segunda-feira, abril 28, 2014

Quando levar o seu filho ao psicólogo?







Se para os adultos é muitas vezes difícil perceber que chegou a hora de pedir ajuda, no caso das crianças e dos adolescentes mais difícil se torna. Deixo aqui alguns aspetos que podem indiciar que a criança ou o adolescente está com dificuldades ou em sofrimento e que necessita da intervenção de um psicólogo infantil:





  • ·         Raiva ou Agressividade excessivas;
    ·         Ansiedade ou Medo excessivos;
    ·         Episódios frequentes de tristeza evidente e choro fácil;
    ·         Isolamento e dificuldades relacionais;
    ·         Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas e entusiasmantes;
    ·         Queixas somáticas (dor de cabeça, dor de barriga, vómitos, indisposição), sem causa médica;
    ·         Quebra de rendimento escolar;
    ·         Dificuldades escolares;
    ·         Dificuldade em estar atento;
    ·         Agitação ou apatia;
    ·         Alterações repentinas no sono: Insónia ou, pelo contrário, sono excessivo, pesadelos;
    ·         Alterações do comportamento alimentar: aumento ou perda de apetite, recusa em comer;
    ·         Oscilações bruscas do humor;
    ·         Atraso na linguagem;
    ·         Problemas de comportamento;
    ·         Vítimas ou Agressores de bullying;
    ·         Birras excessivas e difíceis de gerir;
    ·         Dificuldade no controlo de esfíncteres;
    ·         Sinais de consumo de substâncias (álcool, drogas);
    ·         Situações de divórcio, adoção e luto;
    ·         Situações de doença crónica;
    ·         Abuso sexual, físico ou emocional ou outros eventos traumáticos;

Se em alguns casos a criança pode revelar sinais desde muito cedo, na maioria das situações existe uma alteração evidente relativamente ao funcionamento anterior.



Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Responsável pelo Departamento de Infância

domingo, abril 27, 2014

Atividade cerebral em pacientes vegatativos

Num estudo realizado por um investigador - Dr. Steven Laureys, na universidade de Liège percebeu-se que dos pacientes considerados em estado vegetativo têm um minimo de atividade cerebral que pode indicar terem capacidade de sentir emoções e dor.

Veja o artigo completo aqui: http://www.macleans.ca/society/health/one-third-of-vegetative-patients-may-be-conscious-new-study/


quinta-feira, abril 24, 2014

O Urso e a Panela

PARA PENSAR...

Um urso faminto perambulava pela floresta à procura de comida. A época era de escassez, porém, o seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida de um acampamento de caçadores.

Ao chegar lá, o urso, reparou que o acampamento estava vazio, foi até a fogueira, ainda em brasas, e dela tirou um caldeirão de comida. Ao tirar a panela, o urso abraçou-a com toda a sua força e enfiou a cabeça dentro dela, começando a devorar tudo.

Enquanto abraçava a panela, percebeu que algo o magoava.

Era o calor do caldeirão… que lhe queimava as patas, o peito, e todos os lugares em que o encostava.

O urso nunca tinha experimentado aquela sensação e, interpretou as queimaduras, como algo que queria tirar-lhe a comida. Começou a rugir muito alto. 

Quanto mais a panela o queimava, mais ele a apertava contra o seu corpo e mais alto rugia.

Ao chegarem ao acampamento os encontraram o urso caído próximo da fogueira, agarrado à panela de comida. O urso tinha tantas queimaduras que a panela ficou presa no seu corpo e, mesmo morto, mantinha a expressão de estar a rugir.


Conclusão:
É impressionante como algumas pessoas não têm consciência do sentimento de apego. Apegam-se a ideias, emoções, crenças, hábitos, objetos, pessoas, situações, mágoas, frustrações, doenças. O medo do desconhecido é tanto que ficam presas ao que lhes parece familiar e seguro. Referem-se a tudo com um sonoro pronome possessivo: o meu marido, a minha roupa, o meu emprego, a minha forma de pensar, o meu trauma, o meu fracasso, a minha depressão... etc. 
Na vida, por vezes, abraçamos certas coisas que julgamos ser muito importantes. Algumas delas fazem-nos gemer de dor, queimam-nos por fora e por dentro, e mesmo assim, continuamos agarrados a elas!
Temos medo de abandoná-las e esse medo provoca-nos ainda mais sofrimento e desespero.
Apertamos essas coisas contra os nossos corações e terminamos destruídos por algo que, muitas vezes, protegemos, acreditamos e defendemos.
Em alguns momentos da vida, é necessário reconhecer que nem sempre o que valorizamos tanto é realmente importante, muitas vezes agarramo-nos, com todas as forças, ao que nos causa apenas angústia e sofrimento…
Tenhamos o discernimento que o urso não teve.


TENHA CORAGEM!!! ... LIBERTE-SE DA SUA PANELA!!!



- Autor desconhecido -


terça-feira, abril 22, 2014

Vergonha, Medo da Crítica e Julgar os Demais


Ao passo que o sentimento de culpa implica um sentimento de transgressão (física, emocional, moral,

A vulnerabilidade acentuada à vergonha e o medo persistente da exposição ou da denúncia pública são vivências emocionais sintomáticas. Estes sentimentos são muitas vezes indicadores de falhas ou de insuficiências, na história individual, de relações empáticas, ricas em profundidade emocional, genuínas, nas quais a própria pessoa se tenha sentido com frequência  verdadeiramente compreendida na sua natural complexidade e contradição emocional, moral e comportamental. Esta experiência relacional com uma figuras preocupadas, envolvidas e compreensivas, permite, por via da confiança e da identificação, a aquisição interna gradual da capacidade e da propensão para a autocompreensão em profundidade, bem como a capacidade de compreensão em profundidade dos outros. Em acréscimo, estas capacidades internas adquiridas por via das boas relações, são a via privilegiada para a serenidade e maturidade psicológica.

A falta da experiência de uma relação que nos devolve compreensão em profundidade relaciona-se com frequência à internalização de cuidadores severos, críticos, que humilham e/ou instigam sentimentos de medo da rejeição por parte do grupo social (amigos, vizinhos, colegas, etc.). Gradualmente isto pode conduzir a um esvaziamento interno e/ou desorganização psicológica, já que a indisponibilidade de uma relação de compreensão em profundidade no início das nossas vidas potencia a intolerância interna a todo um leque de vivências e partes da personalidade que vão então sendo expulsas da consciência por ação de mecanismos de defesa destinados a "evacuar" a angústia/ansiedade ligadas a essas vivências e partes da personalidade. Forma-se um conflito entre, por um lado, uma parte intolerante (crítica, rejeitante, não aceitante e/ou cruel) da personalidade, e, por outro lado, a experiência emocional interna e outras partes da personalidade, que, sendo então sentidas como indignas do amor ou apreço dos demais, são expulsas da consciência, dissociadas e muitas vezes projetadas sobre os demais, sobre a visão do mundo e das relações.

Estes mecanismos de defesa de "evacuação" dos conteúdos mentais tendem a criar problemas adicionais nas nossas vidas pois a sua natureza é frequentemente projetiva. As nossas partes intoleradas são expulsas para o exterior, expulsão algumas vezes acompanhada por ações e atitudes que visam reforçar a ilusão de que o interior intolerável pertence realmente ao exterior (desprezado). A projeção faz-se acompanhar comummente da necessidade adicional da certeza de que há de facto um exterior repudiável (projetado nos demais, ou no mundo), mas que não é, ou faz parte do próprio sujeito e/ou das suas associações. Não sou eu, mas sim tu, quem tem agora as partes de mim que eu não suporto nem consigo enfrentar.”

O resultado são distorções da perceção dos outros e da realidade, lado a lado com um esvaziamento progressivo do Eu, consoante a frequência e intensidade da expulsão de partes do Eu para o exterior. A atitude crítica ou julgamental, e sobretudo a atitude de desprezo denuncia todo este enredo interno. A crítica ou julgamento surge neste contexto como expressão da tentativa de lidar com um conflito interno ligado a vivências internas dificilmente toleráveis.

Num segundo ponto, não são apenas as partes não compreendidas e intoleradas da personalidade que são projetadas sobre os demais, mas também a própria instância interna crítica, severa, cruel e intolerante o pode ser. Desta forma, quando na história pessoal faltam outros significativos capazes de preocupação e sintonia-empática, envolvimento e interesse genuínos, não só surge aqui o terreno fértil para o desenvolvimento da atitude critica, despreziva e intolerante perante o outro (perante partes da própria pessoa projetadas subsequentemente sobre o outro), como se instala o pavor da critica e do julgamento dos demais – a vergonha patológica, intensa e muitas vezes negada e inconsciente. A vergonha consciente já denota um certo grau de tolerância a aspetos menos aceites (ou percebidos como menos aceitáveis) da personalidade, ou seja, denota um grau menos severo e até mesmo normativo de uma apreciação interna de nós mesmos face à diversidade da nossa experiência emocional e  das diferentes partes da nossa personalidade.

Quando nos livrarmos de emoções e partes da personalidade em conflito (com a parte severa e intolerante, tiranizante) tudo isso permanece dissociado e/ou inconsciente. Isto por sua vez faz com que parte da nossa história e quem nós somos permaneça fora da nossa consciência e compreensão. Quanto menor a compreensão em profundidade de nós mesmos e da nossa vida, menos autonomia e liberdade teremos na própria vida, relativamente às escolhas que fazemos.

A projeção de uma instância interna severa, crítica, intolerante e não compreensiva, aliada à pouca tolerância e compreensão de partes importantes da nossa experiência, personalidade e emoções, encontra-se muitas vezes ligada à atitude de mentir, por exemplo nas relações íntimas. Isto porque a outra pessoa é sentida como alguém incapaz de nos poder compreender verdadeiramente, pois sentimos que esses aspetos estão para além da possibilidade de serem aceites e compreendidos (amados).

Ainda que o outro seja sentido como alguém intolerante em relação a algo, que nós sejamos intolerantes com o outro em relação a esse algo, muitas vezes acabamos mesmos por ser indulgentes connosco mesmos na relação com esse algo que fortemente criticamos no outro e que receamos suscitar a crítica do outro. Isto apenas revela a nossa parte intolerante, que nestes momentos é colocada em "standby" face à força desse algo que na maior parte do tempo é repudiável e jamais reconhecido como tendo qualquer associação connosco e com as nossas vidas. Fica claro aqui que "algo" necessita efetivamente poder ser melhor compreendido em nós e sobre nós, para que possa passar a ser tolerado e aceite, em vez de expulso e criticado nos demais.

É uma boa forma de nos conhecermos um pouco melhor, precisamente procurando aqueles aspetos do(s) outro(s) que mais desgostamos e mais facilmente nos metem os cabelos em pé. Fica o desafio.
etc.) em relação a alguém, a vergonha representa o medo de rejeição pelo grupo social. A tolerância, compreensão e capacidade de cuidarmos das nossas partes que porventura (consciente ou inconscientemente) sentimos menos dignas de serem amadas/apreciadas pelos demais está associada à saúde mental. Este é também todo um trabalho que se agrupa no conjunto dos objetivos centrais de uma psicoterapia psicodinâmica.

quinta-feira, abril 17, 2014

O cancro

Os terapeutas que escrevem neste blog não têm por hábito falar da sua vida pessoal. No entanto, vou abrir uma excepção, porque me parece que a experiência que estou a viver poderá ser útil para outras pessoas.

(Foto de células cancerigenas)

 

Foi diagnosticado ao meu marido um cancro raro, mais comuns em homens do que mulheres, e muito agressivo. É o terceiro cancro que tem em seis anos. Dadas as circunstâncias, decidimos recorrer a um centro especializado nesse tipo de cancro, nos Estados Unidos. Mas o que aqui estamos a passar poderia passar-se em qualquer parte do mundo, não é essa a questão que importa. O que importa é a experiência que se vive e como lidar com ela.

Quem está na posição em que me encontro, de acompanhante e suporte, depara-se com uma enorme impotência. Temos de assistir, acompanhar, ajudar, lembrar os remédios, falar com os médicos, marcar consultas, tratar das questões administrativas e logísticas, verificar horários, ir comprar medicamentos e suplementos alimentares. Tudo isto, estando atentos, com boa disposição e animo para puxar pelo outro. Por outro lado, sentimos que pouco podemos fazer em relação à própria doença. Este sentimento de impotência é muito frustrante.

Estamos aqui quase há dois meses e os dias passam-se entre a radiação (diária), a quimioterapia (semanal) e inúmeras consultas e exames. Mas a quimioterapia é uma coisa muito violenta, que mexe com o corpo todo. A rádio, mais localizada, tem tido efeitos secundários mais restritos, embora muito condicionantes no que respeita à ingestão de alimentos.

Que posso eu dizer-vos do que é o dia a dia passado neste ambiente? Como as coisas aqui são organizadas e não há grande acumulação de pacientes, não encontrei aqui aquilo que muitas vezes ouvi descrito por amigos que tiveram experiências semelhantes. Mas sim, vêem-se mulheres com lenços ou chapéus, muito pálidas. Homens curvados, sem força. Não sei se por uma questão cultural, as pessoas aqui queixam-se pouco e parecem apostadas em se mostrarem bem dispostas. Isso deve ajudar, porque o ambiente não é, surpreendentemente, deprimente. Quando calhamos com outras pessoas na sala de espera, verificamos que quase toda a gente está acompanhada, seja por um cônjuge ou companheiro, um filho, uma amiga. O pessoal técnico é aliás extremamente simpático com os acompanhantes, talvez por estarem convencidos da sua importância para a recuperação do doente.

O cancro é uma doença como outra qualquer, grave, sem dúvida, e que tem de ser tratada com conhecimentos científicos avançados, método e determinação. O estigma que durante tanto tempo lhe esteve associado parece estar, felizmente, a desaparecer. Estima-se que a meio deste século a maioria das pessoas tenha pelo menos um cancro, e muitas delas, vários. Imagino que, nessa altura, os tratamentos não tenham os efeitos secundários que ainda hoje têm. No caso da quimio, sobretudo, tenho constatado que provoca grande fadiga e problemas intestinais. As náuseas, de que tanto tinha ouvido falar, previnem-se com anti-eméticos, muito eficazes. A enorme falta de apetite, mesmo aversão à comida, é mais difícil de vencer. Tudo isto é reversível com os fim dos tratamentos, pelo que me dizem.

No meu caso, o que mais me tem custado foi ver uma pessoa que é por natureza voluntariosa, independente e impaciente, ficar mais para o apático e passar a maior parte dos dias na cama, sem forças para nada. Uma pessoa que adorava comer e agora não aguenta o cheiro da comida. Mas, como digo, julgo que estes sintomas desaparecerão dentro de duas semanas.

O pouco tempo que tenho para arejar um pouco, e sempre que posso deixá-lo sozinho por umas horas, tenho aproveitado para ver a cidade e tirar fotografias. Quando chegámos havia imensa neve, agora as árvores estão a rebentar e surgem flores de todas as cores. A natureza aqui é mais contrastada e como os espaços são imensos, tem-se a impressão de uma enorme força à nossa volta. O vento, por exemplo, pode ser fortíssimo. Os nevões, idem. O sol, estranhamente, é quentíssimo, e no tempo em que havia neve (até há três semanas) faziam um contraste lindo, entre o azul e o branco. E há os braços de mar, uma coisa que não temos em Portugal. Aqui o mar penetra pela terra dentro mas muito calmo, porque há uma infinita sucessão de enseadas e baías. Não foi por acaso que este foi dos primeiros locais a ser colonizado pelos Ingleses. Sei que chegaram aqui em Outubro e aportaram com medo do frio. E com razão.

Será que ajudou a esta acompanhante estar num sítio bonito e com boas condições? É provável. E oxalá toda a gente tivesse a minha sorte. Certo é que dei comigo há dias a procurar na internet o nome de umas árvores que vi numa rua. Eu, que não percebo nada de botânica. E nesse mesmo dia, por coincidência, recebi um email em que uma pessoa que tinha conhecido aqui semanas atrás e me recomendava que estivesse atenta aos "daffodils" and "crocuses"! É verdade, as flores estão a rebentar e são lindas! Parece-me que aí em Portugal muitos de nós damos pouca atenção a estes pormenores que alegram a vida. Mesmo nas alturas mais difíceis, temos de estar de olhos bem abertos.

(Foto de crocus)

 

In the shadow of Freud's couch - No gabinete dos analistas

Veja mais fotos e o artigo completo em

http://www.fastcodesign.com/

http://markgeraldphoto.com/












quarta-feira, abril 16, 2014

Provas científicas e validade do EMDR


Muitas pessoas já ouviram falar do EMDR como método ou abordagem integrativa psicoterapêutica que promete resultados, ou pelo menos uma maior eficácia, na ultrapassagem de uma variedade de situações traumáticas. Nestas se incluem as experiências relacionadas com a guerra, as situações de abuso sexual e/ou físico ou de negligência na infância, desastres naturais, assalto ou ataque, traumas cirúrgicos e de diagnóstico de doenças crónicas, acidentes de viação e de trabalho. Dos traumas grandes aos traumas pequenos, ou vice-versa, abrangendo as situações cuja perturbadora vivência deixou na nossa mente/corpo uma espécie de caixa de ressonância (aglomerado de memórias, imagens, emoções e sensações) muito sensível a tudo aquilo que consciente ou inconscientemente toca nos seus gatilhos.

Assim, pode acontecer que uma experiência negativa intensa vivida há muitos anos, por vezes está recalcada e foi esquecida, possa continuar a produzir efeitos que abalam a qualidade de vida e o bem estar de uma pessoa, sem que esta consiga conscientemente produzir uma ligação entre a situação original e a situação desencadeante, que justifique as suas reações - por exemplo, impulsividade exagerada ou intempestividade, perda de auto-controlo, ataque de ansiedade, stress, fuga e medo irracionais. Muito se tem avançado nas últimas décadas no campo das neurociências mas ainda nos é algo difícil compreender como se estabelecem no cérebro estes processos, e como se desencadeiam reações desproporcionadas e desadaptadas  que podem, entre muitos outros efeitos,  limitar a qualidade das interacções com os outros e afectar a auto-estima.

O EMDR, enquadrado e aplicado por psicoterapeutas, não é uma moda, é um tratamento psicológico que apesar da sua recência já possui um corpo teórico e prático bastante consistente e um conjunto de evidências científicas que o validam, reflexo da investigação acumulada, que fazem com que esta abordagem psicoterapêutica seja considerada um tratamento eficaz e internacionalmente recomendado para as perturbações de stress pós-traumático(PSPT).  Um já vasto conjunto de organizações recomendam o EMDR nas suas  orientações práticas de métodos de tratamento para o PSPT, onde se incluem a Organização Mundial de Saúde (2013), a Associação Psiquiátrica Americana (em 2004 e 2010), o Departmento dos Assuntos de Veteranos e pelo Departamento de Defesa dos EUA (em 2010), a Sociedade Internacional de Estudos de Stress Traumático  (em 2009), o National Institute for Clinical Excellence do Reino Unido (em 2005) e outras organizações pelo mundo fora, incluindo a maioria das Associações de Psicólogos e de Psiquiatras.

Com um nome pouco apelativo, a meu ver, o EMDR é todavia uma terapia poderosa que produz resultados surpreendentes e que vale a pena conhecer.

Abaixo seguem os links para uma entrevista dada pela Dr. Francine Shapiro (criadora do EMDR, e fundadora do EMDR INSTITUTE) ao New York Times (2012):



e para um outro artigo (Dr. James Alexander) que documenta a perspectiva neurológica do EMDR:



Isabel Botelho
Psicóloga-Psicoterapeuta-Executive Coach

segunda-feira, abril 14, 2014

Emoções - grandes e pequenas (parte I)

  Este artigo que abaixo partilho remete, de forma clara e simples, para o complexo processo da maternidade e turbilhão de emoções. Em consultório tenho lidado de perto com estas emoções, que ora evocam o que de mais doce e terno existe numa mulher, ora remetem para o seu lado mais "malvado" e "maléfico", desabafou uma mãe.

Mas efetivamente existe uma barreira muito téneu entre o bem e o mal e rapidamente se resvala (quase sem saber porquê...) para o outro lado, e se por vezes algumas mães aprendem a lidar com as suas emoções, outras escondem e reprimem um pequeno fantasma que se torna um monstro imenso.


"Há mamãs loucas. Literalmente tan-tans da cabeça. Calha a quase todas este estado temporário de insanidade e que se lê nos olhos dos maridos, amigos e família. Quando? Logo ali, nos meses após terem dado à luz. Quando dar vida à vida é uma loucura.
Há quem tenha recebido a visita dos Reis Magos para celebrar o nascimento do seu filho. Mas a maioria das mamãs é visitada pelos parentes mais antigos e estimados: os seus fantasmas. De branquinho como manda a tradição, os fantasmas aparecem todos juntos para conhecer o novo bebé. E alucinar a mamã. Começam por apoderar-se do seu corpo que fica aterrador no pós-parto. Depois espicaçam-lhe as hormonas, deixando-a bolsar sentimentos ridículos. Como quando uma pobre mosca entra em casa, feliz da vida, à procura de alimento para as suas mosquinhas; e a mãe, louca e tísica, pum! Mosca esborrachada. Depois, chora como se tivesse assassinado um elefante voador. “Mas quem é que deixou o Dumbo entrar?!”
É um estado de nervoso miudinho intervalado com risadas histéricas. O divertido é que a recém-mamã tanto pode estar a amamentar o bebé com todo o seu amor a transbordar, na mais terna das felicidades; como horas mais tarde, no trabalho, pode estar prestes a pegar na caçadeira para disparar uns tirinhos aos colegas. Ou estar a preparar uma papinha na mais santa das paciências até não sobrar um grumo para o bebé não se engasgar e, de seguida, ir a correr riscar o carro do vizinho, estacionado em cima do passeio, porque “Não me deixou passar com o carrinho do bebé! Seu labrego!”
E só de olhar para estas tresloucadas mães mudamos de passeio, fingimos não ter ouvido a campainha, damos passagem imediata na fila do supermercado. Receamos aquela figura de carrapito descaído e roupas largas, maquilhada com olheiras até ao queixo, e que tanto pode apertar-nos as bochechas e espetar-nos um beijo como aterrar um estalo que nos faz lembrar a louca da nossa mãe, claro.
A loucura não é mais do que uma violenta emoção. E a vida, quando explode, é a maior das emoções. Por isso, é tão fácil entender a loucura maternal: porque a mamã continua a parir todos os dias após o parto. A parir a sua identidade, a parir leite, a parir uma frase a seguir à outra, a parir um sorrisinho, a parir medos e coragens, a parir uma imagem a projectar. Vira alienada. Vira desmemoriada. E uma mamã em construção, enquanto não está pronta, não é bonito de ser ver e o contacto pode até ser perigoso.
Muitas recém-mamãs saem à rua de calças de pijama, verificam a cada cinco minutos se a criança respira, guardam as chaves do carro no congelador e garantem que com um mês a criança já diz "Mamã". E não, não são vozes na sua cabeça. O mundo, e em especial os maridos, é que não as entendem. Apesar de a loucura ser uma palavra feminina.
Mas eis que tudo o que é bom dura pouco. A loucura maternal é, infelizmente, temporária. Acaba por passar pois os fantasmas têm mais visitas a fazer e talvez, lá para o Natal, possam vir de novo dizer "olá". Ou "buuu"!
Eu podia ter-me ido abaixo, cantado o baby blues, dormido uma noite no Júlio de Matos. Mas isso não aconteceu comigo, apenas me visitaram um par de fantasmas tenrinhos. Mas sei que há muitas recém-mamãs assombradas que choram ao verem-se neste imenso palco de loucos sozinhas com os seus bebés. Calma, mamãs. Não se assustem, pois a loucura é um privilégio e uma felicidade imensa. E só quem tem fantasmas é que foi gente."

 http://lifestyle.publico.pt/maeshamuitas/332649_de-mae-e-de-louca-todas-temos-um-pouco

Tânia Paias
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Departamento da Infância (Faro)


quarta-feira, abril 09, 2014

SEXUALIDADE INFANTIL (III): HIPEREXCITAÇÃO E SINAIS DE ALERTA

Como vimos nas publicações anteriores, a masturbação tem início em idade bastante precoce e faz parte da exploração e descoberta normais da infância, tendo uma componente essencialmente sensorial associada à descarga de tensões. Não tem um caráter erótico, apesar da leitura que os adultos fazem do comportamento masturbatório estar muitas vezes centrada na erotização, que conduz à repreensão e à proibição. Esta atitude tende a acentuar a curiosidade, por um lado, e a tensão, por outro, reforçando a masturbação.

Mas há sinais que efetivamente podem revelar preocupações, sobretudo quando parece haver uma hiperexcitação. Como em quase todas as questões do desenvolvimento infantil, a intensidade, a frequência e a persistência indicam se existe ou não um problema.

Quando a masturbação não é sobrevalorizada pelos adultos e é abordada de forma tranquila e direcionada para um ambiente mais privado, mas a criança mantêm uma elevada frequência de comportamentos masturbatórios, parecendo absorta e alheada de tudo o resto, pode ser sinal de uma elevada carga ansiogénica que não está a ser capaz de aliviar de outra forma. Este funcionamento pode ser frequente em contextos familiares desorganizados, com elevados níveis de tensão, que levam a criança a refugiar-se no comportamento masturbatório, como se tentasse embalar-se para se tranquilizar. Crianças com dificuldades de expressão podem igualmente recorrer a esta forma de gratificação (em vez de, por exemplo, fazerem uma birra ou chorar quando não se sentem bem). Quando os adultos percebem que a masturbação é um refúgio, devem aproximar-se calmamente da criança, pegar-lhe, abraçá-la e até embalá-la e dizer “está tudo bem, estou aqui, estás segura/o”. Estas são crianças que habitualmente necessitam de uma contenção física por parte do adulto, às vezes bastando tocar-lhe com a mão para as tranquilizar.

Outras vezes existem explicações físicas para a manipulação excessiva dos genitais, especialmente nas meninas: infeções, alergias, dermatites, hipersensibilidade cutânea. Nestes casos, mais do que masturbação para obtenção daquele misterioso prazer, a criança toca, coça, esfrega para tentar aliviar o desconforto. Estas situações requerem observação médica.

Quando a masturbação assume um caráter sexual (erotizado) mais evidente (insistindo na penetração com objetos, simulando posições sexuais, contacto físico excessivo, repetição e insistência na masturbação após a adequada intervenção do adulto, envolvimento com crianças mais novas ou mais velhas), pode ser sinal de que a criança está a ser molestada ou, pelo menos, exposta a demasiada estimulação sexual.

Na minha anterior publicação, a propósito dos traumas da infância, referi que muitas vezes os pais acham que certas vivências não têm impacto na criança porque esta “ainda não tem idade para perceber”. Quanto menor a capacidade da criança compreender o que se passa à sua volta, maior a probabilidade de existir um impacto negativo.

Demasiada estimulação sexual não significa, necessariamente, abuso sexual (apesar de algumas vezes ter um impacto psicológico semelhante). Pode ser uma cena na TV ou em revistas ou partilhar o quarto com um irmão mais velho que poderá masturbar-se na presença da criança, achando que esta está a dormir. Dormir no quarto dos pais é, também, frequentemente uma fonte desta sobre-estimulação, e não é preciso que a criança seja muito crescida. Quando questiono sobre a sexualidade dos pais com o/a filho/a no quarto, a grande maioria responde “só fazemos quando está a dormir e não fazemos barulho” e não consideram qualquer hipótese da criança se aperceber. Pois a teoria e a prática comprovam que as crianças frequentemente assistem, pelo menos, a parte das relações sexuais dos pais: sons, nudez, movimentos e posições que podem ser vividas como uma experiência altamente violenta, que a criança não tem capacidade para compreender nem integrar. Esta experiência pode não só contribuir para uma grande inquietação e angústia, como ativar a masturbação e a sexualidade de uma forma pouco saudável.


É sempre difícil definir o que é um comportamento demasiado intenso, repetitivo e persistente. Na dúvida, procure o pediatra e solicite observação psicológica.

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta