A
Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção é o distúrbio neuro-comportamental
mais comum na infância, que pode afetar profundamente o desempenho académico, o
bem-estar e as interações sociais das crianças. Caracteriza-se
por instabilidade da atenção, agitação excessiva e impulsividade.
Muitos
dos sintomas não são exclusivos da PHDA, podendo ser encontrados em outras
patologias, pelo que é importante uma avaliação especializada.
Apesar
de se usar o termo “hiperatividade” num sentido lato para explicar a agitação
das crianças, são muito poucos os casos em que estamos perante um quadro de
PHDA propriamente dito. Por exemplo, os casos mais frequentes são, talvez, os “hiper-mal-educados”!
A falta de regras leva a uma agitação frequente, associada à ausência de
limites, e a uma baixa tolerância à frustração que leva a conflitos constantes.
Mesmo perante estes casos, estamos perante sofrimento emocional uma vez que a
criança sente que ninguém a controla (daí a sua necessidade de controlar).
Estas crianças testam constantemente os limites, à espera de encontrar um
adulto capaz de perceber a sua insegurança e que lhes dê uma autoridade firme e
afetuosa.
A
agitação também é cada vez mais identificada nas perturbações depressivas e
bipolares, sobretudo nos rapazes. Trata-se de “não parar, para não pensar”. Nos
problemas de ansiedade, a agitação psicomotora também é frequente e traduz a
inquietação interna. Na deficiência mental e nas Perturbações Globais do Desenvolvimento,
a irrequietude está associada à não compreensão das normas e do contexto, entre
outros aspetos que podem ser partilhados com a base da hiperatividade e do
défice de atenção. Na psicose, existe um estado de alerta permanente devido ao
sentimento persecutório que leva a uma agitação como defesa contra a ameaça
percecionada. Há ainda as alterações transitórias, como a mudança de escola, o
nascimento de um irmão, um conflito familiar, algo que acontece na vida da
criança que requer compreensão e adaptação da sua parte.
Em
qualquer dos casos, existe sofrimento emocional. A grande distinção
entre estes quadros é talvez a causa e a consequência. No caso da PHDA, temos a
agitação (de origem neurobiológica) que provoca sofrimento devido à crítica e à
punição constantes, bem como pelo sentimento de não corresponder às expetativas.
Nos restantes casos, há um sofrimento que causa a agitação.
Esta
tem sido a minha visão da hiperatividade Vs agitação, motivo pelo qual
considero que tem havido um sobrediagnóstico e, consequentemente, uma
sobremedicação das crianças. Preocupa-me que a nova revisão do manual das perturbações
mentais (DSM-V), publicada há menos de um mês, não tenha, ao contrário do
esperado, afunilado os critérios de diagnóstico. Aliás, aumentou até a sua abrangência,
por exemplo ao considerar o início dos sintomas até aos 12 anos, quando
anteriormente se considerava que as manifestações deviam estar presentes antes
dos 7 anos e, qualitativamente, com sinais evidentes anteriores aos 3 anos.
Só
esta pequena alteração nos critérios irá, na minha opinião, aumentar o risco de
confusão e de diagnósticos apressados, colocando no mesmo “saco” da Hiperatividade
outros quadros, com causas diferentes e, como tal, que requerem intervenções
diferentes.
Continuarei
a desenvolver o tema da PHDA nas próximas semanas.
Sem comentários:
Enviar um comentário