terça-feira, abril 24, 2007

2º Workshop Algarve

Prosseguindo com o nosso ciclo de Workshops em bandas Algarvias (Portimão) , vamos realizar este sábado, dia 28/04/2007 pelas 14h um workshop sobre

"Avaliação Psicológica - Contextos e Aplicações"

dinamizado pela nossa colega Eliana Vilaça.

Mais uma vez contamos com a presença dos nossos amigos e colegas algarvios.

domingo, abril 22, 2007

Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos

2007 é o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos- Para uma Sociedade Justa.

O Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos pretende sensibilizar a população para os benefícios de uma sociedade justa e coesa. Preconiza iniciativas de sensibilização que tenham por objectivo combater atitudes e comportamentos discriminatórios, bem como informar os cidadãos sobre os seus direitos e obrigações. Inscreve-se numa abordagem transversal do combate à discriminação, que deverá permitir assegurar a aplicação correcta e uniforme do enquadramento legislativo comunitário em toda a Europa, pondo em evidência os seus princípios essenciais e angariando o apoio activo do público à legislação em matéria de não-discriminação e de igualdade.

A minha questão é a seguinte: Sem prejuízo da mais valia de uma iniciativa que assenta na procura de diminuição da injustiça social, não será este um postulado falso?

Igualdade de oportunidades significa que somos também todos iguais, e não será esta uma forma ingénua de acentuar a injustiça social?
Se somos todos diferentes, temos todos necessidades diferentes e por isso também necessitamos de oportunidades diferentes.

A única forma, para mim, de se promover uma sociedade justa e coesa será precisamente o contrário, eu sugeria: "Ano europeu da diferença, das oportunidades diferentes para pessoas diferentes e ajustadas às necessidades de cada um."

Tideland - o mundo ao contrário

Este fim-de-semana estive a ver um filme perturbador – Tideland, o mundo ao contrário. O filme tem algumas cenas repugnantes. Começa com a história de uma rapariga de 7 ou 8 anos de idade, Jeliza-rose que vive com os pais, ambos toxicodependentes. A relação que os pais mantêm com a criança retrata, na minha opinião, o drama de muitas crianças que são criadas em famílias toxicodependentes. Há, como o nome do filme indica, uma reversão de papéis, é a criança que tem de cuidar das necessidades elementares da família. É ela que diligentemente prepara as doses de heroína que o pai consome e que o assiste enquanto ele se injecta. A criança nasceu ela própria dependente da heroína, a mãe a certa altura descreve com algum desdém a forma como ela, ainda bebé, recém-nascida, teve que lidar com a síndrome de abstinência.

Os pais, profundamente centrados sobre eles próprios, são ora abandónicos e negligentes ora pseudo-protectores com manifestações de amor que ilustram na perfeição o conceito de vínculo L menos de Wilfred Bion. Jeliza-rose lê para o pai histórias infantis enquanto este está inconsciente, “pedrado”. A mãe morre na sequência de uma overdose e a reacção do pai, atesta a sua incapacidade para lidar com a realidade. Mais tarde, o pai também morre e Jeliza-rose fica ainda mais sozinha.

Sozinha, num mundo de adultos perturbados, Jeliza-rose procura conforto e coragem nas suas fantasias, povoada por 4 bonecas (apenas as cabeças que coloca nos dedos, simulando personagens com as quais interage). Jeliza-rose representa na minha opinião o drama de muitas crianças que não podem contar com os seus pais para as ajudarem e que ficam profundamente sozinhas e à mercê de si próprias e das circunstâncias. Neste filme é possível compreender a força enorme de uma criança muito pequena, que luta pela sua sanidade mental num mundo enlouquecedor.

sábado, abril 21, 2007

Os tempos que correm

Aconteceu-me hoje uma coisa curiosa e que me deu que pensar. Recebi um mail duma leitora deste blog, assinalando que eu no meu último post tinha escrito arrasador com z, e não com s. Tem toda a razão e aqui fica a correcção, acompanhada de um mea culpa. Registo também que ela teve a delicadeza de me dirigir um mail pessoal, e delicadeza é algo que vai escasseando.
E fiquei a reflectir sobre este fenómeno, o dos erros de ortografia. É claro que eu podia arranjar aqui várias explicações, provavelmente todas elas verdadeiras: confusão com arroazado (esse sim, com z), uma redução da obsessividade no meu carácter, fruto de anos de análise didáctica (o que, paradoxalmente, não deixa de ser um bom sinal – noutras áreas da minha vida, claro, não na ortografia; obrigada ao meu analista!), leituras quase sempre, de há uns anos para cá, noutras línguas (por causa do doutoramento), pressa, alguma negligência, quiçá (o que é mau).
E isto da pressa, da correria, fez-me lembrar um livro que tenho andado a ler nos intervalos das leituras académicas e que aconselho vivamente: “A corrosão do carácter”, de Richard Sennett (está traduzido em Português na Terramar). É um ensaio sobre o significado do trabalho hoje em dia, a efemeridade dos empregos, a falta de ética, a superficialidade das relações que se vão criando, a dificuldade de construção de uma identidade, a ansiedade em relação ao tempo, a confusão e a sensação de frustração decorrentes da maior parte das situações profissionais.
O autor, que é sociólogo e é professor universitário em Inglaterra, levanta uma série de questões interessantíssimas sobre as quais vale a pena pensar a sério. Tanto mais que muitas das queixas que ouvimos dos nossos pacientes (pelo menos é o que se passa comigo) estão ligadas a estas questões e só ganhamos em perceber o que é que está a acontecer nesta matéria.
É claro que em relação à escrita, a net também não tem ajudado nada. Escrevem-se mails e posts a correr, fora de horas, tem de se escrever o que se quer dizer em meia dúzia de linhas para que as outras pessoas tenham tempo de ler, os assuntos nascem e morrem em dois ou três dias (a tal efemeridade). É um bocadinho angustiante, não é? Gostava de conhecer a vossa opinião.

Seminário de Psicopatologia

Vai realizar-se no ISPA em Lisboa no dia 26 de Maio, o seminário: "SUBJECTIVIDADES DEPRESSIVAS - Perspectivas Fenomenológicas e Existenciais".

É conhecida a importância crescente da psicopatologia depressiva, quer por associar-se a experiências significativas de sofrimento, quer pelas dificuldades que pode representar para o desenvolvimento de projectos pessoais, familiares e profissionais de quem está deprimido.
Numa época em que dominam modelos biológicos da depressão e na qual há quem pretenda que os fármacos anti-depressivos seriam a única solução, é essencial conhecer abordagens compreensivas sobre o que é estar-deprimido, a partir das perspectivas fenomenológicas e existenciais.

Destinatários: Psicólogos, Médicos, Enfermeiros, Assistentes Sociais, Técnicos de Reabilitação e Inserção Social, Técnicos de Desenvolvimento Comunitário e Saúde Mental, Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais. Estudantes das respectivas licenciaturas.

PROGRAMA

9h00 - Conferência de abertura
- Onirismo depressivo como forma de ser-no-mundo, Vítor Amorim Rodrigues
- Espacialidade nas experiências depressivas, Nuno Ferrão
- Fenomenologia da culpa nas experiências depressivas, Cristóvão Nunes

Intervalo

- Presença melancólica segundo L. Binswanger, João Fonseca
- Fenomenologia da tristeza vital / dor depressiva, Joana Teixeira
- A depressão segundo Rollo May, Ana Marques


14h00
- Significado da experiência depressiva em V.Frankl, Branca Sá Pires
- Contextos sociais, solidão e subjectividade depressiva, Cláudia Rosa
- Contextos sociais e subjectividade depressiva, Ana Nogueira

Intervalo

16h00 - Conferência de encerramento
Actualidade das perspectivas fenomenológicas e existenciais das depressões, José A. Carvalho Teixeira

Inscrições: Profissionais - 40€; Estudantes - 20€

Informações: Serviços académicos do ISPA

segunda-feira, abril 16, 2007

A Infelicidade ao Alcance de Todos

Este engraçado título é do blog de uma amigo meu, o José Manuel Fonseca. Ele tem também um outro blog, o Anarca Constipado, ainda mais arrazador. Dono de um humor cáustico, o JMF é doutorado em Gestão (Inglaterra), especialista em sistemas complexos.
Quando conheci o JMF, estávamos ambos a dar aulas no Mestrado em Comportamento Organizacional do ISPA, que aliás tem um interessante currículo. Depois, tive a oportunidade e o prazer de trabalhar com o JMF em projectos ligados à inovação, à mudança e à liderança e descobri que a psicanálise e a complexidade podem fazer um belo casamento. Pensando bem, não é muito de admirar. Freud sublinhou por diversas vezes a sobredeterminação dos fenómenos psíquicos. Não há, de facto, linearidade nos nossos processos mentais.
Se puderem dêem um salto até aos blogs do Zé Manel (kropotkine.blogspot.com) e deliciem-se com aquela prosa cáustica e acutilante. Ele é um homem livre e os seus escritos reflectem isso mesmo. Não há muita gente assim.

quinta-feira, abril 12, 2007

"Síndrome de Burnout nos hospitais do Algarve"

Este é o título de uma notícia de um jornal algarvio.

O síndrome de Burnout já foi falado no nosso blog mais do que uma vez pelo Pedro e penso que o seu último post incidia sobre o Burnout no casamento.

Ora vejamos aplicado aos profissionais da saúde, continuando com a notícia do jornal.

" A apresentação dos estudos promovida pela Administração Regional de Saúde do Algarve, confirma que existe relação entre a instabilidade no local de trabalho, os estilos de vida e o tipo de serviço psicologicamente mais exigente e a síndrome de Burnout. Um dos estudos aponta que um em cada quatro profissionais apresenta altos níveis de exaustão emocional, uma das dimensões da síndrome".

Este estudo foi realizado a profissionais de saúde dos hospitais algarvios, sob as 3 dimensões (exaustão emocional, a despersonalização e o grau de realização profissional)
Os investigadores constataram que os médicos apresentavam valores mais elevados na despersonalização e na exaustão emocional do que os enfermeiros, ao passo que na realização profissional os enfermeiros apresentavam valores superiores.
Existe também uma referencia ao facto de haver uma percentagem (14,6) de profissionais espanhóis, o que pode ter tido influência nos valores, remetendo para questões individuais (suas competências, motivações e nacionalidades)

Outra das conclusões chegada por estes estudos teve que ver com o estilo de vida dos profissionais e a forma como este pode influenciar o síndrome de Burnout, alertando para o facto de os profissionais da saúde registarem um valor superior no que concerne a auto-medicação, se comparados com a população geral.

Poderão encontrar esta notícia em www.jornaldoalgarve.pt

Se pensarmos em termos da profissão de Psicólogo, suas regras, definições, política de empregabilidade, and so one, e relacionarmos com o destaque desta notícia, aflige, não aflige?

AS falas do corpo

Saíu recentemente na Karnac um livro de Brian Broom, um conhecido psicoterapeuta e médico neo-zelandês (“Meaningfull disease”). As questões que ele levanta são da maior actualidade e vieram ao encontro de muitas das minhas prreocupações com os pacientes que, como nós dizemos, somatizam. Isto é, o corpo fala pela mente, quando a mente não consegue pensar e elaborar os conflitos e angústias: falta de ar, dores de barriga, problemas de pele, asmas, enxaquecas, dores de costas, etc, etc. O Dr. Broom acha que os psicólogos e psicoterapeutas se sentem pouco à vontade quando o paciente fala destes sintomas e remetem a pessoa para um médico, sem chegar a ouvi-la e a explorar com ela o que a aflige. Não está aqui em causa, obviamente, que seja errado sugerir uma consulta médica, mas sim o receio e o embaraço que por vezes nós temos de aprofundar com o paciente as questões do corpo. Como se o corpo fosse algo distinto da mente, uma coisa muito física e com a qual nós temos pouco a ver. Serão heranças do platonismo e do dualismo mente/corpo? Será uma defesa nossa contra as questões corporais, consideradas porventura como demasiado “físicas”? São questões que o Dr. Broom levanta e que me parecem muito importantes, especialmente quando cada vez noto mais um aumento de problemas relacionados com a somatização.

segunda-feira, abril 09, 2007

Os medos das Crianças

Este fim-de-semana estive a ler um livro que me pareceu interessante e por isso recomendo-o a todas as pessoas que sentem curiosidade e interesse em saber mais sobre os medos e as fobias na infância e na adolescência.

O livro (Os medos das crianças - medos, angústias, fobias na criança e no adolescente) foi escrito por Béatrice Copper-Royer, psicanalista francesa com um amplo trabalho clínico em psicoterapia psicodinâmica. O livro é de leitura bastante fácil, se bem que nem sempre seja muito esclarecedor (do meu ponto de vista, claro). Apresenta uma compreensão dos medos e das fobias enquadrado numa visão psicanalítica dando um destaque particular às questões relacionadas com o complexo de Édipo, mas autora é suficientemente aberta para, no último capitulo, fazer referência às terapias cognitivo-comportamentais e defender a utilização de ambos os tipos de abordagens em certas situações, como abordagens complementar.

A progressão do livro torna um pouco mais clara a fronteira sempre difusa, nestas situações, entre o normal e o patológico. Destaca a enorme importância de os pais aprenderem a lidar com os seus próprios medos como forma preferencial de prevenir o desenvolvimento de medos, terrores e fobias nas crianças.

domingo, abril 01, 2007

Frida Kahlo


Vi este fim de semana um filme que recomendo.

"Frida" retrata a vida e obra da pintora. Penso que é um bom retrato de como pode ser a arte um veículo de intensas angustias, de uma dor física e de um sofrimento psíquico que parecem não poder ser de outro modo elaboradas. A obra é crua, intensa e controversa, para mim, também é fascinante.

Quem foi Frida Kahlo

Vítima de um terrível acidente que a prendeu sob um colete de gesso por toda a vida, a dor de Frida foi retratada na sua pintura de forma a marcar a sua obra.

Os auto-retratos e as representações de cenas do hospital ou de procedimentos médicos foram retratados de forma a fazer o observador partilhar da sua dor. Retratou a lápis a cena do acidente, sem respeito por regras ou perspectivas.


Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de Julho de 1907, em Coyoacan, no México, para uma vida cheia de percalços. Frida era uma revolucionária. Ao contrário da elite da sua época, gostava de tudo o que era verdadeiramente mexicano: jóias e roupas das índias, objectos de devoção a santos populares, mercados de rua e comidas cheias de pimenta. Fiel ao seu país, a pintora gostava de se declarar filha da Revolução Mexicana ao dizer que havia nascido em 1910.
Militante comunista e agitadora cultural, Frida usou tintas fortes para estampar nas suas telas, na maioria auto-retratos, uma vida tumultuada por dores físicas e dramas emocionais.


Aos seis anos contraiu poliomielite (paralisia infantil) e permaneceu um longo tempo de cama. Recuperou-se, mas sua perna direita ficou afectada. Teve de conviver com um pé atrofiado e uma perna mais fina que a outra.
Em 1925, aos 18, a sua vida mudou de forma trágica. Sofreu um acidente de viação. Frida receberia todo o embate do acidente e foi atravessada por um ferro que lhe atravessou o abdomen, a coluna vertebral e a pélvis. Ela sofreu múltiplas fraturas, fez várias cirurgias (35 ao todo) e ficou muito tempo presa numa cama.

Foi nessa dolorosa convalescença, que Frida começou a pintar freneticamente, quando a mãe pendurou um espelho em cima de sua cama. Frida sempre se pintou a si mesma: 'Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor'.
As suas angustias, suas vivências, seus medos e principalmente o seu amor pelo marido, o pintor mexicano Diogo Rivera, com o qual se casa em 1929.