domingo, dezembro 29, 2013

O que acontece quando nossas emoções ficam guardadas no corpo


Apresento-vos um artigo publicado no blog http://www.redeubuntu.com.br/ que chegou até mim por um ex-paciente. Obrigado Alexandre!

Este artigo é uma adaptação e tradução livre de Anne Rammi e poderão ler o post original dela em http://www.redeubuntu.com.br/blog/o-que-acontece-quando-nossas-emo%C3%A7%C3%B5es-ficam-guardadas-no-corpo

Para mim, neste artigo, há 2 ideias principais a reter. A primeira é a ideia de que mente e corpo são uma e a mesma coisa "não somos mentes presas dentro de um corpo, e sim mente e corpo atuando em perfeita harmonia". A outra é a ideia da localização das emoções em certas partes corporais pré-definidas (ou biologicamente definidas). Quando sabemos quais as queixas corporais dos nossos pacientes podemos inferir a partir deste conhecimento quais são as emoções a elas agregadas. Eu tenho, por exemplo, uma paciente muito ansiosa que se queixa da concentração da tensão na zona abdominal. Essa tensão contrai-lhe o estômago ao ponto de ter dificuldade em fazer a digestão. Neste caso e seguindo as dicas deste post ela terá emoções presas relacionadas com "coisas antigas".

Nunca é tarde demais para prestar atenção nas emoções não expressadas que arquivamos no corpo, que se manifestam através de dores, desconforto e tensões.
Quando olhamos para a linguagem que usamos para falar das nossas reações emocionais, normalmente existe uma sensação física associada a elas: um caroço na garganta, borboletas no estômago, falta de ar, o peso do mundo nos ombros. Isso não é mera coincidência. Essas reações viscerais são mensagens do nosso corpo.
Chamamos de "conexão entre mente e corpo". Essas reações são associadas com o uso da mente - através de pensamentos positivos - para ajudar a melhorar o estado geral do corpo, sua imunidade e provocar sensação de bem estar. Embora usar a mente para atingir o corpo seja extremamente útil e preciso, não podemos ignorar que nosso corpo pode também ser uma forma de acessar e tratar nossas emoções mais escondidas.
A maioria de nós pode se lembrar de um tempo quando expressar uma emoção era desencorajado pelos adultos que nos cercavam. Pais ainda dizem para as crianças que "sejam valentes", ou "engulam o choro". Ou ainda diminuem suas sensações de dor com o clássico "não foi nada". Nossos corpos simplesmente gravam aquilo que acontece com nossas emoções - mesmo que tenhamos sido convencidos intelectualmente a lidar com elas, ou a ignorá-las. O impacto físico e emocional de dores e sentimentos não expressados é algo que perdura. Fica marcado.
Abaixo há uma ilustração de padrões típicos de emoções guardadas no corpo, reconhecidas pelas entidades de trabalhos corporais. Cada pessoa desenvolve também seus padrões individuais, mas esses são alguns dos padrões mias comuns:

Nossos corpos sabem das coisas que nossas mentes gostariam de se livrar. Das coisas que estão esquecidas em algum nível de consciência, estão sempre presentes concretamente no corpo. A boa notícia é que nunca é tarde para acessar esses assuntos, e que os resultados de um olhar para o corpo, podem afetar tanto o plano físico como o mental e emocional.

Alguns passos que você pode dar para liberar emoções mal resolvidas:
1) Encontre uma atividade física diária que você goste. Perceba, não se trata de "faça exercício". Cuidar do corpo é importante, mas a intenção aqui é ser feliz, através do olhar para o corpo. Portanto tem que ser alguma atividade que amamos fazer. É interessante também que seja algo que acalme um pouco a mente. Muitas pessoas encontram na ioga, nas corridas e outras atividades do gênero esse componente meditativo. Pode ser simplesmente uma caminhada silenciosa de dez minutos, onde você pode prestar atenção na sua respiração e outras sensações corporais.

2) Receber algum trabalho corporal com frequencia. Massagens terapeuticas são uma das formas mais efetivas de se liberar emoções guardadas. Quando alguém trabalha nos nódulos do pescoço, onde guardamos estresse e raiva por tanto tempo, as emoções começam a vir à tona. É comum ver clientes chorando nas mesas dos massagistas. É importante somente lembrar que os profissionais de terapias corporais não são psicoterapeutas, portanto são tidos como agentes auxiliares para liberar as emoções e iniciar o processo de cura, individual de cada um, que pode necessitar em outro momento de ajuda de outros profissionais.

3) Fazer do toque parte integrante de nossos relacionamentos primários. Isso soa simples, óbvio até. Mas infelizmente podemos nos deixar levar pela cultura do "não-me-toque". Menos e menos das nossas interações diárias envolvem o toque. Na medida que apoiamos nossas estratégias de comunicação nas mídias sociais e demais tecnologias, nossos relacionamentos tem menos contato corpo a corpo do que precisamos. Encoste nas pessoas, nos braços ou ombros, quando fala com elas. Cumprimente os amigos com um abraço. Vá jogar basquete com os amigos, ao invés de assistir na TV. Quando começarmos a compreender que não somos mentes presas dentro de um corpo, e sim mente e corpo atuando em perfeita harmonia, podemos começar a curar velhas feridas de uma forma mais profunda e duradora.

sábado, dezembro 28, 2013

Testemunho sobre a depressão

Mais um interessante testemunho do que pode ser uma depressão. O autor desta TED Talk, Andrew Solomon, tem vários livros publicados - um deles autobiográfico.

"O oposto da depressão não é a felicidade, mas a vitalidade"

http://www.ted.com/talks/andrew_solomon_depression_the_secret_we_share.html?source=email#.Ur8Y3Yzw-cW.email

Como manter o Desejo Sexual


 
O desejo sexual é uma equação complexa. Numa relação de longa duração, é natural que o desafio seja ainda mais complexo. Mas a solução é possível. Veja como é que um casal pode começar já a resolver esta equação.
Os relacionamentos íntimos são um aspecto central da vida adulta. Sabemo-lo não só por uma questão cultural mas também com algum suporte científico: a qualidade dos relacionamentos tem implicações não só na saúde mental, mas também na saúde física e até na vida profissional de homens e mulheres.
 
Quando pensamos numa relação a longo prazo, pensamos na possibilidade de um projeto conjunto. A procura da estabilidade é uma das grandes lutas que enfrentamos quando queremos constituir família. Mas a vida de casal não vive apenas de objetivos. E a estabilidade não pode ser o seu único suporte.

Uma relação longa é uma relação em transformação. E é natural que o nível de satisfação também varie com o decorrer dos anos de convívio. A vida sexual não é imune a isto. Num mundo em constante aceleração, por vezes torna-se difícil o casal conseguir dedicar espaço e tempo da sua vida ao erotismo. Mas é importante lutar por isso. A bem do desejo e da relação.

Uma relação em transformação

A ideia de casamento sempre serviu para piadas sobre a vida sexual. Ou a falta dela. Mas as piadas servem também para denunciar um pouco os nossos receios. Afinal de contas, quem assume uma relação de longa duração até pode estar "avisado" para as dificuldades que poderão surgir. Mas há uma genuína vontade de fazer com que a relação continue, feliz – e que a vida sexual dos primeiros tempos não se transforme em frustração.

Fernando Mesquita é psicólogo clínico e sexólogo e explica-nos que "é esperado que existam variações de desejo sexual ao longo do ciclo de vida de um casal". É frequente no início da relação, os casais sentirem uma vontade enorme de fazer amor em qualquer oportunidade. No entanto, diz-nos, "com o passar dos anos verifica-se, em muitos casais, um maior desinvestimento na componente sexual. Corre-se assim o risco de o desejo sexual ficar submerso pelas questões do dia-a-dia, como as contas para pagar ou a educação dos filhos".

O psicólogo explica-nos que os problemas no desejo sexual podem ter três origens diferentes: fisiológicas, psicológicas ou diádicas (ou seja, dizem respeito aos dois elementos do casal).
  
Entre os problemas de origem fisiológica podem contar-se fatores como alterações hormonais, como é o caso da diminuição da 'famosa' hormona associada ao desejo, a testosterona (um problema que ocorre principalmente nos homens, embora as mulheres também possam estar sujeitas à sua variação no organismo), ou de estrogénio (nas mulheres); efeitos secundários de alguma medicação; o consumo de tabaco, álcool e outras substâncias mas também doenças que podem ter impacto na vida sexual do individuo, como é o caso da diabetes ou da hipertensão arterial – cuja incidência aumenta também com a idade.

Entre os fatores psicológicos encontram-se questões tão distintas como uma baixa autoestima, o cansaço, a ansiedade, o stress do dia-a-dia, a depressão e tabus ou crenças que possam condicionar a relação de um com a sua sexualidade.

Em entrevista ao MSN Saúde, Ana Carvalheira, psicóloga e antiga presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, adiantava-nos as conclusões de um estudo que envolveu 4 mil portugueses, a propósito da sua vida sexual. Quando se questionou sobre os principais condicionantes ao desejo sexual entre os homens portugueses, o stress profissional e cansaço surgiam nos dois primeiros lugares, com as questões relacionais a serem referidas em terceiro lugar.

Estas questões relacionais fazem parte daquilo a que Fernando Mesquita designa como fatores diádicos. E neste caso podem encontrar-se questões como o desgaste da relação, a ausência de partilha de afetos, dificuldades comunicacionais ou conflitos não resolvidos na relação, a monotonia, a perda da atratividade pelo/a parceiro/a, que pode decorrer de mudanças físicas, entre outros.

Como vimos, o tempo de relação e a idade são fatores que devem ser tidos em conta. Mas convém evitar assumir generalizações. Como nos explica Fernando Mesquita, mesmo após a menopausa «algumas mulheres chegam mesmo a experienciar uma melhoria na vida sexual, pois não receiam uma gravidez indesejada e, geralmente, os filhos já saíram de casa, o que lhes permite estar mais "à vontade"».

Aprender e aceitar diferenças

Fernando Mesquita esclarece que não há diferenças significativas, entre homens e mulheres, quanto ao apetite sexual no período de paixão. No entanto, nas relações a longo prazo verifica-se por vezes uma diminuição da iniciativa sexual, nas mulheres, após o aparecimento dos filhos. Atualmente, ainda são a mulheres quem apresenta uma maior incidência de queixas devido à diminuição do desejo sexual. Ainda assim, tem-se verificado um aumento no número de homens que procura ajuda por este problema.

A satisfação de um casal (uma relação feliz, se preferirem) é, sem dúvida, um conceito subjetivo. Implica a forma como os nossos desejos e necessidades são recebidos pelo outro. Mas também o que somos capazes de dar ("Dar e Receber / Devia ser a nossa forma de viver" já cantava António Variações).

O desejo sexual é uma questão complexa. Pode até ser mais flutuante nas mulheres do que nos homens, mas o desafio existe para os dois membros do casal. Erroneamente, alerta Fernando Mesquita, "muitas pessoas pensam que a diminuição de desejo sexual é sinónimo de falta de paixão ou amor".
 
A vida atual é feita de correrias. Há uma pressão constante para nos sentirmos realizados nas mais diversas esferas da nossa vida. Assente na ideia de que é assim que as coisas são, corremos à procura da realização nas mais diversas áreas: a profissional, a económica, a social, a cultural, a intelectual... e fazemos isto tudo num mundo competitivo em que o sexo muitas vezes é falado como se de uma performance atlética se tratasse. Se em tempos o sexo era sinónimo dos mais diversos tabus, hoje em dia corremos o risco daquilo que Ana Carvalheira refere como "a banalização do sexo". Este ritmo de vida pode perturbar o erotismo de uma relação. É por isso que há que saber contrariá-lo.

 
  
O que fazer?

Manter o desejo sexual dependerá muito do tipo de relação existente. Fernando Mesquita esclarece que "com as fantasias, a vida sexual ganha uma diversidade que seria impossível no dia-a-dia e permite, em muitos casos, estimular ou recuperar a intensidade do desejo. Saber lidar e aceitar, as fantasias sexuais, pode ser o melhor afrodisíaco para estimular e recuperar a intensidade do desejo numa relação".

Não existem receitas absolutas. Mas existem conselhos imprescindíveis. A comunicação deve ser prioritária. É com ela que vamos conhecendo o outro. E no que ao desejo sexual diz respeito, é importante uma espécie de back to basics: como nos diz o psicólogo, deve-se "encarar o sexo como uma forma de ter e dar prazer". E a partir daqui temos muito que podemos fazer.

O desejo e o erotismo apreciam sempre alguma novidade. Daí que seja importante variar a vida sexual. "O casal deve partilhar fantasias e conversas que estimulem o desejo sexual", aconselha o psicólogo. "É importante que se recordem que podem haver interesses sexuais diferentes e que a razão não pertence exclusivamente a um dos elementos do casal".

A este propósito, Fernando Mesquita adianta ainda que "diversos estudos têm mostrado que a capacidade orgástica das mulheres está relacionada positivamente com um relacionamento mais afetivo com o companheiro e com a prática da masturbação".

A não obrigatoriedade do coito pode também por isso ser útil em certos momentos. A sexualidade não é apenas o momento da penetração. Não é uma questão de mecânica a precisar de afinação. Numa relação longa, a sexualidade depende de toda a envolvente. E pode começar numa simples carícia pela manhã, continuar com a conversa à hora de jantar, antes de chegar aos lençóis da cama.

Fernando Mesquita sugere mesmo que os casais "estipulem que pelo menos um em cada cinco encontros sexuais não há penetração para que tenham prazer doutras formas". É uma forma de variar a vida sexual, sem ter receio de "brincar" com a própria intimidade do casal.

A prática de exercício físico também não deve ser descurada. O exercício físico, além dos efeitos físicos que facilmente sentimos, aumenta também os níveis de energia e, consequentemente, a autoestima e o desejo sexual. O mesmo se aplica a uma alimentação equilibrada, que fortaleça a líbido.

E caso o problema seja mesmo a diminuição da atracão pelo/a parceiro/a, Fernando Mesquita aconselha os membros do casal a procurar identificar o que levou a essa diminuição, para que o problema possa ser trabalhado em conjunto. O que também nos recorda do ponto fulcral que um casal tem de desenvolver, para defender a própria relação: a comunicação.

É certo que já existem fármacos que podem ajudar. Mas na química do amor há mais a ter em conta do que a simples resposta física. Daí que o psicólogo faça questão de recordar a utilidade da terapia conjugal/sexual.

E o maior erro que se pode cometer é deixar adiar o problema, esperando que o tempo o resolva. É um passo em falso porque no que ao desejo diz respeito, o tempo nem sempre é bom conselheiro. "Os casais cujos conflitos conjugais são mais recentes são aqueles que tendem a apresentar melhores resultados na terapia conjugal", recorda o psicólogo.

Acima de tudo, é importante ir quebrando os receios e pequenas vergonhas que muitas vezes nos limitam. E isto diz respeito não só ao desejo sexual, mas também à disponibilidade para procurar ajuda. Porque se é de amor que se trata, se é o que se deseja, vai valer a pena.
  

quarta-feira, dezembro 25, 2013

O ursinho empático

A empatia, como todos sabem mas não é demais repetir é aquela capacidade de nos pormos na cabeça do outro, perceber a sua perspectiva e compreender o seu estado emocional. Tudo isto sem julgamentos.
Não é fácil, por isso é uma capacidade rara mas muito útil nos relacionamentos, em todas as áreas da vida.
Este engraçado vídeo explica, de uma forma divertida, o que é a empatia e no que se distingue da simpatia.
Divirtam-se e Boas Festas para todos!
http://youtu.be/1Evwgu369Jw

sexta-feira, dezembro 20, 2013

O OFÍCIO DA CRIANÇA: BRINCAR

Num estudo feito em 2009 pela investigadora Maria José Araújo, do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Universidade do Porto, em que se procurou analisar o tempo livre das crianças, com idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos de idade, concluiu-se que as mesmas chegam a "trabalhar" cerca de oito a nove horas por dia (entre a escola e o ATL) e que muitas vezes ainda levam trabalhos para casa. Fica assim manifesto que para a criança e o adolescente o trabalho escolar representa o exacto equivalente à vida profissional do adulto. Esta organização das actividades escolares e a necessidade de tempo que as mesmas exigem levam a que as crianças nunca saiam do mesmo tipo de ambiente que é marcado por pressupostos educativos que tendem a negligenciar ou secundarizar  os aspectos vitais e lúdicos delas. Esquece-se que a criança precisa de decansar e de se dedicar ao seu ofício natural que é o brincar.

Sabemos através de numerosos estudos e da prática clínica que o brincar tem um papel absolutamente fundamental no desenvolvimento e na estruturação mental da criança. È com o brincar que a criança faz uma conexão entre o seu mundo real e o imaginário e é fundamental para que a criança aprenda a lidar com as suas frustações, com a família e os amigos.

Neste periodo de férias de Natal desejo que as crianças estejam muito ocupadas com o seu "ofício" natural.


PS: Aproveito para lembrar o post de 19 de Novembro da colega Madalena Motta Veiga sobre o Slow Parenting que é uma filosofia que, nos dias de hoje, me faz muito sentido e que penso estar também relacionado com o que escrevi acima. Às vezes menos é mais.

Nuno Mota
Psicólogo e Psicoterapeuta


quinta-feira, dezembro 19, 2013

EMDR em Grávidas parte II


A gravidez é um período privilegiado de desenvolvimento psicológico, de integração maturativa. Contudo nem todas as mulheres vivem ou sentem as suas gravidezes (sobretudo a primeira) como tal.

Os desafios psicológicos, ou etapas maturativas da gravidez compreendem a estruturação de uma identidade materna e formação de um vínculo pré-natal com o feto. Quando o trabalho psicológico da gravidez permite uma boa adaptação a estas tarefas, a gravidez é habitualmente sentida enquanto uma vivência verdadeiramente maturativa. Por sua vez, estes ganhos de maturação estão relacionados com uma relação mãe-bebé relativamente tranquila e saudável no pós-parto.



Como preditor, digamos, da possibilidade maturativa que a etapa da gravidez pode ter para uma mulher, podemos considerar o grau particular de integração de personalidade dessa mulher – por exemplo, a capacidade de uma mulher se referir a experiências de infância com os principais cuidadores de uma forma organizada e livre de contradição, conjuntamente com a capacidade de nomear livremente um espectro multidimensional de pensamentos e emoções sobre essas relações. Por outras palavras, até que ponto uma mulher se encontra resolvida, estável e satisfeita consigo mesma enquanto indivíduo, com os seus relacionamentos, com o seu passado (nomeadamente a sua infância) – conseguindo uma compreensão ampla, estável e precisa das individualidades e dos motivos das atitudes e decisões daqueles que foram os seus cuidadores durante a infância – e funciona de acordo com uma moralidade madura e consistente.

As terapias focadas e de curta duração podem aproveitar esta etapa evolutiva na vida de uma mulher e resolver questões emergentes. Com a aplicação da terapia EMDR estes bons resultados podem surgir rapidamente, uma vez que determinadas sensações e vivências psicológicas desconfortáveis podem ser trabalhadas no sentido de serem dessensibilizadas e reprocessadas \ elaboradas de maneira a não conduzirem a, por exemplo, pensamentos persistentes de dúvida que possam aumentar a ansiedade para níveis que coloquem em causa o estabelecimento do vínculo mãe \ bebé.

No outro pólo, uma vivência subjectiva habitual de ansiedade, confusão e conflito em relação a si mesma e ás suas relações irá tendencialmente ofuscar a vivência da gravidez enquanto fase de desenvolvimento e interditar a possibilidade de maturação psicológica.

O próprio ciclo menstrual indicia este grau de integração da personalidade, ou de preparação psicológica para a gravidez (possibilidade de vivenciar a gravidez enquanto fase maturativa e possibilidade efectiva de maturação). Tal deve-se á presença da progesterona durante este período, bem como durante a gravidez e lactação. Psicofisiologicamente a progesterona está associada a uma reemergência consciente de temáticas e problemáticas psicológicas relacionadas com o passado de uma mulher, nomeadamente o passado referente aos primeiros 2 ou 3 anos de vida - são reactivados traços mnésicos profundamente interiorizados durante este período da infância, no qual se desenvolvem os comportamentos maternos “protótipos” de cuidar e dar afecto ao bebé mediante identificação (introjetiva) com a própria mãe. Este passado não só tende a ser inconsciente como também é não verbal, anterior à aquisição da linguagem e da memória, mas não anterior à “memória emocional” (apenas podemos lembrá-lo emocionalmente).

O processamento destas memórias emocionais pré-verbais de forma a que contribuam para o crescimento pessoal da mulher no período de gravidez pode ser facilitado pelas terapias que privilegiam ou integram métodos, princípios ou abordagens que focam estas vivências pré-verbais, e também vivências emocionais traumáticas, muitas vezes de difícil acesso, difíceis de colocar em palavras e mesmo de trabalhar a um nível puramente verbal.

Como é reconhecido actualmente, a terapia EMDR obtém bons resultados nas perturbações de stress pós- traumático e mais recentemente estudos validam a eficácia nas perturbações de ansiedade em geral, em especial no Transtorno Obsessivo Compulsivo que até agora era patologia de progressão lenta e incerta com outras formas de terapia.

Podemos dizer em suma, que a gravidez é uma altura fértil para mudanças terapêuticas e criar novas bases para que as próximas gerações nasçam emocionalmente saudáveis.


Existem ainda alguns outros aspectos interessantes e importantes sobre gravidez, maturação, potencialidade psicoterapêutica durante este período e psicopatologia (incluindo psicopatologia da relação mãe-bebé no pós parto), mas que para já deixaremos para uma próxima oportunidade.

Escrito por:
Diogo Gonçalves, Psicólogo Clínico na Psicronos.
Pedro Santos, Psicólogo Clínico e Terapeuta EMDR na Psicronos

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Um re-post sobre meditação

A meditação é uma prática cada vez mais usada nos países ocidentais. Há muito que deixou de ser uma coisa para esotéricos ou excêntricos para entrar na vida do dia-a-dia das pessoas normais, que têm horários sobrecarregados e vidas difíceis. Existem inúmeros estudos médicos em que estão demonstrados os benefícios da meditação tanto a nível mental como físico.

Encontrei este post num blog de uma jovem que não conheço pessoalmente, mas que me chamou a atenção por estar bem feito e me parecer fazer muito sentido. Por essa razão, partilho com os leitores do Salpicos as ideias da autora sobre como começar a prática da meditação.

http://busywomanstripycat.blogspot.pt/2013/02/como-comecar-meditar.html

 

Os vampiros à nossa volta

Não apareçam só no Walking Dead, não. Leiam mais este post de Seth Godin

http://sethgodin.typepad.com/seths_blog/2013/12/the-care-and-feeding-and-shunning-of-vampires.html

 

Você tem o Gene da Traição?


A infidelidade está a tornar-se cada vez mais comum e não pense que só eles são peritos na arte de dar “facadinhas na relação”. Quanto mais parecido o perfil genético da mulher e do homem, mais aborrecido é o sexo e maior é a probabilidade de viverem um affair?

Quase toda a gente já passou por uma situação de infidelidade, no namoro ou no casamento, e mesmo que não tenha sido a protagonista da história que terminou mal, sabe, com certeza, de alguma amiga (ou amigo) que tenha um caso para contar.

A ciência garante que é uma tendência biológica, mas será que pode ser contrariada? Uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado de Nova Iorque mostrou que uma em cada quatro pessoas tem o gene DRD4, com um papel crucial no comportamento sexual humano.

Quem possui o “gene da traição”, como passou a ser denominado, apresenta uma maior facilidade para trair. Se já sentiu necessidade de seduzir alguém ou de trair o seu parceiro, isso pode estar relacionado com os genes.

Quando na mulher existe uma overdose de estradiol no sangue, a probabilidade de ter um affair é maior. Porém, para o psicólogo e sexólogo clínico Fernando Eduardo Mesquita, “a existência de um possível gene não implica, obrigatoriamente, que quem o tem seja um traidor nato. Não podemos esquecer que existem outras condicionantes para além dos fatores biológicos. Falamos, por exemplo, de fatores educacionais e socioculturais, a existência, ou não, de facilitadores da traição, e, como é óbvio, da própria relação amorosa vivenciada”, esclarece.

No caso do sexo masculino existem estudos que indicam que tem uma propensão fisiológica para ser infiel. Investigadores suecos descobriram que quanto menor o número de vasopressina que um homem tem no cérebro, mais propenso é a procurar outras mulheres.

Para além disso, se recebeu uma alta dose de testosterona quando ainda estava no útero da mãe, tem mais predisposição para ser infiel. De referir, ainda, que o homem vive muito da atração visual... Se ele pensar em fazer sexo com uma outra mulher, os seus níveis de excitação sobem ao auge.

Maneiras diferentes de sofrer

A insatisfação, quer sexual, quer com o relacionamento, pode levar um dos parceiros a procurar uma segunda pessoa. Pesquisas mostram que a infidelidade é mais comum entre casais que não moraram juntos antes de se casarem. Na realidade, a coabitação dos parceiros funciona como um teste na relação. As novas tecnologias também abriram portas para o aumento das traições.

Existem diversos sites que promovem encontros e podem representar uma escapadela para a vida rotineira que vive com o parceiro, sem que ninguém dê por nada. Para o sexólogo, “sem dúvida que a Internet é um meio facilitador para trair. Nestas situações, a traição pode começar com algo mais emocional, pois existe uma partilha de desejos íntimos e da vida privada. Pode, ou não, existir uma passagem a um ato mais físico. Para muitas mulheres, a traição emocional por parte do parceiro é vivida de forma mais penosa do que uma traição de cariz físico. Para os homens, normalmente, é o oposto, ou seja, sofrem mais quando a sua parceira o traiu fisicamente”.

Conselhos para seguir a dois

Se ainda acredita no amor e na monogamia e não pretende cair em tentação, siga os conselhos de Fernando Mesquita:

● Admirem a pessoa que está ao vosso lado. Pensem nos aspectos de personalidade de que mais gostam no parceiro. A maioria das pessoas não arriscaria, por uma aventura sexual, a perder alguém que admira;
● Comuniquem. Para o sexólogo, “a falta de comunicação é apresentada como a causa número um das traições. A existência de um afastamento progressivo (trabalho ou filhos), conflitos mal resolvidos e a monotonia são outros fatores”;
● Falem abertamente sobre o que consideram ser infidelidade emocional e/ou física;
● Troquem ideias sobre o vosso dia-a-dia, os vossos desejos e frustrações, mais do que com outra pessoa;
● Compreendam que não é por se sentirem atraídos por outras pessoas que a vossa relação não tem futuro;
● Com o passar dos anos, as relações tendem a ser cada vez menos emocionantes, mas mais amorosas.


terça-feira, dezembro 17, 2013

ENVELHECIMENTO E DEMÊNCIA

Esta semana saio do formato habitual da Infância e partilho alguns dados e reflexões desenvolvidos num trabalho que realizei há tempos, no âmbito da minha formação em Neuropsicologia: "«Este país não é para velhos»- Reflexão sobre os cuidados de saúde prestados aos idosos. Propostas para um envelhecimento saudável".

Segundo um estudo do Instituto Nacional de Estatística, em Portugal a proporção de pessoas com 65 ou mais anos duplicou entre 1960 e 2005, passando de 8 para 17% do total da população, prevendo-se que volte a duplicar e a atingir os 32% em 2050, numa tendência contrária à dos nascimentos e da população jovem. O estudo indica ainda que daqui a 40 anos o Índice de Envelhecimento ascenderá a 243 idosos por cada 100 jovens.

Os progressos conseguidos pelo desenvolvimento, em geral, e pelas ciências da saúde, em particular, contribuíram significativamente para o aumento da esperança média de vida. Este aspeto e as mudanças culturais, económicas, sociais e profissionais associadas ao casamento e à constituição de família têm contribuído para o envelhecimento da população. Este aumento da longevidade causa um grande impacto na saúde pública, obrigando a uma reflexão sobre os cuidados prestados aos idosos. O envelhecimento saudável, autónomo e independente, pelo maior tempo possível, será um desafio individual e coletivo, com grande responsabilidade social.

A realidade mostra-nos que, apesar dos enormes progressos da medicina, os últimos anos de vida são acompanhados pelo aumento de situações de doença e incapacidade, frequentemente suscetíveis de prevenção.

No processo de envelhecimento existe uma lentificação da condução nervosa, sendo a perda de memória um dos aspetos mais consistentemente associados ao envelhecimento normal. É uma das principais queixas nos idosos e pode afetar seriamente a qualidade de vida. Contudo, sendo uma perda “normal” do envelhecimento, este tipo de queixas é muitas vezes desvalorizado pelos profissionais de saúde. Havendo alguma alteração cognitiva, deve o profissional de saúde ter a sensibilidade de suspeitar de um quadro demencial, mesmo em fase inicial, para que se possa proceder a condutas mais adequadas, ao nível da avaliação e da intervenção, no sentido de preservar a capacidade funcional e a autonomia por mais tempo.

A prevalência da demência aumenta de 1% aos 65 anos para 30% aos 85. A prevalência de acidente vascular cerebral aumenta de 3% para 30%, respetivamente, sendo uma importante causa de morte e de séria deficiência na União Europeia.

Quanto mais o médico se antecipar à demência maior será a oportunidade de melhorar consideravelmente a vida do paciente e das pessoas que o cuidam. Considerar as perdas cognitivas e de autonomia como algo normal e expectável do envelhecimento, acarreta custos significativos para o indivíduo, para a família e para a sociedade.

A depressão do idoso é também uma condição a ter em conta. A perceção da perda de funcionalidade, a morte do cônjuge ou de outras pessoas próximas, o sentimento de proximidade da própria morte, a solidão, o sentimento de incompreensão por parte dos outros ou de desadequação ao meio, são aspetos que comportam uma grande carga emocional que podem conduzir a quadros depressivos que reduzem a autonomia. Estes quadros, por vezes, assumem características semelhantes às da demência, podendo levar a diagnósticos errados e intervenções médicas desadequadas.

A neuropsicologia desempenhará um papel crucial nos cuidados primários do envelhecimento, tanto ao nível do envelhecimento normal, como do patológico. A reabilitação cognitiva é uma abordagem que ajuda as pessoas com limitações cognitivas a trabalharem conjuntamente com os profissionais de saúde na identificação dos objetivos mais relevantes e na planificação das estratégias para os atingir. As investigações indicam que os participantes que iniciaram o treino mais cedo manifestaram benefícios mais consistentes e mais duradouros do que o grupo que usufruiu do programa de reabilitação mais tarde, ou seja, numa fase mais avançada das alterações cognitivas.

Alguns estudos permitiram constatar que pessoas que participam em atividades de lazer cognitivamente estimulantes (leitura, jogos de tabuleiro, tocar instrumentos) têm um menor risco de desenvolver demência. Deste modo, abordagens baseadas na cognição poderão prevenir ou atrasar a progressão do processo demencial.

O envelhecimento é uma questão de saúde pública, tendo os programas de reabilitação de pessoas idosas uma forte componente psicossocial.O reconhecimento precoce das alterações na funcionalidade do idoso poderá evitar ou retardar a sua dependência de familiares, a institucionalização em lares, ou a necessidade de acompanhantes permanentes.

Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Pós-Graduada em Neuropsicologia

Saiba mais sobre a Consulta de Neuropsicologia AQUI


segunda-feira, dezembro 16, 2013

Novo membro titular do ramo de Psicanáliseda da AP: Prof.ª Dr.ª Clara Pracana


É com enorme orgulho que a Psicronos dá a conhecer aos leitores do Salpicos que a Prof.ª Dr.ª Clara Pracana é, a partir de hoje, membro titular do ramo de psicanálise da Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica.
Muitos parabéns, Clara!

sábado, dezembro 14, 2013

EMDR com crianças - "caixa de ferramentas"

EMDR é uma poderosa ferramento no acesso ao trauma e não só, as investigações dizem-nos que,  no domínio infantil, pode ser utilizado para trabalhar questões de ansiedade, dificuldade na gestão do impulso, hiperatividade, etc... Para além de aceder ao trauma, permite-nos igualmente trabalhar as dificuldades do dia-a-dia, os eventos recentes e é isto que mais se trabalha com as crianças.
Na intervenção terapêutica com o adulto trabalhamos num setting mais rígido. No EMDR com crianças devemos possuir grande flexibilidade, pois aqui o que pretendemos é que exista um processo de desenvolvimento, tal como a fase em que a criança está, pelo que devemos ser criativos e capazes de utilizar todos os canais sensoriais da criança.
Temos que criar uma "caixa de ferramentas" e essa caixa deve conter as mais variadas formas de acesso ao imaginário, como cartoons, histórias, fábulas, contos de fadas, mímica entre outras. Por vezes as crianças utilizam as suas capacidades cognitivas como defesa e nós temos que ser capazes de introduzir as mais variadas formas de intervenção, evitando assim, que esta esconda o que está a sentir.
Devemos aumentar as suas capacidades regulatórias e de relação com os outros, mas especialmente consigo mesma.



sexta-feira, dezembro 13, 2013

Psicoterapia Psicanalítica: A cura na relação, pela relação


“O que é uma relação psicoterapêutica?”, “Como saberei se a tenho ou já a tive na minha vida?”, “Porque preciso dela?”. São estas as questões que organizam a nossa presente comunicação.

Relações há muitas. Relações mais íntimas ou mais superficiais, mais gratificantes ou mais frustrantes, mais sanígenas ou mais patogénicas, mais livres ou mais inescapáveis.

Aquela que verdadeiramente nos interessa aqui é a relação sanígena, que alberga em si verdadeiro potencial psicoterapêutico. É a relação com capacidade reparadora, desbloqueadora e promotora do desenvolvimento (inter-)pessoal e da criatividade. Relação   suficientemente boa, vivida plena e atempadamente para alguns, mas não para outros. Para alguns a realidade é a de falha desta relação, a de uma relação desajustada, insuficientemente vivida e precocemente perdida. Ou mesmo, o desconhecimento total desta relação.

Muitos de nós enquanto adolescentes e adultos continuamos (consciente ou inconscientemente) em busca desta relação, de forma mais intermitente ou mais incessante, na fantasia e na prática, de forma mais concreta ou mais abstrata. É frequente confundi-la, mistura-la com, ou procura-la em, outros tipos de relações,  as quais com alguma frequência se transformam sistematicamente em relações insatisfatórias, conflituais e inscritas num ciclo repetitivo de más relações que mais parecem ilustrar a crueldade do destino ou o tormento de um mau karma.

Compreensão e apoio emocional. Estes são dois dos mais vitais “nutrientes emocionais” que enquanto seres humanos procuramos nas nossas relações – dado que em certos casos psicopatológicos tanto a procura daquilo que o outro nos pode dar como a vivencia da dependência na relação com o outro são aspetos fortemente repudiados, de tal forma aterradores que fortíssimas resistências psicológicas (presentes por vezes durante toda uma vida) se colocam ao mero reconhecimento desta necessidade de depender do outro, de se poder ser e desejar ser cuidado.

A compreensão e apoio emocional, inscritos numa relação de verdadeira receptividade, envolvimento e preocupação empática, isenta de critica ou juízos de valor – que pouco ou nada contribuem para o desenvolvimento da personalidade – permite a experiência profundamente sanígena de nos sentirmos compreendidos no nosso sofrimento e em todos os subsequentes desenvolvimentos. Por sua vez, a experiência da compreensão em profundidade da nossa complexidade e contradição moral, comportamental e emocional permite-nos o acesso à serenidade e à maturidade psicológica, bem como à capacidade de compreensão em profundidade do outro, e logo, à capacidade de estabelecermos relações mais profundas, genuínas e plenas.

Em condições ótimas a relação aqui descrita é apanágio das interações entre uma criança e os seus cuidadores principais durante a infância. Ela ajuda a organizar toda a experiência emocional do bebé e da criança, o que irá mais tarde influenciar a atitude do adolescente ou do adulto para consigo mesmo, para com o mundo e para com as relações, bem como o seu comportamento e a sua capacidade de pensar.

O apoio nesta organização emocional é bastante importante aquando das etapas maturativas da infância e dos conflitos emocionais que lhes subjazem. Consoante a maior ou menor elaboração destes problemas maturacionais em cada um de nós enquanto adultos, o significado inconsciente das ansiedades e dos problemas emocionais que nos afligem varia bastante de pessoa para pessoa, o que significa que a experiência desses stressores é diferente de pessoa para pessoa.

É também por este motivo que muitas vezes o conselho de um amigo ou amiga, ou mesmo de um cônjuge, não surtem esse efeito psicoterapêutico pois frequentemente, ainda que bem intencionados, esses conselhos não estão verdadeiramente dirigidos nem consideram a forma peculiar da outra pessoa sentir e organizar a sua experiência emocional. Ainda que os nossos amigos sejam sagrados, por vezes é preciso ir e procurar mais além.

É ao fim ao cabo esta a relação e a transformação oferecida pela psicoterapia psicanalítica. Mais que a cura pela palavra, a psicoterapia psicanalítica é também a cura pela relação.

Diogo Gonçalves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

quinta-feira, dezembro 12, 2013

O efeito de desinibição (III) - Atendimento Online



Uma das variáveis predisponentes ao já falado efeito de desinibição aquando do acompanhamento psicológico à distância, é a variável do contexto físico.

Numa consulta convencional clássica, o cliente desloca-se do seu lar, da sua zona de conforto (onde se sente "à vontade"), para o consultório do clínico. Implica um caminho, uma distância, não só física, mas também entre um domínio considerado familiar, conhecido, para um domínio desconhecido e não familiar. Basicamente, o cliente não está em casa!

No atendimento à distância, o cliente tem a possibilidade de ser atendido a partir do seu lar. Ou seja, do lugar onde sente mais à vontade e confortável. Funciona quase como uma consulta ao domicílio uma vez que, em vez de ser o cliente a deslocar-se ao consultório, é o clínico que "entra" no espaço privado do cliente, por exemplo, quando faz com ele uma consulta em video-conferência.

Este fato contextual do setting psicoterapeutico, tem tendência para atenuar a assimetria de papeis entre o clínico e o cliente. Este último pode ser levado a sentir um maior controlo, sentindo-se mais seguro e mais "dono da situação". Como temos visto nos posts anteriores sobre o efeito de desinibição, este fenómeno contextual do espaço físico tende a influenciar o sentido de espaço psicológico pessoal, levando a que possa ser mais fácil e confortável partilhar aspetos íntimos da vida emocional do cliente.

quarta-feira, dezembro 11, 2013

A esperança e o desenvolvimento psicológico dos nossos filhos



A child’s vision transforms a series of obstacles into limitless opportunities for fun
Lopez, Rose, Robinson, Marques, & Pais-Ribeiro, 2009

Há muitos, muitos anos que a esperança está na sabedoria do povo, como nos confirma o provérbio “a esperança é a última a morrer”.
Muito recentemente a psicologia também a adoptou.
Nesta nova perspectiva podemos entendê-la como pensamento centrado nos objectivos.
Se a esperança tem sido de um modo geral relacionada com um desenvolvimento humano positivo tem sido também relacionada com o ajustamento na infância.   
Podemos entender facilmente este efeito protector se pensarmos que a esperança influencia o desenvolvimento de comportamentos e atitudes positivos que influenciam a forma como a criança lida e responde às situações.
Felizmente, a literatura deixa-nos esperança… é que a esperança pode ser conquistada e desenvolvida, nomeadamente, quando somos expostos a acontecimentos difíceis (Barros, 2003).
Mas como desenvolver esperança nas nossas crianças? Aqui ficam algumas dicas:
1. Ajude o seu filho a definir objectivos internos claros e específicos;
2. Apoie-o na definição de pequenos passos que o ajudem à concretização destes objectivos;
3. Não se esqueça que os adultos devem e podem servir de modelos para que a criança desenvolva um discurso interno que mantenha a iniciativa mesmo na presença de obstáculos ou insucessos.

Se ajudar o seu filho a desenvolver este pensamento vai ajudá-lo a ter um sentimento de controlo e de responsabilização pela sua vida, tão importante para a sua felicidade!

Por Mélanie Dinis, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta na Psicronos
Departamento da Infância- Delegação de Leiria
21 314 53 09 | 91 831 02 08
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