sexta-feira, novembro 30, 2012

ESQUIZOFRENIA: NOVO TESTE DIAGNÓSTICO ATRAVÉS DOS MOVIMENTOS OCULARES



Foi feita recentemente uma descoberta muito importante no campo da psicologia/psiquiatria: um procedimento simples, barato e de apenas alguns minutos permite diagnosticar a esquizofrenia com uma precisão de 98%! A utilidade que um diagnóstico tão importante como a esquizofrenia possa ser feito tão fácil e fiavelmente constitui um precioso avanço nas ciências psicológicas. Por outro lado, as ligações entre os movimentos oculares e a esquizofrenia abre um importante caminho de investigação sobre os mecanismos que poderão estar por trás desta associação, ainda que já fosse sabido existir uma correlação entre a doença e movimentos anormais dos olhos. 

O estudo foi publicado este mês de Novembro na revista Biological Psychiatry.

terça-feira, novembro 27, 2012

ABUSO INFANTIL


No passado dia 19 de Novembro assinalou-se o Dia Mundial para a Prevenção do Abuso de Crianças. A propósito desta efeméride, partilhámos na nossa página do Facebook o vídeo da campanha mundial que se encontra no final deste texto. Curiosamente, numa das páginas em que encontrei este vídeo, constava a legenda “Dia Mundial para a Prevenção do Abuso Sexual de Crianças”. Penso que muitas vezes o termo “abuso” é confundido com “abuso sexual”. O abuso pode assumir muitas outras formas que não “apenas” a do abuso sexual, apesar deste ser o que habitualmente mais relevo tem, devido ao seu caráter hediondo e de extrema gravidade. Na minha opinião, o ABUSO será qualquer MAU USO da relação com a criança, que coloque em risco a sua integridade física e psicológica.

Conforme se pode verificar na publicação da Ordem dos Enfermeiros, que também partilhámos na nossa página:


a Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo (n.º 147/99) considera que a criança ou o jovem está em risco quando, se encontra numa das seguintes situações:

  1. Está abandonada ou vive entregue a si própria;
  2. Sofre maus tratos físicos ou psíquicos ou é vítima de abusos sexuais;
  3. Não recebe os cuidados ou a afeição adequados à sua idade e situação pessoal;
  4. É obrigada a atividades ou trabalhos excessivos ou inadequados à sua idade, dignidade e situação pessoal ou prejudiciais à sua formação ou desenvolvimento;
  5. Está sujeita, de forma direta ou indireta, a comportamentos que afetem gravemente a sua segurança ou o seu equilíbrio emocional;
  6. Assume comportamentos ou se entrega a atividades ou consumos que afetam gravemente a sua saúde, segurança, formação, educação ou desenvolvimento sem que os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto, se lhes oponham de modo adequado a remover esta situação.

 Nestas linhas gerais, podemos incluir a exposição da criança a um ambiente familiar conflituoso e/ou à promiscuidade, à agressão física e psicológica, à falta de afeto, à falta de cuidados básicos… Atrevo-me a acrescentar algumas situações que configuram o mau uso da relação da criança: a falta de regras e de limites; o excesso de exigências e expetativas, sobretudo o que se observa cada vez mais atualmente e que se prende com a exigência intelectual; o horário escolar excessivo a que a maior parte das crianças está sujeita; o pouco tempo que têm para brincar e partilhar experiências com a família; o desrespeito pelas suas capacidades e limitações; a solidão; a demora na intervenção social em situações altamente gravosas de maus tratos e negligência; o bullying; o medo que os adultos têm de denunciar todas estas (e muitas outras) situações de abuso… e poderia continuar.

Desta forma, penso que este Dia Mundial para a Prevenção do Abuso de Crianças não é apenas um dia, mas sim a lembrança de uma campanha que deve ser diária.





segunda-feira, novembro 26, 2012

Chaïm Soutine 1893-1943

 
Estive em Paris na semana passada e fui ver a exposição sobre a obra de Chaïm Soutine, que nasceu no que é hoje território da Bielorussia e viveu a maior parte da sua vida em França. Durante a segunda guerra mundial, cada vez mais doente, foi fugindo às longas garras nazis, que contavam com a prestimosa colaboração das autoridades francesas.

Chaïm Soutine era, dizem um homem muito só. As suas paisagens de árvores e caminhos desgarrados e retorcidos dão-nos uma ideia de uma paisagem interior perturbadora - e belíssima.

Existem vários sites na net com reproduções da obra de Soutine.

 

domingo, novembro 25, 2012

Uma vez mais.... André Green

Decorreu ontem, dia 24 de Novembro, no Centro Cultural Casapiano o Seminário sobre o pensamento de André Green.

Queria deixar aqui uma palavra de agradecimento à colega Clara Pracana - nossa colega do Salpicos e da Psicronos - pelo seu excelente trabalho na organização do seminário (com a ajuda de outra colega - Dra Madalena Motta Veiga) e o seu empenho na divulgação do pensamento de um autor tão imerecidamente desconhecido.

A conferência do Prof. Amaral Dias e da Profª. Clara Pracana destacaram-se, na minha opinião, por apresentarem uma elevadíssima qualidade e por serem ambas de uma abrangência enorme, refletirem um pensamento psicanalítico vivo, profundo e maduro. Eu própria apresentei uma conferencia (da qual vos deixo de seguida, por curiosidade, alguns pequenos excertos) e fiquei, durante o trabalho preparatório dela, assombrada com o imenso que desconhecia de Green. Assombrada, mas desperta para ir preenchendo essa lacuna à medida que me for dedicando à leitura da sua vasta obra. Para mim - e estou convencida que para muitos como eu - André Green gerava uma resistência apriorista (leia-se preconceituosa) por ser e escrever em francês. Ah, como é cega a ignorância!

Muito obrigado, Clara!

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Partilho convosco um pouco da minha conferência:  "Green e Bion

“psychoanalysis itself is just a stripe on the coat of the tiger”
Wilfred Bion

Green tal como Amaral Dias entre nós advoga que a grande fonte de inspiração de Bion foi o trabalho de Freud, tendo tido, uma influência ainda maior do que o trabalho e a pessoa de Klein para a construção do seu vasto e complexo edifício conpetual.Profundo conhecedor da obra de Freud, Green, descobre múltiplos pontos de contacto e de continuidade entre as obras destes dois psicanalistas. Vê e mostra-nos as sementes nos textos de Freud que fecundaram na mente de Bion e que fizeram nascer teorias da mente e do funcionamento psíquico, elas mesmas, ainda assim, radicalmente inovadoras e estimulantes.

Green afirma, com frontalidade e transparência, que o trabalho de Bion foi a musa inspiradora para uma das suas obras maiores, redigida em 1993, O trabalho do Negativo. Diz ele: “O trabalho do negativo é uma expressão que tomei emprestada de Hegel, mas a forma como a utilizei na teoria psicanalítica é análoga à forma como Bion utilizou a filosofia de Kant para o desenvolvimento do seu próprio pensamento”.

Green conheceu Bion. Foram contemporâneos e até a um certo ponto amigos, se bem que, tanto quanto é do meu conhecimento, nunca muito íntimos nem sequer próximos. Tinham respeito mútuo. Havia reconhecimento mútuo da força dos seus intelectos, da seriedade e honestidade na investigação da mente e da psicanalise que cada um empreendeu. Falaram, trocaram correspondência e enviavam um ao outro os seus livros numa partilha elucidativa dessa curiosidade, interesse e respeito mútuos. Bion era consideravelmente mais velho que Green e essa diferença etária poderá ter definido uma relação menos “íntima” e mais formal. Green afirma na sua conferência The Primordial Mind and the Work of the Negative de 98 redigida para a abertura do seminário comemorativo do centenário de Bion, que Bion é provavelmente o melhor exemplo de um pensador independente na história da Psicanálise.

Concordo com ele."

sexta-feira, novembro 23, 2012

Ainda sobre PERSPETIVAS...!



Como ajudar outra pessoa a abraçar outras perspetivas? Ou, por exemplo, a enfrentar uma perspetiva incómoda mas mais realista?

Falar alto ou gritar frequentemente não ajuda, pelo contrário! Às vezes o problema nem é a perspetiva mas o poder da perspetiva, o impacto (visceral, emocional) que ela tem para que valha a pena considerá-la ou mesmo adotá-la. Ou seja, o "como" do que é dito é muitas vezes fulcral.




Neste pequeno vídeo está um bom e feliz exemplo disso mesmo!

quarta-feira, novembro 21, 2012

RELAÇÕES



O post do meu colega João sobre perspetivas fez-me recordar esta analogia da psicanalista Mariela sobre as relações amorosas:

“Uma mulher entregue a um amor como esse deve ter a mesma sensação que uma mulher que calça uns sapatos emprestados, apertados, pontiagudos e de saltos muito altos. Enquanto todos os que a rodeiam a vêem fazer malabarismos e a cambalear, ela julga-se elegantíssima e maravilhosa, incapaz de reparar que não é senão uma mulher que sofre e que se sente profundamente infeliz.”

Ora, se nos pusermos um pouco a pensar, através desta analogia podemos explicar muitas outras coisas que não só as relações amorosas. Quem no seu dia-a-dia  não se deparou com pessoas que fazem verdadeiros malabarismos para evitar deprimir, sofrer, mas todos os outros comentam "esta pessoa não anda nada bem", "algo se passa". 
Porque evita o próprio olhar verdadeiramente para o que se está a passar consigo e à sua volta?

Evita sofrer? 

Não será esta a forma de sofrer mais dilacerante e corrosiva?

A sociedade precisa de pessoas saudáveis emocionalmente( ainda para mais no atual momento em que vivemos), pessoas que sejam capazes de ver o que se passa à sua volta e agir. Pessoas que sejam capazes de ir em frente, de se redescobrirem, de se reinventarem, só assim estarão aptas a viver livremente e a evitar que interiorizem a tal profunda infelicidade.

O maior desafio não está no evitar sofrer, mas sim no ser capaz de enfrentar o sofrimento e aprender a ser feliz!

sábado, novembro 17, 2012

PERSPETIVAS...



A vida é feita de perspetivas. 

Muitas vezes só conseguimos ver uma: estamos doentes! 

A Verdade, a Rigidez e o Extremismo são inimigas da saúde mental porque adversárias da realidade, que é múltipla, rica e diversa; sobretudo, relativa e mutável. 

Às vezes ficamos presos a uma perspetiva que por mais ilusória que saibamos que ela é, não conseguimos deixar de nos iludirmos com ela... 

terça-feira, novembro 06, 2012

AUTO-MUTILAÇÃO: UMA SIMPLES CHAMADA DE ATENÇÃO?


Nos últimos tempos tenho tido conhecimento de um número crescente (e extremamente preocupante) de casos de auto-mutilação na adolescência e pré-adolescência. Raramente estas situações recebem o devido acompanhamento pois, mesmo quando os pais nos procuram numa fase inicial, quase sempre se encara a auto-mutilação como uma simples chamada de atenção. Quando uma pessoa (seja de que idade for) se magoa a si própria deliberadamente, há de facto um alerta, uma chamada de atenção se assim lhe quiserem chamar. Mas está longe de ser algo simples.

A auto-mutilação ou a dor auto-infligida é sinónimo de grande sofrimento emocional que requer intervenção urgente. A dor emocional é tão avassaladora que, não encontrando outra forma de se expressar ou exteriorizar, é expulsa através da dor física que mascara a primeira, trazendo um certo alívio. Mas este alívio é obviamente temporário, levando à busca repetitiva da dor física, que acaba por assumir características obsessivo-compulsivas. Por outro lado, o sofrimento emocional, ao tornar-se insuportável, conduz a uma espécie de anestesia afetiva e a um sentimento de morte interior que faz com que a dor física (e o sangue) seja a única forma de confirmar que se está vivo e que se sente algo.

Por isso, esta chamada de atenção é isso mesmo, uma chamada de atenção, um pedido de ajuda, um grito por socorro. Mas é também um grito silencioso, pois na maior parte das vezes este é um comportamento secreto, mantido em privado. Não é uma birra. Uma birra é a expressão de algo, é manifesta, é evidente e causa incómodo e resposta por parte de quem rodeia. Neste sentido, quando se descobre que uma criança, um adolescente ou até mesmo um adulto se mutila, há que procurar ajuda urgente. Trata-se de alguém que precisa de ser ajudado a identificar e a interpretar o que sente e a encontrar outras formas de lidar com o sofrimento e de o expressar. E este será um trabalho prolongado e profundo, pois as feridas e as cicatrizes internas demoram mais tempo a sarar do que as que se veem por fora.

E não importa se foi a primeira vez ou se a ferida é superficial. Mesmo que assim seja, se tal aconteceu, é porque por dentro o dano já é grande.

Sinais de Alerta:
  • Feridas, cicatrizes e nódoas negras frequentes e injustificadas (pulsos, braços, peito e coxas sãos os locais mais comuns, mas não exclusivos), ou explicadas por acidentes constantes por se ser desastrado
  • Feridas que demoram a cicatrizar (por haver insistência no mesmo local)
  • Objetos pontiagudos ou cortantes entre os pertences habituais (tesouras, agulhas, caricas, navalhas, cacos de vidro, lâminas)
  • Usar persistentemente roupa que cobre todo o corpo, mesmo no Verão (mangas compridas, gola alta, calças)
  • Manchas de sangue na roupa, nos lenços, nos lençóis ou nas toalhas
  • Tendência ao isolamento por períodos longos (habitualmente no quarto ou na casa de banho)
  • Irritabilidade frequente e sobretudo quando confrontado/a com as marcas (feridas, nódoas negras, cicatrizes, sangue)






sábado, novembro 03, 2012

O desejo e o medo da mudança

A mudança mete sempre medo. O homem é, até certo ponto, um animal de hábitos, mas é também um ser pensante e que tem necessidade de progredir. Aqueles que se propõem mudar vão certamente deparar-se com frustrações e dificuldades. A mudança exige confronto com os nossos medos e ansiedades, exige sair-se da zona de conforto e arriscar. Muitas pessoas queixam-se e dizem: "tenho de mudar". Mas, com mais queixa ou menos queixa, verifica-se que estão instaladas nas suas rotinas e hábitos adquiridos, como se fosse preferível um mal-estar conhecido ao risco do desconhecido.

É frequente as pessoas dizerem que querem mudar mas terem tanto medo que todos os pretextos servem para adiar e não tomar decisões.

A mudança, quando desejada, traz consigo perdas mas traz também outras coisas melhores. A mudança faz parte da trindade esperança+mudança+progresso, como se vê na imagem abaixo.

 

sexta-feira, novembro 02, 2012

Descoberto grupo de neurónios "porteiros" da memória!



Um estudo recentemente publicado na «Nature Neuroscience» descreve um grupo de neurónios  que tem como papel controlar a entrada e a saída de memórias no cérebro.

Quando estas células são desactivadas, ajudam a absorver cheiros ou imagens e a transformá-las em memória e quando são activadas, dão prioridade a sinais provenientes do próprio hipocampo em vez de estímulos sensoriais, apelando à memória e obrigando-a a lembrar.



A equipa descobriu que este grupo de neurónios tem um receptor para a nicotina, ou seja, são sensíveis à substância. A nicotina activa as células e influencia o processo cognitivo. O estudo poderá abrir caminho para novos fármacos semelhante à nicotina, sem os seus efeitos, que permita activar as OLM, de forma a tratar doenças como Alzheimer e esquizofrenia.


Os investigadores acreditam que com este estudo seja possível, num futuro próximo, activar memórias de forma artificial ou limitar a absorção de informações pelo hipocampo, mas mais importante, poderá ajudar pessoas que sofram de doenças neurodegenerativas.



(Tirado de: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=55795&op=all)

quinta-feira, novembro 01, 2012

A importância dos obstáculos

Nas últimas décadas a tónica no ensino tem sido posta na facilidade com que o aluno aprende. Estudos recentes vêm demonstrar que esse não é o melhor caminho. Pelo contrário, tudo indica que quando se colocam alguns obstáculos à aprendizagem, ela se torna mais profunda e duradoura.

Robert Bjork, da Universidade da Califórnia, usa o termo "dificuldades desejáveis" para descrever a noção contra-intuitiva de que o ensino se deve tornar mais difícil. Por exemplo, espaçar as aulas de forma a que os estudantes tenham de fazer um esforço maior para se lembrarem do que aprenderam da ultima vez, traz melhores e mais duradouros resultados.

A Professora Virginia Berninger da Universidade de Washington descobriu que a escrita à mão activava mais o cérebro do que o uso do teclado, inclusive áreas responsáveis pelo pensamento e pela memória. Não pretende obviamente defender o regresso ao uso da pena, mas demonstrar que um grau razoável de dificuldade é estimulante e produz melhores resultados a longo prazo.

Investigadores da Universidade de Amsterdão chegaram recentemente à conclusão de que, quando as pessoas são forçadas a lidar com obstáculos inesperados, reagem alargando o campo perceptivo, como se dessem um passo atrás para conseguirem ver o problema de outra forma.

O grau de iliteracia dos estudantes norte-americanos tem sido desde há anos motivo de preocupação nos Estados Unidos, sobretudo se comparado com estudantes de países emergentes, como a China e a Índia, que se encontram a estudar nas universidades americanas. As incapacidades a nível sobretudo da matemática, uma disciplina essencial a qualquer ciência, são notórias, tanto nos Estados Unidos como, mais recentemente, na Europa.

Contaram-me há tempos que se pensa acabar com o ensino do grego antigo no curso - adivinhem! - de literatura clássica. Com a intenção de facilitar, é bem possível que estejamos a falhar na educação dos nossos filhos e a não os preparar devidamente para o futuro.