Um dos interesses da psicologia das emoções é o estudo do ajuste emocional à doença física. Um outro é tentar compreender que tipo de estratégias emocionais para lidar com a doença é que são facilitadoras de uma qualidade de vida superior.
- Embora os avanços da medicina, tenham possibilitado a descoberta de formas de tratamento mais eficazes da doença do foro oncológico, o cancro continua a ser uma das doenças mais temidas do nosso tempo.
- O elemento fundamental de uma campanha contra todas as formas de cancro é a total e pormenorizada compreensão da doença.
- O cancro da mama é o terceiro tipo de cancro mais comum a nível mundial, após o cancro de pulmão e do estômago, e o seu impacto é especialmente notado uma vez que ocorre maioritariamente nas mulheres, ameaçando um órgão que se encontra intimamente relacionado com a auto-estima, a sexualidade, a feminilidade, os papéis sociais e a própria vida. (Fernandes & Mclntyre, pg354). É pelo enorme impacto que a doença tem que se torna pertinente o estudo do ajustamento emocional. (Baptista, Moura, Rodrigues & Rosa 2000,pg61) <
- No ajustamento emocional intervêm factores como: processos de coping, índices de esperança, receptividade social, adaptação psicológica e o estado de saúde dos pacientes.
- Os processos de coping são estratégias de conforto utilizadas pelos sujeitos para lidar face a uma nova situação, ou seja, é a melhor forma que os pacientes encontram para lidarem com a sua doença, neste caso com o cancro, visando o aumento da auto-estima e daauto-eficácia.
- Os índices de esperança, são muito importantes no ajustamento emocional, isto porque de acordo com a literatura, os sujeitos com índices elevados de esperança, tem uma melhor adaptação à doença.
- O suporte social funciona como um "recurso de coping", actuando essencialmente na diminuição das exigências da situação stressante. Nesta perspectiva, o suporte social é visualizado como um processo transaccional em que o indivíduo interage continuamente como meio sempre em mudança, influenciando-o e sendo por ele influenciado.
- Os referenciais teóricos indicam a fase de pós-diagnóstico, como uma fase de crise em que as pessoas necessitam de grande suporte, em especial de tipo emocional, para poderem enfrentar esta situação ameaçadora, tornando-a menos lesiva para o seu bem-estar e identidade pessoal. (Samarel et al., 1998; Santos et al., 1994; Ward et al., 1991 in Lopes, Ribeiro & Santos 2003,pg200)
- A adaptação psicológica relaciona-se com o estado afectivo e o estado funcional dos pacientes ao longo da doença. Este factor está muito relacionado com a personalidade da pessoa.
- Indivíduos com estratégias de coping positivas, elevados índices de esperança e contextos sociais receptivos, aumentam a sua adaptação psicológica em relação à doença, aumentando a probabilidade do seu estado de saúde melhorar, provando que o ajustamento emocional é benéfico em experiências stressantes como o cancro.
- O modo como o indivíduo percepciona cognitivamente a sua doença influencia o seu comportamento perante a doença
Os meus agradecimentos aos 4 autores que gentilmente nos deram a ideia e o material para este post.
8 comentários:
Sempre entendi que a nossa forma de encarar a Vida tem influencia na saúde física.
Ou seja, que a saúde psicológica, tem influência na saúde fisica.
Quer antes, quer num durante, quer mesmo num pós "choque patológico".
No que respeita ao cancro, concordo e tenho presenciado que pessoas que se rodeiam de amigos e os procuram, encaram e por vezes vencem o seu estado físico com mais facilidade que aqueles que se isolam.
E essas pessoas têm essa noção!
Pergunto-me então, porque é que pessoas com fases de depressão se isolam e fecham a ponto de se tornarem agressivas no sentido de desagradáveis se amigos ou família os procuram?
O comentário supra que li com atenção, faz uma pergunta para a qual a minha resposta neste momento será, peremptória ou egoísticamente : Não.
O Isolamento nunca , em meu entender, poderá contribuir para uma cura,melhoramento, ou uma saída de um estado de depressão.
Em meu modesto entender, quem se isola está já por si muito só, muito sem auto estima...muito deprimido,...
Mas sou eu que penso assim... Talvez porque o meu perfil é apesar de tímido, extrovertido. Eu gosto dos outros, preciso dos outros, e se alguma vez me tento isolar dos outros, ( tento leia-se!) faço-o como um castigo para eles acabando por me castigar a mim porque não aguento muito tempo de isolamento, (?!)
O que pode acontecer é que alguém muito deprimido não se sinta em condições para suportar ou para se expor aos outros.
Assim, volto a concluir que o silêncio e o isolamento são sinal de pouca saúde.
Já o silêncio atento e companheiro, a presença de quem está à volta, é um silêncio salutar...
Olá, Cleópatra.
A sua pergunta como quase todas as perguntas relacionadas com as emoções e a psicologia num sentido geral, não tem uma resposta fácil e linear.
Há muitas justificações possíveis para que uma pessoa que padeça de uma doença terminal se queira afastar e se torne agressiva. A história de vida, a forma como a pessoa lidava consigo própria e com os outros quando estava saudável permite, muitas vezes, compreender a agressividade e a hostilidade.
Mas tentando abstrair algumas justificações não específicas, talvez, se possa dizer, que a agressividade vivida sobre a forma da própria doença – ter um cancro é um ataque cruel contra a nossa sobrevivência -, pode gerar e despoletar uma enorme zanga contra o mundo e contra a própria vida. A zanga, o ódio, a raiva misturado com os sentimentos de impotência e de inveja em relação às pessoas que estão saudáveis pode ser tão forte que a pessoa se mantém isolada para proteger os outros e a si próprio desses sentimentos.
Por outro lado, a presença dos amigos que o desejam reconfortar pode relembrá-los permanentemente daquilo que eles querem negar e esquecer. Nestas situações a recusa e o repudiar de ajuda visa proteger o próprio do contacto com uma realidade que se quer negada e “magicamente” neutralizada
Olá, Ali-se.
Também para si o meu pedido de desculpas pela demora em responder ao seu comentário. Como referi num outro comentário, no início de Setembro retomei a minha clínica habitual e, por vezes, torna-se difícil conseguir o tempo para responder às vossas estimulantes observações. Faço apelo à vossa paciência enquanto leitores regulares e irei tentar ser mais rápida nas minhas respostas aos comentários.
A noção de “coping” é muito utilizada dentro da psicologia cognitiva e pretende descrever toda e qualquer estratégia que a pessoa utilize para lidar com uma determinada questão, conflito, mal-estar, etc. As estratégias de coping são portanto muito variadas, mas habitualmente são classificadas como “adaptativas” ou “patogénicas” ou “positivas” versus “negativas”. É importante estudar e compreender as estratégias de coping facilitadoras do ajuste emocional ou potenciadoras de uma melhor qualidade de vida -, no caso que estava a ser tratado pelos colegas era a forma como as pessoas reagem emocionalmente ao facto de terem um tumor mamário -, porque se soubermos com exactidão quais as melhores formas de lidar com determinado problema poderemos em termos da intervenção (e dentro de uma abordagem da psicologia cognitiva) promover a adopção desse mesmo tipo de atitude perante o problema.
Dentro desta lógica, as estratégias de coping negativas são todas aquelas que promovem a diminuição da qualidade de vida ou que dificultam/obstaculizam a resolução de um determinado problema. Por exemplo, na situação referida pelos colegas, uma estratégia de coping negativa seria a adopção de comportamentos ou a estimulação de emoções que estivessem ao serviço da negação do que se estava a passar, mais concretamente, de que a pessoa padecia de um tumor maligno ou fechar-se em casa e recusar-se a tomar os medicamentos ou a submeter-se aos tratamentos.
O facto de intuitivamente considerar uma verdade banal a frase “o ajustamento emocional é benéfico em experiências stressantes como o cancro”, não lhe retira nenhuma importância na sua qualidade cientifica. Para si e para a maior parte de nós é banal pensarmos que a resposta emocional a uma doença tem implicações na evolução do próprio estado clínico, mas a banalização desse facto deve-se também ao trabalho científico efectuado pelo psicólogos e ao maior desenvolvimento social. Há 100 anos atrás não havia nada de banal nisso, pelo contrário, as emoções eram secundarizadas e desvalorizadas face à realidade palpável e concreta do “corpo” doente. Também não pretende ser usado como “prova” mas como constatação de uma realidade que evidencia precisamente essa inter-influência entre estado emocional e condição físico.
A envolvente social (querendo significar por isto, as relações pessoais e sócias que a pessoa mantém como os outros) é, num certo, sentido como a envolvente biológica e bioquímica, indissociável da pessoa enquanto tal. Neste sentido, claro que o meio social envolve pode ter contribuído para o tal “desajuste”, mas todos sabemos (até pela experiencia de vida) que cada um de nós “reage” às coisas que nos fazem ou nos são ditas de um modo especifico que tem haver com a nossa própria personalidade. Uma determinada frase pode magoar-me enormemente e a si não provocar a mais pequena beliscadura. É sempre uma personalidade, uma pessoa com a sua historia de vida especial que está em relação com o meio (também ele com as suas especificidades) e é dessa interacção que emerge o “ajuste” ou o “desajuste”. Não existe em psicologia uma causalidade linear.
Sobre o silêncio e o recolhimento a questão também é, no meu entender, complexa. A questão não está tanto no silêncio ou recolhimento em si, mas naquilo que acontece dentro da pessoa nesse silencio ou recolhimento.
Olá, Cleópatra.
Penso que ao terminar o seu comentário cria o espaço necessário para que o silêncio possa entrar como “benéfico”. Como dizia à Ali-se no meu comentário anterior, na minha opinião, depende. Depende do que acontece dentro na pessoa no silêncio e no recolhimento. Depende se a pessoa se “afunda” num sentimento de profundo abandono e desamparo ou se a pessoa se retira para se reconstruir e entrar em contacto consigo própria sem desesperar.
Olá Cleópatra, sou estudante na área de saúde, nomeadamente a Naturologia, e neste momento estou a desenvolver um trabalho com o tema "PsicoNeuroEndócrinoImunologia no Cancro" e achei deveras interessante o trabalho que te foi enviado pelos alunos da faculdade do minho, como uma possivel fonte de informação bibliográfica para o meu estudo. gostaria de saber se é possivel enviares-me esse mesmo trabalho por e-mail. Obrigado
anie.pires@gmail.com
Olá a minha irmã mais velha (37 anos) teve recentemente o diagnóstico de um sarcoma nas costelas. ela tem um bébé com nove meses que parecia já que nunca viria, reagiu à notícia com muita agressividade para com as pessoas mais chegadas que a rodeiam, trata muito mal os pais e a mim nem me pode ver, não sabemos o que fazer. Precisamos de ajuda
Olá Isabel.
Um blog não é o sitio ideal para a ajudar. Deixe o seu endereço de email ou escreva-me para ana.almeida@psicronos.pt.
Enviar um comentário