segunda-feira, agosto 13, 2007

O tempo do amor

Muito se tem escrito sobre terapia de casal e as diversas técnicas, mas hoje deixo-vos com as palavras de um poeta amigo que traduzem o processo de desilusão, insatisfação e afastamento, e que reforçam a importância do sentimento de se ser único e especial para a outra pessoa. Obrigada Jorge!

“Já não sabe mais o que lhe dizer. Ela foge com o olhar para não o confrontar com a verdade. Talvez apenas o tempo conte. Talvez seja isso que quer, que caminhem lado a lado enquanto houver tempo. Inunda-a de palavras na expectativa de que o escute. Responde-lhe com o silêncio de uma paixão inanimada. É assim que se inicia o fim…

Amanhã, ou depois, num destes dias, nem a sua mão chegará perto dele. Nem o seu cheiro circundará as casas que habitam por enquanto. Nem o seu sorriso será suficiente para o fazer ficar. Não que desista. Não que abdique. Mas porque se cansará de falar sozinho. O que poderá um homem fazer aos sentimentos maiores e puros se os cala no silêncio?

Passeiam os corpos pela casa cada vez mais vazia. Desencontram-se estrategicamente à volta da mesa ou nas pontas do sofá. Já não lêem em conjunto. Já não partilham o interesse de assistir a filmes, aninhados um no outro. A mesa das refeições é usada à vez. A paixão esmorece-se a cada segundo. A porta aberta para que entre uma brisa no final de tarde é um convite para que saia de uma vez por todas.

Já não há tempo. Já não há razão para que se abracem. Os beijos outrora doces são agora amargos sabores da desilusão. Ela caminha noutro sentido. Ele silenciou as palavras.

Ali vivia a esperança do amor. Agora apenas ruínas e cinzas assinalam a passagem de um casal. Até que o vento mude a paisagem fúnebre. Até que o tempo tome conta do lugar. Tal como ela desejara…”


In Jorge Barnabé, Julho 2007

3 comentários:

Ana Almeida disse...

Descobri esta canção do Ney Matogrosso. Não sei se o poema é dele, mas cá vai:

ACONTECE

Esquece o nosso amor!
Vê se esquece
Porque tudo no mundo acontece
E acontece que já não sei mais amar-te

Vai chorar, vai sofrer e você não merece
Mas isso acontece...
Acontece que meu coração ficou frio e nosso ninho de amor está vazio
Se eu ainda pudesse fingir que te amo...
Ai se eu pudesse...
Mas não quero, não devo fazê-lo
Isso não acontece...

Esquece nosso amor!
Vê se esquece
Porque tudo no mundo acontece
E aconteceu que já não sei mais amar-te

Vai chorar, vai sofrer e você não merece
Mas isso acontece...
Acontece que meu coração ficou frio e nosso ninho de amor está vazio
Se eu pudesse fingir que te amo... se eu pudesse...
Mas não quero, não devo fazê-lo... isso não acontece

Edite Tavares disse...

À laia de resposta...

"COMO DIZIA O POETA" (Touqinho e Vinicius)

Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu,
Porque a vida só se dá para quem se deu,
Pra quem amou, pra quem sofreu,
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não,
(...)
Abre os teus braços meu irmão,deixa cair,
Pra que somar se a gente pode dividir,
Eu francamente já não quero nem saber,
De quem não vai porque tem medo de sofrer,
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão,
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada não.

Marta Schiappa Pietra disse...

Esses grandes poetas! Que escrevem aquilo que todos nós já sentimos... Obrigada pelas respostas bjos