domingo, fevereiro 22, 2015

Fundamento científico da medicação antidepressiva contestado: O fim dos antidepressivos?


A teoria atual que fundamenta o uso da medicação antidepressiva é a de que a depressão está relacionada com baixos níveis de sorotonina (nos espaços entre as células do cérebro). A medicação funciona de modo a impedir que as células reabsorvam a serotonina, e desta forma os níveis de sorotonina permanecem elevados.

Um grupo de psicólogos e psiquiatras dos EUA e do Canadá levou a cabo uma análise de toda pesquisa em existência no sentido de encontrar fundamentos para esta teoria, que acaba por ter sido a base de toda a pesquisa (farmacológica) sobre a depressão nos últimos 50 anos.

Os autores concluem que a teoria sobre a serotonia está de facto ao contrário, e que a medicação que
aumenta os níveis de serotonina é de facto prejudicial para quem sofre de depressão.

A melhor evidência disponível aponta para um aumento de serotonina (e do seu uso) durante os episódios depressivos, e não um decréscimo. A serotonina, dizem os autores, ajuda o cérebro a adaptar-se à depressão e a redistribuir os seus recursos, atribuindo mais à area do pensamento consciente e menos a outras áreas (crescimento, desenvolvimento, reprodução, função imunitária e resposta ao stress).

Os autores referem que as melhoras nos pacientes que tomam medicação antidepressiva se devem à reação do cérebro em tentar livrar-se dos efeitos da própria medicação, ao passo que esta deveria servir de auxilio a esta mesma função. Em vez de ajudar, a medicação antidepressiva parece interferir ao nível dos próprios mecanismos de recuperação do cérebro, funcionado para a pessoa como um obstáculo à recuperação. Esta é também a explicação que os autores sugerem para o facto de as pessoas que tomam esta medicação se sentirem pior nas primeiras duas semanas.

Um dos autores faz ainda menção de que a medicação antidepressiva deixa os pacientes em pior estado após deixarem a medicação. Este estudo foi publicado no Neuroscience & Biobehavioral Reviews. Sugerimos a leitura integral do artigo em:

http://www.sciencedaily.com/releases/2015/02/150217114119.htm

Saúde psicológica, tão importante como a física.

Vale a pena per esta TED talk do psicólogo inglês Guy Winch

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

Sugestão musical para o final de semana


Deixamos hoje aos nossos leitores mais uma sugestão musical para o final de semana.

Com quase 15 milhões de visualizações, esta é sem dúvida uma coletânea de músicas verdadeiramente inspiradoras e relaxantes.

Ideal para o final de uma semana cansativa de trabalho, mas também para quem queira apenas usufruir de um ambiente relaxante, ou de "boas vibrações"!


terça-feira, fevereiro 17, 2015

Como perceber o que se passa comigo?

 
Todos nós ao longo das nossas vidas sofremos pelo menos em algum momento. Por vezes esse momento prolonga-se mais do que gostariamos e interfere com a nossa vida. Por vezes são ocorrências isoladas, mas com efeitos a longo prazo, ou que parecem nunca ter desaparecido. Por vezes estes momentos e ocorrências são vários na nossa vida. Outras vezes são tantos que parecem nunca terminar e definir mesmo a nossa existência.

Algumas vezes perguntamo-nos se deveriamos ir ao psicólogo fazer um "check up", ou procurar ajuda ou orientação. Muitos acabamos por não o fazer e esperar que as coisas se resolvam por si ou que "a vida" as resolva. Alguns de nós fazemos como que um compromisso entre estas duas coisas e procuramos informação pela internet ou através dos livros, na esperança de encontrarmos nomes, descrições ou alguma compreensão para qualquer coisa que não sabemos ainda o que é. Alternativamente há ainda aqueles de nós que descobrem resposta a grande parte dessas questões precisamente nas aulas de psicopatologia dos cursos de formação em psicologia clínica.

Assim sendo, deixamos hoje a sugestão de duas obras muito úteis a quem procura perceber mais sobre si (e sobre os outros à sua volta e aqueles marcaram as nossas vidas), nomeadamente sobre os aspetos internos mais problemáticos ou problematizantes de cada um de nós. São também obras muito úteis e fundamentais para estudantes de psicologia clínica, psiquiatria e psicoterapeutas.

São obras rigorosas que identificam e descrevem as várias perturbações de personalidade conhecidas (das quais a maioria de nós tem habitualmente um, outro ou mais traços desta ou daquela categoria). Elas detalham sobre organização e estrutura de personalidade, lançando luz sobre o funcionamento psíquico concreto e diferenciado próprio de cada um dos tipos de personalidade. Abordam as origens destas perturbações, os conflitos do desenvolvimento (e não só) que lhes estão por detrás e os mecanismos psíquicos de defesa específicos que as caracterizam. Falam sobretudo daquilo que as pessoas são, e não daquilo que as pessoas têm. Falam sobre o que se entende clínicamente hoje em dia por saúde mental e o que se entende por psicopatologia. Falam detalhadamente sobre funções mentais e sobre os vários níveis em que cada um de nós funciona dentro destas categorias, desde os níveis mais adaptativos até aos mais desadaptativos/patológicos. Falam de plenitude e maturidade, e de sofrimento e impossíbilidade de progressão.


A obra Psychoanalytic Diagnosis (na foto; disponível a tradução brasileira para a segunda revisão da obra lançada mais recentemente) da autora Nancy McWilliams é relativamente acessível, conta com muitos exemplos de casos e oferece muitas referências para outros autores (para aqueles que desejem aprofundar conhecimentos). O Psychodynamic Diagnostic Manual (PDM) (na foto) é fundamentalmente o que o próprio título descreve, um manual de diagnóstico, extendendo-se também à adolescência e infância e contando com algumas ilustrações de caso. O PDM resulta de um esforço conjunto por parte das mais proeminentes associações de psicologia clínica psicanalítica do mundo (Nancy McWilliams é membro da comissão organizadora do PDM Task Force).

Como nota final, ainda que qualquer um destes livros possa oferecer alguma luz ou ajuda, eles não dispensam a consulta presencial de avaliação e diagnóstico com um técnico rigorosamente formado e treino clínico ao longo de anos no exercício do diagnóstico e da psicoterapia clínica.

Boas leituras!

http://www.psicronos.pt/consultas/primeira-consulta_1

sábado, fevereiro 14, 2015

Imagens e palavras

Aniversário de Auschwitz

Visitors are seen walking behind barbed-wire fences at the memorial site of the former Nazi concentration camp Auschwitz-BirkenauPicture: Joel Saget/AFP (from the Telegraph )









sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Trair sem Culpa (IV) – Outros Contextos de Infidelidade


Continuamos então na nossa reflexão relativamente geral sobre a infidelidade.

A infidelidade encontra-se muito nas relações de dependência. A depêndencia (psicológica e emocional) obriga à permanência nas relações pelo medo de perda da pessoa de quem se depende e significa frequentemente uma angústia ou preocupação intensa/persistente quando se está fora de uma relação amorosa. Pode inclusive manifestar-se em casos em que o cônjuge ou companheiro de quem se depende não está fisicamente disponível, podendo levar à procura um substituto imediato de modo a não se entrar em contacto com uma angústia insuportável (que muitas vezes não consegue chegar sequer à consciência). Por vezes a própria pessoa (pouco consciente do seu problema) sente que a traição se justifica e culpabiliza severamente o companheiro por em determinado(s) momento(s) este não se encontrar disponível – patente aqui uma expetativa de disponibilidade não exatamente incondicional, mas demitida de um enquadramento realista e razoável na realidade das relações maduras, da individualidade dos demais e das responsabilidades que estes detêm nas suas vidas. A culpa (responsabilidade pela agressão e pelos danos cometidos contra o outro) é projetada, atribuída ao outro, porque está comprometida a capacidade de a aguentar internamente. Por exemplo, um homem homossexual que acusa ansiosamente o companheiro de ter relações extraconjugais (o qual por sua vez insiste pacientemente na sua fidelidade) é o mesmo homem que tem encontros sexuais extraconjugais várias vezes por semana enquanto o companheiro se encontra no trabalho. Muitas vezes quando o próprio é confrontado com a responsabilidade então mais intensa fica a projeção, já que na visão do acusado, o acusador é sempre culpado porque procura cruelmente forçar no outro o reconhecimento de sentimentos insuportáveis e não tolerados.

A dependência também obriga algumas vezes a aguentar a infidelidade do cônjuge, por receio da perda e/ou de outras angústias relacionadas. A raiva e o desejo de vingança podem surgir pela infidelidade, que dá também a ilusão de que não se depende “traumaticamente” do cônjuge traidor. Contudo a relação de dependência mantêm-se, pautada pelas infidelidades e discussões de parte a parte.

A dependência implica algumas vezes a transformação do cônjuge num substituto materno (alguém que é incumbido de colmatar múltiplas necessidades emocionais não satisfeitas do passado), o que pode levar a que de existam amantes fora de casa – fica em casa um substituto de mãe (ou de pai), e não tanto um companheiro(a) sentido como adulto, sexuado(a) e diferenciado. Todavia não se pode transformar alguém num substituto materno sem que esse alguém esteja de alguma forma predisposto a esse papel, pelos mais diversos motivos. Seja como for as tentativas de resolução de carências ou conflitualidades sérias do passado tendem a falhar quando esses assuntos não estão internamente elaborados, uma vez que se infiltram automáticamente nas relações.

Outras dinâmicas por detrás da infidelidade implicam também predisposições que advêm das identificações normais que as crianças fazem com os pais e com a relação entre eles, onde se ganham as referências daquilo que é uma relação adulta homem-mulher - para a menina, querer ser como a mãe e ter um homem como o pai; para o menino, querer ser como o pai e ter uma mulher como a mãe. São identificações naturais que acontecem no desenvolvimento e que marcam com muita força. Englobam também as dinâmicas específicas da própria relação entre os pais (ou entre os pais e os/as amantes, caso a criança fique exposta diretamente ou indiretamente a isso). 

Amor, casamento, sexo, traição e culpa são temas centrais da psicologia clínica. São temas inerentemente complexos que se articulam entre si, bem como com a história de vida de cada pessoa. Na escolha do companheiro, no amor e na traição, os conteúdos, necessidades, conflitos, preocupações ou temas centrais da psicologia de cada pessoa são particularmente estimulados e tornam-se evidentes. Os temas, conflitos ou angústias mais marcantes das primeiras relações (as relações de infância com os pais e entre os pais) tendem a ressurgir contínuamente na vida amorosa. Problemas com os primeiros vínculos na relação mãe-bebé, questões de abandono, raiva por elaborar, infidelidade por parte de dos pais, exposição de uma criança ás preocupações ansiosas de um dos progenitores sobre as infidelidades (reais ou receadas) do outro progenitor, são algumas das vivências de infância com potencial para mais tarde na vida condicionar a pessoa a uma vida amorosa tocada pela infidelidade – por exemplo, o ser infiel, ou o escolher inconsciente de parceiros menos confiáveis, propensos à infidelidade).

segunda-feira, fevereiro 09, 2015

Amor sem Sexo - Pode dar Certo ?

 
 
 
Embora um casal sem sexo possa estar mais vulnerável a problemas, este deve ser visto como um complemento e não como “A RELAÇÃO”! O importante é que cada um se comprometa consigo mesmo, com o parceiro, e com o vínculo entre ambos. Ou seja, que compreenda que o sexo deve ser apenas mais um entre os vários elementos da relação, tais como amor, confiança, companheirismo, admiração e partilha. 
 

Apesar de ser inegável a importância do sexo para o fortalecimento dos laços de confiança e união no casal, existem relações amorosas felizes sem que ele esteja presente.
 

Tudo depende do conceito que cada um tem de sexo! Se acreditamos que implica sempre a existência de penetração limitamos a oportunidade de descobrir novas experiências e sensações.
 

Quando há dissonância entre as vontades e conceitos do casal, relativamente ao sexo, surgem os problemas, pois isso reflete que pelo menos um deles não vê as suas necessidades satisfeitas.
 

Solução? Não existem receitas milagrosas! Mas, conversar sobre sexo pode ajudar muito!
 

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

Trair sem Culpa (III) – Algumas Bases Psicológicas do Amor Fiel e Responsável


A preservação da imagem e da benevolência do outro dentro de nós (de que o amor depende) é também o que em grande medida impede a traição. Impede-a porque dentro de nós está presente e vivo tudo aquilo de bom que o outro significa para nós e o amor que sentimos em resposta a tal. A traição aqui é sentida como uma agressão a esse outro que nos é querido e precioso, expondo-nos a uma penosa angústia de culpabilidade e à possibilidade da perda ou da perda do amor desse outro. O compromisso de honestidade perante o outro é também componente e expressão do amor maduro. Ocultar uma traição acaba por ser sentido muitas vezes como uma violação desta honestidade, sendo mais uma fonte de culpa.

No geral não é preciso a presença física ou o conhecimento do cônjuge ou companheiro para uma pessoa não trair, porque o outro existe dentro da própria pessoa. Cada qual é responsável pela forma como ama, e isso reflete também a importância que quem connosco está tem para nós. Reflete também a forma como determinada criança se sentiu (ou não) amada no início da sua vida, por aqueles que por ela eram responsáveis, os mesmos responsáveis pela forma como o amor que tinham para dar (disponibilidade, atenção e interesse genuínos, envolvimento, preocupação) se fazia chegar até à criança. O ideal que cada pessoa formou sobre o tipo de companheiro que pretende ser na relação e que pretende ser para o outro, bem como aspetos persistentes ou inconscientes relacionados com as identificações com as figuras parentais na infância (as figuras reais ou aquelas percebidas na fantasia), são também fatores muito importantes.

Quando o bom do outro não permanece dentro de nós por força de alguma fragilidade pontual ou constitucional-psicológica, por força de algum contexto particularmente stressante, ou por ambos os motivos, perdem-se então importantes “travões emocionais internos” que de outra forma seriam impeditivos ou inibitórios de, por exemplo, o agir de uma zanga/agressão por via da infidelidade.

também que não consiga formar vínculos em profundidade com outras pessoas. Podem parecer pessoas muito bem sucedidas socialmente, inteligentes, cultas, com prestígio social, mas no entanto a vida amorosa íntima é muitas vezes superficial e despida de qualquer gratificação. A dificuldade em formar vínculos e o vazio emocional associado indiciam também a dificuldade na capacidade empática e a pouca tolerância à culpa. A infidelidade neste caso prende-se mais com a precariedade dos vínculos, que deixam de ser sentidos como íntimos, profundos e satisfatórios.

Motivos para a infidelidade há muitos, desde a deterioração do amor na relação até outros motivos mais complexos e profundos. Formas de expiar a culpa também há muitas, e isto é diferente de uma culpa que não se sente ou não existe. Todos nós já testemunhámos em algum momento da nossa vida uma criança a negar veememente ter feito algo errado quando é óbvio que fez. Ela própria o sabe, mas nega-o eventualmente até que o medo da consequência lhe seja aliviado. Nesse momento a criança pode até ser capaz de pedir desculpa e ajudar a corrigir qualquer coisa que tenha feito de mal (por exemplo, ajudar a varrer as peças de um vaso de porçelana que quebrou por acidente). Em muitas personalidades esta atitude persiste ao longo da vida, assumindo outras formas mais enquadradas no contexto adulto.

Uma verdadeira ausência de culpa (quando a mesma se justifica enquanto reação emocional legítima em determinada situação) também acontece, mas liga-se por exemplo a personalidades gravemente deterioradas, que não têm acesso à empatia e a outras funções psicológicas fundamentais à organização interna e externa da pessoa no campo das relações humanas. São por exemplo as perturbações de personalidade psicopatas, sádicas ou narcísicas graves.

No próximo artigo falaremos um pouco e sobretudo sobre infidelidade e dependência.

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Scam Compensation Payment of $1.5 Million In Your Favor

 
Dear.Beneficiary
 
The president of Nigeria Dr Good luck Ebele Jonathan, secretary of
the United Nations, in-conjunction with the Central Bank of
Nigeria Pl c has instructed that 20 scam victims should be paid a
Compensation fee of $1.5 million.
 
Get back to me if you want to be part of this new
Resolution and do not communicate or duplicate this message to any one
As, the US secret service, FBI, and EFCC are already on trace of the
Remaining criminals.
The payments are to be paid through Federal Reserve Account Unit,
Funding assistance by the Union Bank Pl c.
 
 
You are to receive your compensations payment via any of the below Options:
 
 
(1) THROUGH DIPLOMATIC HOME CASH DELIVERY.
(2) THROUGH ATM SWIFT MASTER PAYMENT.
(3) BANK TO BANK WIRE TRANSFER
Let us know your choice of payment as I will not disclose further
Information's until I hear from you.
Yours faithfully,
Rev Peter Abel
 



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terça-feira, fevereiro 03, 2015

Música para Estudar, Trabalhar ou Relaxar


Fica aqui a sugestão para uma excelente coletânea de músicas muito agradáveis, destinadas a promover a produtividade e a concentração nos estudos e no trabalho.

Este é um de vários projetos audiovisuais de sucesso colocados no YouTube e criados por um jovem estudante de medicina, que nos tempos livres se dedica à criação deste tipo de música.

Para além deste vídeo podemos aceder a muitos outros criados pelo autor através da sua página no YouTube - StudyMusicProject.

Bom trabalho! 


sexta-feira, janeiro 30, 2015

Palavras e imagens

Barbara Tuchman: Books are the carriers of civilization...They are companions, teachers, magicians, bankers of the treasures of the mind. Books are humanity in print. 











Trair sem Culpa? (II) - A Culpa que Fortalece o Casal


O sentimento de culpa e a capacidade para tolerar a culpa são marcos desenvolvimentais cruciais para o desenvolvimento das relações. Não são inconvenientes cuja falta nas relações (quando se trata de uma resposta adequada e ajustada a um dado contexto) por vezes parece surgir como motivo de orgulho ligado a uma percebida vantagem ou independência emocional. São em grande medida negações e intelectualizações defensivas contra por exemplo, uma dificuldade de tolerar e reconhecer o sentimento.

A culpa aparece logo no inicio de vida. Com o amadurecimento fisiológico do sistema nervoso, um bebé que no início de vida percebe uma mãe boa (que gratifica e protege) e uma outra mãe má (que priva e detém os preciosos recursos de que o bebé precisa) vai percebendo que mãe boa e mãe má são uma só. Percebe que o bom e o mau estão numa mesma pessoa, e fica então com muito medo que toda a zanga sobre a figura má tenha acabado por destruir também a figura boa! Surge aqui pela primeira vez a culpa - o medo de se ter destruído a figura amada e necessária. É uma culpa primitiva e intensa, mas atenuada ou regulada mediante um bom desenvolvimento do bebé - tradicionalmente pela presença de uma mãe disponível, atenta, tranquila, que não castiga ou o priva o bebé da sua presença por períodos de tempo que ultrapassam a pouca capacidade do bebé para tolerar as ausências da mãe. É uma culpa regulada ainda, e mais tarde no desenvolvimento, por uma figura paterna presente e envolvida - que não funcione ou se confunda como uma segunda mãe que maioritariamente repete as ordens da mãe e reivindica as atitudes da mesma. A culpa amadurece, tornando-se menos intensa, mais tolerável e logo, mais adaptativa.

A empatia (percebermos que tal como nós os outros também têm partes boas e sentimentos bons) liga-se bastante à capacidade de sentir culpa, que é a base psicológica humana para a reparação nas relações. Por exemplo, conseguirmos reconhecer que alguma atitude, ação ou comportamento que adotámos acabou por magoar o outro. Isto leva-nos a adotar uma atitude de reparação que garante a continuidade e o crescimento da relação. Não ficam mágoas acumuladas, mas sim um clima de entendimento e reajuste na relação que lhe imprime a possibilidade de mudança e crescimento. A tolerância à culpa - ou capacidade indivídual de reconciliação com a responsabilidade dos danos causados ao outro), sem nos defendermos desadequadamente dela, oferece o potencial para o crescimento e amadurecimento das relações.

A culpa é uma angústia derivada do sentimento de responsabilidade por danos cometidos contra alguém, um alguém que também é percebido realisticamente como igual nós mesmos, benevolente, que têm (ou apesar de tudo também têm) partes boas. Nas relações íntimas a culpabilidade implica o medo (mais ou menos intenso) de se perder o amor da pessoa amada. Tanto a consideração pelo outro, como o medo de se perder o apreço desse outro levam à reparação, desde que a culpa seja tolerada.

É um marco desenvolvimental pois implica que o bebé (e mais tarde o adulto) consiga manter dentro de si uma imagem integrada daqueles à sua volta ("outros também  são iguais a mim, têm partes boas, como eu"). Não se perde o contacto interno com a benevolência ou partes boas dos outros, ou seja, internamente a representação que criámos e detemos dos outros permanece integrada, mesmo quando se está debaixo de stress ou frustração moderada. É o bom e o menos bom do outro em simultâneo, sempre presente dentro de nós. O contrário são estados de perceção distorcida dos outros enquanto pessoas idealizadas ou irremediávelmente odiadas. Nesses estados de rotura ou fragilidade psicológica os outros passam a ser vistos como "todos bons", como figuras descritas e sentidas como quase perfeitas, que por vezes pouca semelhança têm com seres humanos. Ou então "todos maus", outros sentidos como profunda e irremediávelmente odiados. Por vezes a mesma pessoa oscila entre ser percebida como toda boa e toda má. É a intolerância à ambivalência, à presença interna simultânea do bom e do mau do outro. É fundamentalmente a psicologia das relações amor/ódio.

A tolerância à ambivalência permite que o bom e o mau dos outros sejam ponderados em simultâneo. Bom e mau nunca se tornam absolutos. Não há salvadores e demónios, mas pessoas reais, que fazem o melhor que conseguem dentro daquilo que foram as suas histórias de vida e dentro das suas limitações. O mau (na presença e permanência interna do bom) não leva ao ódio, mas à zanga temporária, à tristeza, à desilusão e ao abatimento, porque existe sempre um bom que não desaparece, e ligado a esse bom, os nossos sentimentos de amor, carinho e ternura. Por sua vez o bom (na presença e permanência interna do menos bom) não leva mais à idealização e à entrega absoluta e quase incondicional, mas à consideração realista do outro, à prudência e ponderação, porque existe sempre um menos bom presente - e ligado a isso, a apreciação realista de que as relações têm momentos menos bons ou mesmo verdadeiramente maus. E isto é válido desde que estejamos a falar e a tratar de seres humanos, e não de figuras míticas.

Quanto maior a preponderância de bom sobre mau, melhor a qualidade da relação. Todavia mesmo que o bom seja de facto muito bom e o menos bom pouco relevante, por vezes, podemos dar connosco a desejar outros tipos de "bom", nomeadamente outras relações tanto ou mais gratificantes, mas essencialmente relações diferentes.

Esta tolerância à ambivalência (sentimentos bons e maus em simultâneo e a culpabildiade a que dá acesso, por exemplo) é absolutamente fundamental para a capacidade de amarmos de forma madura. Nas relações permite que os conflitos sejam resolvidos a bem, porque dentro de nós o bom do outro permanece dentro de nós em cada conflito, isto é, permanece uma lembrança emocional (bem diferente da recordação pela memória intelectual e muito mais profunda) sobre o amor que o outro sente por nós, as coisas boas que o outro nos foi dando e que com ele fomos vivendo ao longo do tempo, bem como o amor que sentimos de volta. Esse contacto permanente com o bom do outro quando existe de parte a parte é a base da estabilidade de uma relação, pois é como que uma aliança que permite de parte a parte tolerar os momentos menos bons de uma relação. Permite assumir responsabilidades, pedir desculpa e fazer reparações junto do outro. Permite manter a calma durante os conflitos, resolve-los ponderadamente, e levar a relação a um amadurecimento.

Numa psicoterapia psicanalítica, por exemplo, toda esta intimidade psicológica (as emoções e a organização, estrutura e funcionamento da mente/personalidade individual) é trabalhada (reabilitada ou fortalecida) exaustivamente e em profundidade a partir da relação terapêutica transformadora. Ainda que, lógicamente, não seja um trabalho rápido, pois o que está em causa é a reestruturação em profundidade da própria personalidade. E nesse campo não há atalhos, palavras mágicas ou curas milagrosas.

No próximo artigo continuaremos a desenvolver este tema.

quinta-feira, janeiro 22, 2015

Trair sem Culpa? (I) - Verdade ou Mito


Li um artigo no website do JN que divulga um inquérito no qual 91% dos portugueses que procuram amantes através do website Ashley Madison - uma famosa rede social e serviço online de encontros amorosos/sexuais para quem já se encontra numa relação - não têm qualquer sentimento de culpa depois de terem um relacionamento extraconjugal. O slogan deste serviço/rede social é "A vida é curta. Tenha um caso.".
 
Já no Sapo Lifestyle e sobre o mesmo inquérito, a frase que destaco é a seguinte: "Os efeitos negativos que, segundo alguns investigadores, a traição provoca na saúde física e emocional, parecem não afetar os portugueses.".

Todas as pessoas são livres de fazer inquéritos para os mais diversos fins, e de difundir essas informações livremente. Contúdo, penso que este inquérito e nomeadamente os artigos publicados sobre o mesmo deixam patentes interpretações leigas, pouco precisas e pouco realistas do ponto de vista da psicologia humana e das relações.

Fico honestamente sem perceber como é que a partir da realidade de 91% de indivíduos (dentro de uma amostra de 3000) que num questionário afirmam não "sofrer" de culpabilidade, se chega à conclusão de que efetivamente não existe dentro destas pessoas qualquer sinal de culpabilidade, quer por via do reconhecimento consciente, quer por via inconsciente (a culpa inconsciente é bastante frequente), quer por via da defesa ou do sintoma, quer por via do conflito ou instabilidade nas relações, ou por outra via.

Em termos comerciais e em linha com o slogan da empresa, percebo a utilidade da realização e difusão deste inquérito (em detrimento de um estudo independente), colorido por uma interpretação (incorreta a meu ver) que dá a entender que a esmagadora maioria dos portugueses que procura e têm amantes não se atormenta por isso. No entanto desconhecem-se toda uma série de elementos fundamentais em torno deste inquérito: por quem foi concebido, sobre que princípios fundamentais da psicologia humana e das relações foi construido, qual a sua validade e fiabilidade, e qual o rigor na sua aplicação e avaliação. Também, quais foram os critérios de seleção da amostra dos 3000 inquiridos, quais (se algum) dos inquéritos foram excluídos destas estatísticas e porquê.

Não é possível afirmar a verdade que estes artigos apregoam sem se levar a cabo uma avaliação concreta de certos aspetos da psicologia individual de cada um destes inquiridos, quer por via da entrevista ou por questionários/instrumentos científicos rigorosos. Qual a capacidade de cada um destes inquiridos de tolerar internamente o sentimento de culpa (e outros sentimentos), capacidade precursora da possibilidade de identificar a culpa per se? ; Qual a capacidade de nomear e compreender internamente a experiência da culpa?;  Que mecanismos de defesa surgem contra a experiência interna da culpa, que leva a própria pessoa tão frequentemente a não reconhecer tal sentimento, a racionaliza-lo defensivamente, a nega-lo afincadamente - e mesmo a reivindicar e justificar o direito de lesar ou ir contra os valores dos outros -, a projeta-lo delirantemente, a agredir o outro injustificadamente, ou a trai-lo indevidamente?; Como é que a culpabilidade foi tratada no contexto das relações familiares na história desssa pessoa?; Como foi o desenvolvimento do narcisismo e o amadurecimento da capacidade de amar da pessoa ao longo da sua história?; Como eram os seus pais quando ela era apenas uma criança pequena, que vestígios dessas relações ficaram gravados dentro dela e que identificações fez aos vários traços de personalidade, atitudes e comportamentos desses pais?; etc.. 

É preocupante que para temas tão sensíveis e ao nível da divulgação pelos órgãos de comunicação social não se procure (e se exponha ao público) a opinião concreta dos especialistas que se dedicam ao trabalho clínico, estudo e investigação permanente da constituição e funcionamento dinâmico do aparelho psíquico, da personalidade e das relações humanas!

Tenho de facto reservas sobre a interpretação e mensagem que é construida nestes artigos e sobre o que tal implica também em termos da forma como concebemos os casamentos e as relações amorosas enquanto unidade integrante e fundamental da nossa estrutura social. Esta unidade (a unidade casal) é alicerce fundamental do desenvolvimento psicológico dos nossos filhos. A natureza e complexidades da relação de casal afeta-os diretamente e é por eles assimilada logo quando são muito pequenos, com consequências concretas para as próprias relações de casal que eles irão mais tarde formar com os respetivos companheiros e companheiras.

No nosso dia a dia sabemos bem o que a infidelidade e a culpa fazem a uma pessoa e a uma relação ao longo do tempo. Inúmeros são os casais que procuram terapia de casal para ultrapassar situações de infidelidade. Isto não invalida que de facto existam casos em que por motivos específicos não há culpabilidade (e talvez nem mesmo amor ou vínculo). Outras vezes são relações "abertas", mas aí já não podemos falar em infidelidade pois parte-se do principio que ter outras relações faz parte da própria relação. A indicação nos artigos de que ainda assim existe o medo de se ser apanhado pode de facto ser também indicador de algo relacionado com culpa, vergonha ou medo de perder algo importante (comodidades, dinheiro, estilo de vida, etc.). No próximo artigo desenvolverei um pouco mais sobre culpa e infidelidade.

Atualmente são cerca de cem mil os portugueses inscritos na rede Ashley Madison (nem todos em relações). Ficam os links para os artigos originais:

 http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=4350191&page=1

http://lifestyle.sapo.pt/amor-e-sexo/relacoes/artigos/traicao-nao-gera-sentimentos-de-culpa-nos-portugueses

domingo, janeiro 18, 2015

Palavras e imagens


Viktor Frankl: "Between stimulus and response there's a space. In that space lies our power to choose our response. And in our response lies our growth and our freedom".







quinta-feira, janeiro 15, 2015

Pense em Si - Fale com um Psicólogo



















Os psicoterapeutas especialistas da Psicronos estudam contínuamente os modelos clínicos psicoterapêuticos mais aprofundados e elaborados em existência, considerados pela comunidade clínica e científica como os mais eficazes no tratamento de qualquer problema ou conflito psicológico com expressão emocional, mental, comportamental, relacional e somática.

A formação dos nossos psicoterapeutas estende-se por vários anos, ao abrigo dos critérios rigorosos das várias sociedades cientificas responsáveis pelo ensino da psicoterapia clínica.




Estamos no mercado há mais de 10 anos. Procure-nos. Temos a resposta mais adequada para si.

http://www.psicronos.pt/equipalocais

quarta-feira, janeiro 07, 2015

Narcisistas, Escândalo e Reality Shows


De um modo geral e para fins de fácil compreensão e assimilação, a psicologia de alguém considerado enquanto "narcisista", ou mais concretamente de alguém que sofre de uma perturbação narcísica de personalidade (ou falha narcísica primária), estrutura-se em torno de uma preocupação ansiosa (patente ou dissimulada) sobre o valor da própria pessoa enquanto tal, perante os outros.

Esta angústia acentua-se sobretudo em situações sociais ou na antecipação das mesmas (quanto menos familiar o contexto ou quanto mais dificil a integração no mesmo, mais acentuada a angústia), bem como em situações de avaliação, de emissão de pareceres, ou face a figuras que detenham esse poder perante a própria pessoa. É o receio acutilante da opinião (crítica) dos outros, da rejeição por parte do grupo social; é a preocupação ansiosa e persistente de se poder vir a ser vítima de exclusão, discriminação, de ataques críticos, provocações ou humilhações na antecipação de situações sociais; é a facilidade com que a pessoa se sente atacada por críticas ou comentários menos favoráveis, por vezes relativamente inofensivos.

A sensibilidade face à apreciação crítica alheia é marcante. Apreciações desfavoráveis (por vezes até relativamente neutras) podem ser sentidas como ataques sádicos intencionalmente dirigidos contra a própria integridade, o que leva a própria pessoa a ser incapaz de se conseguir sentir e manter relativamente indiferente. Estas situações podem ser de tal forma dolorosas que a própria pessoa pode mesmo perder (ainda que temporariamente) a capacidade de pensar e de se acalmar. A própria pessoa pode mesmo passar ao ato - isto é, partir para a agressão física numa tentativa de "destruir" a fonte do sofrimento ou superiorizar-se perante ela pela força da agressão ou do domínio. Estes são já estados graves de perturbação narcísica, quando a pessoa, nas suas relações e nos meios em que se movimenta,  "explode" ou "perde a cabeça" com relativa facilidade, ou entra em estados de "prestes a rebentar", sendo evidente para os demais a dificuldade do próprio em conter ou controlar a própria frustração/raiva transbordante. Há, claro, situações ou encadeamentos de situações na vida das pessoas que têm o potencial de levarem a maioria de nós ao transbordar. São momentos ou fases de vida em que a psicoterapia é críticiamente recomendável!

A ferida narcísica obriga a que a confirmação do valor próprio seja procurado a partir do exterior. Ferida ou falha narcísica significa dificuldade em a pessoa se conseguir erguer internamente quando por algum motivo "vai a baixo". É também a dificuldade na construção e retenção de uma imagem interna realista, estável e complexa de si mesma enquanto pessoa (em oposição a uma imagem oscilante, que varia consoante as situações, ou uma imagem de perfeição ou de falência total), e/ou a dificuldade em ser conseguido um sentimento interno de coesão enquanto pessoa individual, diferenciada e separada dos demais. Tais dificuldades podem conduzir à procura sistemática de angariação de admiração/validação exterior e recursos (através de riqueza, fama, relações amorosas, conquistas sexuais, admiração dos amigos, estatuto, etc). Quando obtidos, a ilação inerna almejada fica aquém do esperado/idealizado, esbatendo-se rapidamente.

Nas perturbações narcísicas surje muitas vezes a necessidade, fantasia ou ideal persistente de pertença a grupos sociais ou socio-económicos priveligiados, socialmente diferenciados pelo prestígio, fama, riqueza, poder, ou outros quaisquer critérios de seletividade social, exclusividade ou elitismo.

As falhas narcísicas são também, e infelizmente, ingredientes-chave nos famosos reality shows, já que a configuração particular das psicologias narcísicas torna as pessoas mais propensas ao conflito, sobretudo em contextos sociais menos familiares. Quem sofre de um narcismo vulnerável facilmente se sente atacado, como também pode facilmente passar ao ataque. Isto aparentemente gera audiências, à custa da exploração e exposição pública de vulnerabilidades psicológicas. É também sabido que quem sofre de problemas narcísicos tende a conflitualizar particularmente com outros que sofrem do mesmo problema, já que o próprio sistema defensivo das estruturas narcisicas de personalidade (superiorização pessoal e crítica/desprezo/ataque ao(s) outro(s), por exemplo) tendem a colocar o dedo na ferida (narcísica) de parte a parte. Alianças de parte a parte também se podem formar, por exemplo, por necessidade mútua de reforço de identidade, por necessidade de aproximação de algum prestígio que é percebido nos demais e o desejo de nele participar, ou por outros motivos. Um reality-show sem pelo menos alguns participantes com algum grau de patologia narcísica não seria a mesma coisa. Contúdo, a própria situação de exposição perante um tão amplo público a que estas pessoas estão sujeitas, o que isso implica, e as próprias dinâmicas específicas dos reality shows, acabam por ser aspetos que num ou noutro momento têm o potencial de destabilizar até os mais emocionalmente estáveis.

Os reality shows são programas que muitas vezes espelham problemas pessoais com os quais é fácil nos identificarmos, mesmo que inconscientemente. Podemos fácilmente assistir a estes programas (pelo menos em parte) num intuíto de procurar perceber como é que os demais resolvem problemas tão pessoais, tão sensíveis, tão complexos, tão intensos e tão persistentes que surgem também nas nossas relações pessoais e sociais, e que por vezes as inundam. São problemas com os quais todos nós nos debatemos ao longo das nossas vidas e que nem sempre somos capazes de lhes dar respostas adequadas, maduras e satisfatórias. Então observamos, analisamos e criticamos, sempre a partir da  distância segura que a TV oferece - "são eles que estão às turras e não eu (ou aqueles que me são próximos e queridos)!".