Embora não tenham sido formulados como uma teoria, os estudos de Freud sobre o narcisismo, inicialmente metapsicológicos porque se fundamentavam em especulações imaginárias (as pulsões libidinais tomavam o próprio corpo como fonte de gratificações libidinais), com algumas modificações, foram ganhando uma comprovação em situações clínicas, abrindo as portas para a mais profunda compreensão do psiquismo primitivo e constituíram-se como sementes que continuam germinando e propiciando inúmeros vértices de abordagem por parte de autores de todas as correntes psicanalíticas. De acordo com o pensamento mais vigente entre os autores, pode-se dizer que, na actualidade, um importante paradigma da psicanálise actual pode ser formulado como “onde estiver Narciso, Édipo deve estar”.”
In Zimerman, D. (2005) Psicanálise em perguntas e respostas – verdades, mitos e tabus. pp. 130. Porto Alegre: Artmed
Zimerman, seguindo uma posição bastante pessoal, integra a teoria do narcisismo como um dos modelos fundamentais da psicanálise actual e clássica. Estou de acordo com ele na medida em que a teoria do narcisismo se constituiu como determinante para a actual compreensão do psiquismo. Contudo, é de estranhar que ele tenha considerado a teoria do narcisismo como um modelo fundamental e não tenha considerado também a teoria do Édipo.
A teoria edipiana foi, na minha opinião, ainda mais importante que a teoria do narcisismo, se bem que nos últimos anos tenha vindo “a perder importância” face a esta última.
A teoria edipiana foi durante os primeiros 50-60 anos da psicanálise a grande teoria psicanalítica. Quase toda a intervenção terapêutica girava em torno do conflito edipiano, da constelação defensiva que tinha sido erguida contra ele ou por fixação nele, nas emoções edipianas, na frustração/satisfação edipiana, etc. Nos últimos anos, principalmente após o desenvolvimento da corrente da Psicologia do Self, o Narciso destronou Édipo.
É também por tudo isto que a máxima “onde estiver Narciso, Édipo deve estar” acabou por perder alguma actualidade. O mito de Narciso é, actualmente pensado muito para além das questões iniciais (mesmo que nucleares) do narcisismo primário e secundário como Freud o postulou em 1914 no seu famoso artigo “Sobre o narcisismo: uma introdução”.
Actualmente a questão em torno do narcisismo ganhou uma importância superior, na mediada em que muitas correntes, das quais se destaca a Psicologia do Self de Heinz Khout consideram que o narcisismo é um eixo da estrutura psíquica e que haverá um narcisismo normal e/ou patológico; mas não tanto primário e secundário.
Num post de 27 de Dezembro de 2005, Filipe Teixeira Vasconcelos apresenta a lenda de Narciso e a sua relação com o pensamento psicanalítico. Vão lá ver!
Mais alguns textos interessantes sobre o narcisismo:
O mito de Narcisismo na Wikipedia
Psicologia e Narcisismo na Wikipedia
Orígenes y evolución del psiquismo según Heinz Kohut
1 comentário:
Concordo com a situação de que haverá mais espaço para um narcisísmo normal/ patológico, do que propriamente para um primário e secundário.
Ao encontro de Coimbra de Matos, cito: "Só há uma doença do narcisísmo - a insuficiência narcísica. A exaltação narcísea é uma compensação/ supercompensação do sentimento de inferioridade. Só é megalómano o que padece, ainda que inconscientemente, de micromania. Assim como só se exibe o que se julga não possuir."
(Revista Portuguesa de Psicanálise, nº. 16, 1997)
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