Como vimos na publicação
anterior, a masturbação começa bastante cedo através da exploração natural que
a criança faz do próprio corpo. Trata-se de uma gratificação meramente
sensorial, que conduz a sensações prazerosas e ao alívio de tensões, não tendo
nesta altura qualquer caráter sexual, em situações normais. No entanto, a
erotização que os pais fazem deste comportamento tende a gerar desconforto,
apreensão e repreensão. Esta atitude negativa leva muitas vezes ao aumento da
tensão e da curiosidade, reforçando a masturbação.
Por volta dos três anos, a
criança já vai percebendo que existem diferenças entre meninas e meninos, o que
conduz a perguntas embaraçosas, mas também à exploração do corpo do outro. “Porque
é que a mana não tem pilinha?”, “A minha pilinha também vai cair como a da
mamã?” são perguntas frequentes colocadas pelos rapazes. Já as raparigas tendem
a ficar intrigadas a observar aquele órgão pendurado no corpo do irmão ou do
pai, procurando tocar e perguntando se também vão ter um igual. A estas
perguntas que pai e mãe procuram empurrar de um para o outro, há que responder
de forma aberta, tranquila, mas resumida ao essencial. As crianças
satisfazem-se com explicações simples. Se sentirem que há atalhos ocultos no
meio do nervosismo, vão querer continuar a exploração. Se não obtiverem
resposta às suas questões ou receberem uma atitude negativa, poderão procurá-la
noutros contextos, sem que os pais tenham controlo do que se passa.
Entre os 4 e os 6 anos começam
também a surgir as brincadeiras de médicos, em que as crianças se examinam
mutuamente. Mais uma vez, este comportamento é de descoberta, sem conotação
sexual, devendo os pais preocupar-se apenas se estiverem envolvidos adultos ou
crianças mais velhas. Surgem outros embaraços para os adultos, principalmente
nos meninos, que começam a testar o alcance da sua arma, sobretudo quando
urinam. Tendem a ter outras brincadeiras no Jardim de Infância, baixando as
calças com frequência e espreitando os pénis dos colegas. Também os educadores
têm um papel fundamental na gestão destes comportamentos, evitando
ridicularizar ou castigar as crianças.
A partir dos 4 anos já conseguem
aprender que a exploração deve ser feita em privado, pelo que os pais devem
conduzir a criança ao seu quarto ou à casa de banho, sem repreensão, dizendo “eu
sei que te sabe bem quando mexes aí e não faz mal, mas deves fazê-lo quando
estás sozinho/a”. É também a altura de ensinar de forma clara que mais ninguém
pode tocar-lhe nos genitais, exceto os pais ou outro adulto de confiança nas
rotinas de higiene. E que se alguém o fizer, deve contar aos pais. Se os pais
percebem que a criança recorre a objetos, enquadrados ou não na brincadeira dos
médicos, devem igualmente explicar-lhe que não deve fazê-lo, para que não se
magoe.
Qualquer que seja a idade, a
ansiedade e a proibição por parte dos pais tendem apenas a reforçar o fascínio
e a curiosidade. Se a criança se sente envergonhada ou culpada, irá reprimir as
suas questões, comprometendo um diálogo saudável e preventivo. Por outro lado,
quanto menos os pais chamarem a atenção para o comportamento masturbatório,
menos focada estará a criança nos seus genitais e nos dos outros.
Comentários como “isso é feio”, “não
mexas aí porque é sujo”, “és um/a menino/a muito feio/a quando fazes isso”, “isso
é porcaria e não se faz”, “vais ficar de castigo” estão proibidos!
Continuaremos a desenvolver o
tema, nomeadamente no que respeita à hiperexcitação e a sinais de alerta
ligados à masturbação.
Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Diretora do Departamento da Infância
Saiba mais sobre a consulta de Psicologia Infantil AQUI
Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Diretora do Departamento da Infância
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