Tem sido amplamente noticiada a vaga de suicídios na France Telecom, o equivalente da nossa PT. No espaço de ano e meio, suicidaram-se 25 e cinco quadros.
Algo está mal naquela empresa. Parece evidente que as mudanças na empresa eram necessárias e muito provavelmente tardias (é no que dá adiar sistematicamente). Mas há maneira e maneiras de fazer as coisas. Muitos gestores continuam a focar-se nos números, negligenciando o principal activo, as pessoas.
Mudanças radicais como foram feitas na France Telecom, tanto no conteúdo do trabalho como no seu local físico, exigiam certamente que essas mudanças fossem devidamente e repetidamente explicadas aos envolvidos. Isso é algo que exige humildade e capacidade de aceitar as críticas, por parte dos responáveis. Vi um vídeo em que o presidente da empresa, o Sr. Didier Lombard diz, exasperado, que as pessoas se habituaram a ficar sentadas na cadeira e a não trabalhar - quem queira pode ver no link abaixo:
http://www.dailymotion.com/video/xaoj0n didier-lombard-pdg-dorange-et-la-pe news
Trata-se de um espectáculo lamentável e revelador da incapacidade de saber lidar com as pessoas. A capacidade de liderança é isso mesmo, é saber comunicar às pessoas a necessidade da mudança e conseguir o seu apoio para a forma de implementação dessa mudança.
Já escrevi aqui que o burnout não se deve, na maior parte das vezes, a um excesso de trablho. Deve-se, sim - para além de situações particulares como o assédio - a não gostar do que se faz. Gostar passa pela sensação de que se faz um trabalho bem feito, que ele tem SENTIDO e que é reconhecido tanto pela hierarquia como pelos colegas. A criatividade, o espírito de iniciativa, a procura da inovação, têm de ser estimulados.
Toda a mudança traz stress. Mas não é o stress que mata, é a incapacidade que estas 25 pessoas tiveram de saber lidar com ele. Julgo que numa fase como a que a France Telecom está a atravessar o apoio psicológico aos que estão mais fragilizados tem de ser previsto. Há pessoas menos resilientes, que têm de ser apoiadas. Há pessoas cuja situação familiar, por exemplo, poderá estar mais frágil. Existe no suicídio o fenómeno do contágio, já bastante estudado.
Com um presidente destes, no entanto, a empresa está entregue ao destino. E o destino não parece estar a ser simpático.