Há algum tempo atrás um dos meus pacientes enviou-me um e-mail com um poema que nos faz reflectir sobre a questão da posse e da necessidade de domínio sobre o outro. A forma como nós tendemos a pensar nos outros e, mais concretamente, nos nossos filhos como “propriedade” nossa é profundamente prejudicial porque não permite que a criança cresça para ser quem é.
É muito difícil mas muito importante respeitar o outro na sua individualidade.
Os Filhos
São os filhos e as filhas da Vida que anseia por si mesma.
Eles vêm através de vós mas não de vós.
E embora estejam convosco não vos pertencem.
Podeis dar-lhes o vosso amor mas não os vossos pensamentos, pois eles têm os seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar os seus corpos mas não as suas almas.
Pois as suas almas vivem na casa do amanhã, que vós não podereis visitar, nem em sonhos.
Podereis tentar ser como eles, mas não tenteis torná-los como vós.
Pois a vida não anda para trás nem se detém no ontem.
Vós sois os arcos de onde os vossos filhos, quais flechas vivas, serão lançados.
O arqueiro vê o sinal no caminho do infinito e Ele com o Seu poder faz com que as Suas flechas partam rápidas e cheguem longe.
Que a vossa inflexão na mão do Arqueiro seja para a alegria; Pois assim como Ele ama a flecha que voa,
Também ama o arco que se mantém estável.
4 comentários:
tenho uma noção de maternidade muito livre e muito próxima desta que acabei de ler, mas por várias e mesmo muitas vezes fui apelidada de má mãe...infortunios de quem não entende uma das coisas mais simples da vida, o amor e a liberdade! obrigada por teres escrito isto, foi um alento. sofialisboa
Olá, Sofia.
Fico contente que se tenha reconhecido no post que escrevi e que isso lhe tenha sido útil. Imagino que não seja o seu caso pessoal, mas por vezes, também acontece as pessoas em nome da liberdade e da atribuição de competências de autonomia darem expressão a um lado frio, distante e profundamente narcísico e egoísta. Aquilo que é complicado e na minha opinião desejável é sermos capazes de estar em contacto empático com o outro e ainda assim não nos deixarmos “arrastar” pela necessidade de controlar e dominar o outro, de querermos que ele seja aquilo que nós desejamos. O desejo pode ser o desejo do desejo do outro e esse desejo pode ser tirânico.
Mais uma aos filhos.
Aquilo que para mim mais significa tê-los.
Para uma mãe que estve 8 anos à espera de ser mãe...é assim. Se não Tê-los como sabê-los??
Poema Enjoadinho
Vinícius de Moraes
Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
O texto acima foi extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 195.
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