No outro dia, bem antes do referido almoço, ao ver o filme Larry Crowne pensei: porque raio um homem que tem em casa uma mulher linda de morrer como a Julia Roberts, fica em casa a ver pornografia obsessivamente à procura de sites de mulheres com seios grandes?! E hoje, a minha resposta é: efeito de dessensibilização. Podemos até ter por parceira uma mulher linda de morrer como a Charlize Teron (a rapariga da foto) e ao fim de algum tempo o efeito de dessensibilização faz-se sentir e ela deixa de causar o impacto da realização de um sonho.
Claro que o efeito de dessensibilização demora mais a fazer-se sentir numa mulher ou homem lindo de morrer do que na mulher ou homem de beleza comum, mas não é isso que interessa, aquilo que interessa é o efeito de dessensibilização e a forma como ele acaba por burilar e suavizar a vivência emocional banalizando-a, neutralizando-a.
Na minha opinião o efeito de dessensibilização é evitado quando estimulado o efeito de refinamento (ou apuramento) - mais um nome inventado por mim -, este efeito corresponde ao aprimoramento da capacidade de tornar cada vez mais fina a sensibilidade a um determinado assunto, produto, etc. É o efeito gerado pelo melómano, o enólogo (profissional da degustação). A atenção concentrada e a procura do novo e do diferente no igual ou semelhante estimula a acutilância dos sentidos e desenvolve a capacidade de usufruto. Com o efeito de refinamento a mulher e o homem comum descobrem a possibilidade do gozo intensificado que o melómano encontra na escuta de uma obra prima musical ouvida centenas ou milhares de vezes. A intemporalidade de algumas peças musicais está no refinamento da capacidade de escuta a par da inesgotabilidade de uma peça que se cria e enriquece a cada audição.
2 comentários:
Achei muito interessante essa análise (incluindo o novo termo 'inventado' de efeito de refinamento ou apuramento).
Também já me tinha colocado a mesma questão relativamente a casos semelhantes ao que descreve no filme.
A dúvida que tenho é a seguinte: um melómano ou um enólogo procuram permanentemente algo de novo nos seus objectos de estudo ou de trabalho.
Essa procura da novidade e de características 'escondidas' tem um objectivo: melhorar o vinho, entender melhor aquela música, eventualmente reinterpretá-la mehor (no caso dos músicos).
Acresce que, tanto o enólogo como o melómano, adoptam o seu ritmo próprio, provam os vinhos ou ouvem as músicas quando querem ou quando para isso se sentem motivados.
Numa relação de tipo conjugal, em que ambos vivem juntos, a presença de ambos no mesmo espaço deixa de ser uma escolha (embora o tenha sido inicialmente) e passa a ser inevitável.
Não poderá ser essa 'imposição' em nós da presença do outro que contribui para a tal dessensibilização e para a falta de interesse em se procurar a novidade?
Talvez isso explique, por exemplo, o facto de alguns médicos e psicólogos serem muito menos susceptíveis à dessensibilização com os seus pacientes (ainda que sejam pacientes de há muito tempo) do que com os seus cônjuges ou namorados.
(E já nem incluo médicos e psicólogos, como alguns que conheço pessoalmente, que até para os seus pacientes privados já estão 'desssensibilizados'...)
Repito: gostei muito do seu texto!
JM
"adorei, adorei, adorei"
Ps-Só uma nota. Enólogo de enologia. Conhecimento e apreciação do vinho.
Gastrónomo de gastronomia. Prazeres gástricos pela comida e bebida. Assim, propunha gastrónomo como apuro do meu refinamento ;-)
JA
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