As melancolias (vulgarmente chamadas de depressões) são, na sua grande maioria, acima de tudo, lutos mal resolvidos.
“Lutos mal resolvidos” significa que num passado mais ou menos recente existiram situações e/ou acontecimentos sentidos como dolorosos que não puderam ser ultrapassados (i.e, elaborados) adequadamente. É como uma ferida que foi aberta (no passado) e que, não podendo cicatrizar, continua (no presente) a provocar muito sofrimento e a absorver muita energia.
A pessoa que sofre do abatimento e profunda tristeza provocada pela "depressão", foi carregando o sofrimento dentro de si durante muito tempo até que ele acabou por dominá-la completamente, tornando o dia e a noite num “vale de lágrimas” sem sentido e em que as outras pessoas à volta parecem não entender e aceitar o que se passa.
Frequentemente, como a dor e a angústia são tão grandes, recorre-se à medicação e esta pode facilmente começar a ser tomada sem qualquer controlo. A medicação pode ser muito útil mas deverá ser utilizada com muito cuidado e responsabilidade, sempre com aconselhamento e acompanhamento médico, sobretudo de um psiquiatra competente.
Na minha experiência como psicólogo clínico com casos desta natureza, tenho comprovado que uma correcta medicação pode ser uma ajuda importante para que os pacientes se sintam menos angustiados para que depois, num segundo tempo, através de um acompanhamento psicológico regular, seja possível começar a analisar os verdadeiros motivos que os fazem sentir infelizes, desesperados e sobretudo incompreendidos.
Muitas vezes quem sofre de "depressão" não consegue saber exactamente o que provoca o mal-estar e é tarefa do psicólogo identificar a origem da(s) “ferida(s)” para que, ao longo das consultas, se possa iniciar o processo de “cicatrização”.
Não é possível voltar atrás para alterar o passado mas podem ser criadas as condições terapêuticas necessárias para que o presente deixe de ser visto como tão negro e sem saída e a pessoa possa recomeçar a ter esperança e entusiasmo face ao Futuro. Não é voltar atrás à infância mas acertar contas com o passado…
* Este texto foi originalmente publicado no jornal regional Gazeta do Interior.
(quadro: "The Way Home" de Tandi Venter)
1 comentário:
Não é voltar atrás à infância mas acertar contas com o passado…
Nem mais
Quantos adultos procuram resolver ou entender fantasmas da infancia.
Há uma idade em que isso já não interessa nada.
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