terça-feira, maio 15, 2007

Ética e avaliação psicológica.

Os Princípios Éticos são determinantes no trabalho de qualquer psicólogo.

A avaliação psicológica acresce a responsabilidade inerente ao cumprimento do código de Ética.


A avaliação e descrição da realidade psicológica de alguém fornece ao psicólogo um conjunto de informações, as quais este deve saber interpretar, seleccionar e sobretudo transmitir e devolver.

Numa avaliação psicológica o examinado fornece ao clínico parte da sua realidade interna (vida mental), confiando neste a capacidade para a analisar, perceber, interpretar.

Uma das questões que cedo se levantam é que o psicólogo está obrigado ao sigilo profissional, no entanto, o objectivo de uma avaliação é quase sempre a elaboração de um relatório, onde vamos inevitavelmente ter de transmitir informação a alguém que a solicitou.

Uma das precauções que devemos ter é de alertar o examinando para esta realidade, que deverá optar por nos fornecer informação que quiser que seja transmitida, ou que nos alerte para o caso de não querer que determinada informação conste do relatório.

No entanto, parte sobretudo do técnico a responsabilidade de reconhecer o que é ou não pertinente escrever num relatório.
Além de que, em determinados contextos (com doentes psiquiátricos por exemplo) o examinando nem sempre possui a capacidade de decidir acerca dos seus actos ou até do seu discurso, com vista a preservar a sua intimidade.

Voltando um pouco á questão que levantei, parece quase um contra-senso pensar que a informação obtida num contexto psicológico é confidencial, mas vamos ter de a transmitir.
É precisamente por isto que devemos restringir-nos ao que nos foi pedido para avaliar, restringir-nos a responder a quem solicitou a avaliação, restringirmo-nos a uma linguagem clara, objectiva e restringirmo-nos a falar do que nos compete.

Defendo ainda que, em todos os casos, devemos devolver à pessoa a informação que obtivemos, as conclusões a que chegamos e as indicações terapêuticas adequadas, nos casos em que identificarmos essa necessidade.

Mesmo quando o relatório de avaliação psicológica não é para o próprio (se foi por exemplo solicitado por outro técnico de saúde) é nossa obrigação transmitir ao examinado estas informações, porque: se a avaliação não é para ele mesmo, então é para o beneficio de quem?

Estas questões nem sempre são fáceis de gerir, e por isso mesmo têm sido motivo de grande consideração por parte dos técnicos da Ktree.

Na Ktree, ao trabalharmos com avaliação psicológica, e para salvaguardar estes princípios temos desenvolvido um método de trabalho que insere procedimentos inovadores neste campo.

A confidencialidade dos dados é da nossa maior preocupação. É oferecida ao examinando a possibilidade de decidir acerca da transmissão dos seus dados para outros técnicos, no caso destes a solicitarem (em documento adequado).

Um dos métodos inovadores na gestão dos dados, é a possibilidade (mediante consentimento informado) do registo através de gravação em formato digital dos dados da entrevista, que ficam arquivados para posterior elaboração de novos relatórios adequados aos diferentes interlocutores.
Estes dados têm obviamente uma validade, e ao fim deste tempo os dado são destruídos.

Penso que quando se tem estas questões em consideração, é possível gerir as situações em benefício do examinando, e trabalhar com rigor e com Ética.

Artigo relacionado: A ética na avaliação psicológica: uma perspectiva psico-filosófica.

5 comentários:

Anónimo disse...

olá!

só hoje conheci o vosso espaço e fiquei tão contente!

sou estudante de psicologia clinica e da saúde, no porto.

obrigada pelo conhecimento que vão deixando aqui. obrigada, mesmo!

ShugO disse...

"A possibilidade do registo através de gravação em formato digital dos dados da entrevista, que ficam arquivados para posterior elaboração de novos relatórios adequados aos diferentes interlocutores"!? Conhecem a frase "não nos banhamos duas vezes no mesmo rio", que significa que nem o rio nem quem nele se banha são os mesmos em diferentes momentos da existência??

Ana Almeida disse...

Olá Hugo.
Julgo compreender o que pretendeu dizer, mas, como compreenderá, nós não somos ingénuos ao ponto de pensarmos que podemos utilizar a informação recolhida num determinado momento (mesmo que registada) e posteriormente utilizá-la como se ela tivesse sido obtida num outro momento. Qualquer relatório elaborado com base em dados recolhidos num determinado momento reportar-se-á SEMPRE a esse momento, isto é, podemos fazer uma avaliação tendo em vista dar resposta a um pedido de, por exemplo, "esclarecimento de diagnóstico" solicitado por um pedopsiquiatra e posteriormente (dois ou três meses depois) elaborar um relatório (a pedido dos pais) para o professor. O relatório para o professor poderá ser elaborado com base nos dados (inclusive entrevistas) recolhidos na altura da avaliação (a gravação apenas dá uma garantia adicional de menor deturpação da informação registada e possibilita o acesso a informação que para o primeiro relatório pode ter sido menos "valorizada", mas que pode ser importante para o segundo). A nossa ideia é evitar que um relatório redigido com um determinado propósito seja utilizado em diferentes contextos, revelando-se necessariamente inapropriado. Com esta metodologia tentamo-nos assegurar de que o examinando possa fazer um uso adequado da informação. Se entendermos que a informação recolhida na entrevista não é a adequada para a elaboração do novo relatório, solicitaremos uma nova entrevista complementar; mas se a informação recolhida anteriormente for suficiente não precisamos de estar a sobrecarregar a pessoa com uma nova avaliação completa.

Miguel Fabiana disse...

Boa Tarde! Relembro a minha TOTAL incompetência e ausência de qualquer formação em Psicologia. Tenho tantas questões, depois de ler este post que irei fazer um esforço para refrear o meu entusiasmo.
1) Os Princípios Éticos determinantes no trabalho de qualquer psicólogo/a foram publicados Na reunião de 14 de Abril de 2007, com representantes de Associações e Escolas de Psicologia, foi apresentado o Projecto de Código Deontológico elaborado pela Comissão de Ética do SNP, de acordo com o Meta - Código Europeu de Ética.
2) Quando diz que "devemos devolver à pessoa a informação que obtivemos, as conclusões a que chegamos e as indicações terapêuticas adequadas, nos casos em que identificarmos essa necessidade", inclui entregar, sem ter sido pedido do Cliente/Paciente, um "atestado" ou "certificado" ou "uma alta" ao Cliente/Paciente, sem lhe "fornecer" outra informação ou relatório? e se é entregue um "documento" com estas qualidades(atribuídas pelo/a psicologo/a como "uma alta") e neste contexto, qual a utilidade clinica do mesmo? é ou pode ser ético este "procedimento"? este "procedimento" é um acto cliníco?
3) É Ético informar o Cliente/Paciente de que está concluída a intervenção psicoterapeutica, quando o primeiro informa o Clinico de que resolveu empreender por um divórcio? é Ético declarar terminada uma psicoterapia, depois de 3 anos (onde estão incluidos 2 droup-out em que o mais curto durou mais de 2 meses) quando o Cliente/Paciente apresenta um enorme sofrimento e empreende pelo término do seu casamento?
3) "gerir as situações em benefício do examinando" para mim só faz sentido se o/a psicologo/a "trabalhar com rigor e com Ética" - quem avalia e em que situações podemos provocar uma avaliação independente sobre o Rigor e a Ética de um/a dado/a psicologo/a? Quem deve provocar essa avaliação independente a um/a dado/a psicologo/a; o/a Cliente/Paciente ou um familiar ou outro Cliníco/Psicologo? Quais os procedimentos que se devem adoptar de forma a não causar maior dor ao Cliente/Paciente?

Eliana Vilaça disse...

Olá Miguel Fabiana.

Algumas das questões que nos colocou, parecem relacionar-se mais com um contexto psicoterapêutico, e não tanto a um contexto de avaliação psicológica, que são bastante distintos em termos da técnica, métodos e procedimentos utilizados.

Relativamente à devolução do relatório, tento ser mais clara. É entregue um relatório, sempre que nos é solicitada uma avaliação psicológica, por parte de um paciente / cliente ou por parte de um outro técnico, por exemplo uma avaliação " Verificação de Incapacidades " (para efeitos de Reforma).
O que defendemos é que, a informação que transmitimos através do relatório, seja clarificada com o paciente / cliente, seja o relatório para o cliente ou para outro técnico.

Qualquer paciente / cliente que faça uma avaliação na Ktree terá uma "consulta" no final da avaliação, aquando a entrega do relatório em mãos, e é nesse momento que explicamos de forma clara e totalmente perceptível para o cliente, as conclusões a que chegamos, após a análise de todos os dados e dos instrumentos psicométricos utilizados.

Remeto para o ponto 1.2.2 (A Confidencialidade no Relatório) do Projecto do Código Deontológico dos Psicólogos Portugueses (que o Miguel citou) e que fala disso mesmo.

No que diz respeito ao que expôs no terceiro ponto, estará certamente a referir-se a um contexto psicoterapêutico, e pelo que posso perceber refere-se a uma situação muito específica com a qual está bastante desagradado.

Gostaria de poder responder-lhe, mas não disponho de informação suficiente para o fazer, e como deve compreender, também não seria ético da minha parte opinar acerca de um trabalho terapêutico que não conheço.

De qualquer modo, sendo esta uma questão tão particular, só posso incentiva-lo a tentar obter estas respostas, e a compreensão do seu descontentamento, junto do técnico a quem eventualmente se refere, inclusive no seu quarto ponto.
Ou ainda, caso tal não se verifique, junto de um outro técnico a quem possa fornecer mais informações e que o possa ajudar a gerir também este seu descontentamento e a dor de que nos fala.