segunda-feira, setembro 16, 2013

Projeção, Identificação projetiva e identificação


Ao prepara um seminário surgiu-me a seguinte ideia para clarificar a noção de identificação projetiva.
Partilho convosco.

Forma fácil de compreender, memorizar e utilizar a noção de identificação projetiva:

Identificação projetiva como mecanismo de defesa:
A identificaçao projetiva é um processo inconsciente no qual a mente projeta/evacua uma emoção, sentimento ou pensamento inconsciente e depois identifica esse mesmo "objeto" no outro.

projeta + identifica

Por exemplo:
um paciente não tendo consciência dos seus desejos homossexuais, sente-se, ainda assim, angustiado por esses desejos, então - para se ver livre deles - projeta-os no analista. Após a projeção identifica essa emoção ou atributo no analista. Identifica a caraterística (ou emoção, ou pensamento, etc) que projetou no alvo (continente) dessa mesma projeção. Portanto, neste caso, o paciente começa a achar que o analista é homossexual. Quanto mais intensa e bem sucedida foi a projeção, mais fácil é identificar o objeto projetado no outro e, portanto, mais forte é a convicção de que o objeto projetado reside no alvo. Como consequência deste processo o analisando pode relacionar-se com o analista com receio da homossexualidade por ele identificada e chegar ao ponto de deixar a análise por não suportar a ideia de ter um analista homossexual ou por receio de avanços sexuais homossexuais do analista.

Prejuízo para a personalidade que projeta: fica mais pobre porque perdeu um dos seus conteúdos
Vantagem para a personalidade que projeta: diminuição inicial da angustia porque deixa que ter de lidar com o fato de ter impulsos e desejos homossexuais. A vantagem é só inicial porque ao dar-se o deslocamento do ponto gerador de angustia de dentro para fora, ele mantém, ainda assim, alguma proximidade em relaçao ao sujeito e torna-se um objeto persecutório a partir do exterior.

A identificaçao projetiva foi utilizada para libertat o inconsciente de angústia e tornar a fonte de angustia mais "controlavel" porque se tornou externa.

A situaçao pode crescer ao ponto do paciente deixar a analise para se ver livre da sua homossexualidade agora transferida (transposta) para o/a analista.

Identificação projetiva como forma de comunicação
Quando a identificação projetiva é utilizada como forma de comunicação. O sentimento ou ideia projetada é algo que inconscientemente se quer partilhar com outro e essa partilha é feita gerando no outro o sentimento projetado.

Para que o outro possa acolher esse sentimento projetado tem que estar receptivo e ter capacidade de identificaçao do seu proprio estado emocional.

Neste caso é:
um projeta e o outro identifica

Quando o recetor da projeção identifica a existência em si do "objeto" projetado e entra em sintonia emocional e/ou ideativa pode dar-se uma experiência sintonica mutua, unindo ambas as mentes um momento de "uma só mente". At-one-ment, como diz Bion. 

A experiencia emocional é - enquanto realidade ultima, incognoscível -mas partilhavel por esta via
Vantagem para a personalidade: as experiências emocionais inconscientes podem ser partilhadas numa comunicação inconsciente a inconsciente. A partilha não leva à perca do conteúdo mental, mas ao enriquecimento quando o alvo da projeção ao identificar o objeto projetado o devolve sobre uma forma adequada à sua consciencialização. Desta maneira um sentimento (experiência, emoção, pensamento, etc) inicialmente inconsciente pode ser tornado consciente com a ajuda do outro que o identifica, metaboliza e devolve.

É pela identificação projetiva utilizada como forma de comunicação e de evacuação que se pode dizer - como dizia Amaral Dias - que todos vivemos dentro de nós e dentro dos outros. Muitos outros são depositários de conteúdos mentais nossos, pelo que a nossa mente se encontra em nós e fora de nós.

sexta-feira, setembro 13, 2013

Realidade virtual e esquizofrenia: um bom casamento?



Tem sido muito discutido o papel das tecnologias e a forma como elas nos têm invadido e se têm infiltrado na nossa vida de uma forma historicamente revolucionária (ver por exemplo o post sobre o filósofo Michel Serres que muito tem refletido sobre este assunto). O mundo vritual e as novas capacidades de comunicação vieram modificar completamente as dimensões espaço-tempo que costumavam existir no quotidiano da nossa vida: já não é preciso praticamente tempo para estabelecer contacto com uma dada pessoa, nem tão pouco percorrer um dado espaço que me distancia a mim da tal pessoa. O papel dos sentidos do corpo, dos ritmos das pessoas, dos valores interpessoais, etc. estão a ser claramente influenciados por estas novas possibilidades tecnológicas.
Já temos abordado alguns problemas que surgem com esta mudança revolucionária de apenas escassas décadas, mas desta vez iremos focar o que parece ser uma forma curiosa e benéfica de utilizar a realidade virtual no melhoramento de pessoas com esquizofrenia grave.
O estudo empírico é deste ano de 2013, publicado na revista "British Journal of Psychiatry" e tem como título "Computer-assisted therapy for medication-resistant auditory hallucinations: proof-of-concept study", ou seja, é uma investigação que pretende determinar o efeito de uma intervenção terapeutica assistida por computador, em pacientes com alucinações auditórias resistentes à medicação. 
A pertinência deste estudo é sobretudo atribuída à existência de uma prevalência ainda significativa de pacientes com esquizofrenia que respondem mal ao tratamento psicofarmacológico, continuando a ser perseguidos por alucinações auditivas (1 em cada 4).
A equipa de investigadores desenvolveu um sistema computorizado que permite ao paciente criar um avatar do seu "perseguidor", encorajando-o de seguida a entrar em diálogo com ele através do terapeuta (que o controla). O objetivo é fazer com que o avatar vá ficando cada vez mais sob o controlo do paciente, através da manipulação do avatar pelo terapeuta, em diálogo com o paciente, quer como terapeuta, quer na figura e voz do avatar.


Para testar a eficácia desta intervenção comparou-se uma amostra de 12 pacientes que participaram neste dispositivo inovador de tratamento, com 14 pacientes igualmente resistentes ao tratamento médico acompanhados com uma psicoterapia de apoio que incentivava estes pacientes a ignorar as vozes alucinatórias e a não dialogarem com elas.

Os resultados foram positivos para o grupo experimental (vs grupo de controlo), tendo os pacientes do primeiro grupo apresentado mais melhorias, nomeadamente, ao nível da redução da frequência e intensidade das alucinações, bem como, ao nível de uma diminuição do medo e dificuldade em controlá-las.

sexta-feira, setembro 06, 2013

Pensar o impensável...




Será que as pessoas que procuram ajuda psicológica são mais doentes do que as que não procuram?

Esta pequena BD pode sugerir que "nem sempre". Para que uma pessoa procure ajuda, normalmente existem pelo menos 2 condições: a) patologia ou sofrimento psicológico e b) consciência disso (a chamada "consciência mórbida"). 

Quando uma pessoa cresceu e se desenvolveu num mundo bi-color até pode estar amargurada mas como é tudo o conhece, tenta resignar-se e viver o melhor possível nesse mundo: afinal de contas o mal não é da pessoa mas do próprio mundo que é todo em tons de cinzento (pelo menos é provável que assim o pense). Outras vezes, nem sequer existe amargura explícita; apenas algum aborrecimento, cansaço, dores musculares, insónias ou uma grande vontade de dormir, de comer ou de se entregar frenética/obcecadamente a alguma atividade. 

Um dia, esse modo de funcionar, em paralelo com os mecanismos de defesa para lidar com aquilo com que não sabemos lidar, entra em crise: há uma descontinuidade na nossa vida que põe a nu determinada falha ou incapacidade (ex. rotura amorosa, ambiente de trabalho exigente, aumento da responsabilidade, nascimento de um filho...). Aí pode ser um dos momentos em que somos violentamente confrontados com o pseudo-leque de soluções da nossa vida: os muitos tons de cinzento tornam-se apenas isso, preto e branco numa palete vislumbrada de cores que ameaçam o status quo e a estabilidade da vida, ao mesmo tempo que abrem um novo horizonte - um admirável mundo novo...


segunda-feira, setembro 02, 2013

Mas eles não pintaram tudo...

Nem de propósito, já depois de ter publicado o post "Somos humanos, logo criamos", deparei com este cartoon na versão online da revista The New Yorker.

Aplica-se a quem pensa que já não é possível fazer nada de novo e que por isso não vale a pena pensar em criar nada...

 

 

 

sábado, agosto 31, 2013

O SPRAY NASAL DO AMOR




Uma investigação recente - Junho de 2013 ("Stress-induced negative mood moderates the relation between oxytocin administration and trust: Evidence for the tend-and-befriend response to stress?"- testou a influência do uso de um spray nasal contendo uma hormona humana, a oxitocina, nos sentimentos relacionais-afiliativos.

A oxitocina, também chamada "hormona do amor" (assim como a prolactina, a sua concentração aumenta 40% depois do orgasmo), desempenha um papel fundamental em processos anatomofisiológicos como o parto e o aleitamento de um bebé, mas também em processos psicológicos envolvidos na vinculação e cuidados maternos. 


Desde a última década que tem sido investigada de forma mais intensiva, nomeadamente, manipulando-se a sua administração através de um spray nasal. Estudos usando a administração nasal de oxitocina mostraram, por exemplo, que esta aumenta o reconhecimento de expressões faciais de emoções, aumenta a confiança nos congéneres, pode ter uma função ansiolítica e aumenta a preocupação empática pelos outros.

No sentido de aprofundar e confirmar o efeito relacional-afiliativo desta hormona, este estudo recente publicado na revista "Psychoneuroendocrinology", avaliou o efeito da oxitocina na auto-confiança de sujeitos após terem sido expostos a uma situação de rejeição social. Os resultados mostraram que os sujeitos com níveis elevados de humor negativo após rejeição social foram os que mais beneficiaram de um aumento significativo da auto-confiança, quando comparados com o grupo controlo (administrados com um spray placebo). 

A conclusão do estudo foi a de que a oxitocina pode promover a aquisição de suporte social em situações de stress social, através do aumento da auto-confiança.

Outros estudos efetuados com o uso desta hormona, por exemplo, em populações com patologias psiquiátricas (depressão, ansiedade, pertubação pós-stress traumático, autismo, etc.) mostram resultados ténues na comparticipação desta substância na cura destas problemáticas. Parece haver apenas um efeito de atenuação dos sintomas, ainda assim, de forma pouco sistemática. Outras variáveis como experiências infantis negativas ou vinculações inseguras, mas também variáveis de personalidade e contexto, têm um papel importante na moderação do efeito da administração desta hormona. 

Algum destaque para o que se verificou serem melhorias significativamente positivas para indivíduos diagnosticados com perturbações do espetro do autismo, no que respeita às suas capacidades socio-comunicativas, aquando do uso (conjugado) da oxitocina.

Em suma, as investigações que têm sido feitas sugerem que a oxitocina não é uma droga panaceia que promove relações, comportamentos e sentimentos positivos, independentemente do contexto, personalidade e da história pessoal. A "hormona do amor" pode ter algum efeito ansiolítico e pode facilitar a criação e manutenção das relações, mas fatores como a história pessoal podem mitigar estes efeitos potencialmente benéficos.


Para informações detalhadas consultar artigos:



domingo, agosto 18, 2013

Somos humanos, logo criamos

As pinturas pré-históricas são fascinantes. A de cima é de uma cave no Chad e esta outra de uma gruta em Altamira (Espanha).

O que terá levado os homens do paleolítico, certamente preocupados 24h em 24h com a sobrevivência, a "perder" horas e horas a pintar as paredes e os tectos das grutas? Preocupações religiosas, efeito de drogas alucinogénicas? (ler o livro "Cave Paintings and the Human Spirit: The Origin of Creativity and Belief" de David Whitley).

E quem pintava? Homens? Mulheres também? Crianças? Quem fazia aquelas maravihosas tintas? A produção no paleolítico é tão intensa que duvido que a pintura estivesse apenas restringida a uma espécie de pessoas (sacerdotes). Gosto de pensar que todos podiam pintar, como outros faziam estatuetas ou escultura.

E pintariam porquê? Eu acho que por duas razões: porque somos humanos e porque é terapêutico. Ou seja, a arte faz parte do nosso pacote mental. Infelizmente, muitos esquecem-se disso e pensam que é coisa de crinças ou de artistas. Artistas somos todos nós, somos todos criativos.

Só que por vezes não sabemos. Os deprimidos, sobretudo, têm aquela tendência para nem sequer tentar. Dão desculpas absurdas, como: "disseram-me em pequeno que não tinha jeito". Eu podia dizer aqui que a culpa foi de um ou outro professor, que também foi (aconteceu comigo). Mas a culpa também é nossa, que abdicamos deste nosso mais elementar direito como seres humanos, que até os homens das cavernas usavam: o da expressão. O de criar.

Hoje há tantas formas artísticas. Pintar, modelar, desenhar, esculpir, fotografar, filmar, escrever, compor, dançar, cantar, recitar, fazer artesanato, tricot, bordar, teatro, cinema...

As novas tecnologias ajudam muito. Como já ajudaram no tempo das cavernas.

E depois, é extremamente terapêutico. Faz bem à mente e ao corpo. Tem um efeito anti-depressivo, facilita a comunicação, defende-nos do isolamento, torna-nos mais humanos. Aposto que era, também por isso, que o homem das cavernas pintava furiosamente.

Se têm dúvidas, leiam os conselhos de Marta Beck, que tem ido ao show da Oprah e que é facil de encontrar na net.

Não abdiquem de serem humanos. Era o que alguns gostariam, mas não podemos deixar. Somos humanos, logo criamos.

 

 

segunda-feira, agosto 12, 2013

Não basta saber, é preciso saber comunicar

Este pequeno video do Dr. Dan Seigel sugere a utilização da mão para representar o cérebro e a forma como podemos regredir ao tal cérebro do lagarto, o sistema límbico (ver meu post sobre as tribos). Genial do ponto de vista comunicacional!

http://www.youtube.com/watch?v=DD-lfP1FBFk

 

sexta-feira, agosto 09, 2013

"Não tens razões para estar triste!"






"O coração tem razões que a própria razão desconhece" (Pascal)...! Mas que pode conhecer se houver um trabalho mais profundo de auto-conhecimento (e, já agora, do conhecimento das relações), diria o psicólogo.

Esta frase "não tens razão para estar triste" é muitas vezes expressa, de diferentes maneiras e em diferentes contextos; tem um cariz culpabilizante e muitas vezes não ajuda a pessoa alvo desta mensagem/acusação. 

Desde já, encerra uma contradição em si mesma: como pode algo existir sem causas prévias que lhe deram origem? Neste caso, se existe tristeza a questão não é saber se existem razões ou não para a sua existência, mas quais são, de onde vêm.

Claro que a intenção de quem formula esta frase é frequentemente boa e pretende estimular a pessoa entristecida a olhar para os aspetos positivos da sua vida por forma a arrebitar. Às vezes funciona. A questão está na "taxa de esforço", diretamente proporcional à dificuldade emocional, que a pessoa tem de gerir para melhorar. Em situações mais ligeiras e em que existem bons recursos para lidar e ultrapassar problemas, incentivos deste tipo até podem ajudar. Ou seja, um empurrãozinho é útil quando a outra pessoa está quase, quase lá! Quando está desequilibrada um empurrãozinho só vai desestabilizar ainda mais...  

Nestes casos, será então importante enfrentar os sentimentos penosos e tentar perceber o seu aparecimento e proveniência. Em processos psicoterapeuticos assiste-se, não raras vezes, a casos onde é precisamente quando tudo está bem (no exterior) que tudo fica mal (no interior). Numa situação de transbordo emocional que pode durar anos e anos nos piores casos, é como se a pessoa tivesse suspendido a respiração, limitando-se a sobreviver no modo "piloto automático". 

Mais tarde, alcançada a segurança de uma situação onde aparentemente tudo está bem, pode a pessoa voltar a "respirar". Nestes casos, o voltar a respirar significa um abaixamento das defesas psicológicas que permite que memórias problemáticas do passado emerjam reclamando uma "digestão emocional" que até então não fora possível.

O homem tribal em nós

Nos velhos tempos, quando vivíamos em cavernas e nos encostávamos uns aos outros à procura de calor, atentos ao menor ruído que indicasse a presença de um predador, a sobrevivência dependia de quão rapidamente os indivíduos passavam ao modo de "ataque ou fuga".

Aquilo a que hoje chamamos stress era um mecanismo precioso. O sangue afluía aos músculos permitindo a corrida, a respiração acelerava permitindo uma maior oxigenação, a força nos braços e as pernas aumentava. Imagino que ninguém se queixasse de stress - era essencial à vida.

Nesse tempo, o funcionamento tribal era também essencial, assim como o princípio "ou nós ou eles". As tribos guerreavam-se, roubavam as fémeas, os inimigos chegavam a ser devorados.

Quando terá começado a cooperação entre grupos distintos? Sabemos que os chimpazés cooperam em determinadas circunstâncias. É possível que tivéssemos percebido muito cedo as vantagens da cooperação. Mas às vezes o primitivo vem ao de cima e parece que nos esquecemos. Vezes demais.

O esquema "se não pertences à minha tribo és meu inimigo" é pouco propício ao raciocínio, ao pensamento, ao trabalho inteligente. Limita-nos e arrasta-nos séculos para trás. Alguém quer parecer um neardantal ou mesmo um homo habilis?

 

 

 

 

 

domingo, julho 28, 2013

FÉRIAS SÃO FÉRIAS!

Andamos a meio gás aqui no Salpicos! Já cheira a férias e enquanto aguardo as minhas, gostava de partilhar algo sobre as férias dos pequenotes.

Imagine que depois de nove meses de intenso trabalho e avaliação regular de desempenho, o seu chefe lhe exigia que, durante as suas férias, dispensasse uma hora por dia para ligar a clientes, fazer programação, avaliar créditos, fazer limpezas, analisar processos, servir almoços, corrigir testes… Ficaria furioso? Aborrecido? Desmotivado? Muitos adultos selecionam as chamadas que atendem e deixam no e-mail uma resposta automática que avisa os mais distraídos que estão de férias. Então por que razão se insiste em obrigar as crianças a fazer trabalhos da escola?

Férias são férias! Servem para descansar, brincar, partilhar, socializar. Os trabalhos nesta altura pouco acrescentam às competências e aquisições da criança, contribuindo apenas para o cansaço, a desmotivação e o aborrecimento. Estes tendem a estender-se ao novo ano letivo, comprometendo o entusiasmo e a expetativa uma vez que as baterias não são devidamente carregadas.

Inscreva-a em atividades como as Férias Desportivas ou a Ciência Viva. Muitas Juntas de Freguesia dispõem de programas de férias diversificados e relativamente acessíveis. Algumas instituições de apoio à deficiência apresentam também alternativas de forte valor social, promovendo o contacto e a aceitação da diferença. Existem ainda as Quintas Pedagógicas e muitas outras opções. Mas não tem obrigatoriamente de recorrer a atividades externas ou que impliquem investimento financeiro. Há muitas outras formas de estimular a curiosidade e as competências intelectuais e emocionais da criança: passeie, converse, brinque e explore com a criança. Responda às suas questões com outra pergunta. Brinquem ao teatro, à cabra-cega, às estátuas.

Se pretende atividades mais estruturadas, sugiro alguns jogos da velha-guarda, cada vez menos utilizados, mas que muito estimulam a mente:

  • Diferenças: Atenção Visual
  • Labirintos: Planeamento e Organização Espacial
  • Puzzles: Planeamento, estruturação espacial, coordenação óculo-motora
  • Tangram: Planeamento, estruturação espacial, coordenação óculo-motora
  • Palavras-Cruzadas: Vocabulário, Raciocínio Abstrato
  • Jogo “Nomes, Países, Frutos, Objetos, etc”: Vocabulário, Categorização, Raciocínio Abstrato, Velocidade do Raciocínio
  • Pares de Memória: Atenção Visual e Memória Visual
  • Bom Dia, Senhorita: Atenção Sustentada, Atenção Seletiva, Memória, Controlo dos Impulsos
  • Soletrar Palavras: Consciência Fonológica, Atenção, Planeamento, Memória de Trabalho
  • Adivinhas: Raciocínio Lógico-Abstrato
  • Quem é Quem?: Atenção, Planeamento, Categorização
  • Jogo da Glória: Cálculo, Tolerância à Frustração

Há muitas outras opções, mas aqui terá já várias ideias e poderá dar largas à sua imaginação. O mais importante é que a criança se divirta com a família e os amigos.

Apesar de férias serem férias, nem tudo pode ser boa vida! Atenção às rotinas, pois as crianças precisam de coerência e consistência. Os padrões de sono, alimentação, higiene, regras podem ser aliviados, mas apenas ligeiramente pois uma semana de rédea solta pode implicar três de reorganização, com muitas birras e frustração à mistura.


Boas férias e aproveite para partilhar aqui algumas sugestões de atividades com crianças!

sexta-feira, julho 19, 2013

Frase leve do dia



The way to get a person to put down a heavy load is to give them just a little more to carry. Sometimes therapeutic interventions are like that. (Brazier, D.)

(A maneira de levar uma pessoa a descarregar uma carga pesada é dar-lhe um pouco mais para ela carregar. Às vezes as intervenções terapêuticas são semelhantes.) 



No contexto de crise atual, parece-me uma ideia particularmente pertinente. São muitas vezes os períodos de crise que nos levam a dar um passo à frente por forçarem os limites da situação e pedirem uma mudança. Obrigam a fazer escolhas, a deixar algo para trás e a um novo ajuste.  

A terapia surge como opção na vida das pessoas tipicamente em períodos de crise (mais ou menos interna, mais ou menos externa). E nas crises, é a falência da estabilidade ou do status quo prevalente que suscita a mudança. Existem, pois, muitas vezes duas forças opostas que conflituam de maneira mais ou menos disruptiva: a da estabilidade, segurança do conhecido; e a da mudança, novidade e insegurança do desconhecido. Como a frase em causa expressa, às vezes, para largar um peso ou o conhecido que já não funciona, é preciso, não só imaginar um desconhecido melhor, mas também sentir profundamente o peso e a falência do conhecido. Neste caso, poderíamos, por exemplo, falar do "peso extra da consciência do peso" como fator desencadeante da decisão de descarregar o peso. 

De uma maneira mais extensiva, largar o peso pode também querer dizer, saber fazer transições, nomeadamente, a transição constante entre o passado e o presente (em direção ao futuro). Se eu carrego um passado condicionante e pesado do qual não me consigo desapegar para abraçar o que o presente me pode dar e receber, vivo em menor harmonia com a realidade. Ou se, vivo constantemente no futuro - acumulando, acumulando (coisas, feitos, currículo, saber, etc.) - como reação a um passado de escassez que não consigo aceitar nem fazer o luto, não consigo aproveitar total e apaziguadamente o presente.

terça-feira, julho 09, 2013

VAMOS BRINCAR?

No “meu tempo” já havia jogos de computador. Tínhamos na altura o Spectrum, que exigia um leitor de cassetes e alguns cabos ligados à televisão. Às vezes o jogo “não entrava” e lá era preciso tentar outra vez, esperar e, por vezes, deixar de lado o jogo pretendido e escolher outro. Jogava-se ao Pacman, que tinha de comer umas peças de fruta enquanto fugia dos fantasmas. Jogava-se um outro, cujo nome já não me recordo, que tinha de saltar patamar a patamar, na altura certa, para não bater com a cabeça e voltar ao início! Depois a informática evoluiu e surgiu uma maior diversidade de jogos, alguns um pouco mais violentos, mas que, ainda assim, tinham como objetivo salvar os bons dos maus, em cenários que claramente pertenciam ao mundo do imaginário. Também sou do tempo em que se jogava ao elástico, aos pais e às mães, às escolas…. Os peluches serviam de alunos, as mãos faziam de binóculos para ver as estrelas, pediam-se desejos com o “quantos-queres”, as vassouras serviam de mota…

Pode parecer, mas não estou a ter uma crise de nostalgia da infância. Estou antes cada vez mais preocupada com o excesso de jogos eletrónicos e o seu impacto no desenvolvimento sócio-afetivo da criança.

Antes de eu jogar Spectrum, Winnicott já dizia “É no brincar, e apenas no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar a sua personalidade integral; e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o seu Eu”.

É através do brincar que a criança experimenta, sente, imita, cria e transforma. É também a sua forma natural de comunicar. É na brincadeira que a criança cresce, aprende e cura, sendo o instrumento mais poderoso para lidar com os sentimentos; à medida que os organiza na história que inventa, está a preparar-se para avançar e adaptar-se. Mas esta capacidade parece cada vez menos frequente e cada vez menos natural. Reflexo da sociedade? As crianças já não têm de esperar que a cassete do spectrum arranque, pois têm acesso aos jogos com um ligeiro toque do indicador, em qualquer lugar, a qualquer hora. Já não precisam de imitar o bebé a chorar, pois o bebé vem com pilhas e chora sozinho. Já não têm de dar vida a qualquer boneco pois qualquer objeto a que se chame “boneco” faz tudo sozinho. Já não têm tempo para brincar, nem os pais têm tempo para brincar com elas.

Apesar de ainda não existirem estudos cientificamente válidos suficientes, o impacto negativo do baby-sitting eletrónico no desenvolvimento sócio-afetivo parece ser cada vez mais evidente.

Grande parte dos jogos preferidos pelas crianças, desde a mais tenra idade, tem uma forte componente agressiva e um grau de realismo perigosos. Um estudo de 2006 demonstrou que a exposição a jogos violentos leva à dessensibilização para a violência na vida real. Os jogadores parecem “habituar-se” à violência, manifestando uma menor resposta fisiológica à mesma, bem como uma menor empatia e ajuda perante vítimas de violência. Por outro lado, parece existir maior impulsividade e uma menor consciência dos limites da agressividade e dos danos que a mesma pode causar. Lembrar-se-ão de um trágico acidente em que uma criança pequena matou outra, achando que ressuscitaria como acontecia nos jogos. Este é um dos maiores riscos dos jogos de hoje (também associado à falta de acompanhamento parental): a não distinção entre fantasia e realidade. E a acessibilidade à violência parece contribuir ainda mais para esta indiferenciação.

Outro estudo (longitudinal, que terá durado quase duas décadas) aponta para um risco crescente de desenvolvimento de perturbações da personalidade, não diretamente associado aos jogos eletrónicos, mas à ausência do brincar e da disponibilidade dos pais na infância. O envolvimento forte e ativo com os adultos potencia as ligações interpessoais e as competências sociais, contribuindo para o desenvolvimento psicológico. Este envolvimento estará na base da vinculação, da empatia e da afiliação, da ligação ao “mundo das pessoas”, da sua disponibilidade e capacidade para comunicar com os outros. A ausência deste envolvimento precoce, para além da escassa socialização com os pares, promovida pela individualidade dos jogos, parece estar a aumentar o risco de perturbações esquizóides na idade adulta. E talvez não seja por acaso que nos aparecem cada vez mais crianças com sinais já bastante instalados desta patologia.

Deste modo, a criança tem de brincar e de ter companhia para brincar. Do que é que está à espera? Sente-se no chão, volte a ser criança e dê largas à sua imaginação! Imponha limites aos jogos e ao seu conteúdo. “Perca” tempo com o seu filho, faça-o ganhar saúde mental! É preciso desenvolver o seu mundo interior, para que a criança possa lidar com o mundo exterior.


domingo, junho 30, 2013

Fazer o trabalho de casa antes de ir a uma entrevista de emprego

As entrevistas para emprego são sempre um factor de stress. Como me comportar, o que é que me vão perguntar, que imagem quero dar?, são algumas das dúvidas que ocorrem antes da entrevista.
Digo muitas vezes às pessoas que a melhor imagem a transmitir, seja em que área de actividade for, é a de uma pessoa bem preparada, interessada e com conhecimento de causa. Que sabe fazer, sem que lho digam, o seu trabalho de casa.
Os TPC têm má fama desde a escola, mas, tal como antes, são necessários.
No post para que ponho o link, Melissa Martin faz sugestões concretas de como fazer a preparação para uma entrevista através de uma pesquisa de mercado por conta própria. Poderá não ser muito abrangente em termos de market research, mas não é esse o ponto. O ponto é mostrar que o interesse genuíno e bem conduzido é uma mais-valia do candidato. Melissa Martin chama-se "inteligência competitiva".
O nome pouco interessa. O que qualquer empregador quer perceber, desde que não seja inteiramente medíocre (também acontece), é a motivação do candidato. O que ele ou ela se pergunta é: o que é que esta pessoa vai acrescentar à empresa?
Melissa Martin dá sugestões concretas sobre a pesquisa a fazer antes de ir a uma entrevista de trabalho: detectar fraquezas e forças tanto do potencial empregador como da concorrência. Ou seja, fazer uma pesquisa de mercado que, não sendo exaustiva, diz muito sobre a capacidade de iniciativa e de trabalho do candidato.
Parece muito trabalhoso? Sem dúvida. Mas é uma excelente ideia em tempos em que o diploma e mesmo a experiência já pouco contam, sobretudo quando se é um candidato entre centenas.
Foto: Carreerlism

http://www.careerealism.com/interviewer-competitive-intelligence/

 

SER



Aquilo que somos, o sentido da vida penso ter tudo a ver com SER.
Tão simples, tão básico, tão idiota que parece nem fazer sentido... como a vida às vezes não faz; como por vezes o que somos não acontece.

SER é tão curto, tão parco que parece pedir um adjetivo ou substantivo que o complete; SER... o quê, afinal?! SER bom, ser isto, aquilo... E se for só SER?! Que difícil! Parece que temos de ser algo; algo para além do que já somos, algo para além do nosso SER. Como se SER não existisse, não pudesse ter valor por si.

Parece que me tenho de esforçar para SER; Mas o esforço só existe porque não me permito SER mas me exijo ser ALGO.

E que melhor forma de SER que aquela em que o meu SER se concretiza, reflete, expande e co-cria com outro SER?

E (como alguém dizia com tanta piada e profundidade) se não for eu, quem SERÁ eu?

sábado, junho 29, 2013

Projecto "Pai e Mãe na gravidez" - Um projeto que merece atenção






Atendendo à elevada taxa de depressões pós parto sinalizadas na comunidade, surge a necessidade de desenvolver estratégias inovadoras que permitam combater esta realidade. Dados da investigação apontam para que homens que se envolvem activamente na gravidez e no nascimento do filho reforçam a sua auto-estima, bem como a estima pelas companheiras e sentem-se mais vinculados aos seus bebés. Por sua vez, as grávidas com companheiros envolvidos sofrem menos sintomatologia depressiva na gravidez, menos complicações físicas, menor necessidade de medicação no parto e menor incidência de depressão pós-parto
Neste sentido - preventivo e não só -, estou a desenvolver o seguinte projecto:
Acompanhamentos a Grávidas e aos respectivos pais dos bebés, durante os quais, ao longo da gestação (antes, durante e após) serão abordadas as questões da gravidez sobre a óptica e a vivência maternas e paternas, sensibilizando este último para a importância do seu papel activo e interventivo na promoção da saúde mental da mãe e do bebé.
Neste sentido, o presente projecto poderá ter dois formatos de acompanhamento:
(1) acompanhamento a Grávidas e aos respectivos pais dos bebés (sendo este mais direccionado aos pais), e um outro formato, complementar - caso os casais assim o decidam/queiram -, na forma de um (2) acompanhamento individual e direccionado apenas às grávidas.
De notar que é ainda, e apenas, um ponto de partida para eventuais acompanhamentos, podendo, obviamente, sofrer posteriores alterações...! 

Os "serviços de que disponho" serão então:

- Rastreios à depressão na Grávida:
- Acompanhamentos Psicoterapêuticos: Grupos terapêuticos de Pais e Mães e/ou Grupos de Grávidas e/ou Acompanhamento individual às Grávidas e ao casal;

- Massagem Infantil - massagem para bebés onde mãe e pai massajam o seu bebé;

- Workshops variados a este nível, com vários temas abordados: Adaptações à gravidez; Aleitamento materno; Desenvolvimento fetal; Massagem Infantil; Grupos de avós; O que é ser pai num mundo de mães?; Nascimento Humano; Antropologia do parto; Sexualidade na gravidez; Infertilidades; Perdas perinatais/Luto de um filho; entre outros (com a colaboração da Dra. Lúcia Paulino);

- Books Fotográficos (em colaboração com um fotógrafo);

- Eventualmente, em alguns casos, poderemos fazer domicílios.
Se posteriormente souberem de alguém que esteja interessado neste tipo de acompanhamento e/ou formação, agradeço imenso, caso encaminhem para mim!

O meu obrigada a todos!
Eva Coelho
Página de Facebook: "Gravidíssimos"

segunda-feira, junho 24, 2013

HIPERATIVIDADE: UM DIAGNÓSTICO FÁCIL?


O diagnóstico de PHDA não é fácil, pois não existem marcadores biológicos exclusivos, nem instrumentos de avaliação específicos. Por outro lado existem vários fatores que podem levar a confundir sintomas “hiperativos” com a problemática propriamente dita, nomeadamente:
  • A variedade de condições emocionais e do desenvolvimento com características semelhantes;
  • O facto de crianças com PHDA terem muitas vezes um desempenho normativo durante a avaliação psicológica, por se tratar de um ambiente novo, individualizado e controlado por um adulto, para além de serem solicitadas tarefas curtas, variadas e estimulantes. Ao contrário do que é muitas vezes comunicado, a hiperatividade pode não estar presente em todos os contextos. Ter a criança colaborante e focada durante a avaliação psicológica não é critério de exclusão.

As informações devem ser obtidas primordialmente a partir de relatórios dos pais, professores, médicos e técnicos de saúde escolar e mental envolvidos, sendo também essencial averiguar quaisquer causas alternativas, bem como a coexistência de outras condições emocionais ou comportamentais (depressão, ansiedade, oposição, perturbação do comportamento), de desenvolvimento (aprendizagem, linguagem ou outros distúrbios do neurodesenvolvimento), e física (tiques, apneia do sono). Deve-se, portanto, fazer uma recolha abrangente de informações sobre o comportamento da criança em casa, com amigos, sobre o desempenho académico e intelectual, e sobre o desenvolvimento e o funcionamento emocional. Será ainda essencial recolher a história sobre a família alargada e as relações familiares, tendo em conta que existe uma significativa carga hereditária.

São amplamente conhecidos alguns questionários que são preenchidos pelos pais e pelos professores, que embora, só por si, não tenham um valor diagnóstico, permitem uma descrição do comportamento quotidiano.

É importante ainda ter em conta o impacto da agitação comportamental e das dificuldades de atenção nas atividades diárias; a ausência de um défice académico e/ou relacional decorrente dos sintomas exclui o diagnóstico de PHDA. Por outro lado, qualitativamente, deve ter-se em conta que os sintomas de hiperatividade devem ter tido início antes dos 3 anos. Uma criança que era calma e fica muito agitada aos 8 anos ou outra que começa a revelar sinais de desatenção aos 10 anos não terão PHDA, mas sim outro quadro que importará esclarecer. Aliás, é frequente os pais de crianças hiperativas dizerem “ele/a é assim desde que começou a andar” e desde cedo tiveram dificuldades em realizar algumas atividades sociais, como ir a um restaurante ou a casa de amigos.

Dada a hipótese cada vez mais sustentada de que a PHDA se enquadra num défice das funções executivas, mediadas pelo funcionamento frontal e pré-frontal, será importante a avaliação do planeamento, da flexibilidade cognitiva e da inibição da resposta, para além da atenção, da sustentação do esforço e da memória de trabalho. Será importante incluir na avaliação algumas tarefas mais monótonas, repetitivas e prolongadas, às quais os sujeitos com PHDA serão mais sensíveis.

A resposta ao título desta publicação será “Não, o diagnóstico não é fácil”. Requer uma investigação exaustiva, avaliação especializada e observação atenta e compreensiva, que implica uma articulação estreita entre pais, professores, psicólogo/neuropsicólogo e neuropediatra. Parece, no entanto, ter-se tornado num diagnóstico fácil para pais impacientes, professores desgastados e profissionais de saúde assoberbados. Não é possível fazer um diagnóstico em consultas de 10 minutos de regularidade mensal (na melhor das hipóteses).


É muitas vezes no contexto da intervenção terapêutica que o diagnóstico é esclarecido. Muitas problemáticas com sintomas semelhantes melhoram apenas com psicoterapia e aconselhamento parental, enquanto que a PHDA requer também, na maior parte das vezes, intervenção medicamentosa. Abordaremos a polémica questão da medicação nas próximas semanas.

segunda-feira, junho 17, 2013

HIPERATIVIDADE: QUANDO O DIRETOR ADORMECE

A neurofisiologia e neuropsicologia da PHDA continuam a ser amplamente estudadas, através de técnicas como a Ressonância Magnética, a Ressonância Magnética Funcional, a Magnetoencefalografia e a corrente sanguínea cerebral. Têm sido encontradas, de forma consistente, várias alterações estruturais e funcionais, essencialmente ao nível do funcionamento pré-frontal:

  • Metabolismo mais baixo nas regiões pré-frontais em tarefas de sustentação da atenção;
  • Anomalias nas áreas corticais frontais direitas, nos gânglios da base (particularmente no núcleo caudado), no corpo caloso e no cerebelo;
  • Volume cerebral mais reduzido, menor volume de substância branca global e parieto-occipital posterior;
  • Padrões atípicos do fluxo sanguíneo cerebral, especificamente em áreas corticais pré-frontais, durante o período de repouso;
  • Fluxo sanguíneo diminuído no córtex pré-frontal lateral direito, em ambas as áreas orbitais do córtex pré-frontal e no cerebelo;
  • Aumento do fluxo em regiões corticais posteriores, como o córtex parietal superior e o córtex parieto-occipital esquerdo.

Em síntese, parece existir um distúrbio de hipofrontalidade (baixa ativação do córtex pré-frontal), que envolve também estruturas subcorticais, especificamente os gânglios basais e o cerebelo.

Trocando por miúdos, o córtex pré-frontal é uma espécie de “comando cerebral”, que regula a ação e inibe ou desinibe determinadas respostas. O que se passa na PHDA é que este comando parece estar adormecido, falhando na inibição dos impulsos (daí a agitação). O vídeo que se segue traz-nos uma representação interessante do que se passa no cérebro de um indivíduo com PHDA, como se fosse um filme sem diretor:


Uma vez que os lobos frontais são as últimas áreas do cérebro a desenvolver-se completamente, os sintomas hiperativos poderão ser, em parte, devidos a um atraso maturativo no desenvolvimento dos mecanismos inibitórios. Por outro lado, alterações do funcionamento pré-frontal estão também envolvidas em grande parte dos quadros psicopatológicos. Assim, é importante esclarecer se se trata de uma agitação própria de uma mente e de um corpo ainda pouco amadurecidos, de alterações da saúde mental ou de PHDA propriamente dita.

Continuaremos a desenvolver o tema para que possamos aprofundar estas diferenças.

domingo, junho 09, 2013

Vertigens e medo das alturas

O medo das alturas é bastante comum e é frequentemente acompanhado de outro tipo de fobias. A psicanálise considera que as fobias são por um lado um excesso de ansiedade, e por outro uma forma de defesa contra angústias mais primitivas. O medo das alturas é muitas acompanhado por algum fascínio pelo perigo.

No cinema, o filme de Alfred Hitchcock, "Vértigo" é uma ilustração perturbadora e fascinante deste tipo de problemática. Foi considerado recentemente O Melhor Filme de Sempre e quem já o viu percebe porquê.

No filme,James Stewart é um ex-polícia que tem medo das alturas. Sofre de vertigem e de uma particular atracção para situações (e mulheres) perigosas.

Eu também acho que é o melhor filme de sempre (para um psicanalista é uma delícia, mas já adorava o filme antes de o ser). As fotografias que se seguem, do site buzzfeed, não têm a ver com o filme (excepto uma), mas com o medo das alturas e das escadas vertiginosas. Agarrem-se ao corrimão.

http://www.buzzfeed.com/peggy/staircases-that-will-give-you-instant-vertigo?utm_source=Triggermail&utm_medium=email&utm_term=Buzzfeed&utm_campaign=BuzzFeed%20Today%20v2.2

 

sexta-feira, junho 07, 2013

Procura Activa de Emprego


No passado dia 6 a Junta de Freguesia da Graça efectuou um Workshop sobre Gestão de Ansiedade em Entrevistas de Emprego.

Esta acção contou com 15 participantes e teve como facilitador Pedro Santos, psicoterapeuta na Psicronos.  
O principal objectivo desta acção foi, dar a conhecer quais são os mecanismos da ansiedade e como cada um dos participantes pode lidar com a ansiedade. Os participantes aprenderam a efectuar relaxamento muscular, para controlar a ansiedade somática, e aprenderam a fazer registo de pensamentos automáticos que levam a ansiedade cognitiva. Ficaram com a noção que podem controlar a sua ansiedade somática e cognitiva utilizando estas técnicas e que o controlo emocional é sempre importante em várias situações de procura activa de trabalho.

Um enorme agradecimento á Dr.ª Eliana Vilaça pelo trabalho desenvolvido neste projecto.

segunda-feira, junho 03, 2013

HIPERATIVIDADE: INCAPACIDADE OU INCONSISTÊNCIA?

A PHDA tem uma base essencialmente neuropsicológica e os factores genéticos conjugam-se com as experiências do indivíduo no seu meio ambiente, moldando o seu comportamento e a forma como enfrenta e se integra na vida em sociedade.

Envolve distúrbios na atenção, na auto-regulação, no nível de atividade e no controlo do impulso, sendo cada vez mais encarada como uma constelação de sintomas que interage de forma complexa com o ambiente, dificultando a criação de testes de diagnóstico. Por outro lado, existem poucos critérios desenvolvimentais exclusivos e não existem marcadores específicos para o seu diagnóstico. A PHDA parece distinguir-se de outras condições psiquiátricas e desenvolvimentais devido à intensidade, persistência e constelação de sintomas. De certa forma, a PHDA reflete um exagero do comportamento normal, seja por demasia ou insuficiência do que é esperado em certos contextos, pelo que desde muito cedo os indivíduos se debatem com a gestão dos impulsos, o controlo do movimento, a sustentação da atenção, e a auto-disciplina do comportamento.

Apesar da grande ênfase colocada nos sintomas da desatenção e da excessiva atividade como défices centrais, a literatura emergente aponta para um défice nas funções executivas, nomeadamente na auto-regulação. A dificuldade não está em prestar atenção, mas em prestar atenção eficazmente, sendo portanto um problema de desempenho e consistência, e não de capacidade. Será, assim, um problema que resulta do facto de ser capaz de aprender a partir das experiências, mas ser incapaz de agir eficazmente essa aprendizagem no desempenho.

Importa acrescentar que existem diferenças significativas entre a ausência de controlo e a desobediência, a desatenção e a distração, e ainda entre a atividade excessiva e a agitação.

Continuaremos a desenvolver o tema ao longo das próximas semanas, nomeadamente no que respeita ao funcionamento neuropsicológico e ao "comando cerebral" da atenção e da atividade.