Numa época em que se verifica uma transformação dos paradigmas da doença. A obesidade está a tornar-se na “mãe” de todas as outras.
Esta “mãe” gera mal-estar físico e psicológico. As questões ligadas ao mal-estar físico não me dizem respeito directamente. Uma vez que me cabe a mim diagnosticar ou tratar um diabético que obteve esta doença através de uma dieta desequilibrada e consequente excesso de peso.
No entanto, todo este quadro de nutrição desequilibrada e excesso de peso é gerado por comportamentos do sujeito.
Aqui entramos nas questões ligadas à psicologia. Por vezes os casos de obesidade mórbida escondem outras patologias a nível psicológico e estas têm que ser diagnosticadas e tratadas paralelamente com a dieta prescrita pelo Nutricionista. Afinal cada alimento que colocamos na boca é uma escolha, mas será que as pessoas que estão em dietas de redução de peso sabem porque escolheram ficar doentes?
Cabe ao psicólogo ajudar o cliente a descobrir os porquês de tais comportamentos lesivos para a sua saúde. Mas cabe também ao psicólogo ajudar o cliente a encontrar estratégias eficazes de modificar comportamentos de risco. Ou seja, identificar as armadilhas do consumo, os padrões de comportamento alimentar e implementar hábitos de exercício físico regulares.
Em resumo, e em tom de brincadeira. Quando nos entra um sujeito com problemas de peso no consultório, não podemos pensar em comer… temos que pensar como este cliente vai passar o seu tempo enquanto não come!!!
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2 comentários:
De facto a obesidade revela quaquer coisa do que é a nossa sociedade consumista actual, onde o espaço para a "falta" e para o "desejo" (no sentido lacaniano) tendem para o grau zero. Toda a máquina capitalista gira em torno disso: do lucro da nossa satisfação. Talvez a obesidade seja isso mesmo - a falta que não se constitui por estar permanentemente satisfeita.
Quanto ao que é o conceito de "doença": penso que os técnicos de saúde mental têm de reflectir sobre o que é a doença. Não nos esqueçamos que no tempo de Estaline, as "vozes" dissidentes eram sinal de "perturbação psiquiátrica" e internadas no Instituto Scherbsky de Moscovo. Nós não estamos no tempo de Estaline, mas nem por isso deixamos de estar numa temporalidade em que existe a submissão a um Paradigma, o tecnocietífico, que dita a sua própria versão (higiénica) de normalidade e de patologia.
É preciso os psicólogos saberem o "mestre" a que servem e não pararem, incessantemente, de questionar as palavras que esse mestre lhes dá para forjarem a sua realidade. Não nos esqueçamos que o "Mestre" que dita o que é o bem-estar psicológico, que engendrou o Nutricionismo, é também aquele que "produz" as vias sim-tomáticas da obesidade.
Então, o que é a doença?
Quanto a mim, prefiro dizer que existem formas singulares de gozo do seu próprio sintoma.
Gostaria de acabar com uma pequena anedota (não sei se estará bem contada) que provavelmente conhecem, para demonstrar o carácter negativo das politicas de higienização da saúde mental e da sociedade: um médico diz a um senhor de alguma idade - "se quiser chegar aos 100 anos tem de parar de fumar, de beber e de fazer sexo", ao que o sujeito lhe responde: "Então de que é que me serve chegar aos 100 anos?"
Isto para ilustrar que essas políticas implicam uma des-substancialização da própria vida face ao seu Real traumático, ao que ela é de excesso, de gozo e de mortal. E isso, é incurável... Não é a esse incurável que assistimos (assistência, palavra que tanto serve no sentido do trabalho de consultório, como no sentido da assitência que é a plateia do "palco da vida")?
Caro Vitor, de facto os conceitos que usamos devem ser alvo de reflexão. O conceito de doença é sem dúvida o que mais tem sofrido alterações ultimamente.
No entanto não devemos desistir!
Quanto ao lucro da nossa satisfação, é uma questão pertinente visto que para além do dano que podemos causar a nós próprios também é necessário pensar nos danos que causamos ao planeta em termos de poluição.
Mas isso é outra questão que daria um blog só por si!
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