quinta-feira, dezembro 30, 2010

Os riscos de uma vida sem medo

Lesão no cérebro conduz paciente a comportamento atípico


Paciente nunca reage face ao medo.
Uma equipa do Departamento de Neurologia da Universidade do Iowa (EUA) estuda, há já vários anos, o caso particular de uma mulher que sofre de uma lesão no cérebro e cuja estrutura implica a incapacidade de sentir emoções, como medo, por exemplo. Os investigadores, entre os quais se encontra o português António Damásio, já tentaram expô-la a todo o tipo de situações: cobras, aranhas, filmes de terror e até a um edifício alegadamente assombrado. Tudo em vão.

As amígdalas – pequenas estruturas arredondadas, em forma de amêndoa, localizadas muito próximas do hipocampo – desta paciente (designada pelas iniciais SM) foram danificadas por uma doença e parece ser esta a origem do seu comportamento atípico. Geralmente, as amígdalas são capazes de desencadear a ‘cascata’ bioquímica que permite ao organismo reagir face ao medo.
Os neurocientistas Ralph Adolphs, Daniel Tranel ou António Damásio foram incapazes de ler qualquer receio no seu rosto, aquando de diversas observações. Mesmo que consiga demonstrar emoções como alegria, tristeza ou desgosto, nunca se assusta.

Apesar de não gostar de aranhas e serpentes e os vendedores a alertarem sobre a perigosidade dos animais, SM consegue mesmo tocar numa cobra perigosa ou numa tarântula sem manifestar qualquer reacção negativa, segundo escreveram os cientistas na Current Biology - onde se juntou o investigador Justin S. Feinstein.

A equipa de estudo referiu ainda que a paciente não usa qualquer tipo de estratégia para evitar o medo, e que pelo contrário, é uma “sorte” ela continuar viva por se expor a todo o tipo de situações. As observações permitiram salientar a importância do papel das amígdalas na percepção do medo, concluem, mas avançam que estudar um único indivíduo é muito pouco para tirar conclusões definitivas.

Sem comentários: