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quinta-feira, fevereiro 20, 2014

DESENVOLVER a C R I A T I V I D A D E com EMDR (Eye Mouvement Desensitization and Reprocessing)


Quero escrever o presente post, e sinto-me com dificuldade de arranque.   

Como é que o EMDR poderá estar ao serviço da instalação de recursos para o desenvolvimento da criatividade? Impasse...                                                                                                                    
Resolvo ‘beber do próprio veneno’, isto é, aplicar o próprio método à produção deste texto e seguir a via da experiência.  Socorro-me de um colega especializado também em EMDR, para realizar comigo o processamento bilateral,  e desbloquear o meu impasse de escrita. O que descrevo seguidamente é tão simplesmente o que se passou comigo, ao nível consciente dos pensamentos, imagens, sensações e emoções,  durante os  breves 15 minutos de processamento que fizémos e que ilustra o processo em si, e os efeitos que poderá provocar em matéria da percepção e das associações.

I. Sendo questionada sobre que imagem me ocorre que possa representar a criatividade, à medida que decorre o primeiro set de estimulação bilateral, surge-me  a imagem de uma torneira cromada absolutamente vulgar.

II.“Regista isso e continua a partir daí” ouço o meu colega dizer-me; da minha parte,  sinto-me tranquila e mantenho presente a imagem dessa torneira. A única coisa que me ocorre nessa etapa do processamento é que a criatividade,  tal como a torneira pode estar fechada ou aberta, mais fechada ou mais aberta. E se estiver fechada a criatividade também é estancada.

III.Prossigo, de olhos fechados –com novo set de estimulação-, e surge-me que o caudal da água, e da criatividade, serem mais abundantes de acordo com a potência do abastecimento (a quantidade do recurso na rede) e com a ação, deliberada ou não,  exercida sobre a torneira...condições externas e internas. Reparo, ou penso, que tal como o corpo para funcionar eficazmente precisa da necessária hidratação também a mente, e a pessoa no seu todo, precisam dessa outra hidratação gerada pelo fluxo de criatividade ou energia criativa, para as fazer sentir plenas e vivas; e que qualquer corte ou bloqueio da criatividade ameaça esse funcionamento podendo provocar impasses, quase sempre acompanhados dalgum sofrimento psíquico, e chegar a comprometer satisfação, prazer, auto-estima, e resultados.

IV. Continua a estimulação, e ocorre-me que o fechar da torneira, e neste caso o bloquear da criatividade, são intencionalmente, ou não, accionados (ou agidos) pela pessoa...Pergunto-me sobre o que levará alguém a querer travar a sua criatividade e impedir-se de sentir o gozo do seu fluxo e o resultado da sua ação? Visualizo uma imagem completamente branca (a criatividade) que começa a partir do canto superior direito a ser vigorosamente inundada de espessa tinta preta que toma conta, esconde, devora ou asfixia o espaço branco - como se no espaço tridimensional de um tanque de água, ou do mar,  a transparência da água desaparecesse com o ataque de tinta preta libertada por um polvo... 
Na imagem bidimensional original o branco desaparece muito rapidamente , aniquilado pelo poder invasor da tinta preta e fica uma pequena ilha branca a resistir no canto inferior esquerdo da página dominada pela fúria do negro. Sinto-me transtornada fisicamente à medida que esta imagem aparece: inquieta e com uma sensação desagrável no abdomen, uma sensação de murro no estômago. Como num cartoon, imagino essa pequena mancha branca espartilhada, e encostada às margens, a ganhar vida e a começar a mexer-se,  começando a escavar por entre a tinta preta,a riscá-la de branco, e vejo-a a aumentar a sua margem e a reconquistar o seu espaço...


















Terminámos por aqui, o que não sucederia numa sessão de EMDR, em geral com uma duração bastante mais longa (60-90 minutos). O que fica registado é a descrição objetiva desta experiência pessoal e do que subjetivamente sucedeu durante a micro-sessão.

O EMDR pode ser utilizado por terapeutas especializados não somente para alteração de padrões repetitivos entrelaçados com memórias traumáticas e ultrapassar situações perturbadoras, mas para produzir material associativo e para desenvolvimento e instalação de recursos como, neste caso, da criatividade. 
Esta intervenção é particularmente útil  quando pensamos em pessoas que dependem fundamentalmente deste recurso para o desempenho da sua performance artística ou criativa, e para quem estes impasses  e 'nós' podem acarretar custos pessoais e profissionais elevados.


Isabel Botelho
Psicóloga - Psicoterapeuta - Executive Coach