quarta-feira, agosto 30, 2006

O Mito da Hipnose!

Algumas coisas se tem escrito sobre hipnose, mas muito mais se tem falado. O que se ouve em conversas de café ou mesmo nalguns círculos de técnicos de saúde é que a hipnose é que não serve para nada ou então acaba por ser remédio para todos os males. No entanto, não é bem assim.

Aquilo que é definido por estado hipnótico não é mais que um estado modificado de consciência em que a nossa atenção está totalmente focada num só ponto sem se ter noção de tudo o resto.
Parece simples dito desta maneira. Nada tem a ver com os espectáculos em que as pessoas imitam galinhas e fazem coisas estranhas. Esse tipo de espectáculos foi proibido em alguns países da Europa e nada tem a com a hipnose terapêutica.
Outro facto a salientar é que na verdade toda a hipnose é auto hipnose, ou seja, nós não entramos num estado hipnótico senão o desejarmos. O terapeuta serve de guia para entrar nesse estado de consciência.

No fundo o que mais fascina na hipnose é o rápido acesso a memórias de factos muito antigos que de outra maneira apenas estariam acessíveis após vários anos de terapia.
Utilizando uma metáfora de Hellmut Karle hipnoterapeuta autor de alguns livros, “ A hipnose é como uma seringa que permite injectar no local os componentes para a cura.”
Assim podemos ver que a hipnose se trata de uma ferramenta e que mais uma vez o papel do terapeuta é de grande importância para a cura do paciente. Ou seja, se os materiais acedidos não forem bem trabalhados de pouco servirá ao cliente ter-se recordado de certos acontecimentos. Apenas servirá para relativizar a experiência sem que seja analisado o impacto na vida actual do cliente.

Mas esta é apenas uma das abordagens possíveis, a hipnose é utilizada por médicos no tratamento da dor crónica e em lesões de queimaduras. Nestas últimas, é induzido primeiro um estado de relaxamento e depois a concentração em sensações agradáveis de frescura em que o tecido queimado é visualizado a recuperar a antiga forma.

O assunto da hipnose não esgota nestas linhas e como tal voltarei a aborda-lo no futuro. Por agora fica a provocação… O que gostariam de recordar se fossem hipnotizados?

segunda-feira, agosto 28, 2006

Técnica Psicanalítica

Nos últimos dias tenho estado a ler “Técnica Psicanalítica – sua fundamentação prática” de Victor Raggio, psicanalista no Uruguai. É um livro muito interessante que faz a defesa da técnica e da teoria Kleiniana actual.

Na minha opinião, persistem algumas dificuldades com este tipo de abordagem, na medida em que assenta numa lógica a meu ver reducionista, enfatizando até ao limite a forma determinante da qualidade e especificidade da vida emocional dos primeiros meses de vida.

Para este autor, a parte psicótica da personalidade (termo cunhado por W. Bion) corresponde à vivencia de sentimentos muito regredidos dominantes em fases da vida muito precoces (conflitos e angustias infantis paranóides e depressivas que persistem na mente muito para além da altura em que foram gerados). E, também na sua opinião, todo e qualquer processo psicanalítico deve visar em primeiro lugar a análise e correspondente modificação desta parte psicótica da personalidade.

De acordo com esta linha de pensamento, toda a psicopatologia emerge como organização defensiva perante angústias psicóticas primitivas.

Tendo por base esta premissa, a ideia de psicose fica inevitavelmente associada à psicopatologia, enquanto que a ideia de neurose fica associada à de saúde mental. Diz o autor, e não é o único, que numa perturbação neurótica ainda é a parte psicótica da personalidade a “verdadeira responsável” pela patologia. Diz ainda que a força motriz subjacente à parte psicótica da personalidade é a inveja patologia (isto é, destrutiva) e que o grande conflito se processa em torno da angústia de separação, ou seja, entre o desejo de permanecer numa posição de simbiose com o objecto e a necessidade de autonomia e de identidade diferenciada.

Na minha opinião, há um certo esvaziamento da riqueza dos modelos psicopatológicos com a adopção deste posicionamento teórico-prático. A noção de estrutura perde sentido e o psicanalista fica muito preso à dinâmica psicótica.

Associação Psicanalítica do Uruguai

quinta-feira, agosto 24, 2006

Poesia e psicologia

Descrever um estado emocional ou a essência de uma vivência é, muitas vezes, bastante mais fácil e exacto através da poesia do que do discurso científico. É difícil descrever cientificamente a saúde mental, mas Fernando Pessoa fá-lo magnificamente neste pequeno excerto de um dos seus poemas.


“Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo... ”

Poesia de Fernando Pessoa

A possibilidade de podermos aprender com as diferentes experiências que vamos tendo ao longo da nossa vida, boas e más, é uma das componentes principais da saúde mental. Ser capaz de construir uma identidade própria, segura e diferenciada é uma das aquisições mais importantes do processo psicoterapêutico. Uma outra é aumentar significativamente a nossa capacidade para tolerarmos a frustração e o sofrimento inerente à própria vida. Não significa ficarmos tolerantes com o sofrimento, mas sermos capazes de lidar com ele transformando-o em algo que aumenta a nossa resistência e a nossa capacidade para sermos felizes, como diz Fernando Pessoa.

Este excerto foi-me encaminhado por e-mail por uma ex-aluna, à qual agradeço a lembrança. Obrigado Marta.

Explore estes links sobre a poesia de Fernando Pessoa:

Vidas Lusofonas
Jornal de Poesia
Poemas de Pessoa
As tormentas
Instituto Camões

sábado, agosto 19, 2006

Relacionamentos amorosos

A psicóloga americana Judith S. Wallerstein publicou em 1996 um livro sobre os factores que levam um casal a sentir-se feliz no casamento, “The Good Marriage: How and Why Love Lasts”. Wallerstein estudou 50 casais que diziam ser felizes ao fim de sete anos de casamento e com base nessa investigação concluiu que existem alguns factores que favorecem a preservação de uma relação conjugal com qualidade e satisfação. Apesar de o livro já ter sido publicado há algum tempo, as sugestões parecem-me ainda muito pertinentes e encontram-se em destaque no site da APA.

Uma das coisas que ela identifica como sendo bastante importante é que cada um dos parceiros seja capaz de se separar emocionalmente da família em que cresceu. Isto não significa que a pessoa deva cortar relações com os seus pais e irmãos, mas sim que é importante que cada membro do casal conquiste uma identidade própria, completamente diferenciada deles.

Um outro factor que ela considera importante é que o casal seja capaz de construir um sentimento de união baseado na intimidade, cumplicidade e na partilha de valores, mantendo sempre um espaço para a autonomia individual. Proteger a sexualidade é também muito importante. Frequentemente, devido à pressão profissional e às obrigações familiares e sociais fica pouco tempo livre e disponibilidade emocional para usufruir de uma vida sexual rica. Com o nascimento dos filhos, também acontece, muitas vezes, o casal perder a sua privacidade. Não deixe que isto aconteça. É importante continuar a funcionar como casal. Não tem que incluir sempre os seus filhos.

As situações de crise são inevitáveis, por isso, devemos preparar-nos para elas e ser capazes de as enfrentar. Como aspecto positivo, frequentemente as situações de crise permitem o reforço da coesão do laço marital. Dada a grande intimidade e confiança que se gera numa relação de casal, é importante que os parceiros possam expressar as suas diferenças, zangas e conflitos um com um outro sem um excessivo receio de contra-ataques ou retaliações.

A boa disposição geral e a capacidade de utilizar o humor são boas ferramentas para construir uma relação estável e gratificante. Ainda de acordo com Wallerstein é importante que uma dose do romantismo inicial perdure, mas também é importante que a par do romantismo exista uma capacidade de encarar de forma realista as mudanças que a relação vai inevitavelmente sofrendo ao longo do tempo.

Por último, todos nós temos necessidade de construir relações de dependência. Aceite isto e permita-se depender do seu companheiro(a) e cuide dele porque ele também depende de si.

The Good Marriage: How and Why Love Lasts de Judith S. Wallerstein e Sandra Blakeslee

quarta-feira, agosto 16, 2006

Psicologia Clínica

Definir de forma clara o âmbito e as especificidades da psicologia clínica não é fácil.

A Psicologia Clínica é uma especialidade da Psicologia Geral relativamente recente, só em 1947 é que foi constituída uma comissão da APA com o intuito de pensar a psicologia clínica como uma área autónoma. (American Psychological Association).

Sob o termo “psicologia clínica” escondem-se vários sentidos distintos. É, por um lado, uma actividade prática com um método próprio (o método clínico e o estudo de caso) e, por outro, um conjunto de conhecimentos (um corpus teórico) próprios, mas intimamente dependente de outros ramos da psicologia, como sejam a Psicologia Cognitiva, a Psicanálise, a Psicopatologia, etc.

A psicologia clínica e os outros ramos da psicologia entrecruzam-se, apesar de serem claramente distintos entre si. A psicologia clínica faz uso da psicopatologia, da psicanálise, da psicologia cognitiva, da psicologia experimental entre outras, e com o uso particular que faz desses conhecimentos, contribui para que essas diferentes modalidades cresçam enquanto corpus de conhecimento separados. Contudo, a psicologia clínica não se restringe a nenhum destes campos, ela investiga o normal e o patológico, o consciente e o inconsciente, faz uso de técnicas subjectivas e objectivas.

Psicologia Clínica define-se pela especificidade do seu domínio e método, que é clínico. Por método clínico entende-se o conjunto de técnicas utilizadas no quadro da prática dos clínicos, que visam produzir informação concreta sobre a pessoa ou situação que põe um problema e/ou revela a existência de sofrimento. O trabalho do psicólogo clínico tem como objecto o indivíduo, o seu psiquismo, pelo que o estudo de caso é um método privilegiado.

Jean-louis Pedinielli
no seu livro Introdução à psicologia Clínica define da seguinte forma o método clínico:

“O método clínico insere-se numa actividade prática que visa o reconhecimento e a nominação de certos estados, aptidões e comportamentos, com a finalidade de propor uma terapêutica (psicoterapia, por exemplo), uma medida de ordem social ou educativa, ou uma forma de conselho que permita uma modificação positiva do indivíduo. Ela procura criar uma situação, com um fraco grau de constrangimento, tendo em vista a recolha de informações que ela deseja que seja a mais ampla e o menos artificial possível, deixando ao sujeito a possibilidade de expressão. A especificidade deste método reside no facto de recusar isolar estas informações e tentar agrupá-las, inserindo-as na dinâmica individual.”

Parece-me uma definição bastante interessante.

domingo, agosto 13, 2006

Teoria da dissociação do ego

“Modelo V – Teoria da dissociação do ego

Nos últimos anos da sua obra, Freud escreveu importantes trabalhos em que concebeu que o psiquismo não funcionava unicamente pela interacção e conflitos entre sistemas, como as pulsões do id contra as proibições do superego, etc. Assim, a essa teoria “intersistemica” ele acrescentou que também há conflitos “intra-sistemicos”, isto é, dentro de uma mesma instância psíquica podem existir conflitos, como é o exemplo de, dentro do ego, um mecanismo de defesa que pode se opor ao outro, etc. Dessa forma, Freud lançou as primeiras sementes que possibilitaram aos pósteros autores desenvolverem uma concepção inovadora dos conflitos intrapsíquicos, o que pode ser exemplificado com os trabalhos de Bion – notável psicanalista britânico – que descreveu a existência concomitante em qualquer pessoa da “parte psicótica e da parte não psicótica da personalidade”, bem como da parte infantil agindo simultaneamente com a parte adulta do sujeito, etc. Creio que duas metáforas podem ilustrar melhor esse conceito de alta relevância na prática analítica contemporânea. 1. Podemos comparar o mundo do psiquismo interior com o mapa geográfico do mundo, em que as regiões são completamente distintas (zonas geladas dos pólos junto com zonas tórridas do Equador, ou temperadas de outros continentes, etc.), cada região com a sua característica especificas. Assim, quem conhece unicamente o pólo Norte, certamente terá uma ideia equivocada do que, de facto, é o globo terrestre. De forma análoga, qualquer sujeito não pode ser julgado por um único aspecto da sua personalidade; pelo contrário, na situação analítica, é indispensável que o analista propicie ao paciente a visualização de todas as suas distintas partes e de como elas interagem entre si. 2. Uma segunda metáfora consiste no modelo do “arco-irirs”, ou seja, no entendimento de que a cor branca (por exemplo, a luz do sol) quando sofre o fenómeno físico da refarão (quando a luz branca do sol atravessa uma nuvem carregada com água da chuva), ela se decompõe nas sete cores típicas do arco-íris. Do mesmo modo, cada pessoa pode ser decomposta em uma série de “partes”, com as cores características de cada uma delas. Um lema que parece apropriado para o objectivo de “cura” analítica seria: “onde estiver uma parte, o todo deve estar e, a partir do todo, reconhecer as partes”.

In Zimerman, D. (2005) Psicanálise em perguntas e respostas – verdades, mitos e tabus. pp. 130. Porto Alegre: Artmed

Concordo em absoluta com a enorme importância para a psicanalise actual dos conceitos de “partes do psiquismo” e com a necessidade de as revelar ao paciente, que passará a ter uma percepção de si próprio enriquecida e, portanto, terá a possibilidade de se aceitar em múltiplos registos e com múltiplas partes que são activadas em determinadas circunstâncias ou que co-existem em aparente paradoxo.

Contudo não me parece que estes conceitos derivem, como diz Zimerman, da dissociação do ego. Acho que o conceito de dissociação do ego foi de facto importante e abriu o caminho para que os conceitos de posição e de partes da personalidade pudessem emergir, mas eles assentam, na minha opinião, numa outra lógica que não a estrutural: assentam na noção da vida mental como um mundo de relações objectais inconscientes. São conceitos emergentes da Teoria das Relações Objectais Internas.

Explore:

Intersubjectividade: conceito e experiencia em psicanalise
Winnicott: Uma psicanálise não-edipiana
A experiência psicanalítica
Object relations theory - Wikipedia
The Object Relations
Object Relations Theory
Object Relations Theory - Key Concepts
Melanie Klein
D. W. Winnicott
Object Relations Theory
What is British Object Relations Anyway?

Imagem de:
Fernando Diniz - 33,9 x 47,5 cm - óleo sobre papel - 1968

quinta-feira, agosto 10, 2006

Teoria do Narcisismo

“Modelo IV – Teoria do narcisismo

Embora não tenham sido formulados como uma teoria, os estudos de Freud sobre o narcisismo, inicialmente metapsicológicos porque se fundamentavam em especulações imaginárias (as pulsões libidinais tomavam o próprio corpo como fonte de gratificações libidinais), com algumas modificações, foram ganhando uma comprovação em situações clínicas, abrindo as portas para a mais profunda compreensão do psiquismo primitivo e constituíram-se como sementes que continuam germinando e propiciando inúmeros vértices de abordagem por parte de autores de todas as correntes psicanalíticas. De acordo com o pensamento mais vigente entre os autores, pode-se dizer que, na actualidade, um importante paradigma da psicanálise actual pode ser formulado como “onde estiver Narciso, Édipo deve estar”.”
In Zimerman, D. (2005) Psicanálise em perguntas e respostas – verdades, mitos e tabus. pp. 130. Porto Alegre: Artmed

Zimerman, seguindo uma posição bastante pessoal, integra a teoria do narcisismo como um dos modelos fundamentais da psicanálise actual e clássica. Estou de acordo com ele na medida em que a teoria do narcisismo se constituiu como determinante para a actual compreensão do psiquismo. Contudo, é de estranhar que ele tenha considerado a teoria do narcisismo como um modelo fundamental e não tenha considerado também a teoria do Édipo.
A teoria edipiana foi, na minha opinião, ainda mais importante que a teoria do narcisismo, se bem que nos últimos anos tenha vindo “a perder importância” face a esta última.

A teoria edipiana foi durante os primeiros 50-60 anos da psicanálise a grande teoria psicanalítica. Quase toda a intervenção terapêutica girava em torno do conflito edipiano, da constelação defensiva que tinha sido erguida contra ele ou por fixação nele, nas emoções edipianas, na frustração/satisfação edipiana, etc. Nos últimos anos, principalmente após o desenvolvimento da corrente da Psicologia do Self, o Narciso destronou Édipo.

É também por tudo isto que a máxima “onde estiver Narciso, Édipo deve estar” acabou por perder alguma actualidade. O mito de Narciso é, actualmente pensado muito para além das questões iniciais (mesmo que nucleares) do narcisismo primário e secundário como Freud o postulou em 1914 no seu famoso artigo “Sobre o narcisismo: uma introdução”.

Actualmente a questão em torno do narcisismo ganhou uma importância superior, na mediada em que muitas correntes, das quais se destaca a Psicologia do Self de Heinz Khout consideram que o narcisismo é um eixo da estrutura psíquica e que haverá um narcisismo normal e/ou patológico; mas não tanto primário e secundário.


Num post de 27 de Dezembro de 2005, Filipe Teixeira Vasconcelos apresenta a lenda de Narciso e a sua relação com o pensamento psicanalítico. Vão lá ver!


Mais alguns textos interessantes sobre o narcisismo:

O mito de Narcisismo na Wikipedia

Psicologia e Narcisismo na Wikipedia

Orígenes y evolución del psiquismo según Heinz Kohut

On Narcissism - Psychological Theories and Therapy

Narcissism

Narcissistic Personality Disorder

sexta-feira, agosto 04, 2006

Teoria estrutural

“Modelo III – Teoria estrutural: id, ego e superego

Na medida em que se aprofundava na dinâmica psíquica, Freud tropeçava com o campo restrito da teoria topográfica, que ele percebeu que era por demais estática, ampliando-a com a concepção de que a mente comportava-se como uma estrutura, em que diversos elementos interagiam entre si, de uma forma bastante dinâmica. Dessa forma, ele concebeu uma estrutura tríplice, composta pelo “Id” (com as respectivas pulsões), pelo “Ego” (com o seu conjunto de funções e representações) e pelo “Superego” (com as ameaças, castigos, etc.). O paradigma técnico da psicanálise foi então formulado como: “onde houver Id (e Superego), o Ego deve estar”.”

In Zimerman, D. (2005) Psicanálise em perguntas e respostas – verdades, mitos e tabus. pp. 130. Porto Alegre: Artmed


Tanto a teoria estrutural como a teoria topográfica mantêm-se perfeitamente actuais. São poucas as teorias psicanalíticas posteriores que dispensam qualquer uma destas teorias.

Estas duas teorias cruzam-se. A teoria topográfica enriquece a teoria estrutural. O Id é uma estrutura que opera fundamentalmente ao nível inconsciente, enquanto que o Ego e o Superego operam quer a nível inconsciente quer pré-consciente ou consciente.

A teoria estrutural foi amplamente aprofundada pela escola da Psicologia do Ego. Esta corrente da Psicanálise centra-se sobretudo sobre os conflitos que se geram entre as diferentes instâncias e a terapêutica passa pelo reforço das competências do ego, para que este possa lidar com maior eficácia com as exigências pulsionais (que advêm do ID) e morais (que advêm do Superego).

Na escola de Melanie Klein (Relações de objecto intrapsíquicas) a teoria estrutural perdeu alguma da sua importância, dado que Klein postula que exige um ego desde o nascimento e que o superego se desenvolve muito precocemente de acordo com uma lógica taliónica, cruel e rígida.

A teoria estrutural sofreu várias modificações desde a sua primeira concepção. Muitos psicanalistas fizeram contributos extremamente importantes a esta teoria. Não me é possível comentar esses desenvolvimentos num pequeno post. Fica para outra altura.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Teoria topográfica

“Modelo II – Teoria topográfica: consciente, pré-consciente e inconsciente

Cedo, Freud deu-se conta de que a teoria do trauma era insuficiente para explicar tudo e que os relatos de suas pacientes histéricas nem sempre provinham de seduções reais, mas de fantasias inconscientes. Daí ele propôs a divisão da mente em três lugares (a palavra “lugar”, em grego, é topos, daí “teoria topográfica”). A esses diferentes lugares ele denominou “consciente, pré-consciente e inconsciente” (na actualidade, são descritas mais outras instâncias psíquicas), sendo que o paradigma técnico que levasse à cura passou a ser “tornar consciente o que estava inconsciente”.”

In Zimerman, D. (2005) Psicanálise em perguntas e respostas – verdades, mitos e tabus. pp. 130. Porto Alegre: Artmed

A teoria topográfica foi um dos desenvolvimentos mais importantes para a psicanálise. Continua extremamente actual e foi absorvida pela cultura geral. Faz parte do senso comum moderno.

A noção de que as fantasias inconscientes são determinantes no desenrolar da vida psíquica só se tornou efectivamente clara com os desenvolvimentos teóricos de Melanie Klein.

Na altura em que Freud concebeu a teoria topográfica, o interesse dos psicanalistas voltou-se para o inconsciente, mas este era pensado em primeiro lugar como o sítio das pulsões, mais especificamente da pulsão sexual. Freud, nessa altura, ainda não se tinha apercebido da enorme complexidade do mundo interno. A repressão da pulsão sexual era a principal, senão a única, causa dos diversos problemas psicológicos.

Mantém-se válida a máxima de “tornar consciente o que estava inconsciente” mas trata-se apenas de levar o paciente a aceitar e responsabilizar-se por aquilo que ele sente e pensa; em última instancia, por aquilo que ele é.

terça-feira, agosto 01, 2006

O que é a diferença?

Já no meu último post dediquei-me a mostrar-vos um relato de um pai acerca do que é deparar-se com um filho diferente. Hoje, e por ter encontrado uma história também ela interessante, capaz de fazer pensar o leitor, decidi partilhá-la convosco, para que mais uma vez, possamos trocar ideias:

É uma história espanhola que fala acerca de uma terra em que seus habitantes um a um, passam a desenvolver caudas. Os primeiros habitantes que passam a desenvolver tal coisa, semelhante à cauda dos macacos, fazem o que podem para escondê-la. Desajeitadamente enfiam as caudas em calças e camisas largas a fim de ocultar sua estranheza. Mas ao descobrirem que todos estão a desenvolver cauda, a história muda de forma drástica. Na verdade, a cauda revela-se de grande utilidade para carregar coisas, para dar maior mobilidade, para abrir portas quando os braços estiverem ocupados. Estilistas de moda começam a criar roupas para acomodar, na verdade, acentuar e libertar as recém-formadas caudas. Logo começam a usar adornos para chamar a atenção a esta novidade. Então, de repente, aqueles que não desenvolveram caudas são vistos como esquisitos e começam freneticamente a procurar formas de esconder tal facto comprando caudas postiças ou retirando-se completamente da sociedade de "cauda". Que vergonha, não ter cauda!