segunda-feira, novembro 27, 2006

Angustia e Ansiedade. Qual é qual em termos de diagnóstico?



Com alguma frequência somos confrontados com a utilização de termos e conceitos por parte da população que confundem e baralham as nossas avaliações.

Como exemplo disto, temos os termos e conceitos de angústia e ansiedade. Não vamos pensar, que apenas os nossos clientes se confundem e têm dúvidas acerca da sua definição. Os gregos chamavam-lhe agkô ou angchö que significa apertar ou estrangular e que em latim produziu dois verbos ango, apertar fisicamente (aperto \ opressão) ou angustia (originou também angor e angina) e anxio ou anxius, que significa atormentar (tormento \ inquietação) ou ansiedade.

Claro que o paragrafo acima, ilumina um pouco a discussão mas não fecha o assunto de modo a não causar dúvidas. Para isso vários psicólogos deram a sua contribuição para esclarecer esta questão.

Em 1844 Kierkegaard com a noção “angustia perante o nada” e mais tarde Jaspers (1913) “o medo é dirigido para algo e a angustia não tem objecto” colocaram o enquadramento de classificação psicopatológica que se tem mantido até hoje.

Podemos portanto utilizar o termo ansiedade num sentido “racional”, prospectivo, cinético e conotada com uma inquietação esperançosa, enquanto que a angustia é mais corporalizada, retrospectiva e inibitória.

Claro está que esta discussão está longe de estar acabada com várias ”achegas” de investigadores actuais a completarem da melhor maneira a separação entre os dois termos.

Agora o que importa é saber quais os conceitos e definições do nosso interlocutor para que possamos ajustar a nossa linguagem à dele.
Por falar nisso, o que é para si angustia e ansiedade?

3 comentários:

Igor Lobão disse...

Caso não tenha reparado no seu acto falho, Kierkegaard escreveu o seu livro "Conceito de Angústia" em 1844 e não em 1944.

Freud, de certa também o diz ao afirmar que os objectos são substitutivos, donde Lacan retira, num entrecruzamento entre Kant e Freud, a "das Ding", o objecto primordial eternamente faltante.

No seu seminário 10, o seminário sobre a Angústia, Lacan também trabalha este tema em Kierkegaard. O que se pode retirar, tanto em Lacan como em Kierkegaard, é que as Palavras (seja angústia, seja ansiedade, seja outro conceito) servem para abordar um Real, para tocar um Real que se volatiliza, esfuma-se, "nadifica-se" nas palavras que o dizem.

Quanto a mim as palavras servirão para redizer "isso" que é indizível, dizer sem nunca se o diga, mas que se o diga. Esse dizer talvez seja a única travessia para a angústia, e digo travessia porque, quanto a mim, ela é incurável. Atravessável...quanto muito, e por uma vida inteira.

Racionalizar a angustia é a ilusão de transubstância-la num objecto, de revesti-la.

Mas, se angústia, como diz Kierkegaard, é angústia de nada, sem objecto, não serão as racionalizações (dos comportamentais, por exemplo) o próprio objecto prestigiditador que confere um objecto à angústia?

Ou como pensar a brutalização psicofarmacológica dos psiquiatras? Será os medicamentos que trazem a cura para o nada?

Igor

Pedro Correia Santos disse...

Viva Igor!

Agradeço a sua atenção na data da citação de Kierkegard, aliás já foi alterada.

De facto, a brutalização da psiquiatria em determinadas psicopatologias é gritante e muitoas vezes tem como consequência um arrastar da propria patologia fazendo o sujeito um dependente de substâncias "legalizado".

A cura para o nada, estará na vacuidade... isto pelo menos para os budistas!!!

Cleopatra disse...

Só de uma forma muiyo básica e inicial:
Nunca chego ao medo.
Fico-me sempre na angústia.

Depois volto para me explicar melhor.

;)