domingo, novembro 25, 2012

Uma vez mais.... André Green

Decorreu ontem, dia 24 de Novembro, no Centro Cultural Casapiano o Seminário sobre o pensamento de André Green.

Queria deixar aqui uma palavra de agradecimento à colega Clara Pracana - nossa colega do Salpicos e da Psicronos - pelo seu excelente trabalho na organização do seminário (com a ajuda de outra colega - Dra Madalena Motta Veiga) e o seu empenho na divulgação do pensamento de um autor tão imerecidamente desconhecido.

A conferência do Prof. Amaral Dias e da Profª. Clara Pracana destacaram-se, na minha opinião, por apresentarem uma elevadíssima qualidade e por serem ambas de uma abrangência enorme, refletirem um pensamento psicanalítico vivo, profundo e maduro. Eu própria apresentei uma conferencia (da qual vos deixo de seguida, por curiosidade, alguns pequenos excertos) e fiquei, durante o trabalho preparatório dela, assombrada com o imenso que desconhecia de Green. Assombrada, mas desperta para ir preenchendo essa lacuna à medida que me for dedicando à leitura da sua vasta obra. Para mim - e estou convencida que para muitos como eu - André Green gerava uma resistência apriorista (leia-se preconceituosa) por ser e escrever em francês. Ah, como é cega a ignorância!

Muito obrigado, Clara!

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Partilho convosco um pouco da minha conferência:  "Green e Bion

“psychoanalysis itself is just a stripe on the coat of the tiger”
Wilfred Bion

Green tal como Amaral Dias entre nós advoga que a grande fonte de inspiração de Bion foi o trabalho de Freud, tendo tido, uma influência ainda maior do que o trabalho e a pessoa de Klein para a construção do seu vasto e complexo edifício conpetual.Profundo conhecedor da obra de Freud, Green, descobre múltiplos pontos de contacto e de continuidade entre as obras destes dois psicanalistas. Vê e mostra-nos as sementes nos textos de Freud que fecundaram na mente de Bion e que fizeram nascer teorias da mente e do funcionamento psíquico, elas mesmas, ainda assim, radicalmente inovadoras e estimulantes.

Green afirma, com frontalidade e transparência, que o trabalho de Bion foi a musa inspiradora para uma das suas obras maiores, redigida em 1993, O trabalho do Negativo. Diz ele: “O trabalho do negativo é uma expressão que tomei emprestada de Hegel, mas a forma como a utilizei na teoria psicanalítica é análoga à forma como Bion utilizou a filosofia de Kant para o desenvolvimento do seu próprio pensamento”.

Green conheceu Bion. Foram contemporâneos e até a um certo ponto amigos, se bem que, tanto quanto é do meu conhecimento, nunca muito íntimos nem sequer próximos. Tinham respeito mútuo. Havia reconhecimento mútuo da força dos seus intelectos, da seriedade e honestidade na investigação da mente e da psicanalise que cada um empreendeu. Falaram, trocaram correspondência e enviavam um ao outro os seus livros numa partilha elucidativa dessa curiosidade, interesse e respeito mútuos. Bion era consideravelmente mais velho que Green e essa diferença etária poderá ter definido uma relação menos “íntima” e mais formal. Green afirma na sua conferência The Primordial Mind and the Work of the Negative de 98 redigida para a abertura do seminário comemorativo do centenário de Bion, que Bion é provavelmente o melhor exemplo de um pensador independente na história da Psicanálise.

Concordo com ele."

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