sexta-feira, outubro 25, 2013

Exercício físico como tratamento para a depressão?

Estranho, não acham?

No entanto, desde os anos 90 que se efetuam estudos que comprovam a eficácia do exercício aeróbico no bem-estar dos seres humanos. O mais interessante é a consistência dos resultados destas investigações, todas elas apontam para benefícios iguais aos da medicação específica para a depressão. Com a vantagem do exercício físico não causarem dependência que os químicos causam e de as recaídas nos casos de depressão serem muito menores.

Para esclarecer este ponto irei mencionar um estudo efetuado na Universidade de Duke em 2000*, Foram selecionados 2 grupos de pessoas que apresentavam sinais de depressão, estas pessoas passaram por um processo de avaliação psicológica que media os níveis de depressão de maneira a que pessoas que não estavam deprimidas, ou que não estavam deprimidas o suficiente não participassem na experiencia. Depois foram divididos aleatoriamente por dois grupos, um grupo que tomava Zoloft (um antidepressivo de nova geração muito eficaz) e outro grupo que tinha a prescrição de praticar exercício físico (Jogging 3 vezes por semana).

Após 4 meses de tratamento ambos os grupos sentiam-se igualmente bem, não parecia que o medicamento oferece-se qualquer vantagem em relação ao Jogging e vice-versa. No entanto, o estudo não fica por aqui, um ano depois do terminar da experiência os investigadores foram avaliar a manutenção dos bons resultados obtidos. Nesta avaliação existiu uma diferença notável nos resultados:

- O grupo que tomava medicação teve uma taxa de recaídas superior a um terço, ou seja mais de 33% recaíram na depressão.
- O grupo da corrida teve uma taxa de 8% de recaída. Ou seja 92% de sucesso da corrida contra os cerca de 60% de sucesso do Zoloft.

Bem! Então e os custos? Sim quando custa cada uma das soluções? Podem vocês perguntar com toda a justiça se quiserem ir para a solução Low Cost. Para isso fiz uma pesquisa na internet e elaborei um caso hipotético - Sujeito masculino com 42 anos, apresenta sinais de depressão após divórcio, vai ao médico de família e este coloca-lhe as seguintes opções:

Pode tomar um anti-depressivo 1 vezes por dia durante 6 meses, e depois, se estiver a sentir-se melhor, (isto é, se o médico de família acertar no anti-depressivo certo, visto que existem várias famílias de substâncias que inibem ou estimulam mecanismos diferentes, se não acertar á primeira devemos acrescentar mais 3 meses de medicação e o custo de uma consulta no psiquiatra privado que rondará os 100€) seguir-se-á mais 2 a 3 meses de desmame da medicação. O que fará uma média de 8 meses de medicação (na melhor das hipóteses). Cada caixa de Zoloft, por exemplo, custa ao publico 42,69€ (caixa com 60 comprimidos de 100mg), ora isto faz com que a cada 2 meses seja necessário gastar mais uma caixa, 4 x 42,69€ = 170,76€ mais as consultas no médico de família 5€ x 3 = 15€ a juntar aos medicamentos a depressão custa-lhe 185,76 € com uma taxa de sucesso de cerca de 60% ao final de um ano.

Vamos agora ver os custos da prática de Jogging 3 vezes por semana durante 30 minutos. Ténis de marca desde os 39,95€ até aos 125€ (a linha branca tem ténis desde os 14,95€), t-shirt 4,99€, calções 6,95€ e meias 3,50€ (3 pares). O conjunto com os ténis de marca mais baratos é de 55,39€… Dúvidas?
              
Resumindo a solução que custa 55,39€ tem 92% de eficácia a longo prazo, a solução que custa 185,76 € tem cerca de 60% de eficácia… Ainda tem dúvidas?

Não gosta de correr? Já tentou e sentiu-se mal? Não sabe como começar?
Em breve publicarei um texto sobre a motivação para o exercício físico e de como a psicologia o pode ajudar.


Pedro Santos

quinta-feira, outubro 24, 2013

O Sexo na Nova Era


Sexualidade e sexo são conceitos que podem andar de “mãos dadas
mas não são a mesma coisa!

A sexualidade não é “genital dependente”, envolve a capacidade de nos sentirmos seres sexuados, de manifestarmos emoções e sentimentos, e de nos entregarmos ao prazer físico e mental. Está ligada a uma energia inerente ao ser humano através de imagens, pensamentos, sentimentos, emoções, desejos e fantasias. Apoiada no Outro, a sexualidade é um precioso instrumento de auto conhecimento. Muitas pessoas preferem dizer “vamos fazer amor” a “vamos fazer sexo”, pois consideram que o primeiro não se limita ao descarregar de tensões e satisfação de desejos egocêntricos, sem se importar com quem é partilhada essa experiência. Nesta perspetiva “fazer amor” pressupõe um nível mais profundo, uma simbiose de energias, uma entrega erótica física e espiritual ao outro. “Fazer amor” seria assim, para alguns, uma espécie de “fazer sexo” gourmet!

Culturalmente, ao longo de séculos, foi-nos transmitida a ideia que a infidelidade fazia parte da natureza do homem, ao passo que, para as mulheres, o conceito de amor e sexo seriam inseparáveis. Desta forma, homens e mulheres limitaram a sua autonomia e liberdade sexual, uma vez que, por um lado as mulheres viram restringido o seu leque de oportunidades de experiências sexuais, e por outro, os homens pagaram um alto preço com a premissa de “não poderem falhar sexualmente” para se sentirem socialmente adequados.

Nos últimos anos tem-se verificado uma reformulação dos aspetos básicos das relações humanas. Com o avanço tecnológico vimos a entrada das mulheres no mercado de trabalho e a eliminação da divisão de tarefas. Este foi um passo importantíssimo na afirmação da autonomia e liberdade feminina que terá desferido, nos anos 60, um enorme golpe no sistema patriarcal, com o advento de novos anticoncecionais eficazes. Inevitavelmente, alguns valores morais, que ao longo de séculos, através dos seus códigos, julgaram e subjugaram o prazer das pessoas, começaram a ser abalados. Nos últimos anos tem emergido uma reflexão sobre as relações entre homens e mulheres, o amor, o casamento e a sexualidade.

Atualmente, o respeito da individualidade do outro e a comunicação são vistos como pilares para uma conjugalidade duradoura. Vivemos assim numa época com as devidas condições para uma maior aproximação emocional entre as pessoas. Esta pode ser uma grande oportunidade para que cada pessoa possa ver respeitadas as suas formas de expressão e particularidades, sem ter de se adaptar forçosamente a modelos impostos pela sociedade. Porém, ao mesmo tempo, com o surgimento das novas tecnologias, em que se destaca a Internet, vemos uma mudança na forma de estar com os outros e o próprio.

Passou-se a “socializar” mais com máquinas que pessoas de “carne e osso”. Consideram-se “amigos” aqueles que fazem um “like” num rol de indivíduos que apenas tem em comum uma conta aberta numa rede social (e.g. “FaceBook”). Muitas relações são alimentadas a milhas de distância, em que as pessoas acreditam faltar apenas o toque para se sentirem concretizadas, numa vinculação meramente virtual. Hoje em dia, vivem-se relações recicláveis que se constroem e destroem através de mensagens escritas, o que causa a sensação (nem que seja ilusória) de uma proteção a situações que seriam incómodas olhos nos olhos. Além disso, a oferta de sexo descartável prolifera em sites de “engate” onde se esperam momentos de prazer fugazes e, provavelmente, sem o mínimo de envolvimento emocional ou afetivo.

Naturalmente que a indústria farmacêutica não ficou alheia a este fenómeno e, após anos a “dissecar” a anatomia e a fisiologia sexual, apresenta, nos anos 90, o primeiro fármaco para a Disfunção Erétil. Estavam assim dados os primeiros passos para uma nova era no processo da medicalização da sexualidade. Em pouco meses estas drogas passaram a ser das mais faladas e vendidas de todos os tempos. Porém, atualmente, o seu consumo não se limita a quem realmente necessita, muitos jovens recorrem a este tipo de medicação para fazerem “maratonas sexuais", sem terem em conta os malefícios que daí podem advir.


A ciência conquistou a sexualidade!

Hoje em dia procura-se um comprimido “similar” para o sexo feminino. Algo que provoque o Desejo Sexual e o Orgasmo, sem respeitar a necessidade de intimidade emocional de proximidade e carinho. O polémico Ponto G, que ainda não é consensual que exista, reflete bem esta azafama em encontrar uma espécie de “botão mágico” que provoque prazer à mulher sem a necessidade de “grande esforço”. Esta perspetiva esquece-se que o corpo não é uma máquina com peças a funcionar isoladamente, mas sim como uma orquestra que tem de trabalhar em conjunto para ser bem afinada.

O que antes era proibido passou a ser quase que obrigatório. Não são raros os relatos de jovens que se sentem excluídos, pelos seus pares, se não iniciarem a vida sexual, cada vez mais cedo. Aos idosos é imposta a normatividade do sexo, para a sua idade, não lhes sendo permitido aproveitar as limitações físicas, inerentes à velhice, para se reencontrarem a um nível mais intimo e espiritual que físico.

Vivemos num mundo materialista que dá primazia à quantidade em detrimento da qualidade. Repleto de excessos, de prazeres fugazes e de relações ténues que se dissipam nas primeiras dificuldades. Uma sociedade em que as pessoas nunca se satisfazem completamente. Onde existe sempre a sensação de que se precisa de um pouco mais para se ser feliz. Em que as pessoas são tratadas como bens “descartáveis”, que se consomem enquanto libertarem “sumo” e, seguidamente, são substituídas por outras, tal como uma criança faz perante o excesso de prendas numa noite de Natal. Este fato não é mais que o reflexo do nosso dia-a-dia, cheio de estímulos em que pouco valor se dá ao que se tem, pois está-se constantemente a pensar no que se quer.

Este século é visto como um momento de rutura em que os aspetos básicos das relações humanas estão a ser reformulados. Esta mutação da história da humanidade pode não ser facilmente percetível mas está em movimento. Curiosamente, ao mesmo tempo em que vivemos num mundo repleto de soluções tipo “fast food”, são cada vez mais as pessoas que se empenham num processo de descoberta interior para a resolução das suas dificuldades inter e intra pessoais.

Os pedidos de ajuda relacionados com a necessidade de aprender a estabelecer, desenvolver, manter e aprofundar relações erótico-afetivas, começam a ter uma percentagem expressiva nas consultas de psicoterapia. Após anos em que dedicaram “corpo e alma” às novas tecnologias, muitas pessoas não sabem expressar as suas emoções, ou pior nem sequer conseguem identificá-las! Muitas sentem um enorme vazio que não conseguem preencher com bens materiais.

As novas intervenções psicoterapêuticas (conhecidas como terapias de 3ª geração) têm-se mostrado promissoras na autoaceitação e conhecimento. É uma perspetiva diferente do que se tem vindo a fazer, pois estas intervenções visam contradizer a tendência que as pessoas têm de estar desatentas ou de se perderem em julgamentos e reflexões que as alienam do mundo que as cerca.

Destas novas terapias destaca-se o Mindfulness onde se procura ajudar a pessoa a ter consciência plena do “aqui e agora” aprendendo a viver o momento. O Mindfulness é uma prática milenar com base em conceitos e princípios da filosofia Budista que visa ajudar a pessoa a desenvolver a capacidade de atenção plena, concentração no momento atual, intencional, sem juízos de valor e sem se deixar envolver em recordações ou pensamentos sobre o futuro. O seu efeito terapêutico tem sido demonstrado em variadíssimas patologias físicas e psicológicas. Esta pode ser uma importante viragem na forma de estar com os outros e com nós próprios, na forma como encaramos as relações, o dia-a-dia, a sexualidade…

No fundo, tal como referiu o filosofo, Gaston Bachelard, “Devemos olhar para o futuro não como aquilo que vai acontecer mas o que vamos fazer com ele”.


Fernando Eduardo Mesquita
Psicólogo/Terapeuta Sexual da Psicronos
(este artigo foi publicado na revista "Nova Era" 1ª edição)

quarta-feira, outubro 23, 2013

As mentiras das crianças (I)

“Eu sei que foi ele e ele diz-me na cara que não, como pode ele mentir tão descaradamente?!”
Todos os pais desejam que os seus filhos sejam honestos e verdadeiros, de modo que a mentira é algo que provoca preocupação e até algumas suspeitas (na maior parte das vezes infundadas) relativamente à personalidade futura da criança.

A mentira está, em parte, relacionada com a fase do desenvolvimento moral em que se encontra, mas também é altamente condicionada por atitudes parentais e por fatore sociais, assim como pela forma como a criança experiencia determinadas situações.

Até aos 3 anos, talvez nem se possa chamar ainda de mentira; talvez ocultação ou negação sejam os melhores termos! Nesta fase, é ainda tudo muito confuso e a criança sabe apenas que depende do adulto para sobreviver. A criança percebe que fez algo de mal pelo tom de voz com que o adulto fala, o que a assusta e, para se sentir novamente segura, nega os feitos de que é acusada (partir um objeto, por exemplo), muitas vezes sem compreender verdadeiramente a sua responsabilidade.

Por volta dos 4 anos, a mentira é muito transparente e reflete diretamente o desejo da criança (“foi ele que me deu o carrinho, eu não tirei”), apesar de terminar muitas vezes com “foi sem querer”. A partir daqui, já vai desenvolvendo alguma compreensão do significado da mentira, embora a necessidade de satisfação imediata, a culpabilidade e o receio de perder o amor dos pais se sobreponham à verdade. Quando são educadas em contextos que valorizam a verdade, as crianças tendem normalmente a segui-la pois querem ser reconhecidas e receber a aprovação dos pais, para além de defenderem a justiça e o bem,  chegando até a acusar os pares quando detetam a mentira.

No entanto, até aos 7 anos, a criança ainda está a perceber a diferença entre a fantasia e a realidade e o adulto participa ativamente no seu mundo do faz de conta, pelo que muitas vezes fica confusa e tem dificuldade em perceber os limites da sua criatividade nas histórias que inventa ou nas desculpas que dá, para além de ainda ter dificuldade em perceber o que é certo ou errado.


Depois dos 10 anos, as crianças já sabem exatamente quando  estão a mentir (e como mentir), emergindo fatores sociais e familiares que se podem sobrepor à fase do desenvolvimento e que intensificam ou não o recurso à mentira. Veremos alguns destes fatores numa próxima publicação.

Alexandra Barros
Responsável pelo Departamento de Infância

terça-feira, outubro 22, 2013

5 + 2 instrumentos essenciais da Psicoterapia Psicanalítica


A semana passada numa aula em que falava sobre o essencial da Psicoterapia Psicanalítica enumerei 5 instrumentos fundamentais desta abordagem:

- A Clarificação
- A Confrontação
- A Interpretação
- A análise (e/ou manejo) da Transferência
- A análise (e/ou manejo) da Contra-transferência

Estes 5 são sem dúvida o núcleo duro da intervenção, mas há 2 outros que têm uma importância capital:

- Observar
- Anotar/registar

Em Psicanálise de divã a Observação e a Anotação estão no lugar da Clarificação e Confrontação.
Há uns anos li um livro, do qual já não me lembro do titulo, mas que tinha como sub-titulo o seguinte:

O que se observa torna-se mente.

Esta é a essência da Psicanálise:
O que se observa torna-se mente. O analista observa a mente do analisando e nessa observação revela e cria a mente do analisando.

segunda-feira, outubro 21, 2013

Podia ser Psicanalista... Krishnamurti

Neste vídeo o Indiano Krishnamurti - que já referi e apresentei noutros posts - faz uma palestra sobre a forma como o cérebro pode transformar-se a si próprio.

Este pensador adotado em criança pela Dra. Annie Besant (à epoca presidente da Sociedade Teosofica) foi formado para ser o líder desta sociedade. Em adulto recusa este papel e torna-se um dos pensadores independentes mais interessantes da atualidade. 

Os seus pensamentos e ideias apesar de estarem naturalmente revestidas de uma linguagem próxima das filosofias orientais aproxima-se de uma forma surpreende de muitas das ideias da Psicanálise moderna, nomeadamente, os desenvolvimentos de Wilfred Bion.

É um video longo. Imagino que nem todos os leitores do Salpicos tenham paciência para o ver na totalidade, mas quem tiver o tempo, a paciência e a persistência será compensado com ideias muito interessantes e até transformadoras.

O inglês falado de Krishnamurti é muito claro e fácil de seguir, mas o vídeo está legendado em português o que torna ainda mais fácil o visionamento do vídeo.

sábado, outubro 19, 2013

Apoio psicológico individual





O apoio psicológico é uma modalidade de intervenção psicológica particularmente útil para ajudar as pessoas que estão a passar uma fase de vida com dificuldades agudas.

Todos nós, por mais robustos que sejamos psiquicamente, sofremos desgaste psicológico e emocional quanto temos que enfrentar situações de vida mais intensas ou stressantes.

Situações de doença própria ou de familiares. Situações de grande exigência profissional. Crises familiares. Crises de idade. Crises relacionais diversas. Preocupações variadas e mantidas ao longo de períodos extensos. Há tantas e tantas situações que podem abalar o nosso equilíbrio psicológico e levar-nos a procurar apoio psicológico.

A procura de apoio psicológico deveria de ser algo simples e linear. Deveria ser natural e fazer parte de uma certa rotina de saúde mental. Se estamos um pouco mais frágeis, por circunstâncias de vida é, natural, procurarmos ajuda e apoio especializado.

Esta ajuda passa por:
- escuta ativa e empatica  
- respeito absoluto pela confidencialidade e privacidade
- esclarecimento e aconselhamento
- orientação psicológica sobre as melhores formas de agir, pensar e compreender as situações que a pessoa expõe ao clínico
- análise e organização do pensamento para que surja mais clareza na abordagem aos problemas

sexta-feira, outubro 18, 2013

Comportamentos Obsessivos – Animação genial


Uma das causa profunda da neurose obsessiva é o medo da morte.

Esta animação escrita, dirigida e animada por Laura Neovonen mostra de uma forma, a meu ver, genial a força da atracção do abismo e a luta titânica que a personalidade obsessiva empreende para dominar o impulso.




Como ajudar os pacientes a identificar os Pensamentos Automáticos?

Esta questão sempre foi bastante pertinente nos processos de psicoterapia cognitiva, visto que sem a informação dos pensamentos automáticos não conseguimos avançar no processo de mudança. Fica-nos a faltar o material que é a causa de emoções perturbadoras e desconfortáveis. Sem chegar-mos ás causas não conseguimos mudar as consequências.
Deste modo a identificação destes pensamentos torna-se vital.
Ao visualizar o vídeo em baixo, irá verificar que a Psicoterapia Cognitiva está cheia de recursos para ajudar as pessoas a ultrapassar as suas dificuldades. Estes recursos vão desde a utilização de visualização mental até à utilização de encenações de situações (roll plays) significativas para o paciente.
Apreciem e comentem como o criador da Psicoterapia Cognitiva responde à questão colocada neste post.



quinta-feira, outubro 17, 2013

One night Stand - Disponíveis para o sexo


Os anglo-saxónicos chamam-lhe one night stand.
Nós dizemos que são relações que se consomem no ato sexual.
Em Portugal, há cada vez mais mulheres a ter esta experiência.
Outras, a encarar a possibilidade de ter uma. E você? 

Quando saiu de casa de manhã bem cedo para apanhar o avião, nada fazia prever que iria ter um encontro sexual com um desconhecido. Divorciada recente, Maria S., 37 anos, apenas desejava distrair-se um pouco com aquela viagem de trabalho. Mas “o destino”, como ela diz, trocou-lhe as voltas, e um dia depois de chegar a Paris, após um jantar que juntou vários desconhecidos, viu-se a caminho do hotel com um homem que acabara de conhecer. “Ainda hoje não sei muito bem o que aconteceu!… Falámos tão pouco e, de repente, tudo ficou erotizado, era só desejo. Tive a minha one night stand… E confesso que adorei!”

Nem todas as “relações-relâmpago”, conforme lhes chamam alguns, têm estes contornos cinematográficos, mas há cada vez mais mulheres portuguesas a experienciá-las. Por vezes até mais do que uma vez. E as que nunca a viveram colocam agora essa hipótese com naturalidade. Por fim, há as que a procuram como uma “solução viável”. É o caso de Raquel F., 42 anos. “Quando não tenho ninguém e quero envolver-me sexualmente vou à discoteca. É um ambiente propício para este tipo de relacionamento”, diz.

Afinal, o que está a mudar na sociedade de forma a modificar o comportamento feminino em matéria de sexo ocasional? Deixando-se guiar pelo desejo, onde ficam as emoções?

Na one night stand, “a parte emocional ou afetiva não existe, nem é esse o objetivo”, esclarece Fernando Mesquita, terapeuta especializado em sexologia clínica, da Psicronos. O objetivo “é fundamentalmente o prazer sexual, não há partilha de afetos”. Por isso, se os envolvidos não souberem o nome um do outro, ou a história de vida de cada um, também não há problema. Garante que faz parte do jogo.

O mistério da one nignt stand é o mistério do outro, de nada se saber sobre ele. Ora, isso é profundamente excitante! É pura adrenalina! Desvendado o enigma, perde-se o interesse. O especialista em sexologia compara esta situação com a das crianças pelo Natal, a querer abrir os presentes todos: “Depois que os desembrulham e descobrem o que lá está dentro, já não têm nada para saborear ali” e, por vezes, abandonam-nos.



A vontade de se sentirem desejadas leva muitas mulheres a procurar este tipo de relação.

O objetivo é a satisfação imediata. Mas, segundo Fernando Mesquita, isso não invalida que o flirt que antecede o ato não seja agradável. “Ao contrário do que acontece no blind date, na one night stand existe um jogo de sedução entre a presa e o caçador”, esclarece o terapeuta, acrescentando que as personagens podem mudar alternadamente os papéis.

Ana Almeida, psicoterapeuta, diretora da Clínica de Psicologia Psicronos, defende a existência de vários tipos de one night stand. “Um que é mais de engate. Homens e mulheres saem para a noite já com uma predisposição para este tipo de experiência”, diz. Se as coisas correm como o esperado, o engate acontece e dá-se a consumação do ato. E há só sexo. É uma forma de ‘relação-relâmpago’, “um pouco inebriante, que é muitas vezes acompanhada de consumo de álcool ou de drogas”. Aliás, estes são considerados fatores facilitadores da one night stand. E há outra forma de encontro que “é mais calculada e, eventualmente, mais viciante que é a conquista que se faz em sites de encontros”, onde a pessoa tem “uma espécie de catálogo de homens e mulheres que vai podendo selecionar até encontrar alguém com quem marca um encontro, o qual a maior parte das vezes se esgota num único momento sexual”. Ana Almeida explica que neste caso há uma pseudorrelação mínima que se vai desenrolando entre o início do contacto na Internet e o início do flirt. E que a espera gera “uma expectativa ansiosa” de ver como o outro é “no contexto sexual”. Depois, claro, usufrui-se o que há e fica-se por aí mesmo.

No primeiro tipo de one night stand, o desconhecimento do outro é maior. O segundo pode ser mais viciante. Pelo menos é o que garante Ana Almeida sublinhando que neste último, quando se ‘vai para a cama’ com o outro, “já há uma noção mínima” de quem ele é. A personagem dele “é sustentada em impressões vagas” que se foram captando pela Net. O ‘engate’ presencial, ao contrário do ‘engate’ pela Internet, tem uma forte componente de comunicação corporal. A química é imediata e a personalidade do outro “é sustentada sobre a visualização”. Ambos os tipos têm uma dose de desconhecido muito forte, e de perigo, pelo que correr o risco de ter este tipo de relações é “quase como aderir a um desporto radical: gera adrenalina”.

Mas se é verdade que o sexo pode levar ao amor, até que ponto não haverá nestes atos uma tentativa inconsciente de encontrar um parceiro para a vida? Fernando Mesquita concorda que se corre esse risco, mas assegura que “o risco de vir a sofrer também é maior”, pois enquanto uma das pessoas pode alimentar essa esperança, a outra pode estar interessada apenas na relação puramente sexual.

Para Ana Almeida, uma única one night stand está longe de se transformar numa relação duradoura. O risco está na reincidência desse comportamento. “Quando o encontro sexual é bom, com um erotismo muito forte, as duas pessoas podem querer repetir”, diz, explicando que é por isso que alguns indivíduos têm uma espécie de limite autoimposto de que uma one night stand é o limite. “Esta relação é também muito defensiva.”

Afinal, que tipo de sexo se faz numa relação de uma noite? É mais físico? Onde ficam os afetos? Fernando Mesquita diz que este tipo de relação geralmente permite jogos sexuais que não se praticam numa relação afetiva, funcionando mais como “uma descarga”. Para Ana Almeida, a ‘relação-relâmpago’ é o tipo de “experiência dominantemente sensorial”. Mas depende sempre das pessoas envolvidas. Se uma está muito carente do ponto de vista afetivo, pode tirar alguma “vivência afetiva” mesmo deste tipo de relação. “E pode sentir que o contacto pele a pele, o beijo, minimiza aquilo que ela sente como o seu grande nível de carência”, que pode não ser de sexo, mas de carícias, por exemplo. Isto é mais evidente nas mulheres. “Logo, o que elas retiram de uma relação sexual não é tanto o gozo orgástico, mas o efeito colateral inerente à própria sexualidade”, diz a psicoterapeuta, explicando que muitas mulheres emocionalmente carentes utilizam o sexo como um meio de terem “um benefício afetivo”, mesmo sabendo que o homem não vai querer “nada para além dessa relação fugaz”. Podem ser solteiras e casadas, sendo que estas últimas “não querem mesmo uma intromissão masculina muito grande”.

Em Vergonha, o filme de Steve McQueen que passou recentemente nas salas de cinema, o protagonista também receia as intromissões femininas. O bem-sucedido trintão, defendido por Michael Fassbender, vive no limite entre o medo incontrolável de intimidade e uma obsessão de sexo, que o lança em constantes encontros ocasionais com pessoas que não conhece. Como resultado, Brandon acaba por perder o controlo sobre a sua vida e a sua sexualidade.

Felizmente, a saga dos normais one night stands é bem mais banal.

Fernando Mesquita lembra que muitos destes atos sexuais pontuais são seguidos de consumos de substâncias, “o que faz com que as exigências em termos de parceiro possam diminuir”. E quanto mais a noite avança, “menor também é a escolha” – há menos pessoas nesses ambientes de divertimento. Por outro lado, os consumos podem aumentar o grau de excitabilidade – “perde-se a timidez, vai-se estando mais liberto para as tais aventuras”. No caso dos homens, o consumo de álcool inicialmente pode ser facilitador, mas em excesso torna-se um problema.

As mulheres podem sentir-se desejáveis, mas esquecem-se que os padrões de exigência desses homens também estão mais baixos devido ao consumo, sublinha o especialista em sexologia.

No dia seguinte, as reações masculinas e femininas também tendem a distanciar-se, concordam os dois especialistas. Eles têm tendência a acordar e sentirem-se bem com a relação, muitas delas sentem-se usadas e algumas admitem vergonha e culpa. É claro que isso não invalida que venham a ter novas relações de uma noite.

De acordo com Ana Almeida, o desejo de se sentirem desejadas leva muitas mulheres a procurar este tipo de relação, mesmo quando têm um compromisso com um namorado ou um marido. Basta que não sintam este desejo revelado pelo parceiro.

“Muitas das vezes o sexo é ansiolítico. Há homens e mulheres que utilizam a atividade sexual como se usa a ginástica, passa a ser um modo de libertar a tensão”, prossegue. No entanto, no caso das mulheres, “este relaxamento pode ser seguido, na manhã seguinte, de uma tensão adicional”. É o momento da “autocensura, em que o valor narcísico que tiveram na noite anterior é substituído por uma perda narcísica”. De acordo com a psicoterapeuta, algumas mulheres têm a autoperceção de não conseguirem melhor do que aquelas relações puramente sexuais de uma noite.

Independentemente da forma como as mulheres vão gerindo o dia seguinte, a verdade é que estes encontros estão a acontecer com mais regularidade também no universo feminino. No geral, podemos dizer que há mais relações de uma noite porque vivemos mais sozinhos e sem compromissos – há muitas mulheres nesta situação, atualmente –, casamos mais tarde e divorciamo-nos mais e até mais tarde na vida, e porque as relações no geral são mais transitórias, flexíveis. Fernando Mesquita diz que é sobretudo “resultado da sociedade de consumo que dita que quanto mais tivermos, melhor nos vamos sentir”. Mas também o facto de haver cada vez mais pessoas que “não estabelecem relações amorosas e cada vez mais a partilha dos afetos estar diminuída”. Alerta para o facto das relações também já não serem para toda a vida, mas até que as pessoas se sintam felizes nelas. Ana Almeida diz que a sociedade atual “tem um valor supremo que é o individualismo, baseado no gozo e nas necessidades” imediatas. Neste sentido, há cada vez mais pessoas a procurar realizar essa satisfação. “Este tipo de relação [one night stand] satisfaz bem o individualismo porque permite a aproximação, algum grau de intimidade, mas também o afastamento e a manutenção do eu individual”, resume.


PROTEJA-SE!

Fernando Mesquita, especialista em sexologia clínica, deixa alguns conselhos.

. Use preservativo: é a única forma de evitar contrair doenças sexualmente transmissíveis.
. Previna-se contra a Sida e outras doenças muito frequentes, como o herpes e o papiloma vírus (esta pode degenerar em cancro do colo do útero).
. Pondere o risco: ter uma relação com alguém que não se conhece pode influenciá-la a fazer alguma coisa que não queira, como certo tipo de jogos sexuais para os quais não estava preparada.
. Atenção com quem se envolve. Por exemplo, evite ter uma one night stand com um colega de trabalho


Fonte: Texto de Júlia Serrão, Revista Máxima

quarta-feira, outubro 16, 2013


Um vídeo interessante que nos faz pensar sobre as conceções que temos acerca da criatividade. 

A capacidade criativa é comum a todos os seres humanos, mas a sua expressão depende muitas vezes de fatores internos e externos.



Como podemos ver neste vídeo, o tempo, enquanto fator externo, condiciona estas crianças a uma resposta mais rápida, logo menos investida e por isso menos interessante quer para as próprias, quer ao nível do resultado obtido.
Dá que pensar.

terça-feira, outubro 15, 2013

Lado direito e lado esquerdo do cérebro. O que dizem de nós?

Vale a pena ler o artigo escrito por Carla Mateus com o olhar profissional das neuropsicólogas Clara Conde e Joana Rodrigues Rato.

Siga o link para ler o artigo completo.




http://saude.pt.msn.com/mentesa/o-cerebro/item/2726-ladodireitoeladoesquerdodocerebrooquedizemdenos

Pelos cabelos: Tricotilomania?

Tricotilomania é quando alguém arranca sistematicamente o cabelo ou pelos de diversas partes do corpo (pestanas, sobrancelhas, axilas, barba, pelos púbicos), resultando em peladas evidentes, ou mesmo sangramento e feridas. Varia em termos de gravidade e local no corpo, assim como na resposta ao tratamento.

Tem sido definida como uma Perturbação do Controlo dos Impulsos, estando atualmente enquadrada nas Perturbações Obsessivo-Compulsivas, embora esta classificação seja alvo de discussão.

Estas pessoas puxam frequentemente o cabelo enquanto leem, escrevem, falam ao telefone, trabalham, conduzem, veem televisão ou adormecem. A maior parte fá-lo em privado e nem todos têm consciência de que o fazem. Parece haver alguma predisposição biológica para o ato de puxar e arrancar o cabelo como mecanismo de auto-apaziguamento, que não se enquadra nos comportamentos de auto-mutilação, não havendo intenção de causar dor ou dano a si próprio. No entanto, as causas são desconhecidas, podendo ser desencadeada em resposta a eventos ansiogénicos ou, simplesmente, por fatores sensoriais.

A Tricotilomania manifesta-se habitualmente a partir dos 11 anos, mas pode verificar-se em crianças com menos de um ano. Este distúrbio causa grande angústia nos pais, que se sentem impotentes para travar o comportamento. No próprio, à medida que ganha consciência sobretudo dos efeitos, pode verificar-se isolamento e evitamento de situações de exposição em que não consiga disfarçar as peladas. A severidade é variável e, em alguns casos, o cabelo pode passar a ser mastigado e engolido (Tricotilofagia), trazendo complicações intestinais e digestivas graves que requerem intervenção médica.

Quando ocorre antes do início da adolescência, parece existir menor probabilidade de evolução para um quadro mais complexo. A sua manifestação antes dos 3 anos parece estar mais associada à necessidade de estimulação sensorial para auto-apaziguamento. À semelhança do chuchar no dedo, a criança vai enrolando e puxando o cabelo, essencialmente durante o sono ou quando está a adormecer. Até aos 5 anos, a intervenção passa essencialmente por algumas estratégias discutidas com os pais e os educadores da creche (onde faz a sesta) e incluem a introdução de alguns materiais que dificultam o comportamento e outros que promovem o apaziguamento, para além de ser necessário assegurar que este comportamento não se deve a sentimentos de desamparo. A partir dos 6 anos, as estratégias são relativamente semelhantes, mas já é possível envolver a criança mais ativamente no processo terapêutico. A partir da adolescência, apesar de continuar a ser necessário o trabalho com os pais, a intervenção já será mais individualizada. Em algumas situações requer apenas vigilância e concentração, noutras é necessário um processo mais aprofundado.

Dizer “não arranques” ou castigar são atitudes que não contribuem para a eliminação do comportamento, sendo necessária aceitação, compreensão e ajuda no processo de auto-monitorização e controlo.

Apesar de não se conhecerem as causas e de não existir uma associação direta a fatores de ansiedade, eventos traumáticos ou quadros psicopatológicos, importa sempre a averiguar as vivências da criança, do adolescente ou do adulto e identificar as situações em que ocorre mais frequentemente e se existem fatores desencadeadores.

Em muitos casos a Tricotilomania implica uma intervenção psicoterapêutica com os pais e com o indivíduo, noutros o comportamento desaparece da mesma forma que surgiu, sem causa aparente.


segunda-feira, outubro 14, 2013

Impermanência - uma realidade inquestionável



A impermanência é algo difícil de apreender pela mente humana, mas cuja a aceitação é fundamental para o equilíbrio psíquico.

Krishnamurti, um pensador filósofo indiano refletiu bastante sobre esta questão - que de resto é uma questão central nas filosofias/religiões orientais. Abaixo transcrevo uma pequena citação de um dos seus livros sobre a impermanência. Acho excessiva a afirmação de que só existe um fato e que esse fato é a impermanência. Penso que há mais do que um fato, muitos até, mas parece-me, sem duvida, que este é um fato importante.


Só existe um fato: impermanência   

"Estamos tentando descobrir se existe, ou não, um estado permanente, não o que gostaríamos, mas o fato real, a verdade do assunto. Tudo em relação a nós, dentro bem como fora – nossas relações, nossos pensamentos, nossos sentimentos – é impermanente, num estado de fluxo constante. Estando consciente disto, a mente anseia por permanência, por um perpétuo estado de paz, de amor, de bondade, uma segurança que nem o tempo nem os acontecimentos podem destruir; então ela cria a alma, o “Atma”, e as visões de um paraíso permanente. Mas esta permanência nasce da impermanência, e assim, tem dentro dela a semente do impermanente. Só existe um fato: impermanência."

Krishnamurti, J. Krishnamurti, The Book of Life