Há uns dias atrás, um leitor e futuro colega (aluno do 2º ano de psicologia) escreveu-nos um e-mail a dizer que seguia com interesse o nosso blog, mas que tínhamos a tendência para escrevermos muito sobre teoria e técnica psicanalítica e muito pouco sobre outras correntes mais actuais. Dizia ainda que nem sequer tinha em grande conta a psicanálise e que portanto lhe parecia um desperdiço de tempo e recursos.
Este e-mail, o qual agradeço, teve como consequência fazer-me reflectir sobre a imagem da psicanálise junto dos psicólogos e achar oportuno dar-vos uma pequena explicação sobre porque falamos tanto de psicanálise.
Na verdade, falamos tanto de psicanalise porque a maior parte de nós tem formação complementar em Psicoterapia Psicanalítica e eu própria em Psicanálise.
A escolha de uma escola dominante na estruturação da nossa identidade enquanto psicólogos e da nossa prática clínica é, na maioria das vezes, circunstancial. A universidade, faculdade ou instituto onde fazemos a licenciatura é determinante nessa escolha. É nos primeiros anos de contacto com a psicologia que interiorizamos a ideia do que é bom ou mau, do que é melhor ou pior. Nesse julgamento seguimos, habitualmente, a opinião dos nossos professores e a linha que a própria escola adoptou para si.
Connosco não foi diferente. A maior parte de nós formamo-nos no ISPA (Instituto Superior de Psicologia Aplicada) em Lisboa, onde a linha dominante dentro da área da Clínica é a psicanalise, provavelmente porque o seu director, o Prof. Dr. Frederico Pereira, é psicanalista (ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Psicanálise).
Para além desta primeira adesão circunstancial que acabei de explicar, mais tarde cada um de nós individualmente fez um percurso pessoal que nos “convenceu” de que a psicanálise é um corpo teórico/clínico de elevada densidade e que está muito longe de se restringir aos escritos de Freud como por vezes se pensa.
A psicanalise actual aproxima-se da psicologia cognitiva, isto é, ambas as correntes parecem estar a convergir para uma área comum, a qual ainda não é inteiramente visível para ninguém. A psicanálise tem sido muito atacada ao longo da sua história e não me é possível neste post apresentar uma defesa fundamentada e suficientemente estruturada sobre as suas vantagens face a outras correntes. Por isso, deixo este assunto para uma outra oportunidade
Obrigada Rui Costa pela sua chamada de atenção. Vamos tentar diversificar mais.
3 comentários:
Ainda me deparo com a velha e mítica questão de que a psicanálise é Freud. Para muitos leigos ela parou no tempo e quase se tornou imutável, quando pelo contrário, na sua essência, ela é mudança, movimento.
Olá, Felixthecat.
Acho que seria interessante se este blog pudesse contribuir mesmo que de forma insignificante para a modificação dessa "velha e mítica questão" de que a Psicanálise pertence ao Jurássico da Psicologia.
Para que as pessoas possam superar os preconceitos temos que lhes permitir o acesso à compreensão daquilo que a Psicanálise é hoje em dia.
Concordo em absoluto consigo, a Psicanálise actual é mudança e movimento, mas dizê-lo não é suficiente. É preciso, na minha opinião, criar as condições para que as pessoas que nutrem esse preconceito possam chegar a essa conclusão por elas próprias.
Obrigado pela atenção, antes demais.
Não tenho tido muito tempo para ler o blog (faço-o agora que encontrei um pequeno intervalo na azáfama que tem sido este regresso às aulas), mas vejo, com muita alegria, que se interessam pela opinião dos leitores.
Curiosamente, ontém (dia 21 de setembro) tive a minha 1ª aula de Intervenção Individual I, onde se leccionam psicoterapias psicanaliticas, comportamentais e humanistas (as restantes - ou grande parte restante, apenas no 2º semestre em I.Individual II, na qual se falou sobretudo no estado actual do que se conhece do conceito de "psicanálise". Defacto, contrariamente ao que tinha vindo a acreditar, a psicanálise ainda faz parte da psicologia (tomemos como exemplo, o conceito de "transferência"...). Embora ainda "verde" no assunto, começo a tomar consciência de que, apesar das suas limitações teóricas e metodológicas (tal como os outros tipos de psicoterapias apresentam), há correntes que surgem, fortemente imbuidas nos ideiais psicodinâmicos.
De facto, a psicanálise não é (felizmente)apenas Freud...
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