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domingo, dezembro 29, 2013

O que acontece quando nossas emoções ficam guardadas no corpo


Apresento-vos um artigo publicado no blog http://www.redeubuntu.com.br/ que chegou até mim por um ex-paciente. Obrigado Alexandre!

Este artigo é uma adaptação e tradução livre de Anne Rammi e poderão ler o post original dela em http://www.redeubuntu.com.br/blog/o-que-acontece-quando-nossas-emo%C3%A7%C3%B5es-ficam-guardadas-no-corpo

Para mim, neste artigo, há 2 ideias principais a reter. A primeira é a ideia de que mente e corpo são uma e a mesma coisa "não somos mentes presas dentro de um corpo, e sim mente e corpo atuando em perfeita harmonia". A outra é a ideia da localização das emoções em certas partes corporais pré-definidas (ou biologicamente definidas). Quando sabemos quais as queixas corporais dos nossos pacientes podemos inferir a partir deste conhecimento quais são as emoções a elas agregadas. Eu tenho, por exemplo, uma paciente muito ansiosa que se queixa da concentração da tensão na zona abdominal. Essa tensão contrai-lhe o estômago ao ponto de ter dificuldade em fazer a digestão. Neste caso e seguindo as dicas deste post ela terá emoções presas relacionadas com "coisas antigas".

Nunca é tarde demais para prestar atenção nas emoções não expressadas que arquivamos no corpo, que se manifestam através de dores, desconforto e tensões.
Quando olhamos para a linguagem que usamos para falar das nossas reações emocionais, normalmente existe uma sensação física associada a elas: um caroço na garganta, borboletas no estômago, falta de ar, o peso do mundo nos ombros. Isso não é mera coincidência. Essas reações viscerais são mensagens do nosso corpo.
Chamamos de "conexão entre mente e corpo". Essas reações são associadas com o uso da mente - através de pensamentos positivos - para ajudar a melhorar o estado geral do corpo, sua imunidade e provocar sensação de bem estar. Embora usar a mente para atingir o corpo seja extremamente útil e preciso, não podemos ignorar que nosso corpo pode também ser uma forma de acessar e tratar nossas emoções mais escondidas.
A maioria de nós pode se lembrar de um tempo quando expressar uma emoção era desencorajado pelos adultos que nos cercavam. Pais ainda dizem para as crianças que "sejam valentes", ou "engulam o choro". Ou ainda diminuem suas sensações de dor com o clássico "não foi nada". Nossos corpos simplesmente gravam aquilo que acontece com nossas emoções - mesmo que tenhamos sido convencidos intelectualmente a lidar com elas, ou a ignorá-las. O impacto físico e emocional de dores e sentimentos não expressados é algo que perdura. Fica marcado.
Abaixo há uma ilustração de padrões típicos de emoções guardadas no corpo, reconhecidas pelas entidades de trabalhos corporais. Cada pessoa desenvolve também seus padrões individuais, mas esses são alguns dos padrões mias comuns:

Nossos corpos sabem das coisas que nossas mentes gostariam de se livrar. Das coisas que estão esquecidas em algum nível de consciência, estão sempre presentes concretamente no corpo. A boa notícia é que nunca é tarde para acessar esses assuntos, e que os resultados de um olhar para o corpo, podem afetar tanto o plano físico como o mental e emocional.

Alguns passos que você pode dar para liberar emoções mal resolvidas:
1) Encontre uma atividade física diária que você goste. Perceba, não se trata de "faça exercício". Cuidar do corpo é importante, mas a intenção aqui é ser feliz, através do olhar para o corpo. Portanto tem que ser alguma atividade que amamos fazer. É interessante também que seja algo que acalme um pouco a mente. Muitas pessoas encontram na ioga, nas corridas e outras atividades do gênero esse componente meditativo. Pode ser simplesmente uma caminhada silenciosa de dez minutos, onde você pode prestar atenção na sua respiração e outras sensações corporais.

2) Receber algum trabalho corporal com frequencia. Massagens terapeuticas são uma das formas mais efetivas de se liberar emoções guardadas. Quando alguém trabalha nos nódulos do pescoço, onde guardamos estresse e raiva por tanto tempo, as emoções começam a vir à tona. É comum ver clientes chorando nas mesas dos massagistas. É importante somente lembrar que os profissionais de terapias corporais não são psicoterapeutas, portanto são tidos como agentes auxiliares para liberar as emoções e iniciar o processo de cura, individual de cada um, que pode necessitar em outro momento de ajuda de outros profissionais.

3) Fazer do toque parte integrante de nossos relacionamentos primários. Isso soa simples, óbvio até. Mas infelizmente podemos nos deixar levar pela cultura do "não-me-toque". Menos e menos das nossas interações diárias envolvem o toque. Na medida que apoiamos nossas estratégias de comunicação nas mídias sociais e demais tecnologias, nossos relacionamentos tem menos contato corpo a corpo do que precisamos. Encoste nas pessoas, nos braços ou ombros, quando fala com elas. Cumprimente os amigos com um abraço. Vá jogar basquete com os amigos, ao invés de assistir na TV. Quando começarmos a compreender que não somos mentes presas dentro de um corpo, e sim mente e corpo atuando em perfeita harmonia, podemos começar a curar velhas feridas de uma forma mais profunda e duradora.

quinta-feira, maio 17, 2012

EMOCIONALMENTE MUDOS, ou o mundo da alexitimia




"I mean, being a robot's great, but we don't have emotions, and sometimes that makes me very sad." 


Bender, Futurama

O homem de lata do "Feiticeiro de OZ"
Etimologicamente alexitimia quer dizer : sem palavras para as emoções (do grego : a, ausência, lexis, palavra e timia, emoção ).  

As pessoas que têm uma especial dificuldade em identificar e descrever estados emocionais à medida que estes acontecem, e em distinguir os sentimentos das sensações físicas que os acompanham, são apelidadas clinicamente de alexitímicas. 
Na verdade, o conceito de alextimia, foi inicialmente proposto por Sifneos (1972) que trabalhava com doentes psicossomáticos, sofreu revisões posteriores, e define-se actualmente através das seguintes dimensões:
>dificuldade a identificar sentimentos e em distinguir entre sentimentos e sensações físicas de estimulação emocional,
>dificuldade em descrever sentimentos aos outros,
>imaginação diminuída, e
>estilo de pensamento ligado ao mundo exterior.
(Taylor, Bagby e Parker, 1997)
Mr Spock, personagem do "Star Treck"
Os “alexitímicos podem ter, com posterior reflexão, uma sensação vaga de que estavam sob o domínio de uma forte emoção” (por ex.,  uma tristeza chorosa, ou uma ira raivosa) “mas ficam, em geral,  perdidos quando tentam perceber o que levou essas emoções a manifestarem-se”. Por outras palavras, “não conseguem imaginar o que estimulou o seu  humor, a sua disposição. Quando muito podem ter uma sensação desconfortável de algo que mudou no seu corpo” (por ex., o aumento da frequência cardíaca, o corar ou a sensação de borboletas no estômago), e quando pressionados a descrever os seus sentimentos, “os alexitímicos não têm palavras para oferecer, e podem atrapalhar-se, avançar com um resposta forjada ou simplesmente mudar de assunto.”
É frequente o indivíduo “interpretar erradamente a expressão física da emoção como uma expressão física de doença, por exemplo, as lágrimas no rosto tornam-se, não tristeza, mas um defeito no canal lacrimal; o coração acelerado de paixão, uma válvula defeituosa; ou um aperto de ansiedade no estômago, uma apendicite.”
Para estas pessoas  os “estados emocionais podem ser atribuídos a influências adversas de ambiente, como uma mudança no barómetro, tóxicos no ar, ou um colchão desconfortável. É como se houvesse um elo perdido que permitiria que à imaginação formar uma imagem da situação emocional para a mente trabalhar”. 
Stoic Woobie
É importante uma mais clara compreensão desta perturbação, até porque suscita um déficit  comunicacional, de percepção de si e dos outros, com tremendo impacto em toda a esfera relacional (parentalidade, relações conjugais, relações profissionais, etc), e entender que nestas pessoas  as manifestações emocionais surgem muitas vezes travestidas de uma forma somática, e as emoções são geralmente” indiferenciadas, vagas e inespecíficas”.  Não deve ser confundida com outras perturbações ( por ex., com a psicopatia/socopatia, a perturbação de personalidade esquizóide, o estoicismo, e repressão das emoções, a alexitimia masculina normativa, a vergonha e a apatia da fobia social), o que nem sempre é fácil. Também é aconselhável algum cuidado de diagnóstico diferencial, na medida em que subsistem conceitos próximos que se sobrepõem parcialmente a este e co-morbilidades a ter em conta (autismo e síndrome de Asperger, compulsividade obsessiva, perturbações alimentares, perturbações de stress pós traumático, perturbações de personalidade, perturbações depressivas e de ansiedade, perturbações psicossomáticas e abuso de substâncias, doenças e lesões físicas)
Entender as causas (biogénicas ou psicogénicas) desta perturbação tão investigada e tantas vezes associada às perturbações psicossomáticas e doenças físicas em geral, é importante para escolher  a psicoterapia mais adaptada a estas pessoas devendo em geral ser orientada para a melhoria do seu bem estar social e psicológico.
Referência:
Thompson, J. (2009). Emotionally Dumb. An overview of Alexthimia. Australia: Soul Books (eBook).