Para os nossos
leitores mais curiosos e interessados sobre a psicoterapia, seus modelos e suas
origens teórico-clínicas, disponibilizamos uma coletânea de curtos vídeos,
individuais, sobre a vida e obra de alguns dos autores que mais influenciaram
o mundo da psicologia e da psicoterapia contemporânea.
terça-feira, março 08, 2016
sexta-feira, março 04, 2016
FROM SGT Kelvin Moore
My Dear Friend,
My name is SGT Kelvin Moore I am a war veteran with the United Nations troop in Afghanistan on war against terrorism. I served in the 1st Armored Division in Kabul.Based on the United States legislative and executive decision for withdrawing troops from Iraq, I have been redeployed to come and work in Kabul on the platform of North Atlantic Treaty Organization (NATO). Our mission is to help beef up terrorist targeted states, mostly the United States and the European Union on the war against terrorism.
On the other hand, I want to inform you that I and my partner (Trooper James Anthony Leverett) have the sum of 43Million USD, which we got from a crude oil deal in Iraq before he was killed by an explosion while on a vehicle patrol. Due to this incident, I want you to receive these funds on my behalf as far as I can be assured that my share will be safe in your care until I complete my service here(in Afghanistan) and come over to meet with you. Since we are working here on Official capacity, I cannot keep these funds hence my contacting you.
I guarantee and ensure you that this is a risk free deal. I want you to know that we have successfully moved these funds out with the help of a Red Cross agent, I will inform you where the fund is as I hear back from you. All i want is your acceptance to receive these funds on my behalf, Since the death of my partner, my life is not guaranteed here anymore, so I have decided to share these funds with you, than the funds being dumped at a great risk.
I want you to tell me how much you will take from this money for the assistance you will give to me. One passionate appeal I will make to you is not to discuss this matter with anybody, should you have reasons to reject this offer, please and please destroy this message as any leakage of this information will be too bad for us as soldiers here in Afghanistan. I do not know how long we will remain here, and I have been shot, wounded and survived so many suicide bomb attacks,this and other reasons I will mention later to you. I honestly want this matter to be resolved immediately, please contact me as soon as possible on my e-mail address which is my only way of communication for now.
Regards,
SGT Kelvin Moore
domingo, fevereiro 21, 2016
Experiências Adversas na Infância - Calcule o seu índice ACE
Deixamos
aqui mais um artigo sobre as Experiências Adversas de Infância,
enquanto síntese, oferecendo-lhe agora, no final do artigo, a possibilidade de cálculo do seu
índice ACE - Adverse Childhood Experiences.
O estudo sobre as
Experiências Adversas de Infância é
uma investigação megalómana conduzida no âmbito da avaliação da relação
entre, por um lado, maus tratos na infância e, por outro lado, saúde e
qualidade de vida ao longo da vida.
A agressão e negligência física ou emocional precoce muda literalmente quem nós somos. Porém, a psicoterapia pode ajudar.
Se alguma vez se perguntou porque se têm debatido tanto durante tanto tempo com problemas crónicos de saúde física e emocional que simplesmente não desaparecem, sentindo-se como se estivesse a nadar contra uma corrente invisível que nunca cessa, então esta área da pesquisa científica pode oferecer esperança, respostas e perspetivas de cura.
Este estudo epidemiológico em larga escala visou sondar as histórias de 17.000 crianças e adolescentes, comparando as suas experiências de infância com os seus registos de saúde mais tarde na vida adulta. Os resultados foram chocantes: Quase dois terços dos indivíduos tinham sofrido uma ou mais experiências adversas de infância. Estas Experiências Adversas de Infância - ACE - compreendem situações crónicas, imprevisíveis e indutoras de stress que algumas crianças enfrentam. Estas formas de trauma emocional ultrapassam os desafios típicos do crescimento.
Se alguma vez se perguntou porque se têm debatido tanto durante tanto tempo com problemas crónicos de saúde física e emocional que simplesmente não desaparecem, sentindo-se como se estivesse a nadar contra uma corrente invisível que nunca cessa, então esta área da pesquisa científica pode oferecer esperança, respostas e perspetivas de cura.
Este estudo epidemiológico em larga escala visou sondar as histórias de 17.000 crianças e adolescentes, comparando as suas experiências de infância com os seus registos de saúde mais tarde na vida adulta. Os resultados foram chocantes: Quase dois terços dos indivíduos tinham sofrido uma ou mais experiências adversas de infância. Estas Experiências Adversas de Infância - ACE - compreendem situações crónicas, imprevisíveis e indutoras de stress que algumas crianças enfrentam. Estas formas de trauma emocional ultrapassam os desafios típicos do crescimento.
Este estudo (replicado em vários paises), demonstrou que o índice de ACE de cada individuo predizia com precisão surpreendente a quantidade de cuidados médicos que essa pessoa iria necessitar enquanto adulta.
Este estudo demonstra que a vivência de stress tóxico imprevisível e crónico na infância nos predispõe a uma constelação de condições crónicas na adultícia.
- Pessoas com um índice ACE de 4 ou mais apresentavam duas vezes maior probabilidade de diagnóstico de cancro em comparação com as pessoas que não apresentavam historial de ACE.
- Para cada ACE uma mulher apresentava um risco acrescido de 20% relativo à necessidade de hospitalização devido a doença autoimune.
- Alguém com um historial de 4 ACE apresentava 460% maior propensão a sofrer de depressão que alguém sem historial de ACE.
- Um índice de 6 ou mais ACE demonstrou reduzir a vida da pessoa por quase 20 anos.
Este estudo demonstra que a vivência de stress tóxico imprevisível e crónico na infância nos predispõe a uma constelação de condições crónicas na adultícia.
Cálculo do índice ACE
Aconselhamos uma reflexão cuidada e ponderada antes de responder a cada item (por exemplo, responder ao questionario quando estiver sozinho(a), refletindo 2-3 minutos em cada ponto ou subponto).
Antes dos seus 18 anos:
1. Algum dos pais ou outro adulto em casa frequentemente ou muito frequentemente
2. Algum dos pais ou outro adulto em casa frequentemente ou muito frequentemente
3. Algum adulto ou pessoa pelo menos 5 anos mais velha alguma vez
4. Sentia frequentemente ou muito frequentemente que
5. Sentia frequentemente ou muito frequentemente que
6. Alguma vez os seus pais se separaram ou divorciaram?
7. A sua mãe ou madrasta
8. Viveu com alguém que sofressem de problemas de bebida ou alcoolismo, ou que usasse drogas ilícitas?
9. Algum dos membros de família sofria de depressão ou perturbações psicológicas, ou algum dos membros de família teve tentativas de suicídio?
10. Algum dos membros da família foi preso?
A Soma das suas respostas positivas é o seu índice de Experiências Adversas de Infância (ACE).
1. Algum dos pais ou outro adulto em casa frequentemente ou muito frequentemente
- A(o) ofendia, a(o) insultava, a(o) menosprezava, a(o) humilhava?
- Agiam de tal forma que a(o) faziam recear ser fisicamente agredida(o)?
2. Algum dos pais ou outro adulto em casa frequentemente ou muito frequentemente
- A(o) empurrava, agarrava, esbofeteava ou atirava objetos contra si?
- Alguma vez lhe bateu de tal forma que gerou marcas ou danos físicos?
3. Algum adulto ou pessoa pelo menos 5 anos mais velha alguma vez
- A(o) tocou ou acariciou ou a(o) levou a tocar o corpo deles de forma sexual
- Tentou ter ou teve relações sexuais orais, anais ou vaginais consigo?
4. Sentia frequentemente ou muito frequentemente que
- Ninguém na sua família a(o) amava ou pensava que você era importante ou especial?
- Os membros da sua família não se preocupavam pelo bem estar de cada um, se sentiam próximos uns dos outros, ou se apoiavam uns aos outros?
5. Sentia frequentemente ou muito frequentemente que
- Não tinha o suficiente para comer, tinha de usar roupas sujas, e não tinha ninguém que (a)o protegesse?
- Os seus pais estavam demasiado embriagados ou sobre o efeito de drogas para cuidar de si ou leva-lo ao médico caso precisasse?
6. Alguma vez os seus pais se separaram ou divorciaram?
7. A sua mãe ou madrasta
- Era frequentemente ou muito frequentemente empurrada, agarrada, esbofeteada, ou lhe atiravam objetos contra ela?
- Era algumas vezes, frequentemente ou muito frequentemente pontapeada, mordida, batida com murros, ou atingida com objetos pesados?
8. Viveu com alguém que sofressem de problemas de bebida ou alcoolismo, ou que usasse drogas ilícitas?
9. Algum dos membros de família sofria de depressão ou perturbações psicológicas, ou algum dos membros de família teve tentativas de suicídio?
10. Algum dos membros da família foi preso?
A Soma das suas respostas positivas é o seu índice de Experiências Adversas de Infância (ACE).
Fonte | ACE Study CDC Violence Prevention |
segunda-feira, janeiro 18, 2016
Como Ser Romântico: Guia Prático (para homens!)
É o romance assim tão importante para uma relação amorosa e de casal?
Ser romântico será algo assim tão difícil para um homem ?
Para um homem o romantismo da companheira poderá não ser aquilo que
mais o “aquece ou arrefece”, mas para a maioria das mulheres o romance é
fundamental! Ou pelo menos alguma forma de romantismo.
Na história da nossa espécie o papel de conquistador tende a ser atribuído
ao homem, e o papel da entrega, à mulher que ele almeja e deseja. Assim,
enquanto um homem procura e se satisfaz mais com a entrega da sua amada a si e
aos seus esforços de conquista, é natural por sua vez que uma mulher se sinta
atraída ou gradualmente atraída por uma atitude mais arrojada e conquistadora
por parte de um homem, desde que se trate de uma atitude respeitosa e adequada.
A esta esforço de conquista subjaz toda uma valorização de uma mulher, poder
sentir-se desejada, alvo do desejo e do interesse de um ou daquele homem
especificamente. E aqui entra o romantismo.
Ser romântico é conquistar e/ou reconquistar sistematicamente a
mulher amada, conforme o caso. É reencenar continuamente na relação aquele
momento de conquista e entrega, é “manter a chama acesa”, é dar um colorido específico à relação
amorosa e de casal, é expandi-la
e mesmo dotá-la de uma identidade única e privada, da qual ambos são cúmplices.
Assim, o romance aprofunda mesmo a
cumplicidade do casal.
O romance é um jogo (alusão a algo divertido!) específico entre alguém
que procura conquistar e alguém que se vai deixando conquistar. É a encenação
peculiar e própria daquele casal ou díade específicos que alberga duas
individualidades bem distintas que encenam papéis complementares, ele enquanto
conquistador e a ela enquanto alguém que se deixa (ou não) conquistar, contando
ainda com todas as nuances que daqui possam advir! É claro, também, que os
papéis se podem inverter, porém o romantismo de mulher para homem é um assunto
diferente. Muitos homens ainda que possam ser bastante românticos, poderão não
ser particularmente sensíveis a estas iniciativas, e é aqui que o papel da
sensualidade e sedução, por exemplo, acaba muitas vezes por contornar o problema.
Romantismo, sensualidade e sedução não são incompatíveis entre si, todavia para
fins práticos ligados ao intuito deste artigo, é útil neste momento “separar as
águas”.
Ser romântico é surpreender e deslumbrar a nossa companheira com
atitudes e gestos únicos, invulgares, carregados de desejo de impactar muito
positivamente sobre o coração dela. É como que a procura de criar memórias únicas e irrepetíveis na companheira, que por tal se mantêm gravadas no coração
dela para sempre.
Podendo este objetivo ser ou não atingido ou atingível, o importante é
que ele se possa manter enquanto ideal orientador. Assim, eventualmente,
conseguem-se reproduzir momentos e experiências únicas e deliciosas entre duas
pessoas, que detêm todo potencial de perdurar para toda a vida. Isto é muito importante (!), já que no final da vida estas memórias pesam bastante na
avaliação da qualidade da vida que levámos. A maioria de nós têm a experiência
ou memória de ouvir os nossos avós quando nos contavam as histórias das suas
vidas. No final são precisamente estas histórias que perduram no nosso coração.
Bem, caberá a cada qual criar e inovar o seu próprio conceito de
romantismo, na mesma linha que cada qual deverá ter a sua personalidade e
individualidade bem definidas e diferenciadas.
Existem ideias-cliché de
romantismo que, na minha ótica, devem ser usadas apenas enquanto pontos de
partida e alicerces para “aventuras” mais elaboradas, inovadoras e/ou
personalizadas.
Todavia, há sim atitudes, estados “psico-emocionais” e recursos
internos que são de alguma forma transversais à atitude ou ao ato romântico.
São eles os seguintes:
“PLAYFULLNESS OU PRAZER EM BRINCAR”
A maioria de nós tem um hobbie
ou atividade que nos dá realmente prazer e alegria, uma alegria próxima daquilo
que seria voltarmos a ser crianças. Alguns de nós mais afortunados acabam mesmo
por ter o privilégio de sentir esse prazer ligado à própria atividade
profissional. Gostar do que fazemos é, regra geral, vital para uma vida de
qualidade. Enquanto crianças brincamos às profissões, e trabalhamos também a
brincar. Quanto mais esse entusiasmo persistir na vida adulta e nas tarefas da
adultícia, melhor.
No amor e no romance, o mesmo se aplica. Ao sermos românticos, estamos
fundamentalmente a brincar! È somente
com alegria no coração que se pode ser romântico, porque sem alegria, como
é que se consegue tocar verdadeiramente no coração da outra pessoa? Como é que
se consegue gerar aquele entusiasmo que contagia a outra pessoa e a envolve na
“trama” romântica?
Há uma diferença entre, por um lado, podermos cuidar da outra pessoa
quando necessário, respeita-la, sermos atenciosos com ela, e, por outro lado,
sermos verdadeiramente românticos. No primeiro cenário encontram-se as bases da
relação estável. No segundo cenário, o romantismo é um motor de
desenvolvimento, aprofundamento, melhoria e/ou manutenção do nível de qualidade
dessa relação, que idealmente se quer já estável à priori.
É também a partir dessa alegria, dessa atitude de playfullness, de que se alimentam muitas vezes os grandes esforços
românticos, precisamente porque nos movemos a partir da antecipação do prazer que iremos gerar na outra pessoa, no
qual iremos também participar (e já estamos a participar, logo desde o momento
em que nasce a ideia) e do qual iremos também desfrutar juntamente com essa
pessoa.
AUTOESTÍMA
Falamos aqui mais de uma autoestima secundaria, isto é, mais ligada ao
autoconceito de um homem enquanto tal, e não tanto enquanto pessoa, ainda
que de alguma forma eles se interliguem em alguns pontos.
Ao longo da vida vamos procurando agradar aqueles que amamos, sejam os
nossos pais, os nossos irmãos, os nossos amigos, os nossos companheiros e
companheiras, etc.. À medida que vamos observando o resultado dos nossos
esforços e respetiva validação dos mesmos ao longo da vida, cristaliza-se em
nós um sentimento de sermos eficazes em agradar e satisfazer os demais. Na
relação amorosa, esta forma de autoestima ou autoconfiança será o sentimento internalizado de se ser eficaz em agradar,
surpreender e satisfazer a companheira, enquanto homem.
Esta autoconfiança é também de onde emerge a atitude de playfullness. Trata-se de confiança, e
também de um sentido de entusiasmo, ligados ao sentimento de eficácia (prazer
narcísico saudável), neste caso ao serviço do enriquecimento da vida amorosa
(do prazer na relação com o outro).
Na medida em que a outra pessoa é satisfeita pela atitude e ato
romântico, também essa satisfação recai simultaneamente sobre a própria autoestima
do homem e sobre o prazer que ele retira naquela íntimidade com a sua companheira.
ESFORÇO CRIATÍVO
Se há “prazer em brincar” e um sentimento edificado e estável de se ser
eficaz em agradar, surpreender e satisfazer a outra pessoa, então a
criatividade têm portas abertas para poder surgir. O prazer em criar novos
cenários e situações, em diversificar, em surpreender, em viver mais e mais,
alimenta o próprio esforço criativo.
A atitude romântica também se desenvolver e pode amadurecer. Um homem
que conte com uma companheira paciente, não particularmente exigente (crítica)
no que respeita ao amor e solicitações de afeto e romantismo, contará com
melhores condições para que o seu romantismo se possa ir desenvolvendo
prazerosamente e a um ritmo também prazeroso. Exigências, críticas e
solicitações excessivas de afeto ou romantismo tendem a gerar resultados opostos,
de inibição destas atitudes, pois tanto o amor como o romance apenas se podem
dar a partir da vontade livre, e não pelas condicionantes da exigência.
O sentido de humor de ambos
os companheiros também ajuda bastante, pois nem sempre atitudes e atos
românticos correm como esperado, verdade seja dita. Todavia, muitas vezes o
sentido de humor não só salva a situação como algumas vezes torna-a
ainda mais memorável. Que o atestem aqueles que sabem do que falo!
Da próxima vez que decidir viajar com a sua companheira, por exemplo, a
Paris, leve dissimuladamente consigo um pequeno rádio com a valsa preferida
dela. À noite, convide-a para passear junto da Pirâmide Invertida, em frente ao
Museu do Louvre. Coloque o rádio no chão a tocar e convide-a para uma dança!
Vai ver que valerá a pena. O sorriso e o brilho nos olhos dela
dirão tudo. Fica a sugestão, para personalizar a gosto, claro!
quinta-feira, janeiro 14, 2016
Teste da Realidade, Psicose e Psicopatia
Este artigo prende-se com uma reflexão clínica, psicanalítica, sobre a psicopatia, a perda do teste da realidade que habitualmente acompanha os quadros psicóticos, e pontos de interseção entre ambas as realidades clínicas.
O teste da realidade é tradicionalmente um indicador da presença de
aspetos ligados ao funcionamento psicótico da personalidade. Contudo,
mesmo um indivíduo com organização neurótica de personalidade (com um self
coeso e bem adaptado à realidade, por exemplo) pode, sob condições de stress invulgar,
resvalar, ainda que temporariamente, para um funcionamento mais do âmbito da
psicose, cingido provavelmente a um contexto específico, e falhar o teste da realidade nesse contexto ou ligado a essa situação (por exemplo, situações traumáticas). Uma personalidade neurótica não está
imune de conter núcleos psicóticos, e tal tende a ser muitas vezes onde se
encontra a raiz do maior sofrimento e das maiores incapacidades na vida de uma pessoa.
Falamos aqui sobretudo em organização de personalidade – psicossomática,
psicótica, borderline, neurótica e normal. A psicopatia está mais ligada à estrutura da personalidade (depressiva, narcísica, psicopata,
etc.), ainda que se possa pensar em articulação com a organização de
personalidade.
Alguns autores inclusive removem a categoria da psicose e chamam-lhe
esquizofrenia borderline (ver o PDM - Psychodynamic Diagnostic Manual), referindo-se a perturbações graves do teste
da realidade, por exemplo.
O teste da realidade também está relacionado com o quão compensado está
ou não determinado indivíduo. Alguém que sofra de uma patologia mental
relativamente grave pode não apresentar falhas no teste da realidade, desde que
se encontre em estado compensado. Contudo o equilíbrio psicológico será frágil, a
vulnerabilidade ao stress será maior e a propensão à descompensação e à perda
do contacto com a realidade (por exemplo, a criação de uma realidade interna, fantasiada,
mais tolerável e menos ameaçadora, ainda que diferente e incompatível com a
realidade externa) é grande.
Quanto maior a predominância, numa dada personalidade, de uma parte psicótica, maior
a probabilidade de perda do teste da realidade aquando do stress. Outras vezes
essa perda do teste da realidade está ligada a situações/conflitos específicos, aos tais núcleos mais frágeis/traumatizados/psicóticos da personalidade.
Sobre a psicopatia e o teste da realidade
A maioria de nós têm traços de uma ou outra perturbação de
personalidade (entidades clínicas nosologicamente definidas). Alguns autores
consideram que a estrutura psicopata pertence ao âmbito da organização
psicótica da personalidade.
Todavia é possível que traços psicopatas existam noutros níveis superiores
de organização da personalidade, pelo que nesses casos não falaríamos de
psicopatia, mas de tendências psicopatas em quadros de maior salvaguarda do
teste da realidade.
Portanto, tanto pessoas com quadros psicopatas como pessoas com quadros
psicóticos podem manter o teste da realidade, desde que compensadas. Ou pelo
menos manter o teste da realidade na maioria das áreas do funcionamento
profissional, interpessoal e das tarefas do quotidiano.
Relação entre psicose e a psicopatia
Se considerarmos o exemplo de patologia psicótica pura e da patologia
psicopata pura, então provávelmente estamos a falar de problemas diferentes,
ainda que se possam relacionar entre si ou sobrepor em alguns aspetos. Na
psicose predominam, por exemplo, os mecanismos da clivagem do self e projeção de partes do self
para fora do self, para o mundo exterior e para outros exteriores (mas também para dentro do próprio self, como são o caso dos delírios de ruína e hipocondria). Um outro marco da psicose são as transferências psicóticas
(transferem-se partes do self e do mundo interno do self para outras pessoas,
sem qualquer sentido de juízo crítico sobre a veracidade das imagens distorcidas dos
outros criadas pelo efeito da projeção). Isto pressupões que no interior da
pessoa psicótica exista algo de bom, que o aparelho psíquico tenta a todo o
custo salvar no intuito da sobrevivência psicológica. Na psicose, o ódio (a
agressividade destrutiva) predomina sobre a líbido (o amor), conflito fundamental que da
azo aos processos psicóticos, de acordo com algumas perspetivas psicodinâmicas. Essa luta é tal forma feroz que o próprio
self se pode mesmo fragmentar - medo de enloquecer - no sentido de salvar a (escassa) benevolência interna ameaçada.
Já na psicopatia (pura), que implica a deterioração grave ou ausência dessa
benevolência interior de modo a garantir a sobrevivência psicológica, dá-se a total
identificação com o mau (a agressividade, o ódio). Não há processos psicóticos
de clivagem e projeção, pois estes apenas existem para a preservação das partes
boas da personalidade. Não há transferência psicótica, mas sim transferência
psicopata, anterior (mais primitiva) à transferência psicótica. A
transferência psicopata prende-se com a manipulação da outra pessoa (ou pior),
no sentido deliberado de prejudica-la ou levar a melhor sobre ela, com completa
ausência de remorso. Há a preservação do teste da realidade – o psicopata está
particularmente bem sintonizado com o funcionamento prático da realidade,
interessam-lhe os fins práticos de conseguir poder, no geral ou sobre os
outros, e a fuga à responsabilidade.
No psicopata não há bússola moral ou empatia, estes são aspetos
marcantes da realidade das relações humanas que os psicopatas não conseguem processar.
Se incluirmos estes conceitos no âmbito de “teste da realidade” (ainda que o
teste da realidade se refira mais a fenómenos de delírios, alucinações,
pensamento mágico, crenças bizarras e ideias de referência) então os psicopatas
falham nesse teste, ainda que se mantenham particularmente astutos para a
componente prática do funcionamento da realidade. Os três traços psicopatas de
uma forma geral são a manipulação, a mentira e os fins egoístas, e também a incapacidade para a honestidade, a não ser que essa honestidade se ligue de alguma forma
a algum destes fins ou à necessidade de manutenção de um sentido de omnipotência, de manipulação ou obtenção de poder, mas tal é pouco provável.
Por sua vez podemos considerar a convicção do psicopata de que pode
fazer com que tudo aconteça, uma convicção próxima da perda do contacto com a realidade, no
sentido de uma imagem omnipotente e logo, psicótica, de si mesmo, se bem que o
psicopata não se fica pela convicção, mas busca ativamente o poder. Sabe-se até que
a busca pelo poder é um traço de deterioração grave de personalidade e o
psicopata procura-o ativamente, quer o poder sobre os outros, ou outro tipo ou
forma de poder. Daí que na verdade, e muitas vezes, o poder que os psicopatas
detêm é real e dá sustento a uma imagem omnipotente, toda poderosa, de si mesmos.
Para um psicopata não há pior que ser diminuído ou de alguma forma ser atacado
na sua convicção de omnipotência. Em contexto forense, uma das técnicas para
levar um psicopata a confessar um crime é precisamente confronta-lo com
descrença sobre a sua capacidade para elaborar e levar a cabo o dito crime.
Muitas vezes o psicopata acaba por confessar por uma questão de orgulho, ou
necessidade de proteção desse eu mais omnipotente (aqui sim, um delíro de grandiosidade, uma perda do teste da realidade relacionada com a imagem de si mesmo, algumas vezes dificil de perceber pois está misturada com poder real). Na política, por exemplo,
alguém com tendências psicopatas poderá por exemplo ser sentido enquanto alguém
que projeta força e confiança, no entanto esses aspetos tendem a ser
acompanhados por frieza, ausência de remorso e ausência de vulnerabilidades, que suscita nas outras pessoas por vezes um sentimento de se estar na presença de alguém como que
todo-poderoso. Os psicopatas são também muito frequentemente encontrados em
altos cargos nas chefias de algumas empresas, como nas grandes empresas e
grupos financeiros. Estes são os psicopatas passivos, menos agressivos, mas
muitas vezes muito mais destrutivos.
Psicopatas mais inteligentes (mais adaptados socialmente) podem
efetivamente conseguir altos cargos no poder, a todos os níveis. Neste caso não
só mantêm o teste da realidade (pelos menos na área profissional, por exemplo)
como podem mesmo ser bastante bem sucedidos.
Em psicoterapia um ganho terapêutico no trabalho com perturbações
psicopatas acontece por exemplo quando estas pessoas se tornam um pouco mais psicóticas, ou seja, quando conseguem começar a desconfiar do terapeuta –
passam de uma transferência psicopata para uma transferência psicótica
paranoide. Tal já denota a existência de algo de bom dentro da pessoa, que para ser preservado, leva com que a pessoa expulse (projete) as partes más.
Mais grave que a psicopatia é ainda a perturbação sádica da
personalidade, onde a experiência subjetiva da pessoa é a de morte interna e
subsequente necessidade de dominar, controlar absolutamente, atormentar e
destruir os outros. Não existem até à data psicoterapias de sucesso com
pacientes com perturbações sádicas de personalidade. Todas as psicoterapias
conduzidas a estes pacientes são conduzidas já em contexto prisional.
Em suma, a psicopatia ou aspetos da psicologia psicopata podem ser pensados como patologia isolada e em
estado puro (raramente assim surge em consultório), como podem surgir, em
maior ou menor grau, misturados com sintomatologia psicótica, borderline ou até com níveis de funcionameto mental mais evoluídos.
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