurso a exames clínicos/exames complementares de diagnóstico (Ressonância Magnética Nuclear, Estudo de Potenciais Evocados e Punção Lombar). Estima-se que em todo o mundo existam cerca de 2.500.000 pessoas com EM (dados da Organização Mundial da Saúde) e em Portugal mais de 5.000 (João de Sá, 2005). A EM pode produzir sintomas idênticos aos de outras patologias do SNC, pelo que o diagnóstico poderá demorar anos a acontecer.” (Informação disponível no site da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla- SPEM).

Os sinais e sintomas principais são fadiga, visão turva, perda de força muscular, alterações da sensibilidade (formigueiro, picadas, dormência, sensação áspera no tato), dor, alterações urinárias e intestinais, problemas sexuais, desequilíbrio e falta de coordenação motora, alterações cognitivas (atenção, memória, resolução de problemas) e alterações do humor. Sobretudo numa fase inicial, estes sintomas podem ser desvalorizados por surgirem de forma intermitente.

O diagnóstico de EM é dramático para a pessoa e para a sua família, tendo em conta o caráter degenerativo. O tratamento, que procura travar a doença, traz frequentemente efeitos secundários muito desconfortáveis e incapacitantes, que podem levar à não adesão à terapêutica e, consequentemente, a um agravamento mais rápido.

A qualidade de vida diminui drasticamente, sobretudo devido às dificuldades motoras. É frequente um funcionamento marcado pela euforia, que muitas vezes se confunde com uma falta de consciência dos défices.

Consoante a frequência e gravidade dos surtos, vai havendo uma oscilação entre o agravamento dos défices e a recuperação. A EM é uma doença crónica e requer aprendizagem do doente e da família.

É de extrema importância que o doente e a família tenham acompanhamento psicológico. Para o doente, o processo psicoterapêutico será essencial na adaptação ao diagnóstico e na adesão aos tratamentos. Por outro lado, elaborar a angústia, o medo e a revolta é crucial para que exista um maior equilíbrio emocional e, consequentemente, maior capacidade para lidar com a evolução da doença e para a descoberta de capacidades. Para além do trabalho psicoterapêutico, recomenda-se intervenção neuropsicológica no sentido de minimizar ou travar os défices cognitivos (atenção, memória, lentificação, raciocínio, etc). É importante não esquecer ainda a família, que sofre igualmente com a evolução da doença e com a progressiva dependência do familiar com EM.

Em Portugal ainda parece dar-se pouca importância à intervenção psicoterapêutica aliada às doenças crónicas e degenerativas, quando uma maior estabilidade emocional do doente e da família é essencial para uma melhor qualidade de vida de ambos.


A Psicronos está sensível a este aspeto, motivo pelo qual estabeleceu um protocolo com a SPEM há algum tempo, no sentido de permitir condições especiais aos seus membros.

segunda-feira, maio 27, 2013

HIPERATIVIDADE OU HIPER-DIAGNÓSTICO?

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção é o distúrbio neuro-comportamental mais comum na infância, que pode afetar profundamente o desempenho académico, o bem-estar e as interações sociais das crianças. Caracteriza-se por instabilidade da atenção, agitação excessiva e impulsividade.

Muitos dos sintomas não são exclusivos da PHDA, podendo ser encontrados em outras patologias, pelo que é importante uma avaliação especializada.

Apesar de se usar o termo “hiperatividade” num sentido lato para explicar a agitação das crianças, são muito poucos os casos em que estamos perante um quadro de PHDA propriamente dito. Por exemplo, os casos mais frequentes são, talvez, os “hiper-mal-educados”! A falta de regras leva a uma agitação frequente, associada à ausência de limites, e a uma baixa tolerância à frustração que leva a conflitos constantes. Mesmo perante estes casos, estamos perante sofrimento emocional uma vez que a criança sente que ninguém a controla (daí a sua necessidade de controlar). Estas crianças testam constantemente os limites, à espera de encontrar um adulto capaz de perceber a sua insegurança e que lhes dê uma autoridade firme e afetuosa.

A agitação também é cada vez mais identificada nas perturbações depressivas e bipolares, sobretudo nos rapazes. Trata-se de “não parar, para não pensar”. Nos problemas de ansiedade, a agitação psicomotora também é frequente e traduz a inquietação interna. Na deficiência mental e nas Perturbações Globais do Desenvolvimento, a irrequietude está associada à não compreensão das normas e do contexto, entre outros aspetos que podem ser partilhados com a base da hiperatividade e do défice de atenção. Na psicose, existe um estado de alerta permanente devido ao sentimento persecutório que leva a uma agitação como defesa contra a ameaça percecionada. Há ainda as alterações transitórias, como a mudança de escola, o nascimento de um irmão, um conflito familiar, algo que acontece na vida da criança que requer compreensão e adaptação da sua parte.

Em qualquer dos casos, existe sofrimento emocional. A grande distinção entre estes quadros é talvez a causa e a consequência. No caso da PHDA, temos a agitação (de origem neurobiológica) que provoca sofrimento devido à crítica e à punição constantes, bem como pelo sentimento de não corresponder às expetativas. Nos restantes casos, há um sofrimento que causa a agitação.

Esta tem sido a minha visão da hiperatividade Vs agitação, motivo pelo qual considero que tem havido um sobrediagnóstico e, consequentemente, uma sobremedicação das crianças. Preocupa-me que a nova revisão do manual das perturbações mentais (DSM-V), publicada há menos de um mês, não tenha, ao contrário do esperado, afunilado os critérios de diagnóstico. Aliás, aumentou até a sua abrangência, por exemplo ao considerar o início dos sintomas até aos 12 anos, quando anteriormente se considerava que as manifestações deviam estar presentes antes dos 7 anos e, qualitativamente, com sinais evidentes anteriores aos 3 anos.

Só esta pequena alteração nos critérios irá, na minha opinião, aumentar o risco de confusão e de diagnósticos apressados, colocando no mesmo “saco” da Hiperatividade outros quadros, com causas diferentes e, como tal, que requerem intervenções diferentes.

Continuarei a desenvolver o tema da PHDA nas próximas semanas.