No trabalho com adolescentes que tenho realizado na Ktree tenho-me dado conta de que actualmente o quarto de um adolescente não é mais do que um Bunker.
Faz-me sentido pensar nestes termos porque, o que é a adolescência senão tempos de guerra, luta, afirmação, crescimento/mudança.
Mas o que me preocupa é o facto de que actualmente os adolescentes e os pais, têm vindo a equipar estes Bunkers com o que há de mais avançado em termos de tecnologia.
Assim, qual é o adolescente que, hoje em dia, não tem nos seu quarto, uma televisão com ligação por cabo, PlayStation, aparelhagem, computador com ligação à internet e de preferência com webcam, e ainda, estes já nas mesinhas de cabeceira, os telemóveis, os iPod, e não sei mais o quê.
Agora a minha questão é: Sou eu que estou a ficar antiquada ou é também nos quartos que se dorme e se deve ter um ambiente tranquilo?
Atenção, eu concordo com o uso das tecnologias, com o acesso dos adolescentes à informação. E, penso que sendo a adolescência um período tão frágil e ao mesmo tempo tão determinante da vida de qualquer ser humano, devemos respeitar os Bunkers adolescentis como o seu espaço de eleição, onde normalmente querem estar maior parte do tempo que passam em casa, já que, é normalmente também em casa se edifica o centro do conflito.
Agora a minha questão é se isto é saudável, que os adolescentes passem a ter os seus quartos totalmente atestados da mais variada e moderna tecnologia.
Já há uns tempos se começou a debater a questão da televisão no quarto, vejam bem, que até nisso eu coloco as minhas dúvidas.
Mesmo sem excesso de conservadorismos, a mim parece-me que o contacto com o mundo não pode ser centrado e limitado à Internet, à tv por cabo e ao telemóvel. Nem tão pouco livre de supervisão e acompanhamento por parte dos educadores.
Parece-me perfeitamente inútil obrigar os adolescentes a sair do quarto, e acho essencial que se respeite o espaço interno e externo do adolescente, mas também não vamos agora instalar-lhe um frigorifico no quarto para que eles ai sim, possam viver de modo totalmente isolado e independente das rotinas familiares.
Será possível passar-se alguns destes objectos para um escritório e passar esse outro local a representar-se como espaço intermédio, onde e sobre o qual podem eventualmente vir a ser desenvolvidas futuras negociações?
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6 comentários:
À boa maneira comportamentalista o local para dormir e relaxar não devia estar associado a estímulos excitatório. Depois temos adolescentes e adultos com má higiene do sono.
PS: boa metáfora a do um bunker!
Identifiquei-me parcialmente com este post! Na minha adolescência foi-me retirado o pc do quarto porque estava a ficar totalmente viciada e os meus hábitos de sono ficaram alterados, logo o cansaço aumentou bastante pelas horas que passava frente ao ecrã.
Escusado será dizer que retirado o Pc (medida com a qual concordei porque assumi como me estava a prejudicar) melhorei imenso e geri melhor o vicio da net.
Faz-me imenso sentido esta questão... e eu só tinha o Pc e não tinha Tv, nem telefone, nem telemovel, nem Ipod,..., como se tem hoje.
No outro dia almoçei com um ilustre advogado da nossa praça que pretensamente queria dar-me umas dicas para resolver a questão de levar filhos ao restaurante; dizia ele: sentamo-nos à mesa os quatro e dou-lhes, aos meus 2 filhos uma PSP (consola de jogos portátil) a cada um...passam o tempo todo a jogar e nem me chateiam!. Julgo que hoje em dia há gente que acha que a parte aborrecida de ser Pai/Mãe, é aquela em que essa gente tem que ter filhos como contrapartida a esse status. Equipar os Bunkers dos adolescentes com tralha que não lhes é nem útil nem necessária para o seu desenvolvimento saudável, provavelmente é uma forma de expiar algumas culpas por não saber o que fazer com aqueles seres que chamam de Pai ou de Mãe, gente vazia e com muito pouco para partilhar ou muito pouco para dar aos...filhos do materialismo consumista! Computadores, televisões, internet, consolas, aparelhagens, tudo isso tem um lugar e um tempo e até pode ser partilhado em familia, como andar de bicicleta ou ir à praia - não é uma questão comportamental; é uma questão de ter ou não, alguma coisa para partilhar com os outros (companheiro/a, filhos/as...) sem serem ...coisas!
Olá a todos, esta é uma questão que levanta muitas outras.
Como realçaram o Jorge Alves e a Margot, estes bunkers electrónicos prejudicam a qualidade e a quantidade do sono, e penso que nos compete também a nós fazer algum trabalho de campo, alertando os pais para a importância da qualidade e quantidade do sono no desenvolvimento das crianças e adolescentes.
Como apontou o Miguel Fabiana, estes bunkeres são também uma forma de fechar em quatro portas o que pode ser uma dificuldade, como por exemplo as dificuldades relacionais familiares que se fazem notar frequentemente nesta fase da vida.
O problema é saber o que é razoável. Como referi, o adolescente deve ter o seu espaço e devemos respeita-lo, devemos respeitar o seu quarto tanto como os seus segredos, as suas fantasias, etc.
Mas devemos nós adultos (pais, educadores, técnicos) permitir o isolamento social e o desinteresse pelas actividades do mundo?
Concordo que por vezes esta questão pode assentar numa desresponsabilização por parte dos educadores, mas parece-me que na maior parte das vezes corresponde a uma dificuldade no manejo destas questões, na dificuldade de estabelecer limites e encontrar o ponto razoável para a gestão das questões. Aí, penso, cabe-nos a nós, técnicos alertar e ajudar os pais para a compreesão e resolução destas questões.
Prioritizar centrando as decisões, como Pais ou como educadores, no Amor pelos filhos, é a melhor forma de os educar, melhor ainda que o "bom-senso"; o último uma questão mais cultural e o primeiro uma razão mais em função dos filhos e das suas verdadeiras "necessidades". Os limites a "impor", têm a ver com a singularidade de cada filho, ie, não são iguais para filhos dos mesmos Pais - nem na educação, o igualitarismo faz sentido. O Amor não é "materializavel" em PlayStation, aparelhagem, computador com ligação à internet, telemóveis, iPod's...mas cada um dá o que tem e isso tem pouco a ver com "comportamentos"; tem mais a ver com a sua "riqueza" interior!
Óptima metáfora, Eliana, esta dos bunkers tecnológicos! E matéria para reflexão, sem dúvida.
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