segunda-feira, junho 08, 2015

Tristeza ...? Ou Depressão?


"Era muito difícil conseguir levantar-me da cama de manhã. Só queria esconder-me debaixo dos lençóis e não falar com ninguém. Não me apetecia comer nada e perdi bastante peso. Nada tinha interesse. O cansaço era sempre-presente e não conseguia dormir bem durante a noite. Mas sabia que tinha de continuar em frente porque tenho filhos e um emprego. Parecia impossível, como se nada
fosse mudar ou ficar melhor."

As pessoas com depressão não sofrem todas dos mesmos sintomas. A gravidade, frequência e duração dos sintomas dependem da pessoa e das particularidades da doença.


Os sinais e sintomas da depressão incluem:


- Sentimentos persistentes de tristeza, ansiedade ou sentimentos de vazio
- Sentimentos de desespero ou pessimismo
- Sentimentos de culpa, falta de valor próprio, ou desamparo
- Irritabilidade, inquietude
- Perda do interesse em atividades ou hobbies outrora prazerosas, incluindo o sexo
- Cansaço e diminuição da energia
- Dificuldade de concentração, de recordação de pormenores, e de tomada de decisões
- Insónia, acordar de manhã demasiado cedo, ou sono excessivo
- Ingestão excessiva de alimentos, ou perda de apetite
- Pensamentos de terminar com a vida, tentativas de suicídio
- Dores físicas, dores de cabeça, caibras, problemas digestivos que não melhoram com o tratamento.

A psicoterapia ajuda a pessoa a lidar com as emoções penosas que alimentam e mantêm a depressão. Muitas vezes é necessário todo um trabalho de fundo sobre a presença de relações perturbadas na vida da pessoa que podem estar a causar ou a agravar o quadro de depressão, sejam estas relações parte da vida presente ou da vida passada da pessoa.

Para depressões ligeiras a moderadas, a psicoterapia pode ser a melhor opção. Contudo, para depressões graves ou para algumas pessoas, o tratamento poderá envolver uma combinação de psicoterapia e medicação.

Alguns estudos demonstram, por ezemplo, como adultos que se submeteram a um tratamento combinado de medicação e psicoterapia tornavam-se menos propensos a novas quedas depressivas após um periodo de 2 anos.



Fonte: National Institute of Mental Health (EUA)

sexta-feira, junho 05, 2015

Final de semana com acompanhamento musical


Fica mais uma sugestão musical para relaxar (ou estudar) neste final de semana!

A Psicronos deseja-lhe um muito bom fim-de-semana!


quarta-feira, junho 03, 2015

14 sinais de um perfecionismo fora de controlo




 Se alguma vez chorou por conseguir um resultado abaixo de "excelente" ou terminar algo em segundo lugar, há uma grande probabilidade de ser uma pessoa perfecionista.

Enquanto cultura, temos tendência em recompensar os perfecionistas pela sua insistência em estabelecer metas altas e sua forte vontade em alcançar as mesmas. Os perfecionistas são frequentemente pessoas que alcançam muito mesmo, mas pagam um preço pelo sucesso que pode ser a infelicidade crónica e a insatisfação.

Ao tentar agarrar as estrelas no céu os perfecionistas podem acabar de mãos vazias, agarrados ao ar. São pessoas com propensão para relacionamentos perturbados e perturbações de humor.

O perfecionismo não tem necessariamente de atingir níveis de exigência enorme para que causem danos severos na vida e na saúde. Até os perfecionistas casuais (que até podem nem se considerar enquanto perfecionistas) podem sentir os efeitos secundários negativos da sua exigência pessoal pela excelência. 

Ficam aqui 14 sinais de que o perfecionismo pode estar de facto a retê-lo(a):

1. Sempre teve uma predisposição para agradar

2. Sabe que a sua vontade de perfecionismo está a predudica-lo(a), mas considera-o o preço do sucesso

3. Tende a procrastinar bastante

4. É fortemente crítico(a) dos demais

5.  Adota uma atitude de "tudo ou nada"

6.  Tem dificuldade em partilhar aspetos íntimos de si com os demais

7. As falhas e insucessos são penosamente sentidos como falhas do "Eu" e não como avaliações pontuais de contexto

8. Tende a levar tudo a peito

9. Torna-se particularmente defensivo quando criticado

10. Nunca está realmente onde acha que deveria estar

11. É-lhe penosa a ideia de receber uma avaliação de "mediocre", numa escala de "mau", "mediocre", "bom" e "excelente"

12. Tem prazer nos fracassos alheios, ainda que não tenham qualquer relação consigo

13. Sente uma nostalgia secreta pelos tempos de escola

14. Sofre frequentemente de sentidmos de culpa e/ou vergonha


Por detrás do perfecionismo pode estar a crença "eu não sou suficientemente bom", e respetivas consequências que esta crença tem para toda a dinâmica interna da autoestima. Com efeito a psicoterapia consegue trabalhar em profundidade e ao longo do tempo as questões subjacentes ao perfecionismo, promovendo atitudes e comportamentos mais adaptativos, aumentando ao mesmo tempo a satisfação para com a vida, com o trabalho e para com as relações.


Leia o artigo original aqui (versão inglesa)
Fonte:
HUFF POST: The Third Metric

segunda-feira, junho 01, 2015

Tonalidades Negras da Educação Parental


A educação de um filho é preocupação fundamental para um pai. Naturalmente ajudar uma criança a tornar-se num adulto bem-sucedido e feliz é, lato sensu, a tarefa mais importante de qualquer pai. Mas é curioso e particularmente interessante como a palavra "educar", tal como por exemplo a palavra "amor", pode de facto albergar tantos significados diferentes... 

Para alguns pais o “educar” assume uma dimensão exagerada, de tal modo que algumas vezes se sobrepõe a tudo o resto que é igualmente fundamental. A diligência em estabelecer regras, enunciar saberes e atribuir deveres pode por vezes imperar de tal modo que se converte na principal resposta ou recurso que um pai tem disponível para lidar com as várias necessidades, experiências, preocupações, angústias e confusões naturais de uma criança pequena. Uma necessidade quase vital de orgulho no saber educar e no desempenho da função parentais, a irritação frequente ou os problemas de saúde mental são por exemplo motivadores destas atitudes quando elas se mostram mais exclusivas. 

De facto a forma como alguns pais percebem e lidam com o conceito e com a realidade da educação parece ligar-se por vezes a uma necessidade/vulnerabilidade narcísica de fundo. Como se a educação se tratasse de um veículo de expressão de um imperativo para a imposição da própria vontade sobre a vontade da criança (e eventualmente sobre a vontade das outras pessoas). Como se a não obediência ou resistência da criança a essas imposições, saberes ou conselhos gerasse com demasiada frequência irritação, crítica depreciativa, rejeição ou desinteresse nos pais. 

Assim, muitas vezes a "educação" divorcia-se do desejo de estar e conviver com a criança. Do brincar com a criança, fonte da aprendizagem, que se faz logo a partir da mais tenra idade a partir do "brincar ao fazer e fazer a brincar". E de uma relação que se ergue a partir da cumplicidade e a partir da disponibilidade de um pai paciente que ajuda a criança a compreender-se a si mesma, o seu mundo e as suas relações. Só com isto se amadurece verdadeiramente e só consegue a possibilidade de se crescer com um sentido de autonomia e confiança nas próprias capacidades, bem como nas relações com os demais. 

A parentalidade é de facto algo muito diferente do que a encenação de um papel de autoridade impositora do dever e do saber, que reage com irritação, rejeição e/ou depreciação quando a sua autoridade não se faz cumprir ou o seu saber moral ou intelectual não se faz seguir. Aqui, a figura amada converte-se e mistura-se confusionalmente com a figura persecutória. 

É o objeto (figura de investimento afetivo e de relação) insecurizante, indutor e cristalizador dos sentimentos de insegurança e de pouca competência, pois não ajuda verdadeiramente no aprender e no crescer, mas pune, retirando-se enquanto objeto disponível, paciente e compreensivo, o verdadeiro objeto na relação com o qual se forja internamente o sentimento de capacidade e de competência. E quando se retira em atitude, leva com ele o nutrimento-relação vital para que a criança possa crescer e se autonomizar. 

É a psicologia da dificuldade no reconhecimento da autonomia dos demais e do desejo autónomo (separado; diferente do desejo do próprio sujeito) dos demais. A criança é a extensão que desempenha uma função, muitas vezes ligada à manutenção da autoestima dos pais ou representante de outros recursos internos que por algum motivo a estes lhes faltam ou lhes faltaram ao longo do percurso do desenvolvimento. São algumas vezes crianças (inconscientemente) colocadas a servir como que de psicoterapia para os pais, por exemplo para iludir sentimentos de vazio, atenuar angústias de separação ou servir enquanto recetáculos para as necessidades projetivas dos pais (de se livrarem de sentimentos ou outros aspetos repudiados deles mesmos, colocando-os na criança e assim conseguindo algum alivo, frequentemente à custa da saúde mental da criança). 

Uma educação que mais se assemelha a uma espécie de domesticação será marcada por exemplo pela contínua imposição, pelo obliterar do espaço para o pensamento e para a expressão, induzindo na criança algo semelhante ao que um adulto sente quando é encarcerado, vendo-se sem liberdade de escolha das suas circunstâncias. No seu extremo estas imposições podem fazer-se acompanhar de ameaças à integridade física, castigos cruéis, abandono, e mesmo de agressões físicas efetivas, o que é mais ou menos análogo ao atirar uma criança para um calabouço e trancar a porta à chave. Aqui se constituem as bases para adultos temerários, com dificuldades de autonomia e autoestima de maior ou menor grau. 

Uma das chaves para uma educação (relação) sã é a possibilidade de se poder pensar em conjunto com a criança, sempre com tolerância a não se saber como ela vai usar as novas ideias que vão surgindo, mas oferecendo a disponibilidade para ajudar a orientar no que quer que surja efetivamente. Daqui brotam adultos mais seguros e autónomos. 

quarta-feira, maio 27, 2015

Porque não pode o psicólogo atender a família e os amigos?

 
É bem comum, quando se é Psicólogo, ouvir este questionamento vindo de pessoas conhecidas, como parentes e amigos: “Mas por que você não pode me atender?” ou ainda: “Você que é Psicólogo, o que você acha sobre esse assunto, como podemos resolver isso?” ou “O que você acha que eu tenho?”.

São muitas as situações em que os psicólogos são “convocados” a dar sua “opinião de especialista”
para ajudar a resolver conflitos familiares ou cotidianos.

O Código de Ética dos Psicólogos não proíbe claramente que sejam atendidos familiares ou amigos, a decisão sobre atender ou não vai de acordo com o bom senso do profissional.

O que se acredita que pode interferir negativamente no sucesso do processo terapêutico é justamente a intimidade e proximidade que existe entre o psicólogo e o paciente fora do consultório. Durante os atendimentos, para se chegar a um objetivo, o psicólogo precisa explorar muitos aspectos da história do indivíduo, fazer questões que muitas vezes adentram a sua intimidade e suas particularidades, o que pode prejudicar de alguma forma o relacionamento de amizade ou familiar. E o contrário também ocorre, pois muitas vezes o paciente pode optar por não revelar determinadas questões sobre si mesmo por não se sentir à vontade o suficiente com o psicólogo e mesmo por medo de expor suas intimidades e ter sua relação fora do consultório afetada. Assim, o processo terapêutico fica comprometido. E por parte do Psicólogo, também pode haver pré-concepções sobre o paciente (pois estes já se conhecem), que poderão afetar o processo. O terapeuta não é isento de sentimentos e emoções, que o fazem correr o risco de deposita-los de forma incorreta no paciente já conhecido, envolvendo opiniões pessoais e não somente profissionais na terapia.

E é claro que ao psicólogo não fica vedado o direito de dar sua opinião profissional acerca de conflitos e questões familiares ou de amigos. Aqui entra novamente o bom senso, pois não se pode fornecer um “diagnóstico” fora do setting terapêutico, ou seja, ausente do ambiente de atendimento e sem analisar todo um histórico e demais fatores que interferem em determinada questão (o que não se pode fazer em alguns minutos apenas, no churrasco de domingo). O psicólogo pode contribuir e auxiliar nestas questões específicas até o momento que lhe couber, com base nos princípios éticos que regem a profissão, visando sempre o cuidado e o bem estar do outro.

Fonte:
Ane Caroline Janiro
http://psicologiaacessivel.net/

segunda-feira, maio 25, 2015

Grupo Terapêutico - Vença a TIMIDEZ!


O que é a Timidez?

A timidez é um conceito difícil de definir. É uma condição complexa que produz toda uma serie de efeitos desde um ligeiro constrangimento a um receio absurdo.

A pessoa tímida sente relutância em enfrentar ou lidar com pessoas ou coisas específicas, mostra-se pouco à vontade na conversação e na ação, tem receio em afirmar-se e é facilmente perturbável.

A pessoa tímida pode ser retraída e reservada por falta de confiança em si mesmo. A pessoa tímida é aquela que se sente constrangida na presença de outros.

Para algumas pessoas a timidez é algo que afeta muito o seu dia-a-dia desde há muitos anos. A timidez pode levar à solidão, principalmente quando a pessoa se sente tímida todo o tempo, em todas as situações e com praticamente todas as pessoas.

A timidez é um problema que pode criar tantos problemas quanto uma deficiência física grave, e as suas consequencias podem ser extremamente prejudiciais:

- a timidez faz com que seja difícil conhecer pessoas novas, fazer amigos, ou viver experiencias potencialmente boas;

- impede-nos de defender os nossos direitos e expressar opiniões e valores de forma assertiva;

- limita a possibilidade dos outros avaliarem positivamente as nossas capacidades;

- aumenta o constrangimento e uma preocupação excessiva pelas próprias reações;

- faz com que seja difícil pensar com clareza e comunicar com eficácia;

- é frequentemente acompanhada de sentimentos negativos como a depressão, a ansiedade e a solidão

Ser tímido é ter medo das pessoas, especialmente daquelas que por qualquer motivo constituem uma ameaça no plano emocional: os estranhos pelo fato de serem uma novidade e um fator de incerteza, as autoridades por exercerem poder, os membros do outro sexo por representarem a possibilidade de encontros íntimos.

Apesar das suas consequências negativas e do seu grau de intensidade, é possível vencer a timidez.

O que posso esperar deste programa?

No seguimento do seu contacto será integrado numa turma do programa VENCER A TIMIDEZ.

Na 1ª sessão irá conhecer outras pessoas que sofrem com a mesma dificuldade que você, sofrem de TIMIDEZ. É natural que não se sinta à vontade e que lhe possa ser difícil dar o primeiro passo para se inscrever no grupo e, depois de inscrito, poderá ser-lhe difícil ir à primeira sessão.

Pode sentir que irá ser complicado para si ir ao primeiro encontro, mas vai ver que será um esforço que irá compensá-lo.

Pode conhecer outras pessoas que sofrem do mesmo problema e que lutam para o conseguir ultrapassar, tal como você faz, pode trazer, por si só, um certo alívio. Partilhar, dentro do que lhe for possível, a sua experiência com outras pessoas é já em si uma experiência de treino de competências.

Na primeira sessão poderá recolher-se numa atitude mais passiva em que lhe será solicitado apenas que responda a um questionário escrito e que participe, passivamente, em exercícios de relaxamento com base em técnicas de hipnose clinica. Para além de poder assistir a uma palestra sobre a psicologia da timidez.

Nas sessões seguintes ser-lhe-á solicitado progressivamente uma maior participação tendo sempre em linha de conta os seus constrangimentos e dificuldades. Progressivamente irá adquirindo novas competências relacionais, aprender a monitorizar os seus níveis de ansiedade e a suavizá-los com diversas técnicas, ganhando naturalmente mais confiança em si próprio.

Este programa terá início com um número mínimo e máximo de participantes. Terá a duração de 12 sessões semanais.

O programa “VENÇA A TIMIDEZ” irá providenciar um tempo e um espaço onde poderá

       (1) Ganhar uma compreensão da psicologia da TIMIDEZ,

       (2) aprender estratégias práticas para gerir e minimizar os efeitos da TIMIDEZ,

       (3) praticar essas técnicas dentro e fora do grupo terapêutico,

       (4) aprender a manter os ganhos que conquistou durante a terapia de grupo.


Abordagens Terapêuticas Utilizadas

PSICOEDUCAÇÃO
HIPNOSE CLÍNICA
ESTIMULAÇÃO BILATERAL
EFT
 
Valor: 30€/ Sessão
Local de realização do Grupo: Lisboa | Rua da Prata, 250 - 3º Esq.
Horário: Todas as quartas das 18h às 19h30
Terapeuta: Dra Ana Almeida
Contactos: 21 314 53 09 | 91 831 02 08; www.psicronos.pt | geral@psicronos.pt


sexta-feira, maio 22, 2015

O que é a Psicoterapia (II) - A Atitude de um Psicoterapeuta em Sessão


Um psicoterapeuta não emite julgamentos, e muitas pessoas evitam mesmo recorrer a um psicoterapeuta por receio de serem julgadas. É um medo que está sobretudo ligado à experiência de sermos ou termos sido julgados(ou pior...) por aqueles que são ou outrora foram as pessoas mais próximas ou mais marcantes das nossas vidas. Está também relacionado com a tendência a nos julgarmos a nós mesmos (e por vezes aos outros), pois essas pessoas outrora mais críticas, mais irritáveis, mais culpabilizantes ou mais inferiorizantes vão ficando gravadas dentro de nós e contra nós. São como uma herança emocional nociva e sempre presente, tornada inevitável pelos próprios processos psíquicos de internalização e identificação que fazem parte e moldam o desenvolvimento da personalidade de qualquer ser humano logo desde muito cedo.

Por vezes também nos julgamos dessa forma não tanto (ou não só) pela exposição prolongada e internalização dessas figuras mais nocivas, mas por falta do seu exato oposto. Falta de pessoas importantes para nós (e nós para elas!) que se mostram ou mostravam (e mais importante de tudo, que se faziam sentir como) tolerantes, atentas, preocupadas, interessadas e compreensívas para connosco nas mais variadas circunstâncias.

Da mesma forma com que nos julgamos a nós mesmos, que somos serveros connosco próprios ou que não nos aceitamos, naturalmente iremos achar que os outros também não nos irão aceitar e compreender. Por vezes fica mesmo a faltar ao longo de toda a vida a experiência sanígena, fundamental e reparadora de podermos ser verdadeiramente compreendidos, de termos alguém que lá esteja para nós, capaz de uma sintonia empática e de um interesse compreensivo sobre nós, sobre as nossas preocupações e angústias, sobre as nossas alegrias e tristezas. Alguém que nos deixa a sentir compreendidos, sem crítica ou juizo de valor. Por vezes esse trauma por falta de empatia e o medo da crítica que ele gera transformam-se em desagradáveis companheiros de vida que lançam rédea curta ao sentimento de liberdade e restringem o sentido da mesma. Um encarceramento que vem de dentro e que ataca o próprio direito a podermos ser livremente aquilo que somos, quem verdadeiramente somos, e de podermos existir livres do preconceito, da critica e da restrição. Muitas pessoas nascem, vivem e morrem sem nunca saberem o que isso é... Sem saber o que é viver sem o medo e incómodo persistente ou intermitente do que os outros poderão pensar ou vir a pensar, sobre a própria pessoa, sobre a sua família, sobre a sua situação financeira, sobre as suas associações, etc..

A psicoterapia é um lugar e um encontro que consegue de facto, ao longo do tempo, transformar e remover estas restrições internas. Por vezes elas podem à partida nem ser percebidas enquanto sintomas ou aspetos passíveis de serem mudados, mas sim como a forma normal de sermos, de sentirmos e vivermos a vida. É a nossa personalidade ou feitio, quem nós somos. Ao ajudar a dar nome aos fenómenos da vida interior, áquilo que é num primeiro momento desconhecido ou nunca pôde ser pensado, o psicoterapeuta cataliza um "separar de águas" onde se tornam distintos dois lados da realidade: aquilo que pode e aquilo que não pode ser mudado. Assim se desvela paulatinamente uma nova realidade que transcende quem somos e quem sempre fomos: quem poderemos vir a ser.

Uma outra atitude que o psicoterapeuta deverá procurar manter, e que está de alguma forma subentendida nos parágrafos anteriores, é sem dúvida a de preocupação, ou bem-querer, e de interesse genuíno para com quem procura ajudar. Enquanto pessoas, e de uma forma geral, é muito dificil conseguirmos sentir que estamos a ser ajudados ou a retirar proveito de uma relação psicoterapêutica quando estamos com alguém que nos parece distante, pouco interessado em nós e naquilo que temos para dizer, ou que nos diz coisas que parecem ficar muito ao lado das nossas preocupações ou que não conseguimos entender.

Esta preocupação e interesse compreensivo fazem-se ainda acompanhar por uma atitude a partir da qual o psicoterapeuta se abstem de oferecer conselhos, indicações ou direções a seguir, ainda que por vezes, quando se justifica, poderá oferecer algumas sugestões. Tal prende-se com um importante principio ético (e psicoterapêutico) de uma qualquer psicoterapia, a defesa e promoção da autonomia individual, do direito de uma qualquer pessoa à liberdade de pensar, de agir, de escolher e de tomar decisões sobre a própria vida. Quando essa autonomia está por algum motivo comprometida, então o primeiro passo poderá mesmo ser o fundar de uma relação terapêutica que servirá de alicerçe para a construção, reconstrução ou para o desbloquear do “Eu” autónomo e diferenciado.

É ainda de realçar a posição moral da psicologia psicanalítica enquadrada num panorama político e social. São três os pontos centrais a realçar: A necessidade de considerar e enfrentar a realidade por mais dolorosa que seja, em detrimento do ignorar da verdade e da realidade; a ligação íntima entre os cuidados básicos e a construção de uma sociedade saudável, na medida em que a negligência social pela infância conduz inexoravelmente ao sofrimento da sociedade; e a autonomia enquanto direito próprio, originária a partir de um cuidado parental sensível, cuja falta pode, com sorte, ser remediada pela psicoterapia.

quarta-feira, maio 20, 2015

||Perturbações de Personalidade|| - Personalidade Narcísica



Pode ser feita a distinção entre uma perturbação narcísica de personalidade de nível mais neurótico e de nível mais borderline (mais grave). No primeiro nível a pessoa narcísica pode ser socialmente apropriada, bem-sucedida, charmosa e, ainda que algo deficitária na capacidade para a intimidade, razoavelmente bem adaptada às suas circunstâncias familiares, de trabalho e interesses. Em contraste, no segundo e mais grave nível, a pessoa narcísica sofre de uma clara difusão de identidade, falta de um sentido consistente de moralidade internamente direcionada, e pode comportar-se de formas altamente destrutivas.

A experiência interna subjetiva das pessoas narcísicas é o sentimento de vazio e ausência de sentido, que requer infusões frequentes de confirmação externa da importância e do valor delas próprias enquanto pessoas. Quando conseguem este objetivo, através de estatuto, admiração, riqueza e sucesso, sentem como que uma elevação interna, comportando-se frequentemente de forma grandiosa e tratando os outros (especialmente aqueles percebidos como pertencendo a um estatuto inferior) com desprezo.

Quando o ambiente não consegue corresponder a estas necessidades de validação, a pessoa narcísica sente-se tipicamente deprimida, envergonhada e invejosa daqueles que conseguiram os recursos que a elas lhes falta. São pessoas que sofrem de uma grande dificuldade em sentir prazer no trabalho e na vida amorosa.

Algumas pessoas que sofrem de perturbações narcísicas podem ser menos sucedidas mas ao mesmo tempo estar preocupadas com fantasias de grandiosidade. Outras podem procurar a psicoterapia para que o terapeuta lhes ensine a serem populares, "normais" ou terem aquilo que as outras pessoas mais afortunadas têm.

As perturbações narcísicas muitas vezes sujem de mão dada com as preocupações hipocondríacas (preocupações persistentes com o medo de ter ou contrair doenças) e a tendência a somatizar (expressão corporal de problemas emocionais). Esta é uma tendência cuja literatura clínica aponta estar relacionada com o desinvestimento de ligações emocionais e investimento na própria integridade física durante a infância, à custa de terem sido vividos vínculos com cuidadores pouco gratificantes ou cheios de segundas intenções.

A perturbação narcísica obriga a que uma dada pessoa despenda quantidades consideráveis de energia na avaliação do seu estatuto em comparação ao estatuto das outras pessoas. A autoestima é defendida por meio de uma combinação de idealização e desvalorização dos demais. Quando idealizam alguém, sentem-se mais especiais e importantes por virtude da associação com essa pessoa. Quando desvalorizam alguém, sentem-se superiores.

As pessoas com patologia narcísica tendem a ser mais fáceis de ajudar a meio da vida ou depois, quando o investimento narcísico na beleza, fama, riqueza e poder foi frustrado e quando se deparam com limites realistas à grandiosidade. As queixas que tendem a trazer os pacientes narcísicos à psicoterapia por esta altura são nomeadamente três: sentimento de vazio, perda da capacidade de amar e sentimento de se ter destruído a vida de outra(s) pessoa(s).

Preocupação/tensão central: Inflação/deflação da autoestima
Afetos centrais: Vergonha, desprezo, inveja
Crença patogénica característica sobre si próprio(a): Preciso ser perfeito(a) para estar bem
Crença patogénica sobre os outros: Os outros usufruem de riqueza, beleza, poder, e fama; quanto mais disso tiver, melhor me sentirei
Subtipos:

Arrogante/Detentor de privilégios ("entitlement")
Comporta-se a partir de um sentido declarado de ser detentor de direitos especiais ou privilégios, desvaloriza a maior parte das pessoas, impacta enquanto alguém superficial e manipulativo, ou carismático e dominante.

Deprimido/Esvaziado
Comporta-se de forma agradável (como quem procura agradar ou cair nas graças de alguém), procura pessoas para idealizar, é facilmente ferido, e sente inveja crónica dos outros quando percebidos em posições superiores.

 Fonte: PDM - Psychodynamic Diagnostic Manual

segunda-feira, maio 18, 2015

Lançamento do livro "O Obscuro Fio do Desejo", de Carlos Amaral Dias


A Psicronos tem o prazer de anunciar o lançamento do livro de Carlos Amaral Dias intitulado "O obscuro fio do desejo", prefaciado e organizado por Clara Pracana.

A apresentação estará a cargo de António Coimbra de Matos e terá lugar no dia 23 de Maio às 18:30 no Grémio Literário, Rua Ivens 37 em Lisboa.

Entrada livre.





Sobre o lançamento desta obra de Carlos Amaral Dias, fica um excerto do blogue Novos Livros:

De que trata este seu livro "O Obscuro Fio do Desejo"?

"O livro, que vai ser formalmente lançado no dia 23 de Maio, no Grémio Literário,  é uma colectânea de textos que se organizam à volta dessa coisa, misteriosa e inefável, que é o desejo humano. Freud, e vários psicanalistas que se lhe seguiram, têm tentado dissecar o desejo. O que é que define o desejo: o seu objecto? O sujeito? A sua intensidade? A sua duração? A sua forma? De uma maneira ou de outra, os vários capítulos deste livro tocam o tema. Mesmo, ou talvez sobretudo, o capítulo sobre a eutanásia."

De forma resumida, qual a principal ideia que espera conseguir transmitir aos seus leitores?

"A de que a vida é para ser vivida. Parece uma ideia óbvia, mas a questão é complexa. A pulsão de morte habita dentro de todos nós."

Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
"Estou a preparar, com a mesma amiga e colega que organizou e prefaciou este livro, a Doutora Clara Pracana, uma outra colectânea de textos, desta vez escritos a quatro mãos."

Fonte:
http://novoslivros.blogspot.pt/2015/05/carlos-amaral-dias-o-obscuro-fio-do.html

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Carlos Amaral Dias
O Obscuro Fio do Desejo
Fim de Século, 17€