quarta-feira, novembro 29, 2006

Os Signos e os Símbolos

O pensamento simbólico é a marca distintiva mais específica da condição humana e resulta de uma transformação que se insere no processo de hominização. Aristóteles já afirmava que não se pensa sem imagens… Zusman (2005) refere que a transformação do signo em símbolo é parte essencial do processo de pensar. Segundo o autor o conceito de rêverie de Bion exemplifica um dos aspectos da transformação do signo em símbolo pois só quando a criança introjecta a capacidade de rêverie da mãe é que adquire capacidade de produção simbólica. Ora a capacidade de transformar o pensamento sígnico em pensamento simbólico depende da conjuntura dos processos conflituais da personalidade e da intensidade emocional das vivências.

Também Bruner (1990) pretende mostrar que para além dos recursos físicos e psíquicos, a condição humana é reflexo da cultura e da história, e só tem sentido se for interpretada à luz do mundo simbólico que constitui a cultura humana. Segundo o autor, a construção do eu é o resultado de um núcleo de consciência cujo significado se encontra “interpessoalmente distribuído” e que se encontra enraizado em circunstâncias históricas e culturais, fazendo da psicologia cultural uma psicologia interpretativa.

Jung (1989) refere que os símbolos são fruto do inconsciente e aponta para a estreita relação dos símbolos mitológicos com os símbolos dos sonhos assinalando a forte probabilidade de grande parte dos símbolos históricos provir directamente dos sonhos ou por eles ter sido estimulada. Já Freud (1901; 1916) refere que o simbolismo dos sonhos não pertence propriamente ao sonho, mas às representações inconscientes do povo, surgindo numa forma mais perfeita nos mitos, lendas e ditos espirituosos.

Larsen (1991) parece concordar com Freud ao afirmar que a mitologia cultural se fragmentou quando a ciência e tecnologia ofereceram formas confiáveis de compreender e controlar a natureza, tendo perdurado a profunda necessidade humana pelos símbolos. A este respeito o autor faz referência à mitologia pessoal uma vez que defende que a experiência humana sem o mito é insatisfatória e ignorante e que parte desses mitos pessoais vêm à tona nos sonhos, devaneios, sensações corporais, jogos, paixões, lapsos verbais, rituais, música, dança, escrita, desenho e pintura espontânea.

O pensamento de Larsen (1991) evoca uma espécie de perpetuação do simbolismo dos contos infantis ao defender o conceito das personagens interiores (“um teatro mágico que está sempre em funcionamento dentro de nós e que é ao mesmo tempo humano e divino p. 201). Figuras significativas como os guardiães, o senhor do abismo, heróis, vilões, velhos sábios, palhaços ou bruxas representam um sector de actividade criativa exemplificativo das características de personalidade que influenciam a consciência e têm tanto de colectivo como de individual.

2 comentários:

Ana Almeida disse...

Acho muito importante e bastante pertinente para a clínica
psicológica a reflexão sobre o símbolo, o simbolizado e o simbólico. A mente humana tem limites muito claros, o símbolo e a utilização de símbolos como representantes das “coisas” expandem enormemente os limites da mente humana.

Na teoria psicanalítica de Bion a capacidade para produzir símbolos não está associada exclusivamente à interiorização da função de rêverie.

A interiorização da função de rêverie utilizada pelo cuidador é apenas o ponto de partida de uma cadeia complexa de transformações, em que um dos elementos da cadeia é o símbolo. Para Bion é tão importante a capacidade de gerar símbolos como é importante a forma como os símbolos são usados.

Leonor disse...

pela primeira vez procuro literatura mais profunda sobre um tema (estou a fazer mestrado) e encontro um blog que o expõe com 20 valores. obrigado e parabens.