Vítima de um terrível acidente que a prendeu sob um colete de gesso por toda a vida, a dor de Frida foi retratada na sua pintura de forma a marcar a sua obra.
Os auto-retratos e as representações de cenas do hospital ou de procedimentos médicos foram retratados de forma a fazer o observador partilhar da sua dor. Retratou a lápis a cena do acidente, sem respeito por regras ou perspectivas.
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de Julho de 1907, em Coyoacan, no México, para uma vida cheia de percalços. Frida era uma revolucionária. Ao contrário da elite da sua época, gostava de tudo o que era verdadeiramente mexicano: jóias e roupas das índias, objectos de devoção a santos populares, mercados de rua e comidas cheias de pimenta. Fiel ao seu país, a pintora gostava de se declarar filha da Revolução Mexicana ao dizer que havia nascido em 1910.
Militante comunista e agitadora cultural, Frida usou tintas fortes para estampar nas suas telas, na maioria auto-retratos, uma vida tumultuada por dores físicas e dramas emocionais.
Aos seis anos contraiu poliomielite (paralisia infantil) e permaneceu um longo tempo de cama. Recuperou-se, mas sua perna direita ficou afectada. Teve de conviver com um pé atrofiado e uma perna mais fina que a outra.
Em 1925, aos 18, a sua vida mudou de forma trágica. Sofreu um acidente de viação. Frida receberia todo o embate do acidente e foi atravessada por um ferro que lhe atravessou o abdomen, a coluna vertebral e a pélvis. Ela sofreu múltiplas fraturas, fez várias cirurgias (35 ao todo) e ficou muito tempo presa numa cama.
Foi nessa dolorosa convalescença, que Frida começou a pintar freneticamente, quando a mãe pendurou um espelho em cima de sua cama. Frida sempre se pintou a si mesma: 'Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor'.
As suas angustias, suas vivências, seus medos e principalmente o seu amor pelo marido, o pintor mexicano Diogo Rivera, com o qual se casa em 1929.
4 comentários:
Revejo na Frida a imagem de quem perante situações "definitivas" e dolorosamente "insuportáveis", consegue perceber e agir em conformidade com as multiplas formas de viver com a dor - Pintando e amando Diogo Rivera. Em Frida Kahlo é difícil distinguir aquilo que ela chamava de "realidade" e o que os outros chamavam de "surrealismo". Há na pintura de Frida uma ideia de si mesma que pretendendo ser uma "realidade" transforma-se em "representação". É a própria que pretende "chamar a atenção" a ela mesma - Frida amava tanto Diogo Rivera que raramente "sobravam", para este, os "estilhaços" do seu confronto (com ela mesmo). O espelho por cima da cama de Frida, para mim é demonstrativo da coragem de Frida e na sua capacidade em enfrentar os seus receios e medos - eles estavam ali na sua frente e... Frida pintava-os, "expondo-os"...a si mesma.
Uma mulher com uma vida riquíssima e com uma capacidade de expressar a sua dor impressionante.
Ao que parece a pintura serviu de catarse...
(E conseguiu casar e tudo, o amor é redentor!)
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