segunda-feira, maio 27, 2013

HIPERATIVIDADE OU HIPER-DIAGNÓSTICO?

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção é o distúrbio neuro-comportamental mais comum na infância, que pode afetar profundamente o desempenho académico, o bem-estar e as interações sociais das crianças. Caracteriza-se por instabilidade da atenção, agitação excessiva e impulsividade.

Muitos dos sintomas não são exclusivos da PHDA, podendo ser encontrados em outras patologias, pelo que é importante uma avaliação especializada.

Apesar de se usar o termo “hiperatividade” num sentido lato para explicar a agitação das crianças, são muito poucos os casos em que estamos perante um quadro de PHDA propriamente dito. Por exemplo, os casos mais frequentes são, talvez, os “hiper-mal-educados”! A falta de regras leva a uma agitação frequente, associada à ausência de limites, e a uma baixa tolerância à frustração que leva a conflitos constantes. Mesmo perante estes casos, estamos perante sofrimento emocional uma vez que a criança sente que ninguém a controla (daí a sua necessidade de controlar). Estas crianças testam constantemente os limites, à espera de encontrar um adulto capaz de perceber a sua insegurança e que lhes dê uma autoridade firme e afetuosa.

A agitação também é cada vez mais identificada nas perturbações depressivas e bipolares, sobretudo nos rapazes. Trata-se de “não parar, para não pensar”. Nos problemas de ansiedade, a agitação psicomotora também é frequente e traduz a inquietação interna. Na deficiência mental e nas Perturbações Globais do Desenvolvimento, a irrequietude está associada à não compreensão das normas e do contexto, entre outros aspetos que podem ser partilhados com a base da hiperatividade e do défice de atenção. Na psicose, existe um estado de alerta permanente devido ao sentimento persecutório que leva a uma agitação como defesa contra a ameaça percecionada. Há ainda as alterações transitórias, como a mudança de escola, o nascimento de um irmão, um conflito familiar, algo que acontece na vida da criança que requer compreensão e adaptação da sua parte.

Em qualquer dos casos, existe sofrimento emocional. A grande distinção entre estes quadros é talvez a causa e a consequência. No caso da PHDA, temos a agitação (de origem neurobiológica) que provoca sofrimento devido à crítica e à punição constantes, bem como pelo sentimento de não corresponder às expetativas. Nos restantes casos, há um sofrimento que causa a agitação.

Esta tem sido a minha visão da hiperatividade Vs agitação, motivo pelo qual considero que tem havido um sobrediagnóstico e, consequentemente, uma sobremedicação das crianças. Preocupa-me que a nova revisão do manual das perturbações mentais (DSM-V), publicada há menos de um mês, não tenha, ao contrário do esperado, afunilado os critérios de diagnóstico. Aliás, aumentou até a sua abrangência, por exemplo ao considerar o início dos sintomas até aos 12 anos, quando anteriormente se considerava que as manifestações deviam estar presentes antes dos 7 anos e, qualitativamente, com sinais evidentes anteriores aos 3 anos.

Só esta pequena alteração nos critérios irá, na minha opinião, aumentar o risco de confusão e de diagnósticos apressados, colocando no mesmo “saco” da Hiperatividade outros quadros, com causas diferentes e, como tal, que requerem intervenções diferentes.

Continuarei a desenvolver o tema da PHDA nas próximas semanas.

sexta-feira, maio 24, 2013

THE OVERVIEW EFFECT




"Tudo depende da perspetiva"
Quando dizemos esta frase estamos a referir-nos, normalmente, à maneira de ver algo. E apesar de querermos dizer "a maneira de pensar/encarar/interpretar algo", a verdade é que o termo tem as suas origens na experiência sensorial visual e está, por isso, carregado de metáforas visuais (ex: "ponto de vista"). 

O vídeo que se segue remete-nos para uma experiência onde a perspetiva visual apresentada afeta profundamente a perspetiva fenomenológica/psicológica/cognoscível ao mais profundo nível. 


Faz-me pensar na importância da consciência e da sua relação intrínseca com o mundo sensorial/experiencial, como contentor, como espaço mais ou menos inclusivo dos seus objetos; e na forma como o tipo de conteúdo (e o espaço para o mesmo) na consciência, modifica radicalmente os sentimentos, pensamentos, humor, atitudes e até o sentido da vida e de quem somos. 

quarta-feira, maio 22, 2013

Bullying (III): um ciclo que se perpetua?


Como consequência da violência repetida do Bullying, existe uma clara diminuição da auto-estima e surgem manifestações de ansiedade, irritação, agitação, depressão e medo. Do ponto de vista somático, são frequentes alterações no sono, dores de barriga e diminuição do apetite. A partir de certa altura, a criança ou adolescente tende a começar a resistir a ir para a escola e apresenta uma quebra no rendimento escolar. Em situações mais dramáticas, pode mesmo haver tentativa de suicídio, algumas vezes conseguida, como nos têm vindo a dar a conhecer os meios de comunicação.Em alguns casos, a vítima convence-se que a agressividade é o melhor meio para atingir os fins e passa a assumir a postura de agressor em vários contextos da sua vida.

O ciclo do Bullying deixa a vítima relativamente isolada. De um lado temos o agressor ou o mentor do bullying, o seu seguidor, que é muitas vezes o perpetrador da agressão, o apoiante que participa no ato e o apoiante passivo que, apesar de não participar, aprova. Existe ainda o observador neutro, que não assume nenhuma posição. Do lado da vítima, estão o defensor passivo, que desaprova o bullying, mas não protege, e o defensor que procura ativamente proteger a vítima. É claramente uma situação de desequilíbrio que mantém a vítima num ciclo que pode prolongar-se por um período extremamente longo.

Os pares, ou a audiência, têm portanto um papel fundamental na manutenção do bullying. De um lado aprovam e incentivam, dou outro afastam-se sem se comprometer. Alguns colegas e amigos querem ajudar, mas não sabem como. Muitos estudos indicam que um episódio pode terminar em menos de um minuto se o bullie não tiver audiência.



quarta-feira, maio 15, 2013

DIA da FAMÍLIA


Hoje comemora-se o dia internacional das famílias. Este conceito tão abrangente faz referência a uma panóplia de sentimentos; viver na família é o mais poderoso antídoto contra as perturbações emocionais. É no seio desta que se adquirem interesses, vontades, segurança, amor, carinho. Podemos já não ter, e como referiu Daniel Sampaio, duas gerações à volta da lareira, mas certamente teremos um grupo de pessoas atentos, envolvidos emocionalmente e capazes de responder às necessidades dos outros.

Mas nem sempre é fácil uma vivência salutar em família, se por um lado é aqui que adquirimos segurança, bem-estar e autonomia, por outro, e quando as famílias não estão bem organizadas, ou nelas reside medo constante, insegurança permanente e culpabilidade dilacerante, vemos que os alicerces sucumbem ao mais pequeno sopro de vento.

É então importante podermos ouvir os nossos medos, anseios, incapacidades e adequá-los para que estes surjam como momentos de reflexão e progressão e não como momentos de incapacitação e frustração, impedindo a livre circulação dos afetos mais importantes.

Num mundo que cada vez mais está apressado, interessa recordar que não só importa o tempo que se passa com os nossos, mas também a qualidade desse tempo.

Amor de mãe, amor de pai, de avó, de avô, de tios, primos… são dos afetos mais puros e grandiosos que existem. Quem nunca chorou de emoção, ou referiu que nunca tinha sentido um amor deste tamanho? É isto que vale recordar e é isso certamente que as crianças irão reter.

sábado, maio 11, 2013

Kenneth Robinson sobre o que é educar

Educação, aprendizagem, curiosidade. Uma TED talk de Kenneth Robinson

http://www.ted.com/talks/ken_robinson_how_to_escape_education_s_death_valley.html?utm_source=newsletter_weekly_2013-05-10&utm_campaign=newsletter_weekly&utm_medium=email&utm_content=talk_of_the_week_button

sexta-feira, maio 10, 2013

Vacina consegue bloquear acção da heroína no cérebro



A vacina tem por objectivo impedir que a droga e os seus produtos de degradação psicoactivos circulem na corrente sanguínea, impedindo-os de chegar ao cérebro. A heroína é metabolizada muito rapidamente para outro composto chamado 6-acetilmorfina, que segue para o cérebro e é responsável por grande parte do efeito que a droga produz.
A equipa desenvolveu uma vacina capaz de activar anticorpos contra a heroína, mas também contra 6-acetilmorfina e a morfina. Já alguns testes iniciais, mostraram que a vacina consegue alguns dos efeitos agudos da heroína, tal como obstrução da dor.

Para o estudo, os cientistas administraram o fármaco em ratos viciados em heroína, privando-os durante algum tempo da substância e quando reiniciados na toma, voltam a consumi-la avidamente. A equipa verificou que a vacina alterou o comportamento dos roedores, evitando a dependência habitual.

Segundo os investigadores, a vacina bloqueia a heroína e 6-acetilmorfina na corrente sanguínea, mantendo-os fora do cérebro. A vacina não bloqueou os efeitos de metadona, buprenorfina e outras drogas opioides que são normalmente utilizadas na terapia contra a dependência de heroína.

Os cientistas esperam que, em breve, a vacina possa seguir para ensaios em seres humanos e ser usada para tratar um vício que afecta mais de dez milhões de pessoas no mundo.

quinta-feira, maio 09, 2013

A gaguez

Sempre achei a gaguez um tema interessante, tlvez por ter vários amigos com esse problema. A entrada é livre.



O CÉREBRO E A GAGUEZ

Alexandre Castro Caldas
Diretor do ICS-UCP, Neurologista
Gonçalo Leal
Terapeuta da Fala
Daniel Neves da Costa
Sociólogo

 

(Inscrição gratuita)

24 de Maio, das 17.00h às 18.30h

Universidade Católica Portuguesa
Sala de Exposições, 2º piso, Ed. Biblioteca João Paulo II
Palma de Cima | 1649-023 Lisboa


Efetue a sua inscrição AQUI

A investigação com recurso a neuroimagem tem elevado potencial para compreender as relações cérebro-comportamento, sobretudo comportamentos complexos como a fala e a linguagem.
Nos últimos anos, multiplicaram-se o número de pesquisas que nos permitem, cada vez mais, conhecer a natureza complexa da Gaguez e fornecem informações preciosas para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas específicas.
A palestra “O Cérebro e a Gaguez” pretende promover uma reflexão suportada nos artigos recentes sobre as bases neurobiológicas da gaguez, a forma como este conhecimento se traduz na Prática Clínica do Terapeuta da Fala e o diferencial que se poderá realizar na qualidade de vida de quem gagueja.


Saiba mais...

Esta Conferência realiza-se no âmbito do Ciclo de Conferências iniciado em 2009 visando a partilha do conhecimento com acomunidade académica da UCP ea sociedade em geral.

Nestas conferências sãoabordados temas de interesse geral.

Para mais informações, consultewww.ics.lisboa.ucp.pt

Se não conseguir visualizar este emailclique aqui.

terça-feira, maio 07, 2013

BULLYING (II): AGRESSIVIDADE Vs VIOLÊNCIA


Para falar de bullying é imperativo abordar os conceitos de agressividade e violência.

A agressividade existe em todos os seres humanos, é natural e necessária. Importa perceber o que é que diferencia a agressividade saudável da agressividade patológica. É saudável e construtiva no sentido em que nos mobiliza para a ação, que está relacionada com a nossa capacidade de nos defendermos, de lutarmos pelos nossos objetivos, de tolerarmos a rivalidade e competitividade. Permite-nos criar roturas, construir separações, afirmar a diferença, dizer “NÃO”, lutar por um objetivo, reivindicar, fazer frente, assumir uma posição, vencer o medo e retaliar quando as circunstâncias nos são prejudiciais.

Podemos, então, pensar na agressividade como estando ao serviço da concretização pessoal e da formação da identidade, bem como da coesão grupal e da cooperação.

O grau de agressividade está dependente de fatores bioquímicos, da predisposição da personalidade, da maturidade emocional e do contexto familiar e ambiental. Com o amadurecimento e a socialização, os impulsos agressivos vão sendo refinados e, saudavelmente, geridos no sentido construtivo. Crianças e adolescentes com menor propensão agressiva, não têm de se esforçar muito para domar os seus impulsos, mas podem ficar mais sujeitos a maus-tratos por não terem a agressividade suficiente para se defender ou impor perante os pares.

De acordo com a OMS, a violência define-se pelo “Uso de força física ou poder, real ou em ameaça, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, deficiência do desenvolvimento ou privação”
Entre várias definições e tipos de violência, encontramos a Violência Instrumental: forma premeditada de alcançar os objetivos e propósitos do agressor, acionada de forma gratuita e cruel, pretendendo causar danos. É aqui que se enquadra o Bullying.

O Bullying é um abuso de poder sistemático, sem resposta a um estímulo, e caracteriza-se por elevada intensidade, persistência, repetição, intencionalidade e destrutividade. Pode assumir diferentes formas: Agressão Física, Agressão Verbal, Agressão Psicológica, Intimidação, Rejeição e, associado às novas tecnologias, o Cyberbullying.

O Bullying não é uma brincadeira, nem uma divergência entre colegas. Consiste num importunar contínuo, numa relação de claro desequilíbrio, em que a vítima é incapaz de se defender. É um sinal de perturbação ou fragilidade emocional, tanto do agressor (Bully) como da vítima.

Para aprofundar este tema, que continuará a ser desenvolvido nas próximas publicações, sugerimos a leitura dos artigos da Dra Ana Almeida e da Dra Tânia Paias no Portal Bullying:

quarta-feira, maio 01, 2013

PSICOTERAPIA NA INFÂNCIA: PORQUÊ?


Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento sócio-afetivo da criança e para a formação da sua personalidade enquanto adulto. É nesta fase precoce que vai sentir o meio como seguro ou inseguro, gratificante ou frustrante, que vai conhecer os seus limites e os do outro, com base nas respostas que recebe do pai e da mãe e na interação que estes estabelecem consigo. Alterações na resposta às necessidades físicas ou emocionais do bebé ou da criança podem ter um impacto muito negativo na sua saúde mental, que poderá ficar assente em vivências de desamparo.

A criança não tem a mesma capacidade que o adulto para se expressar verbalmente. Agressividade, birras, medos, xixi na cama, dificuldades em dormir ou comer, choro fácil, apatia, são muitas vezes a forma de manifestar que algo se passa e lhe está a causar sofrimento. No entanto, existe uma certa tendência a desvalorizar os sinais que a criança vai dando e a apostar na “esperoterapia” (esperar para ver), muitas vezes recomendada pelos médicos.

A criança está em crescimento, pelo que é necessário discriminar se as alterações ou dificuldades que apresenta são um problema do seu desenvolvimento ou uma etapa normal do seu processo evolutivo.
Uma avaliação e intervenção atempadas podem minimizar o risco de agravamento e instalação de quadros psicopatológicos complexos. Quanto mais tarde se inicia esta intervenção, maior o impacto das experiências desorganizadoras e, consequentemente do seu sofrimento, e maior a dificuldade de alteração de dinâmicas relacionais perturbadoras.

O processo de avaliação e psicoterapia na infância tem início com uma recolha detalhada de informação junto dos pais, com vista à averiguação das suas preocupações e da história pessoal e familiar. A criança é um elemento integral e fundamental na família, pelo que o contexto familiar assume um papel preponderante no seu desenvolvimento e, consequentemente, na compreensão da problemática e na psicoterapia.

Na psicoterapia infantil, é necessária uma abordagem especializada, que vá de encontro às fragilidades e capacidades da criança, através do seu meio privilegiado de comunicação: o brincar. Através do desenho, do jogo simbólico, das histórias, da dramatização, o psicoterapeuta ajuda a criança a descobrir as suas emoções, necessidades e potencialidades, e a expressá-las de forma mais ajustada, facilitando a contenção emocional e promovendo a transformação adaptativa.

Grande parte dos quadros psicopatológicos no adulto tem origem em vivências precoces. Como tal, a psicoterapia infantil é essencial para a construção de um adulto com melhores recursos emocionais e maior capacidade de gerir a relação consigo próprio e com os outros.

sexta-feira, abril 26, 2013

DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA: O SURGIMENTO

Um estudo europeu apresentou dados importantes sobre a fase de vida em que um ser humano começa a ter "consciência" do mundo. Segundo os investigadores, a "assinatura neuronal" é caracterizada por 2 momentos percetivos: 

"Nos primeiros 200 a 300 milissegundos, a reacção é totalmente inconsciente e é acompanhada de uma actividade neural que aumenta de forma linear, em função dos objectos apresentados. Já numa segunda etapa, após 300 milissegundos, começa a resposta consciente, segundo indica uma assinatura eléctrica específica do cérebro.

As apresentações de imagens com durações longas permitem alcançar este limiar de reacção eléctrica, considerado um marcador neural da consciência. Em todos os grupos etários dos lactentes, os cientistas observaram a mesma resposta tardia como nos adultos, confirmando "a assinatura neural do estado de consciência".

Os resultados revelam que os mecanismos cerebrais que envolvem a consciência perceptiva já se encontram presentes nos bebés a partir dos cinco meses, apesar de ainda lentos e sofrerem um desenvolvimento progressivo ao longo do crescimento."

segunda-feira, abril 22, 2013

BULLYING (I): Problema ou Sintoma?


No passado dia 17 de Abril, decorreu o Seminário “Violência e Maus Tratos nas Crianças e nos Jovens: o Desafio da Proteção”, organizado pela CPCJ da Amadora e inserido numa série de ações desenvolvidas a propósito do Mês da Prevenção dos Maus Tratos na Infância.

Participei neste seminário, em representação da nossa colega Tânia Paias e do Portal Bullying, com o tema “Bullying: Violência/Agressividade Vs Cooperação”, a propósito do qual partilho algumas reflexões. Sempre houve bullying, embora se registe um aumento que não parece ser devido apenas a um maior mediatismo da problemática.

Importa refletir se o bullying é um problema ou um sintoma. Um sintoma de uma sociedade mais violenta e marcada pela impulsividade, dirigida mais para o agir e pouco para o pensar e para o sentir. O menor acompanhamento familiar é cada vez mais evidente e os estilos parentais tendem a características muito antagónicas nas nossas crianças: de um lado temos crianças omnipotentes e sem limites, do outro temos crianças sobreprotegidas, com pouca autonomia emocional e reduzida capacidade para se defenderem. Existe ainda uma iliteracia emocional, associada a uma menor comunicação e partilha afetiva, bem como a valores sociais mais frágeis e a um maior individualismo, que tendem a conduzir a uma menor empatia. É talvez por estes motivos que vamos verificando também uma psicopatologia infantil mais grave e mais instalada.

Atrevo-me, portanto, a dizer que o Bullying é um sintoma, traduzido por alterações emocionais tanto no agressor, como na vítima.

Tendo em conta que foi para mim uma surpresa o facto de alguns participantes terem ficado surpreendidos com o facto de se reconhecerem algumas fragilidades emocionais prévias na maior parte das vítimas, que de certa forma as deixa mais vulneráveis ao Bullying, este será um tema a desenvolver nas próximas semanas.

sexta-feira, abril 19, 2013

ATENÇÃO!



Até que ponto estamos atentos ao que se passa connosco e à nossa volta? 

Este vídeo ajuda-nos a perceber melhor e experiencialmente algumas facetas da nossa atenção. Vivemos normalmente num mundo de sobrestimulação de informação, tentando dar atenção a tudo o que podemos, muitas vezes sobrecarregando o nosso sistema para não perdermos algo que possa vir a ser útil ou que seja importante. 

Sem valores sólidos, a nossa atenção dispersa-se ao sabor do que a nossa sociedade dos media e da publicidade nos incita a dar atenção e a dar relevância. Puxam-nos de todos os lados e com isso, descentram-nos: de nós, do importante, dos nossos valores. Sobre valores e uma perspetiva refrescante e extraordinariamente coerente e íntegra (em conexão estreita com a ação-sentimento), aconselho este outro vídeo de uma entrevista a um senhor muito invulgar:


sábado, abril 13, 2013

Escrita expressiva

 

De acordo com James Pennebaker, escrever acerca das nossas emoções, ansiedades ou mesmo sonhos, é extremamente benéfico para a saúde, não só mental como física.

O Prof. James Pennebaker, da Universidade do Texas, há décadas que vem conduzindo a investigação sobre esta matéria, com inúmeras experiências realizadas, e comprovou que escrever durante 15 min durante 4 ou 5 dias, pode ter uma enorme influência não só nas capacidades cognitivas como no estado emocional e mental. Estive a ouvir uma entrevista que ele deu à BBC4 e fiquei impressioada com os resultados obtidos nas experiências com mulheres com cancro da mama.

O procedimento é muito simples. Vou citar do site do Prof. Pennebaker:

Promise yourself that you will write for a minimum of 15 minutes a day for at least 3 or 4 consecutive days.

Once you begin writing, write continuously. Don’t worry about spelling or grammar. If you run out of things to write about, just repeat what you have already written.

You can write longhand or you can type on a computer. If you are unable to write, you can also talk into a tape recorder.

You can write about the same thing on all 3-4 days of writing or you can write about something different each day. It is entirely up to you.

What to Write About

Something that you are thinking or worrying about too much
Something that you are dreaming about
Something that you feel is affecting your life in an unhealthy way
Something that you have been avoiding for days, weeks, or years.



http://homepage.psy.utexas.edu/homepage/faculty/pennebaker/home2000/WritingandHealth.html

 

Participação da Clara Pracana na InPACT2013


A InPACT2013 é uma conferência internacional que se vai realizar em Madrid entre 26 e 28 de Abril. Neste congresso de grande impato internacional estarão presentes investigadores provindos de diferentes Países e diferentes áreas do saber psicológico com o intuito de partilharem os seus pontos de vista.

Contará com oradores de Países tão diversos e distantes como USA, Russia, Australia, Hong-kong e  Índia.Contará ainda com a participação de muitos Países Europeus.

Serão apresentados pontos de vista e abordagens de 5 grandes áreas da psicologia: (1) Psicologia Clinica; (2) Psicologia Educacional; (3) Psicologia Social; (4) Psicologia Legal e (5) Psicologia Cognitiva e Experimental.

É com orgulho que anuncio que a nossa colega, Profª Dra Clara Pracana, estará presente na presidência da InPACT2013 e como oradora. 


Oradora: 
Prof. Dra. Clara Pracana

Comunicação: 
CRISIS OF DEPENDENCE? A PSYCHO-ANALYTICAL PERSPECTIVE OF THE CRISIS IN SOUTHERN EUROPE (CASE IN POINT: PORTUGAL)

Excerto do Abstrat:
Drawing on the theories of S. Freud, W. Bion, E. Eriksson and D. Meltzer, I will analyse specifically the Portuguese case among those Southern European countries and propose a psycho-analytical interpretation of the situation, based on the concept of dependence. I shall argue that the dependence on the state mirrors a deeper psychological dependence on the maternal figure, typical of matriarchal societies. 






Para mais informações sobre este evento veja:




 

quinta-feira, abril 11, 2013

Seja simpático para com uma mulher Grávida!

Um artigo apresentado no British Neuroscience Association Festival of Neuroscience referiu a descoberta de uma enzima que joga um papel importante no "processo de programação fetal"

Portanto, promovam cidadãos saudáveis desde cedo  

 

Fetal Exposure to Excessive Stress Hormones in the Womb Linked to Adult Mood Disorders

http://www.sciencedaily.com/releases/2013/04/130407090835.htm

 

quarta-feira, abril 10, 2013

RESILIÊNCIA: COMO AGUENTAR O BARCO?


A crise e o desemprego têm servido de mote a algumas das nossas publicações nos últimos tempos. Numa altura em que o país atravessa uma tempestade que parece não ter fim e em que os portugueses pouca esperança têm e apenas torcem para que a maré não piore, vale a pena pensar sobre como se aguenta o barco em condições tão adversas.

A resiliência consiste, em termos gerais, na capacidade de enfrentar as adversidades de forma adaptativa, com vista à transformação e à superação das dificuldades. Esta capacidade assenta na interação entre as experiências precoces, as relações que se estabelecem ao longo da vida, o ambiente, a neurobiologia e a genética.

A crise coloca-nos à prova; o risco ou a realidade do desemprego e as dificuldades financeiras colocam-nos numa situação de extrema ansiedade, que afetam não só o bem-estar pessoal, como o relacionamento com os outros (família, amigos, colegas, vizinhos e até desconhecidos). A tendência é a do negativismo, da depressão coletiva, da falta de esperança, que fazem com que o barco se afunde cada vez mais. Mas algumas pessoas têm uma maior capacidade para se manter à tona e nadar com todas as forças para terra firme; são pessoas mais resilientes.

A gestão das emoções e a tolerância à frustração, o controlo dos impulsos e a flexibilidade mental, o otimismo, a análise do contexto, a empatia, auto-eficácia e a competência social são algumas das características das pessoas mais resilientes. Podemos ainda acrescentar a criatividade, a capacidade para assumir riscos e para criar oportunidades. A propósito de alguns destes conceitos, sugerimos a leitura deste artigo: http://expresso.sapo.pt/os-sete-habitos-da-pessoa-resiliente=f667766

Segundo Robert Wick, autor do livro “Bounce: Living the Resilient Life”, para o desenvolvimento da resiliência importa estar alerta a situações potencialmente prejudiciais, criar objetivos para cuidar de si próprio e evitar a exaustão, rodear-se de amigos que contribuam para o equilíbrio, reconhecer competências e pontos fortes e concentrar-se nos mesmos, analisar-se a si próprio e aceitar-se, e meditar.

“Ser capaz de me equilibrar depois de levar uma rasteira. Acordar com esperança depois de uma série de frustrações. Ver além das circunstâncias da vida de modo a disfrutar o momento”, é assim que Robert Wick resume o resultado da resiliência. E para este resultado é importante também dar um sentido à nossa existência, para que tenhamos motivação e força para nadar contra a corrente e para que o objetivo seja viver e não apenas sobreviver.