domingo, fevereiro 10, 2013

FILICÍDIO (I): Quando afinal os pais não cuidam dos filhos


O filicídio é o homicídio de uma ou mais crianças por parte de um ou ambos os pais. Não é tão raro como gostaríamos de pensar e os meios de comunicação têm ajudado a demonstrar a elevada frequência deste crime chocante. As notícias invadem-nos a sala, a qualquer hora do dia, sem aviso e sem tempo para impedir que as crianças, que devem acreditar que os pais lutam pela sua vida, ouçam o que aconteceu.

Na maioria das espécies, incluindo na humana, existe uma predisposição para o cuidado e proteção da cria, pelo que se gera de imediato um sentimento de incredibilidade, choque e revolta naqueles que assistem ao relato destes acontecimentos. O que falha, então, quando uma mãe ou um pai mata o próprio filho?

O psiquiatra Phillip Resnick identificou cinco circunstâncias em que ocorre o filicídio:

  • Altruísta: é a circunstância mais frequente em que a mãe, gravemente deprimida, planeia suicidar-se e acredita que os seus filhos ficarão mais protegidos “com” ela.
  • Psicótico: situação em que o pai ou a mãe, em estado delirante e paranoide, acredita que algo persegue os filhos e mata para proteger. Outra situação, enquadrada nesta circunstância, é o delírio paranoide de que a criança agride e ataca o progenitor, pelo que este matará em auto-defesa.
  • Espancamento Fatal: casos em que a punição física é de extrema violência e descontrolo, conduzindo à morte do filho.
  • Filho indesejado: situações em que, por vários motivos, o filho é indesejado ou sentido como um obstáculo.
  • Vingança conjugal: casos em que um dos pais mata o filho para magoar o parceiro, habitualmente depois de uma situação de infidelidade. Acontece também no âmbito da disputa das responsabilidades parentais, em que um dos pais, não aceitando a guarda atribuída ao outro progenitor, tira a vida ao filho para que o outro não ganhe a batalha.
Obviamente, qualquer uma das circunstâncias envolve um elevado grau de psicopatologia. A investigação sugere que são principalmente as mulheres a cometer filicídio, sendo as situações de homicídio por raiva ou vingança mais frequentes nos homens. 

Quando surge este tema e abordo estas questões do ponto de vista da compreensão psicopatológica, a reação habitual é a ideia de que procuramos desculpabilizar o crime, obviamente porque o filicídio, mais do que qualquer outro crime, comporta uma inevitável carga emocional pela dificuldade em compreender o inexplicável. Mesmo nós, profissionais da saúde mental que conhecemos os processos que estão por trás de tamanha atrocidade, ficamos perturbados e temos dificuldade em desculpar um pai ou uma mãe que mata os seus filhos.

O nosso papel será, talvez, alertar para o que pode ser feito pelos vizinhos, amigos e familiares e o que devia ser feito pelos serviços de saúde para procurar evitar que episódios destes se repitam.

Sabia que, na maior parte dos casos, o filicida dá alguns sinais antes de cometer o crime?

Continuaremos a desenvolver este tema nas próximas semanas.


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