As terapias breves são muito eficaz na resolução de diversos problemas
ou sintomas, dependendo da psicoterapia em questão. É também verdade que
para determinados problemas - nomeadamente perturbações de trauma e
dissociação - existem tratamentos de rapidez dramática como o EMDR. Há
no entanto problemas mais complexos que não são passíveis de serem
resolvidos com meras sessões de psicoterapia, pois requerem um duro
trabalho de reestruturação de personalidade em profundidade.
As
psicoterapias breves em geral visam o alívio rápido de sintomas -
aqueles que cedem à intervenção breve - e não um trabalho profundo e
abrangente, que lide não só com aquilo de que a pessoa se queixa mas com
tudo o que existe em torno de tal e aquilo que vai surgindo à medida
que se trabalha a queixa/pedido inicial, e assim sucessivamente. As
psicoterapias breves, no geral pouco conseguem fazer face às
perturbações de personalidade, por exemplo, porque não se trata daquilo
que a pessoa "têm", mas daquilo que a pessoa "é". São padrões muito
próprios e automáticos de sentir, de pensar, de agir, de perceber o
mundo em redor, de perceber os outros e as relações, pdrões únicos de
acomodação às exigências da realidade, de lidar com o stress, de lidar
com as perdas, de lidar com as ameaças à autoestima. São padrões de
funcionamento e de "ser" que estão enraizados no íntimo da pessoa tal
como ela é.
Mais de 100 anos de investigação clínica têm
mostrado sistematicamente que a maturidade e a capacidade de vivermos
uma vida satisfatória está ligada ao desenvolvimento psicológico
(maturação) durante a infância (sobretudo), base da nossa personalidade.
Em cada fase específica do desenvolvimento psicológico desenvolvem-se
(ou não) certas capacidades que são fundamentais para a vida adulta. Por
vezes o trabalho clínico implica o retomar do desenvolvimento
psicológico que foi interrompido, ou que não se conseguiu completar
satisfatoriamente em determinadas áreas ao longo do crescimento. Só um
psicólogo com conhecimentos aprofundados nos modelos da psicologia do
desenvolvimento (e quantos mais conhecer, melhor) consegue fazer essa
avaliação, bem como a avaliação das capacidades que a pessoa foi
conseguindo desenvolver ao longo da vida, e aquelas cuja falta ou
escacez estão na base e por de trás dos problemas que trazem a pessoa à
consulta. Por vezes este apuramento clínico ou avaliação rigorosa da
psicologia em profundidade de uma dada pessoa requer várias consultas de
avaliação e acompanhamento. Sendo inerente e parte da natureza das
consultas de psicologia clínica e psicoterapia que ao longo do processo,
quanto mais se aprofunda, mais se desvenda.
Trabalhar áreas como
a identidade, orientação sexual, autonomia, dependências, instabilidade
e conflitos persistentes nas relações amorosas, problemas complexos na
vida de um casal, depressões profundas, quadros psicóticos, narcísicos,
perversões sexuais ou morais, capacidade de iniciativa, produtividade no
trabalho, criatividade, ou perturbações de personalidade (esquizoide,
narcísica, psicopata, paranoide, borderline, dependente, masoquista,
sado-masoquista, histérica, somática, depressiva-anaclítica,
depressiva-introjetiva, maníaca, bipolar, perturbações mistas, etc.)
não são trabalhos rápidos, nem simples.
Alguém
que foi cuidado por um progenitor controlador durante a infância e
adolescência, que criava lutas de poder em torno da alimentação,
sexualidade ou em torno da obediência geral, poderá mais tarde ser
alguém particularmente preocupado com temas de controlo e medo da perda
de controlo. Poderá ter uma psicologia muito rígida e autopunitiva,
podendo tornar-se alguém também muito severo com os demais. Poderá
desenvolver tendência forte para a racionalização (ou um caráter
excessivamente "prático", centrado no fazer e no desfazer), com pouco
contacto com as próprias emoções e pouca tolerância às suas partes da
personalidade mais imaturas. Ainda que aqui possamos falar de uma
perturbação obsessiva, compulsiva ou obsessivo-compulsiva de
personalidade (diferente de sintomas obsessivos, compulsivos ou
obsessivo-compulsivos), isto é o que a pessoa é, e não o que a pessoa
têm.
O trabalho psicoterapêutico nestes casos assenta na própria
personalidade, nas dinâmicas familiares do passado (agora
internalizadas), na identidade e identificações, no desenvolvimento
psicológico da pessoa (e a eventual necessidade de retoma de certas
etapas do desenvolvimento durante a psicoterapia), etc.. É também um
trabalho de expansão da mente, de ajudar a pessoa a aumentar o
conhecimento sobre si própria de modo a que consiga ter em conta quais
os seus pontos fortes e suas limitações, e assim consiga melhor
adaptar-se ás exigências da realidade e a conseguir a autorealização. O
objetivo é reduzir a dificuldade em viver e na relação com os demais,
reduzir a angústia existencial e os obstáculos na vida (transformando os
obstáculos internos e aprendendo a melhor contornar e lidar com os
obstáculos externos, o que é muitas vezes consequência da transformação
interna). Isto naturalmente não é algo que se consiga fazer em meia
dúzia de sessões. È um trabalho duro, que implica compromisso, todo um
encadeamento de mudanças subtís na personalidade e respetiva
consolidação, mas que ao longo do tempo aproximam a pessoa mais e mais
daquilo que verdadeiramente é (deseja ser ou sente que é mas não o
consegue atingir sozinha).
Mas, claro, há mesmo quem só queira
resolver um ou outro problema isolado e nesses casos, dependendo sempre
do problema e do grau de enraizamento do mesmo, é possível fazer uma
psicoterapia mais breve e focal, ignorando outras áreas da
personalidade.