domingo, outubro 28, 2007

Reflexo


Sem querer tirar o mérito a Nuno Júdice, acrescentaria ao seu título Reflexo, ou o Mito de Narciso, pois as suas palavras retratam o sentimento de frustração e exclusão daquele que vive uma relação onde não há lugar para o outro.

"Sem nada para fazer, olha-se no espelho do quadro, procurando uma resposta. Ou será o contrário, sendo ela uma projecção da sua própria imagem? No fundo, é o movimento do olhar que vai de uma para outra que impede uma certeza: se é no horizonte do quadro, de cuja perspectiva ela faz parte, que se encontra a realidade, ou se é no pensamento da mulher que vê o seu reflexo que o mundo se descobre, para que ambas se reconheçam a mesma?
Olho-as: e também eu não sei a que espaço pertenço, quando a janela está aberta, e a luz que entra me empurra para fora, onde uma primavera é possível. Elas, no entanto, não querem saber disto; e é como se a mulher que se ajoelha, na cadeira, esperasse o milagre que a faça sair do quadro, e avançar pelo dia, como a luz avança pela sala onde nada acontece, a não ser este olhar que as prende uma à outra, e me deixa de fora."

sábado, outubro 27, 2007

Sobre Respirar

E diminui, diminui o que sente, o que pensa, recolhe-se como se recolhem os homens secos e tristes e secos, e mortos, fica no fundo do escuro, e escuta, espera, o dia em que possa sair. Espera atento, e escuro, e escuta, e pensa o dia em que possa sair. Morre, riam-se, torçam-se linhas do destino. Guarda-se e protege-se, morre, escuta, escuro. E se o que escuta for escuro, e nada mais... e se nada. E se, não. Não. Espera, escuta, escuro, escreve. Desejo, deseja-se. Quer. Quer-se. Escuta. Amor.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Violência Sexual - Psicopatologia



No dia 27 de Novembro, pelas 21:00h vai realizar-se na Faculdade de Medicina de Lisboa uma conferência intitulada "Maus Tratos na Criança e no Adolescente - Violência Sexual: Psicopatologia" será proferida pelo Prof. Doutor Juan Eduardo Tesone e comentada pelo Prof. Coimbra de Matos. A Entrada é livre.

Na sequência desta conferencia vai também realizar-se um curso sobre a mesma temática nos dias 27, 28, 29 e 30 igualmente em Novembro.

O Prof. Juan Eduardo Tesone é Professor na Faculdade de Medicina de Pitié-Salpêtroère; da Universidade de Paris VI; na Faculdade de Psicologia da Universidade de Ciências Empresariais e Sociais de Buenos Aires; Psiquiatra na Universidade de Paris XII; Membro da Sociedade Psicanalítica de Paris e da Associação Psicanalítica Argentina.

terça-feira, outubro 23, 2007

Sobre Vigorexia

Descrita pela primeira vez em 1993, por Harrisom Pope como anorexia reversa, e posteriormente como "complexo de adônis", a vigorexia é uma das mais recentes patologias emocionais estimuladas pela cultura.

Mais comum no sexo masculino, esta patologia caracteriza-se por uma preocupação excessiva em ficar forte. Os portadores dedicam muito tempo à actividade de modelação física, resultando em algum prejuízo sócio-ocupacional. Geralmente mantêm uma dieta rigorosa – comem de forma atípica e exagerada, acompanhada por complementos vitamínicos, hormonais e anabolizantes - para conseguirem o seu objetivo.

Os vigoréticos têm uma preocupação patológica em se tornarem o protótipo do homem moderno, supostamente desejável pelas mulheres. Há uma busca obsessiva no modelo de homem, com um corpo fibroso, definido e musculoso.

Próxima da anorexia nervosa, a vigorexia é uma patologia ligada à perda de controlo de impulsos narcisistas. Em ambas se verifica uma distorção da imagem que os indviduos têm sobre si mesmos: os vigoréxicos nunca se acham suficientemente musculosos, os anoréxicos nunca se acham suficientemente magros.

Entre os vigoréxicos, encontramos individuos com personalidade introvertida, cuja timidez ou retraimento social favorecem uma busca do corpo perfeito como compensação aos sentimentos de inferioridade. A obsessão com o próprio corpo é identico ao observado na anorexia nervosa.
Esta patologia tem como pricipais sintomas: insônia, falta de apetite, irritabilidade, desinteresse sexual, fraqueza, cansaço constante, dificuldade de concentração entre outras.

Apesar de não estar incluida nas classificações tradicionais de transtornos mentais (CID.10 e DSM.IV), o quadro descrito mais associado é a Dismorfia Muscular (ou Transtorno Dismórfico Muscular), patologia psíquica dos individuos excessivamente preocupadas com a própria aparência, constantemente insatisfeitos com os seus músculos e que se encontram continuamente em busca da perfeição corporal.

Podemos encontrar várias características comuns entre a vigorexia e a anorexia nervosa:
- Preocupação exagerada com o próprio corpo
- Distorção da Imagem Corporal
- Baixa autoestima
- Personalidade Introvertida
- Factores sócio-culturais comuns
- Tendência a auto-medicação
- Idade de aparecimento (adolescência)
- Modificações da dieta

Como diferenças básicas podemos destacar: na vigorexia encontramos geralmente individuos do sexo masculino, com uma auto-imagem de fraco e que utiliza o recurso a anabolizantes; na anorexia nervosa encontramos individuos do sexo feminino, com uma auto-imagem de obeso e que utiliza o recurso a laxantes e diuréticos.

Embora não tão popularizada como a anorexia nervosa, a vigorexia é uma patologia que pode igualmente causar graves problemas fisícos aos seus portadores, muitos dos quais irreversiveis, por este motivo todos devem estar atentos a este novo fenómeno cultural.

GEORGE STEINER EM LISBOA

Georges Steiner, talvez o maior pensador actual, faz uma conferência na Gulbenkian, quinta, dia 25 às 10.30 (Auditório 2), sobre os limites da ciência.
Steiner tem vários livros publicados em português: A Ideia de Europa, A Barbárie da Ignorância, As Lições dos Mestres, O Silêncio dos lIvros, A torre de Babel, Nostalgia do Absoluto, 4 Entrevistas com George Steiner, etc. Todos eles excelentes.
Será talvez a última portunidade de o ouvir, dado que já tem bastante idade.
E sempre poderemos contar aos nossos filhos ou netos!

sábado, outubro 20, 2007

Saber Dizer

Não saber dizer amo, odeio, sofro, paixão, amor, ódio, sinto. Não dizer, sinto, não dizer sinto. Fecha-se num quarto demasiado pequeno para o que não é. Para o que não sonha, nem sente, nem, nem, enm enem enem,en enmn nem é. Não pede, não desiste, está, num quarto demasiadamente pequeno para o que não é. As pernas começam a enrolar-se sobre si próprio, fecha-se também por fora. Não respira um ar fora de si há demasiados sopros que o sufocam. Sabe pouco, a não ser o que repete sempre para não esquecer, mas o que repete, o que é, e que sabe é pouco. Sabe que o mundo ficou pequeno fechado, sufocado, parado. Rola na cama como quem rola numa nuvem de vida e ar. Mas a cama queima, o lençol queima de gelo de o ter sempre e todos os dias. O mundo é seu, e não é nada. Tudo vai deslizando de si próprio, das mãos que é, treme, abre-se a carne no que resta de um corpo com forma. O lençol entra dentro de si. Rola como se este fosse o seu movimento máximo, como andam as pessoas no metro, a pé, de carro. Rola. Conta os anos que tem e que não sabe. Tem medo de não morrer. Tem medo de amanhã acordar de novo. Não saber dizer amo, odeio, sofro, não saber dizer quem é, o que é. Sabe contar com os dedos os anos que passaram. Duas mãos mais um dedo. Este dedo, que espera que não sejam dois, nem um de dia, quanto mais um dedo de ano. Não saber dizer.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Time Out


A Time Out é das revistas mais emblemáticas de London. A primeira coisa que se faz chegando a Londres, ainda com a bagagem às costas, com os casacos pendurados, é comprar a Time Out. Num ápice ficamos a saber tudo o que de cultural há para ver, fazer, cheirar na cidade. Há de tudo, para todas as idades, para todos os gostos.
Em Lisboa saiu agora a Time Out Lisboa. O género é semelhante ao de Londres; os contéudos são lisboetas e a língua é a nossa. Neste caso, manter o estilo é manter a qualidade. Nada a opor, pelo contrário, só a favor.
Leiam e divirtam-se. Time Out!

quinta-feira, outubro 18, 2007

Maternidade e narcisismo.

Nancy Mcwilliams, no seu livro "Diagnóstico Psicanalítico", e acerca do Narcisismo, utiliza esta citação de uma amiga para expressar uma posição marcadamente não narcisica de uma mãe face à maternidade.

"Cada vez que eu engravidava, eu chorava. Perguntava-me de onde viria o dinheiro, como iria cuidar daquela criança e tudo o mais. Mas, por volta do quarto mês, começava a sentir a vida e ficava completamente excitada a pensar: Mal posso esperar que nasças e eu descobra quem tu és!"

Nancy reforça que esta postura contrasta com os sentimentos de um progenitor que "já sabe" o que a criança vai ser, alguém que realize as ambições falhadas da família.

É uma citação bonita, e a psicanálise também tem destas coisas...! ;)

domingo, outubro 14, 2007

Para amantes de ópera.

DE VIENA À
BROADWAY


AUDITÓRIO DA
REITORIA DA
UNIVERSIDADE NOVA
DE LISBOA
16 Outubro 2007
19:00h – Entrada livre

O Teatro Nacional de São Carlos e a Reitoria da Universidade Nova de Lisboa renovam a sua parceria para 2007.08.
O programa De Viena à Broadway, a 16 de Outubro, será o primeiro de três espectáculos programados entre Outubro e Dezembro de 2007.
A 21 deNovembro está agendada a interpretação de Ein Deutsches Requiem, de Brahms, e 14 de Dezembroo Coro Feminino do São Carlos interpreta um programa de Árias de Ópera.

sexta-feira, outubro 12, 2007

O sonho depois de acordar

Acorda. O braço responde. Ninguém chora do outro lado da porta. O dia é noite escura de uma lua cansada de muitos milhões de luares. Antes de os olhos se habituarem à escuridão que envolve, o cheiro a alfazema. A almofada segura a cabeça, a solidão ainda dorme numa cama demasiadamente grande para um só corpo, mas dá esperança, e medo, e ódio, e zanga, e sopro, e fúria, e sangue e medo, e nada, não há movimento. Olha a janela, cimento. Olha a porta, cimento. Olha para dentro dela, morte que é desejo de não mais viver. A mesa de cabeceira. Não há luz. O braço que mexe quer pegar nalguma coisa. Muito baixinho, sem acordar a solidão que a abraçaria, pega numa imagem de um anjo. Cabe-lhe na palma da mão, mas enche-a por dentro. Pede, pensa, reza, imagina. Um sonho sem paredes, um sonho onde as coisas simples voltam. Não consegue. Mexe-se de mais, a solidão acordou. Tudo fica mais em silêncio. Ouve sente, alguém que chora do outro lado do cimento. Uma mão agarra a almofada. Alfazema. Fecha os olhos. Larga o anjo. Alfazema. Silêncio. As paredes sangram cimento. Morre. Alfazema. O anjo no chão. O choro de alguém que chora encostado à porta. Chora uma lágrima que lhe borra o rouge. Cimento, rouge, alfazema. Alfazema.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Seminário Dislexia!


A Sociedade Portuguesa de Psicologia está a organizar, um Seminário sobre Dislexia , que decorrerá no dia 23 de Novembro de 2007 no Anfiteatro da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Pena de morte.

Saiu hoje no Publico, um artigo sobre a pena de morte e os métodos utilizados nos diferentes países para a execução dos condenados.

Para mim este assunto é sempre chocante e levanta-me sempre tantas questões...

Hoje ficou-me esta questão:

Em que mundo vivemos nós para que não possamos praticar a Eutanásia mas possamos matar nestas situações e com estas condições?

O link da notícia: http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=%2Fmain%2Easp%3Fdt%3D20071010%26page%3D5%26c%3DC

segunda-feira, outubro 08, 2007

Ciclo de Cinema e Saude Mental

II CICLO DE CINEMA DE SAÚDE MENTAL.

LOCAL: Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro – Antigo Solar da Nora, Estrada de Telheiras, 146, 1600-772 Lisboa.

ENTRADA LIVRE

PROGRAMA

Dia 09 de Outubro – 20h45 – "SPIDER" de David Cronenberg

Comentários: João Lopes – Crítico de Cinema na imprensa escrita e televisão.

Jorge Câmara – Psiquiatra e Psicanalista



Dia 16 de Outubro – 20h45 – "Volver" de Pedro Almodóvar

Comentários: Álvaro de Carvalho – Psiquiatra

Carlos Vaz Marques – Jornalista TSF

Deolinda Santos Costa – Psicanalista



Dia 24 de Outubro – 20h45 – "SARABAND" de Ingmar Bergman

Comentário: Carlos Amaral Dias – Psiquiatra e Psicanalista


Promete! Recomendo vivamente.

sábado, outubro 06, 2007

Os psicólogos também choram!


Por vezes ouço coisas que me fazem pensar. Uns dizem que os psicólogos não deviam isto, ou que não fazem aquilo… enfim uma balbúrdia de preconceitos que por vezes nos afectam mais que nós pensamos!

No meio desta balbúrdia, que pouco ou nada ajuda ao desenvolvimento pessoal do psicólogo, há um tema que raramente é abordado, o choro do psicólogo em sessão.

Claro que nós todos choramos fora das sessões, aliás alguns clientes estão em terapia porque não se conseguem emocionar, mas em sessão?

Será suposto um psicólogo chorar em sessão?
Eu acho que sim, sei outros também acham e que alguns o defendem como parte do processo terapêutico.
Outros dirão, “mas o psicólogo não pode chorar em sessão, senão perde o controlo!”

Mas desde quando chorar é perder o controlo?
Este preconceito de perda de controlo com o choro, impede as pessoas de viverem a tristeza e muitas delas acabam por deprimir.

Será que ao ouvir a tristeza dos outros não temos o “direito”, para não dizer o “dever” de chorar com o cliente?
Será que ao mostrar a expressão da tristeza vamos, não só validar o sofrimento do outro mas também dar espaço na relação para que o outro o faça?
Claro que não estou a falar de um pranto aflitivo de choro do psicólogo... apenas algumas lágrimas!!!

Existem outros meios para mostrar que estamos na relação e que contemos a tristeza do outro, mas serão tão próximos como mostrar a mesma emoção?

Sinto que ao falar de um ponto, falei de muitos outros e que todos estão ligados ao cerne da terapia … mas afinal qual é o cerne da terapia?

sábado, setembro 29, 2007

Blog sobre Saúde Mental e Adolescência

Recomendo uma visita ao Blog:


http://psiadolescentes.wordpress.com

Nas palavras de um dos seu autores, Diogo Guerreiro, interno de psiquitatria:

"Trata-se de um site generalista sobre a saúde mental na adolescência. Para que os adolescentes das nossas consultas (e não só) fiquem informados sobre as suas doenças, tratamentos, fases da adolescência, etc."


sexta-feira, setembro 28, 2007

Maus tratos ao idoso



O aumento do número de idosos no mundo é visto como algo preocupante para OMS no que concerne ao agravamento das situações de violência relacionadas principalmente com a ruptura de laços tradicionais entre gerações e com o enfraquecimento dos sistemas de protecção social. Prevê-se que o número de pessoas com mais de 60 anos duplique até 2025, passando de 542 milhões em 1995 para 1200 milhões nessa data, dos quais 850 milhões em países em desenvolvimento onde a preocupação fundamental é com a força de trabalho activa e não com a força de trabalho já consumida, como é o caso dos idosos. Segundo a OMS somente 30 % dos idosos do mundo inteiro estão actualmente a receber pensões de reforma ou subsídios de velhice e invalidez, o que torna muito precárias as suas condições de vida acabando por expô-los a riscos acrescidos de violência que tanto pode ser exercida em ambiente familiar como institucional ou social.
Segundo o Conselho da Europa, a violência está presente em qualquer acto de comissão ou omissão que seja levado a cabo contra a vida, a integridade física e/ou psicológica ou a liberdade da pessoa que compromete seriamente o desenvolvimento da mesma.
A declaração de Toronto, assinada pelos países membros da ONU em 2002 definiu “maus tratos ao idoso” como sendo qualquer acto isolado ou repetido, ou a ausência de acção apropriada, que ocorre em qualquer relacionamento em que haja uma expectativa de confiança, e que cause dano, ou incómodo a uma pessoa idosa.
Estes actos podem ser de vários tipos, segundo a classificação proposta pelo comité nacional de abuso de idosos nos Estados Unidos (Nacional Centre on Elder Abuse, 1998):
● Abuso físico – o uso não acidental da força física que pode resultar em ferimentos corporais, em dor física ou em incapacidade. As punições físicas de qualquer tipo são exemplos de abuso físico. A sub medicação ou sobre medicação também se incluem nesta categoria.
● Abuso emocional ou psicológico – inflicção de angústia, dor ou aflição, por meios verbais ou não verbais; a humilhação, a infantilização ou ameaças de qualquer tipo incluem-se nesta categoria.
● Exploração material ou financeira – uso ilegal ou inapropriado de fundos, propriedades ou bens do idoso.
● Abandono – a deserção de ao pé de uma pessoa idosa por parte de um indivíduo que tinha a sua custódia física ou que tinha assumido a responsabilidade de lhe fornecer cuidados.
● Negligência – recusa ou ineficácia em satisfazer qualquer parte das obrigações ou deveres para com o idoso.
● Auto-negligência – comportamentos de uma pessoa idosa que ameaçam a sua própria saúde ou segurança. A definição de auto-negligência exclui situações nas quais uma pessoa idosa mentalmente capaz (que compreende as consequências das suas decisões) toma decisões conscientes e voluntárias de se envolver em actos que ameaçam a sua saúde ou segurança.
Estudos publicados apontam para uma prevalência entre 1 e 5% de idosos abusados. Estima-se que praticamente 2 terços dos perpetradores de abusos de idosos são membros da família, com muita frequência o cônjuge/companheiro (34,6%) ou filho adulto da vítima (33,5%), contudo netos, noras, genros, vizinhos também se encontram entre os abusadores. Usualmente a pessoa que abusa do idoso está a explorar uma relação de confiança. Segundo dados da APAV de 2006 os abusadores são usualmente homens (73%) e as vítimas de abuso são na sua maioria mulheres (80%). Em 57% dos casos o agressor vive na mesma casa que o idoso.
Sendo preocupante a frequente ausência de denúncias de muitos destes abusos que se prende com o facto do idoso estar frequentemente unido por laços de consanguinidade ao abusador, não tendo por isso coragem para denunciar estas situações por sentimentos de culpa, vergonha, medo das represálias (perda da autonomia, alteração do local em que habita nomeadamente ser colocado numa instituição, perda do cuidador mesmo sendo este o abusador, medo de ficar só sem alguém que dele cuide, entre outras), ninguém acreditar no abuso, baixa auto-estima (do idoso).
Face a este cenário o que será necessário fazer para impulsionar a procura de ajuda por parte desta franja da população vítima destes abusos? O que nos cabe a nós, psicólogos/psicoterapeutas, fazer? Deixo o alerta e aberto o debate!


segunda-feira, setembro 24, 2007

"Childre See, Children Do" (?)




A "Aprendizagem por Modelação ou Observação" foi como nos habituámos ler nos manuais aquilo que neste filme se apresenta de uma forma caricatural. É, segundo sei, da autoria da "Childfriedly.org" e corre pela Internet há já algum tempo. Fala por si.

quinta-feira, setembro 20, 2007

"Barreira de Contacto"

Nasceu em Julho um novo blog sobre psicologia e psicanálise, organizado por um amigo e colega, o Dr. João Balrôa. Parabéns João.

Aconselho a todos os que se interessam por estes temas a estarem atentos a este blog que já é muito interessante e tornar-se-á ainda mais com o nosso incentivo. Vão lá ver!


barreiradecontacto.blogspot.com

sexta-feira, setembro 14, 2007

Conferencia na Faculdade de Medicina de Lisboa

A Faculdade de Medicina de Lisboa, tem o prazer de o convidar a assistir à conferência intitulada “O Papel do Psicanalista no Processo de Cura” proferida por Bernard Penot, no âmbito do Mestrado de “Vitimização da Criança e do Adolescente”.

A conferência terá lugar na Aula Magna da FML no dia 14 de Setembro (sexta-feira - 21 horas), e será comentada por Carlos Amaral Dias e contará com as participações de António Coimbra de Matos, Luísa Branco Vicente e Pedro Luzes (entrada livre).

O Amor Virtual

Sabemos que é cada vez mais frequente o número de pessoas que se conhecem pela Internet, que marcam encontro e, algumas acabam por casar.
As transformações ocorridas na sociedade nas últimas décadas levaram ao aparecimento de novas formas de relacionamento que exigem novos olhares de compreensão e reflexão. Antes da Internet já tínhamos os serviços telefónicos como o telessexo, programas televisivos, e agências matrimoniais em que as pessoas vão em busca de namoro e casamento.
Quais as razões que levam as pessoas a procurarem estes recursos em busca do amor? Podemos evocar a solidão mas parece-me demasiado simplista e não abrange a complexidade da sua ocorrência.
O que tem chamado mais a atenção é o fenómeno virtual em que o internauta com quem se estabelece um relacionamento não é conhecido. As relações amorosas passaram a fazer parte das passibilidades dos internautas, pois, “para eles nada é mais lógico do que o estabelecimento de relações virtuais, uma vez que o computador passa a ser uma verdadeira realidade pessoal” (Angerami, 2006, p.108). Estabelecem o vínculo de namoro, assumem o compromisso, mas não se conhecem presencialmente.
Merleau-Ponty (1999) diz que “a sexualidade se difunde em imagens que só retêm dela certas relações típicas, certa fisionomia afectiva. O internauta cria no seu imaginário constitutivos idealizados de amor e da pessoa com quem se relaciona. A vivência da Internet não o remete à necessidade de vivências reais; a sua necessidade de amor é algo que não pode ser compreendido por padrões de amor que implicam o toque corpóreo” (cit. in Angerami, 2006, p. 110).
E por mais insólito que possa parecer aos que acreditam no pulsar da emoção, no brilho do olhar, a palpitação do coração, as palavras de todos os poetas que escrevem sobre o amor e a paixão, as pessoas podem estar satisfeitas com relacionamentos estabelecidos virtualmente. Estas novas modalidades de relação desafiam qualquer tipo de reflexão teórica-filosófica, sendo difícil contemplar estas mudanças à luz das publicações sobre a psicologia do desenvolvimento.

Angerami coloca, a meu ver, uma questão pertinente: será necessária uma reformulação nos conceitos actuais de estudos da condição humana para que possamos atingir em algum nível o seu verdadeiro dimensionamento?