quarta-feira, março 03, 2010

O AMOR (Eugénio de Andrade)


O Amor

Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.

Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável

A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma

Assim é o amor: mortal e navegável.

Eugénio de Andrade  ("Obscuro Domínio")

1 comentário:

Anónimo disse...

Quando escrevo,
não escrevo por escrever...
Quando escrevo,
È uma forma de tentar libertar
Os meus pensamentos mais obscuros
È uma forma de descarregar
Os meus pensamentos mais duros
Como se cada corte
Que faço na minha alma
E que por vezes me acalma
E alivia a minha dor
fosse a resolução para tudo...
Reajo sempre
Como se fosse o fim do mundo.
Cada cicatriz que fica no meu corpo
E gravada na minha pele
Tem um sentimento triste
Amargo e gravemente cruel.
Palavras...
Que são ditas ao acaso
E que denunciam
Um grande fracasso...
Disfarçado por uma grande vitória
E por falsos sorrisos
Que me saem do corpo
E não da mente.
Na minha cabeça
Se repete todos os dias
A minha estúpida história
Como se o meu corpo
Se deixasse levar
E se entregasse à minha memória.
Quero livrar-me destes pensamentos
Que me enchem de tristeza e solidão
Quero ultrapassar este momento
Pois só sinto na minha alma
Um forte trovão
Que me eletrifica todos os dias
E me corta como se ficasse
Sem coração
Um corpo moribundo
Que existe por existir
E que vive por viver
As vezes sinto.me
Sem vida e a morrer..
Sinto sempre
Que algo havia a fazer
E que isto não passa de um pesadelo
Que passará um dia
Quando alguém me vier dizer
Que tudo não passou
De histórias da minha cabeça
Mas eu sei que tudo faz parte
De uma dura realidade
E que não querem ver
O que aconteceu de verdade
Assim me engano todos os dias
Tentando-me convencer
Que já não há saída
Que a solução
Virá um dia
Quando eu morrer.
Pois para sempre
Ficará no meu corpo
Um odor a podridão
Uma repugna disfarçada
Um nojo oculto
Um frio coração...
Será que é egoísmo?
Será egocentrismo?
Mas acho que egocentrismo
Não será de certeza
Porque tento desviar sempre
Todos os olhares de mim
Para não perceberem a minha tristeza.
Todos os dias
Morre um pouco de mim
Como uma flor que não é regada
E se torna feia
No meio de um lindo jardim.
Mas ficando sempre a esperança
Que amanha será um dia melhor
E que da minha cabeça
Desaparecerá
este triste horror...