Os primeiros anos de vida são cruciais para o
desenvolvimento sócio-afetivo da criança e para a formação da sua personalidade
enquanto adulto. É nesta fase precoce que vai sentir o meio como seguro ou
inseguro, gratificante ou frustrante, que vai conhecer os seus limites e os do
outro, com base nas respostas que recebe do pai e da mãe e na interação que
estes estabelecem consigo. Alterações na resposta às necessidades físicas ou
emocionais do bebé ou da criança podem ter um impacto muito negativo na sua
saúde mental, que poderá ficar assente em vivências de desamparo.
A criança não tem a mesma capacidade que o adulto para se
expressar verbalmente. Agressividade, birras, medos, xixi na cama, dificuldades
em dormir ou comer, choro fácil, apatia, são muitas vezes a forma de manifestar
que algo se passa e lhe está a causar sofrimento. No entanto, existe uma certa
tendência a desvalorizar os sinais que a criança vai dando e a apostar na “esperoterapia”
(esperar para ver), muitas vezes recomendada pelos médicos.
A criança está em crescimento, pelo que é necessário
discriminar se as alterações ou dificuldades que apresenta são um problema do
seu desenvolvimento ou uma etapa normal do seu processo evolutivo.
Uma avaliação e intervenção atempadas podem minimizar o
risco de agravamento e instalação de quadros psicopatológicos complexos. Quanto
mais tarde se inicia esta intervenção, maior o impacto das experiências
desorganizadoras e, consequentemente do seu sofrimento, e maior a dificuldade
de alteração de dinâmicas relacionais perturbadoras.
O processo de avaliação e psicoterapia na infância tem início
com uma recolha detalhada de informação junto dos pais, com vista à averiguação
das suas preocupações e da história pessoal e familiar. A criança é um elemento
integral e fundamental na família, pelo que o contexto familiar assume um papel
preponderante no seu desenvolvimento e, consequentemente, na compreensão da
problemática e na psicoterapia.
Na psicoterapia infantil, é necessária uma abordagem
especializada, que vá de encontro às fragilidades e capacidades da criança,
através do seu meio privilegiado de comunicação: o brincar. Através do desenho,
do jogo simbólico, das histórias, da dramatização, o psicoterapeuta ajuda a criança
a descobrir as suas emoções, necessidades e potencialidades, e a expressá-las
de forma mais ajustada, facilitando a contenção emocional e promovendo a
transformação adaptativa.
Grande parte dos quadros psicopatológicos no adulto tem
origem em vivências precoces. Como tal, a psicoterapia infantil é essencial
para a construção de um adulto com melhores recursos emocionais e maior
capacidade de gerir a relação consigo próprio e com os outros.
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