segunda-feira, junho 24, 2013

HIPERATIVIDADE: UM DIAGNÓSTICO FÁCIL?


O diagnóstico de PHDA não é fácil, pois não existem marcadores biológicos exclusivos, nem instrumentos de avaliação específicos. Por outro lado existem vários fatores que podem levar a confundir sintomas “hiperativos” com a problemática propriamente dita, nomeadamente:
  • A variedade de condições emocionais e do desenvolvimento com características semelhantes;
  • O facto de crianças com PHDA terem muitas vezes um desempenho normativo durante a avaliação psicológica, por se tratar de um ambiente novo, individualizado e controlado por um adulto, para além de serem solicitadas tarefas curtas, variadas e estimulantes. Ao contrário do que é muitas vezes comunicado, a hiperatividade pode não estar presente em todos os contextos. Ter a criança colaborante e focada durante a avaliação psicológica não é critério de exclusão.

As informações devem ser obtidas primordialmente a partir de relatórios dos pais, professores, médicos e técnicos de saúde escolar e mental envolvidos, sendo também essencial averiguar quaisquer causas alternativas, bem como a coexistência de outras condições emocionais ou comportamentais (depressão, ansiedade, oposição, perturbação do comportamento), de desenvolvimento (aprendizagem, linguagem ou outros distúrbios do neurodesenvolvimento), e física (tiques, apneia do sono). Deve-se, portanto, fazer uma recolha abrangente de informações sobre o comportamento da criança em casa, com amigos, sobre o desempenho académico e intelectual, e sobre o desenvolvimento e o funcionamento emocional. Será ainda essencial recolher a história sobre a família alargada e as relações familiares, tendo em conta que existe uma significativa carga hereditária.

São amplamente conhecidos alguns questionários que são preenchidos pelos pais e pelos professores, que embora, só por si, não tenham um valor diagnóstico, permitem uma descrição do comportamento quotidiano.

É importante ainda ter em conta o impacto da agitação comportamental e das dificuldades de atenção nas atividades diárias; a ausência de um défice académico e/ou relacional decorrente dos sintomas exclui o diagnóstico de PHDA. Por outro lado, qualitativamente, deve ter-se em conta que os sintomas de hiperatividade devem ter tido início antes dos 3 anos. Uma criança que era calma e fica muito agitada aos 8 anos ou outra que começa a revelar sinais de desatenção aos 10 anos não terão PHDA, mas sim outro quadro que importará esclarecer. Aliás, é frequente os pais de crianças hiperativas dizerem “ele/a é assim desde que começou a andar” e desde cedo tiveram dificuldades em realizar algumas atividades sociais, como ir a um restaurante ou a casa de amigos.

Dada a hipótese cada vez mais sustentada de que a PHDA se enquadra num défice das funções executivas, mediadas pelo funcionamento frontal e pré-frontal, será importante a avaliação do planeamento, da flexibilidade cognitiva e da inibição da resposta, para além da atenção, da sustentação do esforço e da memória de trabalho. Será importante incluir na avaliação algumas tarefas mais monótonas, repetitivas e prolongadas, às quais os sujeitos com PHDA serão mais sensíveis.

A resposta ao título desta publicação será “Não, o diagnóstico não é fácil”. Requer uma investigação exaustiva, avaliação especializada e observação atenta e compreensiva, que implica uma articulação estreita entre pais, professores, psicólogo/neuropsicólogo e neuropediatra. Parece, no entanto, ter-se tornado num diagnóstico fácil para pais impacientes, professores desgastados e profissionais de saúde assoberbados. Não é possível fazer um diagnóstico em consultas de 10 minutos de regularidade mensal (na melhor das hipóteses).


É muitas vezes no contexto da intervenção terapêutica que o diagnóstico é esclarecido. Muitas problemáticas com sintomas semelhantes melhoram apenas com psicoterapia e aconselhamento parental, enquanto que a PHDA requer também, na maior parte das vezes, intervenção medicamentosa. Abordaremos a polémica questão da medicação nas próximas semanas.

segunda-feira, junho 17, 2013

HIPERATIVIDADE: QUANDO O DIRETOR ADORMECE

A neurofisiologia e neuropsicologia da PHDA continuam a ser amplamente estudadas, através de técnicas como a Ressonância Magnética, a Ressonância Magnética Funcional, a Magnetoencefalografia e a corrente sanguínea cerebral. Têm sido encontradas, de forma consistente, várias alterações estruturais e funcionais, essencialmente ao nível do funcionamento pré-frontal:

  • Metabolismo mais baixo nas regiões pré-frontais em tarefas de sustentação da atenção;
  • Anomalias nas áreas corticais frontais direitas, nos gânglios da base (particularmente no núcleo caudado), no corpo caloso e no cerebelo;
  • Volume cerebral mais reduzido, menor volume de substância branca global e parieto-occipital posterior;
  • Padrões atípicos do fluxo sanguíneo cerebral, especificamente em áreas corticais pré-frontais, durante o período de repouso;
  • Fluxo sanguíneo diminuído no córtex pré-frontal lateral direito, em ambas as áreas orbitais do córtex pré-frontal e no cerebelo;
  • Aumento do fluxo em regiões corticais posteriores, como o córtex parietal superior e o córtex parieto-occipital esquerdo.

Em síntese, parece existir um distúrbio de hipofrontalidade (baixa ativação do córtex pré-frontal), que envolve também estruturas subcorticais, especificamente os gânglios basais e o cerebelo.

Trocando por miúdos, o córtex pré-frontal é uma espécie de “comando cerebral”, que regula a ação e inibe ou desinibe determinadas respostas. O que se passa na PHDA é que este comando parece estar adormecido, falhando na inibição dos impulsos (daí a agitação). O vídeo que se segue traz-nos uma representação interessante do que se passa no cérebro de um indivíduo com PHDA, como se fosse um filme sem diretor:


Uma vez que os lobos frontais são as últimas áreas do cérebro a desenvolver-se completamente, os sintomas hiperativos poderão ser, em parte, devidos a um atraso maturativo no desenvolvimento dos mecanismos inibitórios. Por outro lado, alterações do funcionamento pré-frontal estão também envolvidas em grande parte dos quadros psicopatológicos. Assim, é importante esclarecer se se trata de uma agitação própria de uma mente e de um corpo ainda pouco amadurecidos, de alterações da saúde mental ou de PHDA propriamente dita.

Continuaremos a desenvolver o tema para que possamos aprofundar estas diferenças.

domingo, junho 09, 2013

Vertigens e medo das alturas

O medo das alturas é bastante comum e é frequentemente acompanhado de outro tipo de fobias. A psicanálise considera que as fobias são por um lado um excesso de ansiedade, e por outro uma forma de defesa contra angústias mais primitivas. O medo das alturas é muitas acompanhado por algum fascínio pelo perigo.

No cinema, o filme de Alfred Hitchcock, "Vértigo" é uma ilustração perturbadora e fascinante deste tipo de problemática. Foi considerado recentemente O Melhor Filme de Sempre e quem já o viu percebe porquê.

No filme,James Stewart é um ex-polícia que tem medo das alturas. Sofre de vertigem e de uma particular atracção para situações (e mulheres) perigosas.

Eu também acho que é o melhor filme de sempre (para um psicanalista é uma delícia, mas já adorava o filme antes de o ser). As fotografias que se seguem, do site buzzfeed, não têm a ver com o filme (excepto uma), mas com o medo das alturas e das escadas vertiginosas. Agarrem-se ao corrimão.

http://www.buzzfeed.com/peggy/staircases-that-will-give-you-instant-vertigo?utm_source=Triggermail&utm_medium=email&utm_term=Buzzfeed&utm_campaign=BuzzFeed%20Today%20v2.2

 

sexta-feira, junho 07, 2013

Procura Activa de Emprego


No passado dia 6 a Junta de Freguesia da Graça efectuou um Workshop sobre Gestão de Ansiedade em Entrevistas de Emprego.

Esta acção contou com 15 participantes e teve como facilitador Pedro Santos, psicoterapeuta na Psicronos.  
O principal objectivo desta acção foi, dar a conhecer quais são os mecanismos da ansiedade e como cada um dos participantes pode lidar com a ansiedade. Os participantes aprenderam a efectuar relaxamento muscular, para controlar a ansiedade somática, e aprenderam a fazer registo de pensamentos automáticos que levam a ansiedade cognitiva. Ficaram com a noção que podem controlar a sua ansiedade somática e cognitiva utilizando estas técnicas e que o controlo emocional é sempre importante em várias situações de procura activa de trabalho.

Um enorme agradecimento á Dr.ª Eliana Vilaça pelo trabalho desenvolvido neste projecto.

segunda-feira, junho 03, 2013

HIPERATIVIDADE: INCAPACIDADE OU INCONSISTÊNCIA?

A PHDA tem uma base essencialmente neuropsicológica e os factores genéticos conjugam-se com as experiências do indivíduo no seu meio ambiente, moldando o seu comportamento e a forma como enfrenta e se integra na vida em sociedade.

Envolve distúrbios na atenção, na auto-regulação, no nível de atividade e no controlo do impulso, sendo cada vez mais encarada como uma constelação de sintomas que interage de forma complexa com o ambiente, dificultando a criação de testes de diagnóstico. Por outro lado, existem poucos critérios desenvolvimentais exclusivos e não existem marcadores específicos para o seu diagnóstico. A PHDA parece distinguir-se de outras condições psiquiátricas e desenvolvimentais devido à intensidade, persistência e constelação de sintomas. De certa forma, a PHDA reflete um exagero do comportamento normal, seja por demasia ou insuficiência do que é esperado em certos contextos, pelo que desde muito cedo os indivíduos se debatem com a gestão dos impulsos, o controlo do movimento, a sustentação da atenção, e a auto-disciplina do comportamento.

Apesar da grande ênfase colocada nos sintomas da desatenção e da excessiva atividade como défices centrais, a literatura emergente aponta para um défice nas funções executivas, nomeadamente na auto-regulação. A dificuldade não está em prestar atenção, mas em prestar atenção eficazmente, sendo portanto um problema de desempenho e consistência, e não de capacidade. Será, assim, um problema que resulta do facto de ser capaz de aprender a partir das experiências, mas ser incapaz de agir eficazmente essa aprendizagem no desempenho.

Importa acrescentar que existem diferenças significativas entre a ausência de controlo e a desobediência, a desatenção e a distração, e ainda entre a atividade excessiva e a agitação.

Continuaremos a desenvolver o tema ao longo das próximas semanas, nomeadamente no que respeita ao funcionamento neuropsicológico e ao "comando cerebral" da atenção e da atividade.

quarta-feira, maio 29, 2013

Dia Mundial da Esclerose Múltipla (II): programa de atividades


SPEM


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Celebrado sempre na última quarta-feira de Maio, o Dia Mundial da Esclerose Múltipla (EM), institucionalizado pela Federação Internacional da EM (MSIF) em 2009, tem como objectivo aumentar a sensibilização para a Esclerose Múltipla de toda a Sociedade. A quinta edição, que marca o grande dia deste ano, é 29 de Maio!
  
O tema escolhido para 2013 é "Jovens e Esclerose Múltipla". Na realidade, ser diagnosticado com uma doença crónica e potencialmente incapacitante, numa altura da vida em que se iniciam carreiras, relacionamentos e se fazem planos para o futuro, leva a que se reavalie tudo o que conhece até àquele momento. (Fonte: www.worldmsday.org/wordpress)

Os portadores de EM gostariam que a sociedade conhecesse a doença e de que modo afecta as suas vidas. Daí a importância de se criarem redes de sensibilização e conhecimento junto dos organismos públicos, empresários e público em geral. Esta é a base para gerar mais oportunidades de emprego e educação, para garantir o acesso aos cuidados de saúde e para obter fundos para as instituições que trabalham em prol dos doentes. Ambicionamos a criação de uma nova realidade onde as pessoas compreendam o que é a EM e que, nem sempre, a falta de coordenação é sinónimo de bebedeira, ou a fadiga é igual a preguiça.

A campanha do Dia Mundial da EM será lançada a partir do dia 8 de Maio. Até lá, vamos apresentar o programa de actividades que as Delegações, Núcleo e Sede da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla - SPEM têm preparado para as comemorações. Juntem-se a nós para celebrar o Dia Mundial da EM e levar mais longe a nossa causa!


5º Dia Mundial da Esclerose Múltipla
29 Maio 2013

Programa de Actividades SPEM


SPEM Porto

29 Maio - Convívio nas instalações da Delegação
Hora: a confirmar

Mais informações:
Delegação Distrital do Porto
R. António Francisco Costa, 9
4465-002 SÃO MAMEDE DE INFESTA
Telefone/Fax: 229 548 216
Telemóvel: 938 232 958
Horário: Dias úteis, 11h às 13h e 14h às 18h30


SPEM Coimbra

29 Maio - Concentração de pessoas com EM, familiares e amigos
Local: Parque Verde de Coimbra
Hora: a confirmar

Parceria: Ordem dos Enfermeiros

Mais informações:
Delegação Distrital de Coimbra
Morada provisória:
LAHUC - Liga dos Amigos dos Hospitais da Universidade de Coimbra
(Junto à entrada Norte dos HUC)
Avenida Bissaya Barreto
3000-075 Coimbra
Telemóvel: 934 387 659


SPEM Leiria

29 Maio - Lançamento de um Livro de Receitas, elaborado por pessoas com EM.
Local: FNAC - Centro Comercial Leiria Shopping
Hora: 18h00

Mais informações:
Delegação Distrital de Leiria
Rua 1.º de Maio, Lote 21
Marinheiros
2415 - 461 LEIRIA
Telefone: 244 852 439
Telemóvel: 934 386 918
Horário: Segundas-feiras, 9h30 às 13h30 e 14h às 16h


SPEM Lisboa

29 Maio - "Super-Heróis contra a Esclerose Múltipla" - Sessão de sensibilização sobre EM para jovens
Com a presença da neurologista Drª Joana Nunes, que reviu a versão portuguesa do livro "Medikidz explicam a Esclerose Múltipla" (horário a confirmar). Segue-se um convívio com lanche aberto a todos, na Sede.
Local da Sessão: Sala de eventos da Extensão da Sede (a 50m do edifício principal)
Local do Convívio: Sede
Hora: a confirmar

Mais informações:
Sede Nacional
Rua Zófimo Pedroso, 66
1950-291 LISBOA
Telefone: 218 650 480
Telemóvel: 934 386 904
Horário: Dias úteis, 9h às 13h e 14h às 18h


SPEM Portalegre

29 Maio - "Relaxe... Pela sua mobilidade!"
A sessão será composta por uma série de exercícios de manutenção física ligeira, terminando com uma sessão de relaxamento que o preparará para o final de tarde bastante tranquilo. Sem limite de idade e aberto a todo os interessados do distrito de Portalegre, portadores de Esclerose Múltipla ou não, "Relaxe... Pela sua mobilidade" propõe um tempo de relaxamento e boa disposição.
Inscrição gratuita e limitada a 40 pessoas.
Local: Pavilhão Rui Nabeiro
Hora: 18h30

Inscrições e mais informações:
Telefones: 932 681 409 | 268 687 058

SPEM Faro

29 Maio - Venda de Solidariedade
Sensibilização para o que é a EM, qual a intervenção e serviços da SPEM Faro e angariação de fundos.
Local: Mercado Municipal de Faro (manhã) e peditório nas ruas de Faro a favor da SPEM (tarde)

30 Maio a 1 Junho - Feira da Cidadania, Festa da Criança e Feira do Livro
Local: Praça do Auditório Municipal, em Lagoa.

Mais informações:
Delegação Distrital de Faro
Praceta Salgueiro Maia - Bloco D
8000-189 Faro
Telefone: 289 829 268
Telemóvel: 938 232 957
Email: faro-geral@spem.pt
  

terça-feira, maio 28, 2013

ESCLEROSE MÚLTIPLA: A IMPORTÂNCIA DA PSICOTERAPIA INDIVIDUAL E FAMILIAR

Celebra-se na última 4ª feira de Maio o Dia Mundial da Esclerose Múltipla.

“A EM é uma doença crónica, inflamatória e degenerativa, que afecta o Sistema Nervoso Central (SNC).É uma doença que surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos de idade, ou seja, entre os jovens adultos. Afecta com maior incidência as mulheres do que os homens. Esta patologia é diagnosticada a partir de uma combinação de sintomas e da evolução que a doença apresenta na pessoa afectada, com recurso a exames clínicos/exames complementares de diagnóstico (Ressonância Magnética Nuclear, Estudo de Potenciais Evocados e Punção Lombar). Estima-se que em todo o mundo existam cerca de 2.500.000 pessoas com EM (dados da Organização Mundial da Saúde) e em Portugal mais de 5.000 (João de Sá, 2005). A EM pode produzir sintomas idênticos aos de outras patologias do SNC, pelo que o diagnóstico poderá demorar anos a acontecer.” (Informação disponível no site da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla- SPEM).

Os sinais e sintomas principais são fadiga, visão turva, perda de força muscular, alterações da sensibilidade (formigueiro, picadas, dormência, sensação áspera no tato), dor, alterações urinárias e intestinais, problemas sexuais, desequilíbrio e falta de coordenação motora, alterações cognitivas (atenção, memória, resolução de problemas) e alterações do humor. Sobretudo numa fase inicial, estes sintomas podem ser desvalorizados por surgirem de forma intermitente.

O diagnóstico de EM é dramático para a pessoa e para a sua família, tendo em conta o caráter degenerativo. O tratamento, que procura travar a doença, traz frequentemente efeitos secundários muito desconfortáveis e incapacitantes, que podem levar à não adesão à terapêutica e, consequentemente, a um agravamento mais rápido.

A qualidade de vida diminui drasticamente, sobretudo devido às dificuldades motoras. É frequente um funcionamento marcado pela euforia, que muitas vezes se confunde com uma falta de consciência dos défices.

Consoante a frequência e gravidade dos surtos, vai havendo uma oscilação entre o agravamento dos défices e a recuperação. A EM é uma doença crónica e requer aprendizagem do doente e da família.

É de extrema importância que o doente e a família tenham acompanhamento psicológico. Para o doente, o processo psicoterapêutico será essencial na adaptação ao diagnóstico e na adesão aos tratamentos. Por outro lado, elaborar a angústia, o medo e a revolta é crucial para que exista um maior equilíbrio emocional e, consequentemente, maior capacidade para lidar com a evolução da doença e para a descoberta de capacidades. Para além do trabalho psicoterapêutico, recomenda-se intervenção neuropsicológica no sentido de minimizar ou travar os défices cognitivos (atenção, memória, lentificação, raciocínio, etc). É importante não esquecer ainda a família, que sofre igualmente com a evolução da doença e com a progressiva dependência do familiar com EM.

Em Portugal ainda parece dar-se pouca importância à intervenção psicoterapêutica aliada às doenças crónicas e degenerativas, quando uma maior estabilidade emocional do doente e da família é essencial para uma melhor qualidade de vida de ambos.


A Psicronos está sensível a este aspeto, motivo pelo qual estabeleceu um protocolo com a SPEM há algum tempo, no sentido de permitir condições especiais aos seus membros.

segunda-feira, maio 27, 2013

HIPERATIVIDADE OU HIPER-DIAGNÓSTICO?

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção é o distúrbio neuro-comportamental mais comum na infância, que pode afetar profundamente o desempenho académico, o bem-estar e as interações sociais das crianças. Caracteriza-se por instabilidade da atenção, agitação excessiva e impulsividade.

Muitos dos sintomas não são exclusivos da PHDA, podendo ser encontrados em outras patologias, pelo que é importante uma avaliação especializada.

Apesar de se usar o termo “hiperatividade” num sentido lato para explicar a agitação das crianças, são muito poucos os casos em que estamos perante um quadro de PHDA propriamente dito. Por exemplo, os casos mais frequentes são, talvez, os “hiper-mal-educados”! A falta de regras leva a uma agitação frequente, associada à ausência de limites, e a uma baixa tolerância à frustração que leva a conflitos constantes. Mesmo perante estes casos, estamos perante sofrimento emocional uma vez que a criança sente que ninguém a controla (daí a sua necessidade de controlar). Estas crianças testam constantemente os limites, à espera de encontrar um adulto capaz de perceber a sua insegurança e que lhes dê uma autoridade firme e afetuosa.

A agitação também é cada vez mais identificada nas perturbações depressivas e bipolares, sobretudo nos rapazes. Trata-se de “não parar, para não pensar”. Nos problemas de ansiedade, a agitação psicomotora também é frequente e traduz a inquietação interna. Na deficiência mental e nas Perturbações Globais do Desenvolvimento, a irrequietude está associada à não compreensão das normas e do contexto, entre outros aspetos que podem ser partilhados com a base da hiperatividade e do défice de atenção. Na psicose, existe um estado de alerta permanente devido ao sentimento persecutório que leva a uma agitação como defesa contra a ameaça percecionada. Há ainda as alterações transitórias, como a mudança de escola, o nascimento de um irmão, um conflito familiar, algo que acontece na vida da criança que requer compreensão e adaptação da sua parte.

Em qualquer dos casos, existe sofrimento emocional. A grande distinção entre estes quadros é talvez a causa e a consequência. No caso da PHDA, temos a agitação (de origem neurobiológica) que provoca sofrimento devido à crítica e à punição constantes, bem como pelo sentimento de não corresponder às expetativas. Nos restantes casos, há um sofrimento que causa a agitação.

Esta tem sido a minha visão da hiperatividade Vs agitação, motivo pelo qual considero que tem havido um sobrediagnóstico e, consequentemente, uma sobremedicação das crianças. Preocupa-me que a nova revisão do manual das perturbações mentais (DSM-V), publicada há menos de um mês, não tenha, ao contrário do esperado, afunilado os critérios de diagnóstico. Aliás, aumentou até a sua abrangência, por exemplo ao considerar o início dos sintomas até aos 12 anos, quando anteriormente se considerava que as manifestações deviam estar presentes antes dos 7 anos e, qualitativamente, com sinais evidentes anteriores aos 3 anos.

Só esta pequena alteração nos critérios irá, na minha opinião, aumentar o risco de confusão e de diagnósticos apressados, colocando no mesmo “saco” da Hiperatividade outros quadros, com causas diferentes e, como tal, que requerem intervenções diferentes.

Continuarei a desenvolver o tema da PHDA nas próximas semanas.

sexta-feira, maio 24, 2013

THE OVERVIEW EFFECT




"Tudo depende da perspetiva"
Quando dizemos esta frase estamos a referir-nos, normalmente, à maneira de ver algo. E apesar de querermos dizer "a maneira de pensar/encarar/interpretar algo", a verdade é que o termo tem as suas origens na experiência sensorial visual e está, por isso, carregado de metáforas visuais (ex: "ponto de vista"). 

O vídeo que se segue remete-nos para uma experiência onde a perspetiva visual apresentada afeta profundamente a perspetiva fenomenológica/psicológica/cognoscível ao mais profundo nível. 


Faz-me pensar na importância da consciência e da sua relação intrínseca com o mundo sensorial/experiencial, como contentor, como espaço mais ou menos inclusivo dos seus objetos; e na forma como o tipo de conteúdo (e o espaço para o mesmo) na consciência, modifica radicalmente os sentimentos, pensamentos, humor, atitudes e até o sentido da vida e de quem somos. 

quarta-feira, maio 22, 2013

Bullying (III): um ciclo que se perpetua?


Como consequência da violência repetida do Bullying, existe uma clara diminuição da auto-estima e surgem manifestações de ansiedade, irritação, agitação, depressão e medo. Do ponto de vista somático, são frequentes alterações no sono, dores de barriga e diminuição do apetite. A partir de certa altura, a criança ou adolescente tende a começar a resistir a ir para a escola e apresenta uma quebra no rendimento escolar. Em situações mais dramáticas, pode mesmo haver tentativa de suicídio, algumas vezes conseguida, como nos têm vindo a dar a conhecer os meios de comunicação.Em alguns casos, a vítima convence-se que a agressividade é o melhor meio para atingir os fins e passa a assumir a postura de agressor em vários contextos da sua vida.

O ciclo do Bullying deixa a vítima relativamente isolada. De um lado temos o agressor ou o mentor do bullying, o seu seguidor, que é muitas vezes o perpetrador da agressão, o apoiante que participa no ato e o apoiante passivo que, apesar de não participar, aprova. Existe ainda o observador neutro, que não assume nenhuma posição. Do lado da vítima, estão o defensor passivo, que desaprova o bullying, mas não protege, e o defensor que procura ativamente proteger a vítima. É claramente uma situação de desequilíbrio que mantém a vítima num ciclo que pode prolongar-se por um período extremamente longo.

Os pares, ou a audiência, têm portanto um papel fundamental na manutenção do bullying. De um lado aprovam e incentivam, dou outro afastam-se sem se comprometer. Alguns colegas e amigos querem ajudar, mas não sabem como. Muitos estudos indicam que um episódio pode terminar em menos de um minuto se o bullie não tiver audiência.



quarta-feira, maio 15, 2013

DIA da FAMÍLIA


Hoje comemora-se o dia internacional das famílias. Este conceito tão abrangente faz referência a uma panóplia de sentimentos; viver na família é o mais poderoso antídoto contra as perturbações emocionais. É no seio desta que se adquirem interesses, vontades, segurança, amor, carinho. Podemos já não ter, e como referiu Daniel Sampaio, duas gerações à volta da lareira, mas certamente teremos um grupo de pessoas atentos, envolvidos emocionalmente e capazes de responder às necessidades dos outros.

Mas nem sempre é fácil uma vivência salutar em família, se por um lado é aqui que adquirimos segurança, bem-estar e autonomia, por outro, e quando as famílias não estão bem organizadas, ou nelas reside medo constante, insegurança permanente e culpabilidade dilacerante, vemos que os alicerces sucumbem ao mais pequeno sopro de vento.

É então importante podermos ouvir os nossos medos, anseios, incapacidades e adequá-los para que estes surjam como momentos de reflexão e progressão e não como momentos de incapacitação e frustração, impedindo a livre circulação dos afetos mais importantes.

Num mundo que cada vez mais está apressado, interessa recordar que não só importa o tempo que se passa com os nossos, mas também a qualidade desse tempo.

Amor de mãe, amor de pai, de avó, de avô, de tios, primos… são dos afetos mais puros e grandiosos que existem. Quem nunca chorou de emoção, ou referiu que nunca tinha sentido um amor deste tamanho? É isto que vale recordar e é isso certamente que as crianças irão reter.

sábado, maio 11, 2013

Kenneth Robinson sobre o que é educar

Educação, aprendizagem, curiosidade. Uma TED talk de Kenneth Robinson

http://www.ted.com/talks/ken_robinson_how_to_escape_education_s_death_valley.html?utm_source=newsletter_weekly_2013-05-10&utm_campaign=newsletter_weekly&utm_medium=email&utm_content=talk_of_the_week_button

sexta-feira, maio 10, 2013

Vacina consegue bloquear acção da heroína no cérebro



A vacina tem por objectivo impedir que a droga e os seus produtos de degradação psicoactivos circulem na corrente sanguínea, impedindo-os de chegar ao cérebro. A heroína é metabolizada muito rapidamente para outro composto chamado 6-acetilmorfina, que segue para o cérebro e é responsável por grande parte do efeito que a droga produz.
A equipa desenvolveu uma vacina capaz de activar anticorpos contra a heroína, mas também contra 6-acetilmorfina e a morfina. Já alguns testes iniciais, mostraram que a vacina consegue alguns dos efeitos agudos da heroína, tal como obstrução da dor.

Para o estudo, os cientistas administraram o fármaco em ratos viciados em heroína, privando-os durante algum tempo da substância e quando reiniciados na toma, voltam a consumi-la avidamente. A equipa verificou que a vacina alterou o comportamento dos roedores, evitando a dependência habitual.

Segundo os investigadores, a vacina bloqueia a heroína e 6-acetilmorfina na corrente sanguínea, mantendo-os fora do cérebro. A vacina não bloqueou os efeitos de metadona, buprenorfina e outras drogas opioides que são normalmente utilizadas na terapia contra a dependência de heroína.

Os cientistas esperam que, em breve, a vacina possa seguir para ensaios em seres humanos e ser usada para tratar um vício que afecta mais de dez milhões de pessoas no mundo.

quinta-feira, maio 09, 2013

A gaguez

Sempre achei a gaguez um tema interessante, tlvez por ter vários amigos com esse problema. A entrada é livre.



O CÉREBRO E A GAGUEZ

Alexandre Castro Caldas
Diretor do ICS-UCP, Neurologista
Gonçalo Leal
Terapeuta da Fala
Daniel Neves da Costa
Sociólogo

 

(Inscrição gratuita)

24 de Maio, das 17.00h às 18.30h

Universidade Católica Portuguesa
Sala de Exposições, 2º piso, Ed. Biblioteca João Paulo II
Palma de Cima | 1649-023 Lisboa


Efetue a sua inscrição AQUI

A investigação com recurso a neuroimagem tem elevado potencial para compreender as relações cérebro-comportamento, sobretudo comportamentos complexos como a fala e a linguagem.
Nos últimos anos, multiplicaram-se o número de pesquisas que nos permitem, cada vez mais, conhecer a natureza complexa da Gaguez e fornecem informações preciosas para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas específicas.
A palestra “O Cérebro e a Gaguez” pretende promover uma reflexão suportada nos artigos recentes sobre as bases neurobiológicas da gaguez, a forma como este conhecimento se traduz na Prática Clínica do Terapeuta da Fala e o diferencial que se poderá realizar na qualidade de vida de quem gagueja.


Saiba mais...

Esta Conferência realiza-se no âmbito do Ciclo de Conferências iniciado em 2009 visando a partilha do conhecimento com acomunidade académica da UCP ea sociedade em geral.

Nestas conferências sãoabordados temas de interesse geral.

Para mais informações, consultewww.ics.lisboa.ucp.pt

Se não conseguir visualizar este emailclique aqui.

terça-feira, maio 07, 2013

BULLYING (II): AGRESSIVIDADE Vs VIOLÊNCIA


Para falar de bullying é imperativo abordar os conceitos de agressividade e violência.

A agressividade existe em todos os seres humanos, é natural e necessária. Importa perceber o que é que diferencia a agressividade saudável da agressividade patológica. É saudável e construtiva no sentido em que nos mobiliza para a ação, que está relacionada com a nossa capacidade de nos defendermos, de lutarmos pelos nossos objetivos, de tolerarmos a rivalidade e competitividade. Permite-nos criar roturas, construir separações, afirmar a diferença, dizer “NÃO”, lutar por um objetivo, reivindicar, fazer frente, assumir uma posição, vencer o medo e retaliar quando as circunstâncias nos são prejudiciais.

Podemos, então, pensar na agressividade como estando ao serviço da concretização pessoal e da formação da identidade, bem como da coesão grupal e da cooperação.

O grau de agressividade está dependente de fatores bioquímicos, da predisposição da personalidade, da maturidade emocional e do contexto familiar e ambiental. Com o amadurecimento e a socialização, os impulsos agressivos vão sendo refinados e, saudavelmente, geridos no sentido construtivo. Crianças e adolescentes com menor propensão agressiva, não têm de se esforçar muito para domar os seus impulsos, mas podem ficar mais sujeitos a maus-tratos por não terem a agressividade suficiente para se defender ou impor perante os pares.

De acordo com a OMS, a violência define-se pelo “Uso de força física ou poder, real ou em ameaça, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, deficiência do desenvolvimento ou privação”
Entre várias definições e tipos de violência, encontramos a Violência Instrumental: forma premeditada de alcançar os objetivos e propósitos do agressor, acionada de forma gratuita e cruel, pretendendo causar danos. É aqui que se enquadra o Bullying.

O Bullying é um abuso de poder sistemático, sem resposta a um estímulo, e caracteriza-se por elevada intensidade, persistência, repetição, intencionalidade e destrutividade. Pode assumir diferentes formas: Agressão Física, Agressão Verbal, Agressão Psicológica, Intimidação, Rejeição e, associado às novas tecnologias, o Cyberbullying.

O Bullying não é uma brincadeira, nem uma divergência entre colegas. Consiste num importunar contínuo, numa relação de claro desequilíbrio, em que a vítima é incapaz de se defender. É um sinal de perturbação ou fragilidade emocional, tanto do agressor (Bully) como da vítima.

Para aprofundar este tema, que continuará a ser desenvolvido nas próximas publicações, sugerimos a leitura dos artigos da Dra Ana Almeida e da Dra Tânia Paias no Portal Bullying: