domingo, agosto 12, 2007
Grupos de formação contínua para psicoterapeutas - observação de sessões de psicoterapia em vídeo
O Instituto Português de Psicoterapia Integrativa vai realizar grupos de formação apoiados em gravações de vídeo a partir de Setembro de 2007.
Deixo-vos as informações disponibilizadas na página deles:
"Caros colegas,
Decidi começar definitivamente com os grupos de vídeo formação no IPPI a partir de Setembro de 2007.
Já falei com alguns de vós sobre esta ideia, mas talvez valha a pena só relembrar as razões deste projecto.
Depois de 10 anos de orientação de estágios e supervisões no Instituto Superior Técnico e no privado, cheguei à conclusão de que a formação em psicoterapia e prática de supervisão tem sérias lacunas se for apenas teórico-verbal e deve ser complementada por uma metodologia prático-experiencial, que pode incluir a observação directa através de um espelho, os exercícios de role playing, e mais relevante para este projecto, através da gravação e visionamento de sessões em vídeo. Esta última metodologia tem como vantagem que as interacções terapeuta-cliente podem ser estudadas repetidamente.
As dificuldades sentidas pela maioria dos terapeutas geralmente não são ao nível teórico, mas, de facto, ao nível da implementação prática dos conteúdos teóricos. Acho que só estas metodologias prático-experienciais vão ao encontro destas necessidades.
Junta-se a este dado o problema da subjectividade. Os terapeutas que afirmam (e pensam) que seguem uma determinada orientação teórica, quando observados na sua prática clínica, exibem na verdade muitos comportamentos, que não encaixam nesta orientação. Ou seja, os terapeutas não fazem o que dizem que fazem (veja Wachtel, 1997) O que um terapeuta descreve nos seus livros ou artigos que faz, só capta uma parte do que ele ou ela faz na realidade, e o terapeuta muito facilmente pode até estar muito equivocado sobre o seu próprio funcionamento.
Muitas experiências nas áreas da psicologia social e cognitiva demostraram que em muitos aspectos somos os piores juizes de nós próprios, ao ponto de sermos quase incapazes de transmitir uma parte essencial do nosso funcionamento pelo relato verbal (veja Wilson, 2002). Consequentemente, muito de que um terapeuta aprendeu a fazer, foi através de uma aprendizagem que podemos descrever como implícita e inconsciente, pelo que este não conhece muitas das suas próprias aprendizagens
Mesmo que o terapeuta esteja consciente dos seus procedimentos, muito do seu conhecimento é do tipo processual e não do tipo declarativo, de forma a que é muito difícil de transmiti-lo através do relato verbal. (como seria explicar por palavras como se faz um origami). Podemos designar esta aprendizagem como artesanal, obedecendo ao mesmo tipo de lógica de aprendizagem das profissões tradicionais, em que ao mestre correspondia o seu aprendiz. Este tipo de concepção vai provavelmente ao encontro do que o Prof. António Branco Vasco (FPCE-UL) descreveu como o componente artístico da psicoterapia.
Muito do que o terapeuta faz é intuitivo. No meu entender, como descrevi num artigo recente (Welling, 2001), este funcionamento intuitivo representa o nosso funcionamento mais sofisticado, a nossa mestria. É o conhecimento emergente, que já conseguimos utilizar na prática, mas que ainda escapa ao entendimento explícito-verbal. Seria uma pena deixar perder precisamente o que de melhor que fazemos, a essência da nossa arte!
A observação de gravações em vídeo das sessões de terapeutas, pode permitir precisamente a “descodificação” destes processos, quer para o próprio (que ao visioná-las se “reapropria” delas), quer para terceiros. A ideia é que nestes grupos de 4-6 participantes, se observem, se necessário repetidamente, gravações de vídeos e discutindo-os pormenorizadamente. Neste momento já temos vídeos comerciais de alguns terapeutas de renome, como Bugental, Yalom, Polster, Greenberg, Fosha e Wachtel, e posso também disponibilizar sessões minhas, que têm como vantagem que são em Português e que são com clientes reais. Os restantes elementos do grupo poderão também disponibilizar gravações das suas sessões para serem analisadas. Obviamente, podem surgir desta análise dados úteis para os processos clínicos em curso, mas o objectivo não é a supervisão, mas sim uma aprendizagem e formação continua.
Os cursos são semestrais (Set-Jan, Fev-Jun) com uma frequência quinzenal. O custo do curso é 360 Euros (40 Euros por sessão). As sessões realizar-se-ão na Alameda D. Afonso Henriques, nº 74, 5º Dto., em Lisboa. As sessões serão inicialmente orientadas por mim, mas a minha colega Isabel Gonçalves (IST, APTCC), com quem estive a desenvolver este projecto, integrar-se-á só em cursos posteriores, tendo falta de disponibilidade neste momento.
Preenche então o formulário anexo e reenvia-o sff para wellinghans@yahoo.com até ao fim do mês de Agosto.
Conto convosco!
Hans Welling
Instituto Português de Psicoterapia Integrativa - Alameda Afonso Henriques- 74-5º Dtº
(Metro Alameda)* 1000-125 Lisboa * tm 919 430 443
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
"Ou seja, os terapeutas não fazem o que dizem que fazem (veja Wachtel, 1997)"
Esta afirmação está perfeita, o ser subjectivo que somos irá sempre ajustar as nossas cognições segundo as nossas crenças e raramente de acordo com a realidade objectiva!
Afinal quem já não ficou surpreendido ao ouvir a sua voz gravada?
Uma prática frequente na supervisão de terapia familiar e de casal sistémica. Da minha experiência é realmente vantajoso a visualização de nós enquanto terapeutas, pois por vezes não temos assim tão presente aquilo que fazemos. Não é lá muito fácil (mas também quem disse que esta área o seria?) mas é uma aprendizagem que nos leva ao crescimento pessoal e profissional.
Enviar um comentário